Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 43
Capítulo 43


Notas iniciais do capítulo

Aleluia, FINALMENTE ESTOU DE FÉRIAS! Sabem o que isso significa? Muitos capítulos sem ter que esperar uma semana, como sempre foi... Mentira, muitos capítulos nada, porque estamos bem na reta final da fic :o
Boa leitura, trabalhei nesse capítulo com carinho, espero que gostem.
PS.: Gente, deu 7 mil palavras, bati meu recorde! Tomara que não fique cansativo... Nem tinha percebido que tinha ficado tão grande. Beijos.



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– Como assim o Alex foi a sua casa ontem? – gritou Camila, quando eu liguei para ela na tarde seguinte – Juliana, tem certeza que era ele? Quer dizer, você está enfurnada na sua casa há dias, tomando soníferos. Quem sabe não foi um sonho?

– Eu não virei uma demente, Camila. Se aquele não era Alex, era um clone.

– Tá bem, acredito em você. Como ele está?

– Bem, eu acho.

– Fisicamente, Juliana.

– Oh. A verdade? Ele está incrivelmente bonito. Camila, mais que o normal. Realmente atraente. Acho que é porque ele está com um pouco de barba. Cortou o cabelo. Não sei!

– Nossa, para uma garota de coração partido, até que você está bem safada, né? – fiquei calada – Estou brincando. Mas ainda não entendi como isso aconteceu. Pode começar a contar.

Comecei. Depois de dar o olá mais assustado do mundo para ele, Alex já foi entrando na minha casa. Já ia empurrá-lo para fora e chamá-lo de mal educado, quando minha mãe avistou ele.

– Alex? – disse ela, carregando uma pilha de roupas passadas.

Ele virou o rosto e abriu um sorriso gigantesco.

– Oi tia!

– Oh não, Alex, “tia” me faz sentir tão velha.

– Hm, oi jovem.

– De alguma forma isso foi pior.

Eles dois gargalharam e compartilharam um abraço. Por um segundo eu achei que se eu saísse de fininho, nenhum deles iria perceber. Pena que não era verdade.

– Eu queria perguntar se eu poderia sair com a Juliana agora – disse ele para minha mãe.

– Claro! Juliana precisa mesmo sair com um garoto, já que ela e o Rodrigo terminaram e ela está um bem abalada.

Minha mãe não tinha noção alguma. Aquilo era algo de sair falando para qualquer pessoa?

– Chora pelos cantos da casa – continuou ela.

Alex me olhou com uma clara vontade de rir quando me encontrou totalmente envergonhada.

– Hm, mãe, não é bem assim. E Alex, você nem chegou a me perguntar se eu quero sair com você.

Minha mãe disse que já voltava, pois tinha que tirar algo do forno. Ele se aproximou de mim e sussurrou em meu ouvido:

– Você parece querer uma saída.

Realmente eu queria, só não sabia se eu queria a ajuda dele. Não me parecia uma ideia ruim, pois toda a raiva que eu tinha por ele já havia se dissipado.

– O que você tem em mente? – perguntei, fazendo ele sorrir.

– O que você quer?

– Uma saída informal descontraída entre amigos.

– Não é exatamente o que eu estava pensando, mas serve. Vamos ao píer. Lá está tendo umas festas informais descontraídas. Só coloque um vestido qualquer e um casaco.

– Ahn, festa? – gemi.

– Não vamos ao cinema. É o programa mais monótono existente. Você precisa dançar.

Acabei cedendo. Coloquei um vestido rendado branco com um cinto marrom. Eu estava indo para uma festa e estava já com sono. Achei que isso era um sinal: a primeira vez naquela semana que eu estava com sono sem ter tomado algum sonífero. Ia até falar que não queria mais ir, só que isso levaria a uma conversa longa e cansativa que eu não queria participar. Por isso, coloquei uma sapatilha e fui.

A festa não era realmente no píer. Era num iate bem grande que estava parado em volta. E precisava pagar para entrar por causa da lotação. Alex pagou para mim.

Já era nove e meia da noite quando chegamos, e a festa começou a encher não muito depois disso. Eu fiquei sentada num banco, olhando para o mar e esperando ele voltar com uma bebida para mim. Alex demorou mas voltou com um copo azul estendido para mim. Dei um gole sem nem agradecer. Minha garganta ardeu.

– Isso tem álcool?

– Ah, sim, essa festa é para acima de dezoito. Só tem bebida alcoólica e água. Quer que eu troque?

Respondi bebendo o resto do líquido de uma vez só. O amargo fez eu espremer meus olhos. Ele riu.

– Então – ele se sentou do meu lado – Gostaria de conversar sobre o seu término?

– Porque eu gostaria?

– Bom, tem o fato irrefutável que você é uma garota. Garotas amam falar.

– Não hoje. Quero mais dessa bebida.

– Eu já pego pra você. Só queria falar uma coisa antes.

– Pode deixar que eu pego.

A música eletrônica estava aumentando gradativamente de volume e eu conseguia ver as pessoas dançando do lado oposto do iate. Imaginei que o segundo andar deveria estar mais cheio que o andar de baixo.

– É lá em cima. Eu pego pra você, está muito cheio.

– Vamos juntos.

– Tá, mas posso primeiro falar?!

Levantei os braços como rendimento. Afirmei com a cabeça.

– Você deve estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui, de volta na cidade e batendo na sua porta.

– Sim, estou.

– Sei que eu fui um completo filho da puta nas últimas vezes que nós conversamos, mas saiba que eu não estava sendo daquele jeito porque eu queria. Hm, nas últimas vezes eu estava sendo do jeito que me mandavam ser.

– Hã? Te mandaram, por exemplo, quase me estuprar na sua casa?!

– Sim. Bom, não foi assim. Eu não ia... Eu não ia fazer nada com você.

– Não sei se acredito. Quem estava mandando em você?

– Senhorita X.

Uma espécie de riso sarcástico e tosse saiu da minha boca.

– E porque porra você obedecia?

– Não posso contar. Porém eu tive meus motivos!

Ri por raiva e me levantei, dizendo:

– Arrã.

– Juliana - falou, levantando-se e indo atrás de mim - O que importa é que eu não tenho mais nada a ver com a Senhorita X. Por isso que eu voltei para pedir desculpas. Desculpas sinceras. Eu não estava sendo eu quando eu fiz aquelas coisas todas.

– Só acredito se você me contar quem é. E não venha com a conversa que você não sabe, que ele ou ela trabalha em segredo e essa baboseira toda.

– Não ia falar isso. Eu sou uma das únicas pessoas que sabe quem é. Acho que no total, duas pessoas, contando comigo, sabem. Oh, três, na verdade.

– Alex, estou esperando.

– Eu não posso. Essa pessoa está ainda brava comigo por eu ter acabado esse trato que eu tinha com ela. Não posso vacilar porque sei que a Senhorita X vai fazer algo pra acabar comigo.

Dei as costas e tentei achar o bar. Ele veio atrás de mim.

– Ei, eu estou tentando ser legal! - falou Alex, puxando meu braço para eu parar de andar - Eu voltei para a cidade para pedir perdão para todas as pessoas que eu já fiz algum mal... Acredite, são muitas. Mas eu quis ver primeiro você, porque... Eu fiquei tão arrependido comigo quando eu estraguei tudo com nós. Não só o nosso namoro eu estraguei, a nossa amizade também. Porque eu sei que a maior parte do tempo que nós namoramos eu estava tentando te beijar - eu ri -, mas quando a gente conversava eu sentia uma paz de espírito, sabe?

Afirmei com a cabeça. Eu sentia isso quando conversava com o Rodrigo.

– E são com pouquíssimas pessoas que eu sinto isso. Então eu queria perguntar se nós podemos ser amigos.

Eu e Alex? Amigos? Nada parecia mais estranho para mim! O garoto que eu passei metade do tempo amando ridiculamente, e a outra odiando fervorosamente estava perguntando se nós podíamos ter uma amizade.

– Claro que podemos - respondi, depois de olhar nos olhos dele.

Não sei se era a bebida ou a surpresa de estar lá com ele, mas quando ele sorriu eu percebi que eu poderia contar com ele a partir daquele dia. Senti-me feliz.

– Ótimo ouvir isso.

– Vamos pegar outra bebida?

Ele afirmou com a cabeça.

Subimos a escada escorregadia. O andar de cima era totalmente diferente. Estava extremamente cheio e muitas garotas estavam apenas de biquíni. Uma garota totalmente bêbada caiu em cima do Alex e começou a dar em cima dele. Ele ficou tentando sair da situação mas a menina insistiu que queria dançar e precisava da companhia dele.

– Mas eu estou com a minha amiga, não posso deixá-la - disse ele, apontando para mim.

– Foda-se ela, ela parece ser grande o bastante para se cuidar - balbuciou, tendo dificuldades de permanecer em pé.

– Ela está certa - falei - Pode ir Alex, divirta-se.

Dei um sorriso e ele pareceu bravo. Ri quando vi a menina puxando ele para o meio da multidão. Andei até o bar e pedi a bebida mais forte que eles tinham. O barman de colete justo sorriu e formou uma bebida bem azul e gelada. Eu bebi várias. A cada copo que eu virava, tornava-me mais confiante e alegre. Decidi ir dançar.

A música era divertida e a letra era sobre encher a cara. Normalmente, eu teria desprezado uma canção que glorificava tanto as drogas, mas naquele momento eu estava pouco me lixando. Três homens me cercaram. Todos pareciam ter vinte e pouco anos. Eu não me importava do jeito que eles me olhavam, pra falar a verdade, eu estava adorando a atenção. Um deles era incrivelmente belo, aquele cara que você olha e sabe que ele deve ser um cafajeste. Você vê que ele é daqueles que consegue qualquer mulher, e por isso as trata como lixo. Eu me sentia como lixo, de qualquer maneira.

Ele fez um sinal e os amigos foram para outro lugar. O homem tocou no meu quadril e nós dançamos com os corpos praticamente entrelaçados. Eu estava bêbada e vulnerável. Ele queria tirar proveito da situação.

– Oi, gata - disse ele, perto do meu ouvido. Não dava para conversar normalmente por causa da música alta - Como se chama?

– Juliana.

– Sou Pedro. Onde está seu namorado?

– Sei lá. Terminei com ele recentemente.

Bem neste instante eu avistei Rodrigo no meio daquela multidão. Ele estava dançando e bebendo. Era ele mesmo ou eu já estava imaginando coisas? Será que eu estava bêbada a esse ponto? Quando pisquei, ele não estava mais lá. Senti-me confusa.

– Poxa, sinto muito - disse ele, não parecendo nem um pouco sentir - Sei um jeito de te fazer sentir melhor.

– Estou aberta a sugestões.

Pedro deslizou sua mão em minhas costas e apertou meu corpo contra o dele, de modo que eu nem conseguia me mexer. Ele aproximou o rosto e, quando estava quase tocando seus lábios nos meus, eu recuei. Ele ficou bravo e, como ainda tinha suas mãos sobre minhas costas, forçou meu aproximamento. Colocou sua mão em cima da minha bunda e apertou enquanto tentava de novo me beijar.

– Que nojo, me solta agora!! - berrei.

– Vadiazinha, para de se debater - falou ele, claramente bêbado.

– Me solta!

Eu não conseguia sair daquela situação e eu estava me sentindo totalmente impotente. O mais incrível é que ninguém a volta parecia se importar. Ninguém nem parecia ouvir. Pedro parecia querer me espancar ou me estuprar. Quando ele tentou novamente me beijar, Alex chegou e empurrou Pedro tão forte que ele caiu.

– Você é surdo? Ela mandou você soltá-la! - berrou Alex.

Pedro se levantou e arrumou sua camisa pólo. Ele estava muito bravo.

– Quem é você?! Pirralho, vai cuidar da sua vida.

Ele me envolveu com o braço e olhou feio para Alex. Pedro apertou forte sua mão contra meu ombro. Doeu de forma que eu gemi. Alex, ao ver aquilo, deu um soco terrível no olho de Pedro, o qual caiu novamente no chão e não se levantou. Ficou gemendo e chorando. Percebi que se ele se levantasse, iria acabar com Alex, porque apesar de tudo, Pedro era claramente mais forte e musculoso. Então puxei Alex pelo braço e falei para nós irmos embora imediatamente.

A escada estava tumultuada mas nós fomos mesmo assim, empurrando todos que estavam na nossa frente. A adrenalina que Alex estava sentindo fez com que ele descesse mais rápido que eu. Quando eu estava na metade da escada, quase caí porque um garoto me empurrou.

– Desculpe - murmurou ele.

Quando virei, era João. Rodrigo estava na frente dele. Os dois continuaram subindo.

Esqueci que Alex devia estar me esperando no píer e subi atrás de João e Rodrigo. Eles não perceberam que eu os seguia. Apressei o passo e puxei João. Rodrigo continuou andando, sem notar que o amigo tinha sumido.

– Juliana! - falou João, abrindo um sorriso e levantando os braços - Amiga linda do meu coração, me abraça.

– João, que merda você está fazendo aqui? - perguntei, soltando os braços dele de mim.

– Bom, dando uma força pro meu brother Rodrigo. Você acabou com ele. Toda noite nós estamos saindo para ver se ele te tira da cabeça.

– Caramba, você está muito bêbado.

Ele começou a gargalhar.

– Estou sim.

– E que história é essa dele me tirar da cabeça?! Ele por acaso te disse o que ele fez para nós terminarmos?

– Não. Dê um crédito, ele sente falta de vocês serem amigos.

– Problema dele!

– Não seja assim. Talvez seja por isso que ele terminou com você. Você é muito ácida.

Fiquei brava.

– João, você não tinha prometido à Manuela que não ia usar mais nenhum tipo de droga? Acho que eu vou ter que contar sobre hoje para ela.

– Não! - berrou - Não, você não pode fazer isso! Ela vai desistir de mim!

– Então vá embora agora mesmo daqui. Você e o Rodrigo, me ouviu?

– Tá! Eu estou indo.

Já ia fazer outra ameaça para ele ficar com medo mesmo de eu contar para a Manuela, quando eu percebi que, a poucos metros de distância, Rodrigo estava me encarando. No meio das pessoas dançando, ele estava lá, paralisado e com um copo cheio de vodka na mão. Mesmo longe, seus olhos azuis penetravam minha alma e engoliam qualquer chance de eu tirar ele da minha mente. Eu odiava o efeito que Rodrigo tinha sobre mim.

– Hm, tchau. Te vejo segunda - falei, levemente sem ar e olhando para o chão.
João não respondeu.

Eu sai do iate com muita pressa. Encontrei Alex lá fora, com uma cara confusa e braços cruzados.

– Onde você estava? - perguntou ele, cerrando o cenho.

– Desculpe, eu... Me enrolei. Deixa pra lá. Me leva pra casa agora.

Alex não discutiu. Entramos no carro preto dele e ouvimos música dos anos setenta até chegar a minha casa. Assim que ele freou o carro, olhou para mim.

– Obrigada por ter me defendido - falei - Aquele cara estava avançando em mim, então valeu.

– Não sei onde você estava com a cabeça. Aquele cara todo transpirava malandragem.

Fiquei calada por alguns segundos, até que disse:

– Bom, obrigada por tudo, de qualquer forma. Até que foi divertido. Em alguns momentos - ele riu baixo.

– Na próxima vez vamos no cinema, ok? - disse ele, quando eu saí do carro. Sorrimos juntos e ele foi embora.

Fui na ponta dos pés até meu quarto. Eu estava exausta, mas tinha suado tanto na festa que era impossível dormir. Por isso, fui tomar um banho e depois coloquei um pijama velho. Estava bocejando quando fui até a cortina para fechá-la. Bem neste momento eu vi Rodrigo saindo de um carro. Ele acenou para alguém e o carro foi embora. Rodrigo cambaleou até metade do gramado, quando caiu e começou a vomitar. Eu precisava checar se ele estava bem.

Cheguei lá embaixo e me aproximei lentamente. Rodrigo estava sentado quando virou o rosto para mim, enquanto limpava o vômito com a manga de sua jaqueta jeans. Eu preferi continuar onde eu estava. Não falei nada. Não sabia o que falar.

Rodrigo deitou na grama e fechou os olhos.

– Eu estou sonhando? - perguntou ele, apertando a grama com sua mão.

– Hm, Rodrigo, se levanta. Vamos.

– Com certeza estou sonhando - disse ele, depois abrindo os olhos vagarosamente e esboçando um sorriso - Só num sonho você voltaria a falar comigo. E só num sonho você sairia de casa usando seu pijama de ursinho.

Eu fiquei envergonhada. É verdade, se eu estivesse totalmente sóbria eu nunca teria saído de casa naquela roupa. Não importava se era de madrugada ou não. Rodrigo sabia como eu odiava aquele pijama.

– Sim, é um sonho - menti, agachando-me. Ele se sentou e nossos rostos ficaram próximos o bastante para eu sentir um embrulho no estômago - Você consegue ir para o seu quarto sozinho ou precisa de ajuda?

Não recebi resposta: Rodrigo puxou meu corpo para cima do dele e me abraçou.

– Já que é um sonho, que eu aproveite - disse ele.

Eu vacilei por um segundo e deliciei aquele momento. Depois me lembrei da nossa situação. Empurrei-o. Rodrigo se deitou em cima da grama de novo. Disse:

– Você está linda - e fechou os olhos.

Não falei nada.

Levantei-me e fui até a porta da casa dele. Apertei a campainha três vezes. Ouvi passos apressados se aproximando da porta. Sai correndo até minha casa e vi, pela janela da sala, Valéria saindo de casa e indo até o filho. Ela ajudou-o a se levantar e os dois entraram em casa. Fui dormir tendo o infeliz flash-back do dia que nós terminamos. Arrependi-me profundamente de ter ido descer para ajudá-lo. Eu me sentia miserável outra vez.
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– Nossa - foi tudo que Camila falou, depois que eu contei tudo.

– É.

– O Rodrigo está mais do que estranho.

– É.

– Eu não queria comentar mas no colégio ele também está agindo de um modo estranhíssimo.

– É?

– Ele não falou com a gente nenhum desses dias. Tá sentando no fundo da sala. No recreio, ele sumiu todos os dias, menos sexta, que apareceu sentado ao lado da Sarah. Ela ria que nem uma hiena.

– Oh.

– Nossa, não devia ter comentado isso, desculpa, Ju!

– Não se desculpe. Não tem problema.

– Hm... Você vai para a escola amanhã, certo?

– Infelizmente acho que sim.

– Bom.

Desligamos pouco tempo depois, quando ela terminou de contar sobre como ela precisava de tal sapato de tal loja de tal shopping. Recebi uma mensagem de Alex pouco tempo depois:

"Algo que eu esqueci de comentar que eu não moro longe. A história que eu ia me mudar para outro estado é uma grande mentira. Estou a duas horas de distância. Quer fazer alguma coisa final de semana que vem? Eu te busco. Beijos."

Respondi imediatamente:

"Pode apostar."

Não iria fazer mal ter um amigo a mais, já que eu havia recentemente perdido um.

Voltar à escola foi estranho. Tudo parecia estar diferente, e eu não tinha ideia por que razão. As pessoas me olhavam de outro jeito, parecia que elas me desprezavam. No recreio de segunda-feira tive uma ideia por quê.

Uma menina, na minha frente na fila da cantina, virou-se para mim gargalhando. Eu nunca tinha visto ela antes. A garota era robusta e baixa, com lábios finos e austuciosos. Seu olho era da cor da lama, e mal pintado por um lápis preto.

– Uau, você realmente é amaldiçoada.

– O que disse? - falei, realmente jurando que ouvira errado.

– Todos os seus namorados te traíram feio - e riu alto.

– Desculpe, quem é você?

– Jéssica. Segundo ano. Querida, você está na boca do povo.

– Estou?

– Oh, sim. Estão todos rindo da sua cara. Minha amiga aqui que me contou da sua história. Ah, que pena.

A tal amiga deu um sorriso acanhado enquanto suas bochechas se tornaram extremamente vermelhas.

– Jéssica, cala a boca - sussurrou ela, não tão baixo para eu não conseguir ouvir - Você tem que se controlar!

– Ah, ela não se importa. Não é, Juliana?

– Com o que?

Jéssica revirou os olhos.

– De eu falar a verdade na sua cara! Não estou dizendo nada que você não tem consciência... Oh, meu namorado! Amor! - berrou ela. Um cara baixinho como ela, tão invocado quanto, se aproximou e tascou um beijo - Juliana, esse é o Rick. Só pra você ver como é um namorado que não trai. Sei que você não deve nem ter ideia que eles existem - eles dois começaram a rir e saíram da fila para namorar.

– Hm, peço desculpas por ela - disse a amiga de Jéssica - Ela é... Bom, você sabe. Não é só com você, é com todo mundo. Eu sou a única amiga da Jéssica.

– Tudo bem.

– Ela só tem uma raiva extra de você porque ela tinha maior paixonite pelo Alex... Bom, não sei se você sabe mas ele também ficou com ela quando vocês namoravam.

– Ah. Devia imaginar.

– Hm, e ela jurava ser a única com quem ele tinha um caso. Acreditava que ele era apaixonado por ela, mesmo sem ele nunca ter dado um indício. Então, um dia, Alex veio até ela e disse que aquilo teria que acabar. Que ele amava você e não ia mais te trair. Por isso que ela tem raiva de você.

– Você acha mesmo que eu vou acreditar nisso?

Ela ficou ofendida.

– Não estou mentindo!

– Não, eu sei, é que... O que o Alex falou é mentira. Ele continou me traindo bastante.

– Ele falou isso pra ela poucos dias antes de você armar aquele barraco no recreio e terminar com ele. Olha, eu conheço umas outras meninas que também ficaram com ele, e ele fez o mesmo discurso de término para elas também. Alex estava determinado a acabar com seus casos ridículos e ficar com você. Ele gostava de você de verdade, Juliana, acredite você ou não.

Não sabia o que falar, então me permaneci calada. Aquilo parecia ser verdade, mas meu corpo tinha dificuldade de absorver. Isso não significava nada para mim, não agora. Talvez se eu tivesse ouvido isso a meses atrás, quem sabe eu teria vontade de reatar com ele. Agora isso não passava de palavras soltas e insignificantes para mim.

A menina soltou um olhar, comprou um refrigerante, e saiu, sem dizer mais nenhuma palavra. Comprei uma barra de cereais e fui embora também.

Ver Rodrigo e Sarah juntos no recreio foi torturante. Pra falar a verdade, eu não os via muito, já que eles simplesmente sumiam uma hora ou outra. O boato é que havia um novo lugar de pegação no colégio, e eles eram os fregueses mais frequentes.

Todo dia daquela semana era como ouvir uma música horrível num replay que só parava quando eu chegava em casa. De vez em quando, à tarde, a música voltava na minha cabeça numa altura insuportável. Então eu fazia de tudo para respirar fundo e ignorar. Só torcia que o final de semana chegasse logo.

Quando ele chegou, só faltava eu começar a chorar de alegria. Não ser obrigada a ver meu ex na sala de aula, meu ex com sua ex (agora não ex) no recreio, meu ex voltando para casa praticamente no mesmo caminho que eu... Ia ser uma maravilha! Tudo bem, ainda ia ter que vê-lo saindo toda sexta, sábado e domingo, e voltando bêbado, quase caindo no chão... Mas isso era o de menos.

Sábado eu estava planejando em passar o dia morgando. Já tinha colocado uma camisola larga, um filme no DVD player, e meias compridas brancas. Já estava preparada para ficar à toa, quando meu celular começou a vibrar. Atendi a ligação com um mau humor presente no rosto.

– Abre a porta, por favor? - ouvi a voz de Alex falar.

– O quê? Você está na minha casa?!

– Você disse que queria sair no final de semana.

– Custava ter marcado um horário?

– Acho que não, mas isso não importa agora, certo?

Fiquei quieta por alguns segundos. É, não importava.

– Espere. Estou indo.

Eu não me importei com o fato que eu estava super desleixada. Se Alex se incomodasse, dane-se.

Abri a porta e ele estava já sorrindo para mim. Alex usava seu estilo de sempre. Camisa com referência à alguma banda, calça rasgada, tênis sujo e óculos escuro; desta vez, enganchado na gola da camisa. Ele deu uma risada alta quando me viu.

– Vejo que está empolgadíssima em sair comigo.

– Nem vem. Eu não estava esperando visita. Vai, entra.

Alex entrou e se acomodou no sofá bege rapidamente. Perguntei para ele aonde nós iamos, para que eu não usasse nenhuma roupa inadequada. Ele se recusou a responder, alegando que era uma surpresa. Acredito que ele nem tinha bolado uma ideia ainda.

Vesti uma calça preta justa com uma blusa amarela. Coloquei o primeiro tênis que apareceu pela frente e desci a escada. Alex estava conversando com meus pais, os quais pareciam amar ele tanto que me incomodava. Eu chamei a atenção deles com uma tosse fingida. Meu pai fez a usual checagem para ver se aprovava minha roupa. Deu um sorriso para mim como resposta. Era raro ele não fazer pelo menos um comentário negativo, então estranhei.

Fomos embora logo depois, e Alex ainda não queria me dizer para onde estávamos indo. Chegamos uns dez minutos depois e eu vibrei quando vi onde estávamos. Boliche. Outro esporte que eu amava porém era terrível.

Alex pagou para mim a entrada, e me guiou com a mão em meu ombro. A nossa pista era a número seis, e poucas pessoas estavam jogando ao nosso redor. Tudo tinha cheiro de menta e sapatos velhos.

Entendi logo depois por que Alex tinha me levado lá. Ele era totalmente incrível no boliche. Fez quatro strikes seguidos, ao passo que eu não consegui fazer nem um spare. Ficamos tomando Coca-Cola e variando as rodadas. Eu estava me divertindo ao ponto de quase conseguir tirar o Rodrigo da minha cabeça, mas não era suficiente, nada era.

Na nona jogada, eu já estava cansada do deboche e de perder.

– Você não está mais rindo - disse ele, depois de voltar com batatas-fritas. Colocou uma na boca e sentou-se numa cadeira na minha frente.

– Hm. Desculpe.

– Tsc. Esse Rodrigo te magoou demais, Juliana. Nunca gostei dele.

Eu ri.

– E ele nunca gostou de você.

Olhei para o chão, e percebi que Alex virou o rosto para mim.

– E você gostou de nós dois.

– Hm - olhei para ele e sorri - Acho que eu tenho mau gosto.

– Eu tenho certeza.

Nós rimos. Ele se levantou e sentou do meu lado.

– Talvez nós deveríamos dar o fora. Você não vai mais ter diversão aqui. E a minha meta hoje é te fazer voltar para casa com um gigante sorriso no rosto.

Não pude deixar de sorrir neste momento.

– Então, em que você é boa? - perguntou ele - Sei lá, algum jogo, algum esporte.

– Pinball.

– Pinball?

– Sim, eu sou o máximo em Pinball. Posso ficar muito, muito tempo sem deixar a bolinha cair no buraco.

Alex deu uma risada.

– Impressionante. OK, vamos achar um fliperama para você.

E nós achamos, dois quarteirões de distância. Não estava cheio naquele horário, na verdade, além de nós dois só existia os funcionários entediados e um menino de olhos puxados vidrados num jogo de luta.

O ambiente do lugar era escuro, com apenas umas luzes vermelhas e amarelas enfeitando as paredes. Percorremos um labirinto de brinquedos até chegar na máquina de pinball. Alex quis ir primeiro e não levou mais de um minuto para ele perder. Eu tossi e estralei os dedos, brincando.

– Observe como é que se faz - falei, antes de puxar a alavanca e a bolinha subir.

Nos primeiros cinco minutos me observando, Alex ficou animado, surpreso e na expectativa da bolinha cair a qualquer momento. Nos próximos cinco, ele já tornou-se entediado e com uma ligeira raiva. Quando ele olhou para o relógio e percebeu que quase completavam quinze minutos que eu estava jogando, Alex ficou fazendo de tudo para me atrapalhar. Eu ria muito. Ele pulou em cima da máquina, tentou me puxar para longe dela, fez cócegas em minha barriga e até tentou me morder.

– Eu vou te beijar se você não parar com esse jogo eterno aí.

– Vai nada - respondi, vendo os pontos multiplicando-se no visor laranja.

– Vou sim.

E ele foi se aproximando. Eu ri e não me mexi. Alex estava quase com o rosto colado no meu, e foi aí que eu comecei a me esquivar, mas nessa brincadeira de fugir eu escorreguei minha mão e não consegui apertar um botão no momento certo. Game Over.

– Alex! Eu perdi!

– Uau, finalmente. Não tem um recorde mundial disso ou algo assim? Acho que você bateu.

– O recorde mundial é 28 horas - respondi, aborrecida.

– Então, você foi muito mais que isso. Pelo menos na minha cabeça, durou uns cinquenta anos, no mínimo.

Eu ri e empurrei ele de lado. Alex me envolveu com seu braço e me guiou até um brinquedo que você deveria acertar bolinhas em várias certas de basquete em miniatura. Depois jogamos Pac-Man, andamos num carro de corrida, lutamos contra um monstro verde num jogo de luta, e morremos de rir ao dançar num tapete de dança ao som de Backstreet Boys. Saímos do lugar rindo como loucos. Já estava escurecendo.

Quando chegamos na frente da minha casa, Alex suspirou e disse:

– Consegui.

– O que?

– Te fazer sorrir.

Sorri novamente e não aguentei: abracei-o sem pensar. Ele me levou até a porta e perguntou se ele poderia entrar apenas para beber um copo de água, já que teria um longo caminho de estrada pela frente. Afirmei.

Assim que eu entrei, meu foco foi para um papelzinho retangular no centro da mesa de jantar. Fui até ele e desdobrei-o.

– O que diz aí? - perguntou Alex.

– "Juliana, fomos jantar com os Soares. Eles queriam que você fosse conosco mas como você já tinha saído... Voltamos mais tarde. Mamãe e Papai." Hm.

– Oh. Você quer companhia?

– Não precisa - respondi, sincera.

– OK. Hm, posso ver seu quarto?

Suspeitei mas não o bastante para impedi-lo de ir até lá. Ele subiu as escadas correndo quando percebeu que eu confirmei com a cabeça. Quando alcancei ele, Alex já se encontrava sentado na minha cama, observando as paredes. Eu me sentei do lado dele.

– Seu quarto mudou desde a última vez que eu vim aqui.

– Bom, isso já faz um bom tempo, também.

– Uma pena - disse ele, aproximando seu corpo de mim calmamente. Eu me encolhi e virei o rosto; estava incomodada - Uau, eu estou sendo tão intrometido! Desculpe.

Alex se levantou da cama e entortou a boca. Eu me levantei e segurei o braço dele.

– Não, não está - falei, e ele olhou para mim - Hm, queria te agradecer por hoje. Tinha um bom tempo que eu não me divertia assim.

Ele sorriu e então a coisa mais estranha aconteceu. Com sua língua, Alex umedeceu seu lábios, e encostou eles nos meus, com uma pressa que por um segundo pareceu-me adorável. A parte estranha é que eu beijei ele de volta, e com muita vontade, devo adicionar. Parecia que meu lado racional tinha evaporado.

Ele segurou minha cabeça e eu estava com os olhos bem fechados. Ele segurou meu quadril e me empurrou para cima da cama, onde ficou por cima de mim. Eu não sei o que passava pela minha cabeça naquele instante, talvez porque eu não estava pensando em nada. Então eu abri os olhos.

A primeira coisa que me alarmou foi a visão dos negros cachos de Alex, e eu não sei porque eu fiquei tão apavorada com isso. Acho que neste momento que eu percebi o que eu estava fazendo. A segunda coisa que eu vi foi a janela. Ela estava fechada, mas não estava coberta pelas cortinas. Sem lembrar que eu estava beijando um garoto, inclinei-me para o lado, interrompendo o beijo e tendo uma visão melhor do quarto do Rodrigo. Ele não estava lá. Não sabia se eu estava triste ou feliz por isso.

Alex virou-se para encarar a janela e olhou em seguida para mim.

– Ah é, o Rodrigo - disse ele, sentando-se e tirando suas mãos grandes da minha cintura - Ele não está lá. Acho que seu plano óbvio de deixá-lo com ciúmes não vai funcionar.

– E-Eu não estava pensando nisso - falei.

– Eu sou um idiota mesmo. É claro que quando você me beijou, ficou pensando nele.

Ia argumentar alguma coisa para tornar aquela situação menos constrangedora, mas eu não queria ser desonesta com ele. Não tinha coragem. Percebi o motivo porque eu tinha beijado ele: eu estava carente e precisava de alguém.

– Isso é horrível, eu sei. Me desculpe - respondi, e ele riu.

– Eu sou pior que você.

– Como assim?

– Eu nem ligo, Juliana. Eu quero tanto os seus lábios que eu nem me importo em ser usado. Provavelmente depois eu me arrependa, mas agora eu só...

Então nós nos beijamos de novo. E nesta vez, eu estava ainda mais confusa. Sim, eu queria que Rodrigo chegasse em seu quarto naquele instante, eu queria ver a reação dele, eu queria fazê-lo sofrer de alguma maneira. Mas eu não queria me rebaixar daquele jeito... Era simplesmente triste. Eu estava beijando um garoto e estava a ponto de chorar. Fechei os olhos para nenhuma lágrima escorrer.

O beijo do Alex era uma mistura de carinho e brutalidade. Eu não sabia como ele conseguia misturar tais coisas porém eu amava. Ele tocava em meus lábios de um jeito gentil mas que, ao mesmo tempo, parecia que poderia arrancar minha boca a qualquer momento. Eu gostava do perigo. Gostava ainda mais do preenchimento temporário que eu sentia em meu coração.

Começamos a nos beijar com mais força e tudo ficou melhor. Eu tirei a camisa dele e comecei a beijar seu pescoço. Decidimos telepaticamente alternar, então ele começou a dar chupões na minha pele. Eu abri os olhos por causa da dor que senti. Neste exato momento, Rodrigo estava observando a cena atrás da janela.

Eu fitei ele enquanto Alex beijava minha boca. Foi tão estranho, mas eu não conseguia tirar os olhos do Rodrigo. Quando parei para piscar, Rodrigo tinha sumido. Por um segundo eu achei que aquilo tinha sido uma bizarra ilusão da minha mente, mas percebi que não porque depois de uns trinta segundos, Rodrigo invadiu meu quarto.

Alex parou de me beijar, mas continuou segurando meu quadril, ao passo que eu ainda segurava os ombros dele. Foi um segundo admirável, onde nós dois permanecemos paralisados, apenas vendo qual seria o próximo movimento do Rodrigo, o qual ainda estava parado na frente da porta. Mas isso durou, no máximo, três segundos.

Rodrigo pulou em cima de Alex e os dois caíram no chão do meu quarto. Rodrigo encheu a mão e deu um soco no nariz do Alex, o qual deu um berro e não teve nem tempo de colocar a mão e sentir o sangue saindo, porque Rodrigo deu outro soco forte, desta vez no olho. E depois, outro soco. Eu não sabia o que fazer.

Alex conseguiu se livrar das mãos do Rodrigo e ficou de pé. Rodrigo foi atrás dele, e sua mão estava extremamente machucada e com sangue. Alex foi mais rápido e deu um soco no estômago do Rodrigo, e este começou a tossir e caiu no chão. Alex deu um chute nas costas do outro. Eu gritei para eles pararem, mas foi inútil.

Rodrigo se levantou e os dois começaram a se bater novamente, sem ninguém ganhando ou perdendo, aparentemente. Eu estava terrivelmente desesperada e, como meus pedidos falados não funcionavam, coloquei-me no meio deles, mesmo sabendo que iria provavelmente levar um soco. Realmente acertei. Assim que eu me meti entre os dois, Alex acabou me dando um tapa forte, e eu caí no chão.

– Seu filho da puta! - berrou Rodrigo, agachando-se para me ver. Ele deslizou os dedos pela superfície atingida.

Olhei para cima, e Alex estava de boca aberta, pasmo.

– Me desculpa, Juliana, meu Deus! - gaguejou ele, sentando-se no chão para observar meu rosto.

– Vocês dois são tão idiotas! - gritei - Olha o que eu tive que fazer pra parar a briga!

– Isso se acabou, porque você não vai se safar depois de ter feito isso com ela - falou Rodrigo para Alex, e eu o empurrei para trás com isso.

– Você é o maior idiota de todos, Rodrigo! Olha que cena ridícula você acabou de fazer!

– Cena ridícula? Desculpa, achei que era exatamente isso que você queria, já que você fez a cena mais ridícula de todas, tentando me deixar com ciúmes!

– Te deixar com ciúmes?! - berrei. Ele podia estar certo mas eu não ia deixar ele saber disso - Desculpa se eu estou seguindo minha vida! Se eu não estou mais afim de sofrer por causa de você!

Ele deu um riso sarcástico misturado com suspiro e tentou se levantar. Ele conseguiu e andou em direção a porta, com muita dificuldade por causa das pernas bambas. Caiu poucos segundos depois. Eu me levantei e fui até ele. Percebi que Alex já tinha ido embora. Não o culpei.

O estado de Rodrigo era deplorável, caído no chão com a camisa amarrotada e lábios sangrando.

– Você está bêbado, não está?

– Não o suficiente para a ocasião.

– Sabia. Você não é assim. Você não sai estragando a cara das pessoas, no meio do nada. Você não bebe tanto, nem todo dia. Se bem que o quê estou falando? Eu mal te conheço.

– Para com isso.

Ele se levantou e nós ficamos nos olhando com raiva um para o outro. Eu queria estar bêbada naquela hora. Bêbada o bastante para não lembrar nada no dia seguinte. Porém, mais do que tudo, eu queria saber o que estava passando pela mente dele. Desde quando Rodrigo tinha virado um quebra-cabeça insolúvel para mim? Antes eu tinha certeza do que ele estava pensando, conseguia decifrar qualquer emoção apenas por olhar nos olhos dele. Mas agora eu estava olhando para aqueles grandes olhos azuis e tudo que eu sentia era um vazio.

– Não importa se a gente brigou ou não. Não importa se a gente está junto ou separado. Eu nunca vou suportar te ver com o Alex. Juliana... O jeito que ele te magoou... Eu seria um completo idiota se visse aquilo e não fizesse nada.

– Você está sendo um completo idiota agora. E, Rodrigo, você me magoou muito mais. Você foi muito pior.

Ele sorriu. Desta vez eu consegui ler a emoção dele: aquele era um sorriso de dor.

– Isso não é verdade. É exagero.

– Não é. E eu... Eu acho que eu nunca vou conseguir te perdoar. