Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 47
Capítulo 47


Notas iniciais do capítulo

Os reviews estão diminuindo ou é impressão? :(
OK, agora está confirmado: só falta mais um capítulo + epílogo para acabar o Último Romance.
Estou guardando meu discurso choroso para quando eu terminar tudo.
Me desejem sorte, amanhã minhas aulas voltam. Ô felicidade, ô vontade de fugir de casa.
Boa leitura amores



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– Alô? - falei, recebendo como resposta uma respiração pesada do outro lado da linha - Alguém está aí?

– Oi, Juliana - disse Hugo, depois de tossir - Liguei num horário ruim?

– Não, nem um pouco. Tudo bem?

– Hã, não muito, não.

– Porque? - perguntei, fechando o livro de física e sentando-me em minha cama.

– Não fui muito bem aceito pela minha mulher. Ex mulher, porra, ainda não me acostumei com isto.

– Oh - lamentei - Sério?

– Sim. Na verdade, ela nem me deixou explicar nada. Me acha um monstro e fim da história.

– Tenho certeza que ela não acha isso realmente. Só deve ter sido o choque de te ver, depois desse tempo todo.

– É um jeito bonito de ver as coisas - disse ele - Porém é o mais improvável.

Percebi um movimento anormal perto da janela enquanto eu estava observando o edredom. Quando olhei para frente, lá estava Rodrigo, balançando o braço de um lado para o outro. Franzi o cenho.

– Um segundo, Hugo - pedi, e coloquei a mão sobre o microfone do celular, logo depois que abri a janela - O que foi, Rodrigo?

– Quer ver um filme? - perguntou ele, abrindo um sorriso sincero.

– Hm, eu tenho que terminar esse ligação com o Hugo, e depois fazer meu dever de física.

– OK. E depois?

– Tá, depois tudo bem - cedi.

– Ótimo - respondeu ele, brincando com os dedos da mão - Eu escolho o filme.

Revirei os olhos e sorri, fechando a janela.

– Voltei - avisei Hugo - Onde você está ficando, já que sua mulher não quer te aceitar?

– Bom, passei a noite na casa do irmão dela, amigo antigo. Ele também tinha raiva de mim, porém quando descobriu que eu me livrei do emprego, esqueceu as mágoas e abriu seus braços.

– Ah, isso é bom.

– Mais ou menos. Ele só me deu a noite passada para ficar. A esposa dele é difícil de lidar, só liberou para ontem. Acho que eu vou pegar minhas economias e viajar de ônibus até o Nordeste, para a cidade da minha mãe. Já era a minha vida aqui.

– Você está brincando? - perguntei.

– Claro que não.

– Eu não acredito! Cadê o Hugo durão que eu conheci? O que estava disposto a ir atrás da ótima vida que tinha antes?

– Ele ficou na casa da Sarah - respondeu ele.

– Não, ele ainda está aí. Você só tem que parar de ser um covarde e lutar pelo o que quer!

– Juliana, eu não tenho motivação! - falou Hugo - É meio complicado seguir desta maneira.

– Eu estou te dando motivação. Sabe o que eu fiz nesta manhã? - ele ficou calado, esperando a resposta - Dei um tapa na cara da Sarah.

– O quê? - disse ele, alto, e depois começou a rir - Está falando sério?

– Sim. Ela puxou meu cabelo mas meu tapa doeu mais - adicionei, e ele riu de novo - Vou ser provavelmente expulsa do meu colégio.

Hugo ficou em silêncio.

– Verdade? Nossa, sinto muito.

– É, mas esse não é o ponto. Eu tinha vontade de acabar com a Sarah, consegui um pouco disso, e agora terei de arcar as consequências. Eu queria me arrepender mas não é o caso. E você tem vontade de voltar para sua família, e terá que arcar com as consequências de enfrentar isto. Porém tem tanta possibilidade de dar certo pra você, Hugo. Eu tenho confiança nisso.

Ele ficou calado por alguns segundos, até que disse:

– Está bem. Te informarei mais tarde sobre o meu fracasso.

– Ou seu sucesso - contrariei, e fiz-o rir por isso. Terminamos a ligação com um "Adeus".

Terminei o dever de física sem muita vontade, e pensei bem se valeria a pena ir na casa do Rodrigo. Bom, eu havia pedido para sermos amigos então seria ridículo eu não aparecer. Seria como eu fosse contra minha própria ideia, então fui.

Nós assistimos a um filme do Adam Sandler, para descontrair e dar umas risadas. Por alguns segundos, até parecia que era como antes, antes até de nós namorarmos. Quando tudo era descomplicado, quando sentimentos não estavam envolvidos.

Valéria insistiu que eu ficasse para jantar, e foi impossível dizer não, até porque ela tinha feito uma comida maravilhosa. Quando terminei de comer, eu e Rodrigo voltamos para o quarto dele, onde ele ficou lendo o manual de regras do colégio.

– Sério mesmo que você vai gastar seu tempo lendo isto?

– Sério mesmo - respondeu ele, passando para a próxima página.

Eu fiquei vendo uma serie aleatória, deitada na cama, e Rodrigo não pensou por um segundo em se juntar a mim. Só ficou lendo e marcando algumas páginas. Eu fui embora meia hora depois e fui direto dormir.

O dia seguinte foi quase idêntico ao dia anterior, só que quando Sarah chegou, recebeu vários xingamentos e esbarrões. Mesmo assim, nariz empinado o tempo inteiro. As aulas passaram e, no final, apesar de não ter tido uma briga como no dia passado, a diretora nos chamou para sua sala.

A mulher disse que a reunião seria naquela tarde, mais especificamente às quatro. E comunicou que daria a resposta final duas hora depois, ligando para nossas casas. Percebi que eu precisava contar para meus pais. Então eu o fiz, assim que sentei na mesa, e minha mãe trouxe a comida com vapor quente saindo e se dissipando no ar.

Como eu esperava, a reação da minha mãe foi dramática e exagerada, e a de meu pai foi um pouco mais razoável. Sinceramente, houve momentos que eu acreditei que minha mãe ia jogar uma cadeira em mim. Ainda bem que meu pai estava lá para impedi-la!

Ela me colocou de castigo e disse que me colocaria na pior escola pública possível caso eu fosse expulsa. No fundo, eu não me importava com isso, já que faltavam poucos meses para meu tempo escolar se esgotar.

Fui para meu quarto com muita chateação no peito, e não consegui me concentrar nos deveres de casa. Só olhava para o relógio, e o ponteiro me torturava. Quando deu três e trinta e cinco, eu pensei "Daqui a pouco os professores irão se reunir para assinar minha sentença de morte, que adorável". Claro que eu exagerava, mas quem não faz isso num momento destes?

Depois de uns cinco minutos, ouvi algo bater em minha janela. Era Rodrigo, gesticulando para eu abrir.

– Vamos passar lá no colégio - disse ele, pegando um casaco que descansava em uma cadeira - Tenho que conversar com a diretora.

– Eu estou de castigo - contei, olhando para o parapeito sujo da minha janela.

– Oh. Tudo bem. Eu só achei que seria legal você ir para mostrar para a diretora que você se importa. Sei que parece besteira, mas no fundo essas coisas fazem a diferença.

Tornei-me pensativa. Ele estava certo, porém eu não devia desobedecer meus pais.

– Mas não tem problema - continuou ele, vestindo o casaco jeans - De verdade. Eu já estou indo, tchau, Ju.

Quando ele estava tocando na maçaneta, eu gritei pedindo para ele parar. Rodrigo colocou a mão no peito e olhou para mim, assustado.

– Eu vou com você.

– Juliana, não precisa! Você está de castigo, como você vai sair de casa?

Ótima pergunta.

– Eu pulo da janela e você me pega lá embaixo!

Péssima resposta. Pelo menos fez ele rir.

– Estou falando sério, Juliana.

– Eu também - infelizmente, estava mesmo.

– Ju, eu acho que eu não vou conseguir te segurar.

– Ué, esses bíceps aí servem de enfeite? - falei, apontando para o braço dele - Espera. Você está me chamando de gorda?

– Claro que não! - disse ele, colocando as mãos no rosto.

– Ótimo, então desça e espere meu sinal, vou só colocar uma roupa mais apresentável.

Ele arqueou as sobrancelhas e eu retribui o mesmo olhar. Rodrigo saiu do quarto. Eu coloquei uma calça jeans e regata amarela. Abri as janelas e ele já estava embaixo, balançando a cabeça como negação. Passei as pernas pelo parapeito e olhei para baixo. Por um segundo, senti-me tonta.

– Você não tem uma escada, não? - falei, e ele riu alto.

– Não.

A altura era suportável, não é como se eu pudesse quebrar meu corpo inteiro se caísse errado. Eu podia facilmente quebrar um pé, mas era ali onde Rodrigo entrava. Felizmente para meu corpo, infelizmente para minha consciência, ele era o mais provável de se machucar.

– Sai daí, Rodrigo, vou cair sozinha - eu disse.

– Vai nada, eu vou te segurar.

– Você vai se quebrar todo, porra.

Ele revirou os olhos.

– Vou nada. Meus bíceps não são só de enfeite.

Percebi que ele não ia se mover, por mais que eu insistisse. Então, de uma vez, joguei meu corpo. Aconteceu rápido demais para detalhar, só sei que quando eu vi, estava por cima de Rodrigo, e nós dois, deitados na grama. Olhei para o garoto, e ele estava com os olhos fechados e uma feição de dor. Pedi algumas desculpas e sai de cima dele.

Rodrigo abriu os olhos e nós nos olhamos, com o gramado nos separando, este um pouco alto e um tanto verde. O sol aquecia meus ossos levemente doloridos. Era o momento perfeito para dizer coisas bonitas que nos fizéssemos ver o valor da vida. Então eu disse:

– É, você precisa malhar mais.

Rodrigo abriu o sorriso mais lindo do mundo, e começou a gargalhar. Sentou-se rapidamente e arrancou um pouco da grama, logo em seguida jogando em meu cabelo. Eu limpei enquanto soltava uns palavrões em meio a risadas. Olhei para Rodrigo com algumas mechas de cabelo por cima do meu rosto e ele jogou-as para trás. Ajudou-me a levantar e nós ainda estávamos rindo, por nenhum motivo. Caminhamos até o colégio sem dizer nada, as vezes se empurrando ou tentando fazer cócegas um no outro.

Chegamos na frente da sala da diretora em alguns minutos, e eu notei que ainda não sabia o que Rodrigo queria falar com a mulher. Estava a ponto de perguntar, quando a própria passou por nós, um pouco corcunda e com o óculos na ponta do nariz.

– Diretora, posso ter uma palavrinha com você? - perguntou Rodrigo.

– Eu estou indo agora para a reunião, tenho certeza que pode esperar.

– Não, na verdade não pode - disse ele, sério.

A mulher de blusa cinza nos convidou para a sala dela, ordenando que fôssemos rápidos. Rodrigo fez exatamente o que ela disse. Pegou o livrinho em seu bolso e abriu numa página marcada. Vi que uma parte se sobressaia com o marca-texto amarelo. A diretora passou os olhos e virou-se para o menino de cabelo castanho.

– E daí? - disse ela, tirando o óculos de grau e colocando-o em cima de sua mesa.

– Você não percebeu nada? - perguntou Rodrigo, como se já esperasse por isso. Pegou o livro das mãos da mulher, depois de pedir, e leu em voz alta o trecho - "Qualquer aluno que se envolver em qualquer ato de violência, seja verbal ou física, com outra pessoa, aluna ou não, funcionária ou não, em propriedade escolar, será punido com: uma semana de suspensão, nos casos menos graves; ou expulsão, nos casos mais graves. Tal punição será estabelecida pelo grupo de professores e membros do conselho estudantil, e é sujeita a variações."

