America's Sweethearts escrita por Hissetty


Capítulo 7
As regras da casa


Notas iniciais do capítulo

Séculos depois, tã-tã-nãnãnããã!
Boa leitura, pra vocês! ♥



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O que eu devo esperar de alguém cuja ficha criminal é 70 vezes maior que a minha?

Eram duas da tarde. Henri estava dançando com a vassoura e eu estava tentando achar alguma coisa que eu pudesse vestir nas caixas dele, quando, inexplicavelmente, achei uma calcinha rosa de renda em uma das caixas.

Mahoee?

- Henri, querido – chamei. Ele, que estava cantando Livin’ La Vida ‘Loka com a Mra. Vassoura-Sebosa, se virou para mim.

- Sim, Duende?

- Me explica, por gentileza, que merda é essa? Por acaso tu é uma dragqueen?

Henri, que aparentemente achou graça, negou com a cabeça.

- Não viaja, meu. Isso é da minha ex.

Aham. Continuei olhando pra ele, quase babando. Sim, sim. E o que fazia na mala, seu jumento loiro? Não perguntei isso, é claro. Sou educada. Mas ele continuou me olhando. Então, eu falei a única coisa que me vinha à cabeça:

- Obcecado – eu disse, depois de um tempo. Henri estufou o peito, ofendido.

- Porra nenhuma! Ela esqueceu na minha mala!

- Uhum – eu ri.

- É sério!

- Tá certo – repliquei, voltando para as caixas.

- Vai se foder – resmungou ele, me dando as costas. Dolly, sentado ao meu lado fuçando na caixa COISAS DO DOLLY, me encarou como se perguntasse: “Que porra aconteceu aqui?”.

- Como você consegue viver com ele? – perguntei.

Sentei no chão de pernas cruzadas e voltei a fuçar nas caixas. Peguei um frango de borracha 4 vezes maiores que o furão da caixa dele e entreguei. O furicato – MINHA mistura de suricate e furão – pegou ele nas patinhas da frente e mordeu o bico.

- Isso é doente – murmurei, vendo Dolly morder, arranhar e socar o pobre frango degolado.

- O que cê tá procurando, Duende?

Olhei para cima. Henri me encarava, parecia um anjinho desmiolado, com um sorriso malicioso, cabelos encaracolados loiros emoldurando o rosto de duende de Papai Noel. Depois eu era a Duende. Tsc, tsc. Suspirei.

- Quero uma camiseta! A puta da delegada não me deixou passar em casa – choraminguei. Henri, boa alma e valente coração, sorriu e bateu com a vassoura na minha perna.

- O que eu ganho se te entregar uma camiseta minha, cheirosa e maravilhosa?

- Cogayfcof – tossi. É, tossi. Algum problema, sociedade? Essas gripes de hoje em dia...

- Eu cuido das minhas coisas, diferente de você. O que eu ganho? – perguntou, afiado.

Olhei de rabo de olho pro senhor simpatia. O que ele quer, afinal? Cruzei os braços.

- O que você quer ganhar?

- Um abraço – ele sorriu. – Posso?

Levantei, abri os braços e sorri. Ele abriu os braços também, crente.

- Nem ferrando.

Então puxei a camiseta que ele estava vestindo e saí correndo.

- SUA FILHA DA PUTA! – gritou Henri, da sala. Já falei que estava chovendo? E que, por um milagre da mãe natureza, estava frio? Hehe.

Esqueci.

Voei para dentro do banheiro, aos tropeços e com Dolly agarrado à minha batata da perna. Ele me olhava com as orelhas pra baixo. Acho que tinha medo de mim. Fechei a porta. Henri deu de cara nela. E socou ela depois. E eu comecei a rir.

- Se fode aí, mané!

- MINHA CAMISETA! Como... como você conseguiu pegar ela, seu demônio?!

- Tu tem um monte, seu canalha – tirei a minha e coloquei a dele, que era de mangas compridas. – Ou era para ter.

Quase pude ver ele cruzando os braços e fazer biquinho.

- Mas tá frio. É cruel. Eu podia morrer de choque térmico.

- Se tá frio vai pegar outra camiseta, não me enche o saco – destranquei a porta. Henri estava virado de cara para a parede, como se quisesse beijar o reboco. – Tudo bem aí?

- Vai se foder – murmurou ele. Achei graça. Dei minha regata pra ele.

- Seja feliz.

(...)

- Então, Delilah, como você explica isso?

