America's Sweethearts escrita por Hissetty


Capítulo 6
Quatro horas no inferno


Notas iniciais do capítulo

Aeeeeeeow!
Como vão vocês? xP
Aqui tem mais um capítulo.
Boa leitura õ/



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OH, pretty woman, walkin’ down the streeeeeeet; Pretty woman…

Cruzei os braços, emburrada. Henri estava no quarto dele, cantando essa música só para me irritar. Eram três e quatorze da manhã, num calor desgraçado de verão, e minha primeira noite de prisão domiciliar na casa de um cara babaca, idiota e infantil que eu conheço à menos de 24 horas estava uma maravilha.

Sério.

O cara tinha ar-condicionado no quarto de hóspedes.

Mas me roubou o controle.

Sou baixinha.

Não alcanço os botões – choro.

– Porra, Henri! – gritei, batendo a cabeça na parede (nota: eu estava sentada de cara para ela, tentando fazer com que meu olhar atravessasse o concreto com lasers e mísseis que pegassem na cabeça dele, no quarto ao lado). – Você é uma linda mulher, já sei disso!

– FUUUUCK YOOOU, pretty woooman – cantarolou, mais alto. Revirei os olhos.

Me levantei. Não tinha porra nenhuma para fazer naquela casa. Abri a porta e espiei o corredor. Henri realmente estava vendo Uma Linda Mulher na TV do quarto dele. Ri, porque era o máximo que eu podia fazer nas minhas circunstâncias de prisioneira. Fui até a cozinha, e Dolly estava lá, plantado de pé como um suricate na bancada. Ele mexeu as orelhinhas quando eu me aproximei da geladeira.

– Oi – eu disse.

– Oi – disse o suricate... digo, furão. Digo, ele não falou, mas eu estava solitária. Pela janela de cima da pia eu enxergava a minha casa... com Glenn e Jerry fazendo merda, só o oxuspóxus da minha tia aparecendo no sofá, com os cabelos grisalhos espetados à lá Albert Einstein e meu pai, que nem sabia que eu estava em prisão domiciliar, lavando a louça.

Eu me comunicaria com a família amanhã. Nem roupas a vaca da Amélia me deixou pegar na minha casa, aquela filha da puta.

Abri a geladeira. Nada. Bem, talvez o carinha não tivesse ido ao supermercado, afinal, ele chegou na cidade HOJE. E eu já estou PRESA com ele. E eu já sinto como se fossemos parceiros de crime há ANOS.

Uhm... cadê os benditos mantimentos dessa joça? Patê velho, suco congelado... AHÁ! Uma cerveja. Mexicana. Provavelmente dos antigos inquilinos. BELZEBUTH; porcentagem de álcool; 666. Hehe, eu vi o que cê fez aí, hein! Não, cara, sério. O nome da cerveja era Belzebuth. Tinha um diabinho magricela em pose gay no fundo. Simpático. Ele estava tipo ‘Ui!’.

Hehe.

ENFIM, peguei a bendita cerveja e abri no tampo da bancada. Estendi para o Dolly como um brinde, mas o filho da mãe sequer se mexeu.

Tudo bem. O que eu esperava? Era a porra de um furão. Não ia me dar atenção mesmo...

TÁM, TÁM, tááám.

Ele me encarou, como se lesse meus pensamentos.

– Que que tu quer? – resmunguei pro bicho. Ele fez um barulhinho esquisito, se esticou e saiu correndo pela bancada. Pulou no chão e sumiu-se. Pisquei. – Certo.

Bebi um gole da cerveja e caminhei pela casa vazia igual a uma mosca bêbada. Fui na lavanderia, na sala cheia de caixas, voltei pra lavanderia e pra cozinha, passei no hall, no corredor, no banheiro do andar de baixo, subi as escadas, espiei a sacada, voltei para o centro, colei um chiclete no corrimão, fui até o ‘meu’ quarto, espiei o banheiro do andar de cima, espiei o frigobar da mini salinha cheia de instrumentos musicais...

Hein?