A diretora me olhou e eu fiz o mesmo. O quê Rodrigo pretendia com aquilo? Ocupar o tempo da senhora? Me mostrar que eu estava ferrada?

– Eu sei ler, meu jovem! - disse ela, começando a ficar irritada - Diga o quê pretende com isso!

– Vou repetir a parte mais importante, porque a senhora não prestou atenção, obviamente. Vou pular cortar algumas palavras para ficar bem claro. "Qualquer aluno que se envolver em qualquer ato de violência, em propriedade escolar, será punido." Assim ficou bem melhor, não? Sem esse bando de vírgulas que só servem para confundir. Bom, diretora, deixe-me refrescar a sua memória. Sarah e Juliana brigaram no gramado. Onde fica esse gramado? Depois do estacionamento. O que tem no gramado? Um ponto de ônibus. Essa informação ajuda-nos a perceber que lá não é propriedade escolar, e sim, tecnicamente, uma terra do governo. Logo, você não pode expulsar nenhuma das duas, já que no manual de regras disciplinares, é dito o contrário. A propriedade escolar acaba assim que o estacionamento termina, simples assim. Pronto, é isso que eu pretendia dizer. Estamos claros?

A mulher olhou para Rodrigo mas era como se sua cabeça estivesse em outro lugar. Com sua boca semi-aberta, observou o garoto se sentar numa cadeira do meu lado, com um terrível sorriso arrasador. Ele sabia que aquilo era o xeque-mate. Ela também.

– Transparentes - respondeu a diretora, colocando a mão na testa e respirando fundo - Já podem ir embora. Agradeço por mostrar esse detalhe, Rodrigo.

– O prazer foi meu - disse ele, levantando-se - Obrigado pelo tempo.

Então Rodrigo pegou meu braço e nós saímos da sala. Quando ele fechou a porta eu finalmente pude abrir o sorriso gigante que eu guardava, e pulei para cima dele, abraçando seu corpo com tanta força, que quando soltei, senti-me cansada.

– Rodrigo, você é brilhante! - falei, apertando as bochechas quentes dele - Como eu posso te recompensar?

– A recompensa já seria depois de falar com a diretora... Agora você vai continuar no colégio, e é isso que eu queria.

Sorri e puxei o braço dele para nós andarmos.

– Não, eu quero te dar outra coisa. Tem algo que você queira? Faço qualquer coisa.

Rodrigo ficou olhando para o céu com o cenho franzido, pensativo, até que arregalou os olhos. Virou-se para mim com um sorriso duvidoso.

– Sim, tem algo que eu quero - respondeu ele - Quero que você vá na formatura comigo.

– Rô...

– Como amigos, Juliana! Qual é, tem outra pessoa que você queira ir? Se tiver, eu penso em outra coisa, sério.

– Não... É, talvez seja divertido. Como amigos.

Ele envolveu-me com seu braço e nos caminhamos até minha casa. Chegando lá, minha mãe já veio pra cima de mim, querendo brigar, perguntando onde eu estava. Quando expliquei onde tinha ido e o que tinha ocorrido, ela ficou muito feliz, mas só por um minuto, e depois me mandou voltar para meu castigo. Afinal, eu tinha batido numa menina.
_________

Os meses que seguiram foram de puro estresse. Tinha gente que estava enlouquecendo por causa do vestibular, e gente que parecia nem se importar. Eu era do grande grupo de pessoas nervosas, neuróticas e com olheiras.

Foi na semana seguinte da minha quase-expulsão, que os estudantes perceberam que estava mais do que na hora de estudar. Não só paras últimas provas do ano, que foram uma semana depois, mas também para o vestibular. Tivemos aulas preparatórias durante semanas. Eram apostilas, provas antigas, livros didáticos, tudo embaralhado em todos os cantos do meu quarto.

Depois de duas semanas já querendo que aquilo tudo acabasse, decidi relaxar e ver alguma serie na casa do Rodrigo. Lá, ele sugeriu um grupo de estudo, onde todo mundo pudesse se ajudar e então ficaria muito mais dinâmico e até mais divertido. Aceitei, e no dia seguinte, o grupo já estava formado: eu, Rodrigo, Camila, Rafael, Bruno, Amanda, Laura e Felipe.

Laura era uma menina que havia entrado na sala no último bimestre, e eu ainda não tinha trocado uma palavra. Senti-me tão mal por perceber isso, que chamei-a para fazer parte do grupo. Notei que ela era estudiosa, acho que por isso que ela aceitou. Laura era ruiva, com as sardas mais charmosas que eu havia visto, e tinha um corpo comprido e cheio de curvas.

Felipe era de outra turma, e ouviu eu convidando Rafael para participar, durante o recreio. Já quis entrar no grupo na hora, e Rafael incentivou, pois os dois eram amigos. Não tive como dizer não, até porque Felipe tinha o tipo de beleza que faz você repensar em ser rude. Pele morena, olhos cor de mel, lábios grossos. O tipo de beleza que deixa você nervosa.

O grupo se reunia as duas horas da tarde, todos os dias menos sábado e domingo, na sala de estudo. Debatemos os assuntos que cada um tinha mais dificuldade, revisamos tópicos, e corrigimos questões que não tinham gabarito. Realmente, era um ótimo método de estudo, porém ao longo do tempo começou a ficar cansativo.

Pouco a pouco, as pessoas começaram a faltar para estudar em casa, e chegou ao ponto de só ir eu e Rodrigo estudarmos depois da aula.

Eu passava a semana estressada e exausta e o único momento de relaxamento era domingo. Nesse dia, eu ia para casa do Rodrigo de tarde, para nós jogarmos um jogo de tabuleiro, vermos TV ou só ficar conversando sobre o nada. Era tão bom tê-lo de volta na minha vida. Querendo ou não, Rodrigo fazia parte de mim - sempre fez -, e o sentimento vazio que eu senti quando terminamos estava finalmente se preenchendo.

Acho que por causa disso que eu me senti estranha, assim que percebi que Laura estava gostando do Rodrigo. Na verdade, gostar é pouco, ela estava se apaixonando de verdade por ele.

Eu notei no momento que Rodrigo começou a explicar biologia para Felipe. Era uma terça-feira de céu cinzento, e eu estava com mais sono que o normal. Apoiei meu rosto em minha mão e olhei de relance para a ruiva. Seus olhos marrons brilhavam e caiam bem com o sorriso envergonhado que ela esboçou. Quando vi a quem se direcionava, meu sono quase espantou-se de vez. Porém, preferi achar que aquela feição apaixonada era impressão.

Então eu percebi o quanto que Laura adorava perguntar coisa para o Rodrigo, e sempre elogiá-lo no final. Como ela fazia questão de encostar na mão dele, e depois dar um sorriso acanhado, como se tivesse sido sem querer. Como ela esperava ele se sentar para saber qual cadeira seria melhor para ficar perto do menino. Fiquei perturbada com isso, e resolvi comentar com Rodrigo minha recente descoberta.

– A Laura está gostando de você - amenizei, quando estávamos voltando para casa, depois de uma sexta-feira de estudo.

– O quê? - falou ele, fazendo careta.

– Não aja tão surpreso. Você não é tão lerdo. Eu sou a pessoa mais devagar do mundo e já percebi! Não me diga que você não notou?

– Tá, sim, eu notei - respondeu ele, surpreendendo-me - Ela não é nada sutil.

– Na verdade, eu achei que ela disfarçou bem.

– É, até ela me convidar para ir na formatura com ela.

Eu parei de andar e ele também. Naquele momento, estávamos embaixo de uma árvore imensa, cujas folhas estavam caindo por causa da ventania.

– Laura te convidou? - eu disse, franzindo o cenho. Rodrigo balançou a cabeça como afirmação - O quê você disse?

– Que eu já tinha com quem ir, e agradeci.

– Rodrigo! Não, você deve ir com ela!

– Mas eu já combinei com você, Juliana. Não vou furar.

– Não é questão de furar e ser um amigo legal. É questão do que é justo! Você prefere ir com sua ex, irritada e com mau-humor, ou com uma menina ruiva, lindíssima, que está caidinha por você?

Ele abriu a boca mas nada saiu, e depois estampou um sorriso derrotado.

– Você quer que eu não vá com você? - perguntou ele, depois de tirar o olhar do chão e transferi-lo para mim.

– Não é isso. Eu quero ir com você, claro, mas... Eu quero que você se divirta ao máximo na formatura. E eu acho que a Laura vai conseguir isso, não eu.

Rodrigo demonstrou-se pensativo e depois disse, meio emburrado:

– Tudo bem.

_____________

A semana antes da prova todo mundo, sem exceção, estava se sentindo da mesma forma: "Já era. Não dá mais. Não tô aguentando. O que deu pra estudar, estudei".

Ninguém mais estava suportando. Só se via adolescentes dormindo em cima das mesas, com papéis envolta e baba escorrendo para fora da boca.

Evitei os livros um dia antes do vestibular, porque quanto mais eu estudava, mais eu percebia como não sabia de alguns assuntos. Era um desespero que eu detestava sentir. Passei o dia dormindo e assistindo filmes, porém a culpa de não estar fazendo nada estava me consumindo.

No dia, eu estava elétrica. Parecia que havia tomado várias xícaras de café. Eles recolheram todos nossos aparelhos eletrônicos e colocaram num plástico cinza. A prova em si foi cansativa, chata, e enervante. Houve questões que eu fiquei com dúvida se eu estava certo, por achar que estava fácil demais para ser verdade. Também houve questões que eu só conseguia pensar "Onde eu estava quando o professor ensinou isso?".

Quando acabou, eu só queria me jogar no chão e chorar, por felicidade ou tristeza (não sei, as emoções estavam muito misturadas naquela semana). Meu corpo estava cansado, mas quando eu vi meus amigos, quis correr para vê-los. Camila foi a primeira a fazer perguntas sobre meu desempenho, mas eu não quis dizer, porque não sabia como tinha ido e porque não estava afim de falar sobre aquilo naquela hora. Ela respeitou e voltou a conversar com o Rafael.

Os resultados só saiam em janeiro, então as atenções foram direto para a formatura. Agora que todos estavam livres dos estudos, as redes sociais bombaram e só se via fotos de vestidos para a formatura, pessoas vendendo os convites que sobraram pelo FaceBook, e gente compartilhando coisas engraçadas sobre o vestibular.

A escola nos deu cinco convites para darmos para quem quiser. Eu precisava de um, dei um para minha mãe, outro para meu pai e não sabia mais para quem dar. Liguei para minha irmã mais velha, Raquel, e ela pediu doze desculpas (eu contei) porque disse que não poderia ir.

– Prova final do ano, maninha - disse ela - É um dia depois da sua festa de formatura, logo de manhã, então eu acredito que não daria para eu voltar de avião a tempo. E se desse, eu estaria exausta para fazer a prova.

– Eu entendo - respondi, um pouco chateada - Não tem problema.

– Daria para eu ir na cerimônia e blá blá blá, a que entregam os diplomas e tal.

– Não precisa, eu te livro dessa chatice. Melhor ficar na faculdade e estudar bastante.

Ela me agradeceu mil vezes e perguntou como eu tinha ido no vestibular. Conversamos sobre isso por uns quarenta minutos, até eu perceber que a conta daquele mês seria alta. Desligamos e eu já senti falta dela. Conversei aquele ano muito pouco com minha irmã, e sabia que ela estava mal por não ir na minha formatura. Porém eu sabia que seria melhor daquela maneira.

Até daria os últimos dois convites para alguém da minha família porém as únicas pessoas que se importavam comigo e eu com eles, eram meus avós de parte de pai, e estes estavam numa viagem romântica em Veneza. Logo, eu não sabia o que fazer.

Estava quase vendendo online quando tive uma ideia.


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