A cara do meu pai não tinha preço. Sério. Ele olhava para mim, para a delegada, para mim de novo e por último para o Henri. Estávamos todos sentadinhos na varanda da casa do Henri, em cadeiras de praia cheias de pó. Fiquei olhando uma formiga subir no sapato de salto da delegada. Esperava que fosse um mini-capeta radioativo que matasse ela com uma picada.

- Delilah. – grunhiu meu pai.

- Hm? – perguntei. Minha voz saiu meio como se eu estivesse chapada, o que fez Henri reprimir uma risada e se inclinar na cadeira.

- Como vocês dois... quero dizer... quem... quem é ele?! – perguntou meu pai, como se só agora se desse conta da presença de meu colega de cela.

- Henri, papai. Papai, Henri – sorri. – Viu? Ele é meu comparsa de ataques terroristas.

Henri revirou os olhos.

- A culpa é da senhora sua filha, senhor – ele disse, adotando uma postura profissional. Olhei para ele, de queixo caído. Mas que merda...? – Sinto muito, poderíamos ter sido presos, mas a delegada foi gentil em nos manter em prisão domiciliar.

- Fale por você – resmunguei, cruzando os braços e me encolhendo na cadeira.

- A questão, senhor, é que... sua filha é insuportável – ele disse, seriamente. Olhei para ele, estupefata. O QUE É ISSO, MEU DEUS?! Fiquei encarando Henri, mas ele nem me olhou. Captei um sorrisinho malicioso por meio segundo, mas depois ele já voltou a ficar sério. – De qualquer jeito,  você poderia falar com a seu advogado... não é? Para tirar ela da minha casa?

- VOCÊ É UM FILHO DA PUTA, CRETINO, RETAR...

- DELILAH! – exclamou meu pai, horrorizado.

- Pai! Ele... ele tá fingindo! Ele é um babaca, ele já foi preso, é maníaco por ex namoradas e... e...!

- Senhor, você deveria colocar uma coleira na sua filha – repreendeu Henri.

Puta que pariu, hein?

- Senhor McClay, sinto muito – disse a delegada, aparentemente sofrida e acreditando na história de Henri –, mas você estava, sim, envolvido no roubo. E, mesmo que ela fosse mais culpada que o senhor, ambos teriam de ir para a cadeia, caso eu tirasse de vocês a prisão domiciliar. Isso é um agrado, pois poderia ser pior.

Henri assentiu, profissionalmente. Até eu estava acreditando que ele era inocente e bem-educado. Mas aí eu lembrei que quem roubou o carro foi ele.

- PAI! Você não pode estar acreditando nesse cara...

- Quieta, Dêh – murmurou meu pai. Minha cara de tacho aumentou.

- Pai!

- Quieta! – ordenou a delegada. Bufei.

- Então... um mês? Em prisão domiciliar com ela? – perguntou Henri.

- Sim. Um mês, e depois vocês podem parar de olhar na cara um do outro.

- Tudo bem – Henri sorriu. – Temos algumas restrições, senhorita?

A delegada sorriu, cretina.

- Nada de sair de casa, não usar linhas telefônicas para chamar possíveis parceiros de crime, instalaremos câmeras na casa também, por isso não podem tapar nenhuma delas. Suprimentos, roupas e utensílios de sua necessidade, traremos aqui por meio de um policial. Iremos também bloquear a internet e TV, por segurança.

- Segurança?! – repliquei. – O que internet e TV tem haver com isso?

- Segurança – repetiu a delegada. Revirei os olhos. – Só isso. Mais alguma pergunta?

Levantei a mão, sorrindo. A delegada acenou com a cabeça.

- Se eu matar ele, sem querer, sufocado com o travesseiro, ou empalado com o espeto de churrasco... o que acontece comigo?

(...)

- Você queria me matar? – perguntou Henri, ofendido.

- Eu quero te matar – respondi, sem tirar os olhos da viatura da delegada. Quando ela passou na frente da casa, acenamos para ela. Eu, com uma felicidade desgraçada, e Henri, com a animação de um cachorrinho. Peguei minha mala, que meu pai tinha trazido, e arrastei pra dentro da casa. – Que merda de encenação foi aquela, se me permite perguntar?

- Eu queria livrar minha cara – disse ele.

- E eu?!

- Bem, não somos amigos – ele começou a contar nos dedos –, não te devo nada, não temos nada em comum, nos conhecemos há poucos dias, você quase me fez levar um tiro, roubou minha camiseta, tentou me matar com panquecas endemoniadas e...

- TÁ, eu entendi. Você não me deve nada, então se eu fosse para a cadeia, tudo bem, você não estaria nem aí. Mas e aquele tom de “eu sou superior, eu sou educado, eu sou piriri pororó?”, o que era aquilo?

- Isso era arte – ele sorriu. – Agora, vamos às regras da casa.

Fiquei em silêncio.

- Regras da casa, Delilah.

- Hã?

Henri se sentou no sofá. Deu tapinhas no assento ao lado, mas eu me sentei no chão, de frente pra ele.

- Regras da casa? – repeti. – Tipo, regras de que casa? Você nem montou a sua casa? O que eu não posso fazer? Dar voadoras na parede mal-pintada do seu quarto?

Ele me encarou, como se eu fosse louca. Talvez eu fosse, um pouquinho.

- Primeira regra, não entre no meu quarto. Nunca mais. Segunda, não fale com os meus amigos. Terceira, não crie novos problemas para mim. Quarta, não entre na sala de música. Quinta, não mexa na cozinha. Sexta, não me acorde. Sétima, não encha o saco. Oitava, não tente pregar peças. Nona, não me faça falar com o seu pai. Décima, e última, você vai me obedecer, porque a casa é minha.

Pisquei, surpresa. Ele parecia meu irmão.

- Que tipo de regras são essas?

- Você achou que eu era besta daquele jeito sempre?

- Você está sendo besta daquele jeito. Que merda de regras são essas, Henri?

- Minhas regras. Da minha casa. Regras que você vai obedecer.

- E porque eu faria isso?

Henri me olhou, travesso. Tinha um brilho incômodo no olhar.

- Porque sim. Porque você é educada, inofensiva, uma menininha santa, que não faz mal nem à uma mosca, tá bom?

- E você acha isso porque...?

- Meus amigos de Vegas estão vindo pra cá. Como não são possíveis traficantes, acho que a entrada deles é permitida. Então, ou você se aquieta no seu quarto, ou se comporta. Tá certo?

Cruzei os braços.

- Me obrigue.

Talvez tivesse sido a coisa errada à dizer. Henri me olhou, de cima, parecendo superior. Ele sorriu e arqueou as sobrancelhas. Eu tentei me levantar rapidamente, mas ele se atirou no chão e agarrou meu tornozelo.

- HENRI, SEU PUTO! – gritei, esperneando no chão.

Ele só riu e me arrastou no carpete, segurando meus pés sobre as pernas dele. Ele começou a fazer cócegas. Eu me contorci, rindo, chorando e xingando ao mesmo tempo. Minha risada ecoava na sala vazia, e fazia ele rir. Lágrimas escorriam dos meus olhos, e eu tentava ficar brava com ele, mas não conseguia. Teve um momento que eu comecei a soluçar e rir ao mesmo tempo.

- Vai seguir as regras da casa? – perguntou ele, fazendo cócegas na sola do meu pé, sobre a meia. – Vai, Duende?

- Não! – gritei, rindo. Ele tirou minha meia e mordiscou meu pé. Eu gritei e ri, de novo. – Henri!

- Vai seguir? – insistiu. Neguei com a cabeça. Meus cabelos estavam uma árvore verde, embaraçados e praticamente embolados, de tanto eu me arrastar no carpete. – Vai?

- Não, caralho! – eu me contorci, e finalmente dei um chute na boca dele. Henri, apesar disso, riu e me largou. Eu dei uma cambalhota para trás, com um sorriso bobo e parei, agachada. Ele estava sentado, mordendo o lábio que eu chutei, me encarando. – Tudo bem aí?

Henri me continuou me encarando. Seus olhos estavam divertidos. Ele soltou o lábio dos dentes e sorriu.

- Suas bochechas estão vermelhas.

- Você fez cócega em mim por quinze minutos! – protestei.

- Seu cabelo parece algodão.

- Quinze minutos! – reforcei, arfando. Sacudi a cabeça e ri. – Você é puta problemático, sabia?

- Eu sei.

E aí eu me levantei correndo, rindo e gritando pela casa. Ele se levantou atrás de mim, gritando coisas como “VOCÊ VAI OBEDECER AS REGRAS DA CASA, DELILAH!”, e me fazendo rir mais ainda.

Regras da casa uma pinóia. 


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Notas finais do capítulo

E aí? Valeu o tempão? Merece reviews?



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