Voltei correndo – para a salinha, não para o frigobar, AHÉM! Que eu me lembre, os mexicanos não tinham sala de música... Estreitei os olhos para a porta do quarto do senhor simpatia. Ele continuava cantarolando Pretty Woman como um retardado... olhei para os instrumentos. Depois para eles. Depois pro gravador preso no microfone...

Tem coisa aí.

Então, como quem não quer nada, trotei até o quarto dele e entrei. Julia Roberts estava sendo expulsa da loja de vestidos quando eu cheguei. Henri estava de olhos fechados e cantarolando. Ah, merda. Assim ele parece ter 21 anos. Sem camiseta. De bermuda.

Isso não ia me fazer bem.

– Aí, mano – chamei. Ele abriu um olho. – Que porras são aquelas na ex-sala de caça dos muchachos?

– Oi? – ele se sentou. – Os bagulhos de música?

Ah, que ótimo. Nem ele falava direito.

– Isso.

– São meus.

Continuei encarando a cara pálida. Ah, jura? ‘Magina! Achei que TINHA ROUBADO DO SEU JOHNSISMITH TAMBÉM, CACETE DE INTELIGÊNCIA! Mas fiquei quietinha, porque... bem, vai que ele resolve me expulsar de casa? Eu prefiro mil vezes esse inferno do que uma cela de prisão.

– Não diga – eu disse.

Henri suspirou.

– Você realmente acha que eu faço o quê da minha vida?

– Não sei. Não empregam gente com menos de 10 anos, empregam? – cruzei os braços, depois de beber mais um golinho da cerveja.

– Eu não me comporto assim o tempo todo, cara – ele cruzou os braços também, depois de apertar o pause no Pretty Woman – Eu faço pra te irritar, Duende. Lembra? Minha mãe é a tua nova pseudo-madrasta. Eu já ouvi falar da pessoa esquentadinha que mora na praia e tem cabelo verde.

Ah, é mesmo! Henri tinha dito que meu pai e a mãe dele... Opa. A bendita ficha! Ela estava grudada no teto? Porque demorou tanto pra cair?

– PERA AÍ, como assim eu não tô sabendo disso? – a curiosidade – ou o álcool – foi mais forte que eu. Me sentei nos pés dele, na cama, e passei a cerveja pro senhor simpatia. Ele pegou, desconfiado.

– Teu pai, minha mãe, eles tão se pegando... sabe? Aquilo que gente grande faz? – ele sorriu, debochado. Filho da puta! Então ele realmente se fingia de bocó.

– Ah, vá à merda – murmurei. Peguei a garrafa de volta. – Mas... Tu disse que veio pra cá porque era fugitivo...

– Eu vim! – Henri pegou a garrafa de mim. Eu nem tinha bebido... – Minha mãe me expulsou porque eu e meu irmão roubamos uma viatura policial.

– Também, né? – peguei a garrafa. Tomei. Devolvi para ele porque me babei. É uma das habilidades que eu domino.

Henri riu.

– Afinal, eu não fui o único que se fodeu. Meu irmão foi pro Kansas com o nosso pai... e eu, maior de idade – pose de sou foda, digdin digdin – ganhei uma casa na beira da praia do lado do meu futuro padrasto. Interessante, não?

Encarei ele, com cara de poucos amigos, ainda limpando a boca.

– CARALHO, TU É MEU PSEUDO-IRMÃO! – hehe, o grito foi desnecessário, mas ele repetiu tantas vezes ‘pseudo’ que eu me achei na obrigação de usar em uma frase.

– Oi – ele disse, cínico. Uhmpf. Estendi a mão pra pegar a cerveja, mas ele tirou do meu alcance. – Não, maninha ­– ironizou o filho da puta. – Não posso te deixar beber.

– Você me fez ser PRESA! Tudo por causa daquele seu teatrinho de babaca de cinco anos!

Sabe quando você sente que precisa MATAR, ESQUARTEJAR E FRITAR uma pessoa? Então.

– Valeu a pena, Duende!

– Boa, garotão – murmurei. – Super inteligente, você. Nós dois poderíamos estar no xadrez!

– Eu juro que não sabia que minha carteira tinha sido roubada!

Mais uma vez, tive que encará-lo com minha cara de filha da putisse.

– Por um dálmata?

– Fica quieta – retorquiu. – E não, eu não imaginei que seríamos presos! Quero dizer, a polícia em Las Vegas era uma merda. Achei que aqui, no cu do mundo, também seria.

Opa. Pera aí, onde o moço mora?

– Las Vegas? Tipo, Vegas? Cassinos, stripp, ‘sas coisas?

– É. Eu morava lá... tipo, num hotel. Tínhamos um quarto permanente porque o meu tio era dono. Aí eu me ferrei com a polícia, minha mãe pagou para me soltarem e me despachou pra cá. Linda história, não?

– E os treco musical? – português, oi!

– Sou cantor.

Nãããão, pera, mano, como assim? E o cara mora nessa espelunca? Meu queixo caiu da cama até o chão; esse filho da puta, mó ‘enganoso’, que ora tem 21 ora 5 anos de idade, É A PORRA DE UM MÚSICO?!

– Tá de sacanagem.

– Sério – ele ficou em silêncio, me encarando. – NUNCA viu nada sobre mim por aí?

Dessa vez, eu fiquei em silêncio por um tempo.

– Sinceramente? Porra nenhuma.

– Eu tenho um álbum!

– De novo: nunca ouvi porra nenhuma sobre tu.

Henri me encarou, perplexo.

– Nada?

– NÃO, CARALHO. Você nem é famoso.

– Tenho fãs.

– Duvido.

Ele ergueu uma sobrancelha. O-ou. Resposta errada. Henri começou a cantar Pretty Woman mais uma vez, agora direito. E, puta que pariu, o garoto tinha uma voz realmente boa. Mas eu estava sem paciência, então peguei a primeira coisa que achei – Dolly, aí está você! – e joguei nele.

– PORRA, DELILAH! – gritou ele. Dolly saiu correndo da cama e se jogou. – Qual teu problema, mulher?

Então ele se levantou e eu me levantei também. Disparei porta afora, com Henri no meu encalço, me xingando.


(...)




– Então... você ainda tá puta comigo?




Estávamos sentadinhos no chão da sala, olhando um pra cara do outro. Ele tinha me trancado no banheiro por duas horas, então já eram 5:57 da manhã. Eu estava com uma cara de tacho, mal-humorada, e Henri estava emburrado, com seis risquinhos das patinhas do Dolly no rosto.


– Eu que pergunto – apontei pro arranhão. – Quer um band-aid dos Looney Tunes?

Henri revirou os olhos.

– Não confio em você – resmungou.

Silêncio. Henri começou a fungar o ar.

– Que foi? – eu quis saber.

– Não tá sentindo esse cheiro? – farejou de novo. Tentei farejar, mas eu acabei passando duas horas sentada em um chão frio, então já sentia meu nariz entupido – sintomas de uma gripe que eu provavelmente pegaria por culpa do imbecil.

– Cheiro do quê?

– Não sei... queimado...

– Henri... é impressão minha ou a sala tá meio, sei lá, preta? – perguntei. Ele olhou em volta, calmamente. A sala estava envolta em uma fumaça preta...

– PUTA QUE PARIU, MEU MIOJO!

Ri quando ele arregalou os olhos, mas assim que processei a ideia, arregalei os meus também e corri para a cozinha com ele.

– COMO VOCÊ QUEIMOU UM MIOJO, IDIOTA? – gritei enquanto atravessamos o corredor.

– ESQUECI A PORRA DA ÁGUA!

– SEU MERDA IMPRESTÁVEL!

Quando chegamos na cozinha, depois de alguns empurrões básicos, o micro-ondas estava rodeado de fumaça preta. E chiando. Henri pulou para trás, me puxando junto antes que o negócio explodisse... mas ele só fez PSSSSST e DZZZZZ e desligou.

Tossi.

Nos entreolhamos.

– Vamos esperar um pouco.

No chão, ao lado dele, concordei.

– Vai que né?


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Notas finais do capítulo

Duuh, sei que não aconteceu porra nenhuma nesse capítulo, maaaaaaaaaaas! Só pra ter uma ideia de como são as 4 primeiras horas no inferno, hehe!



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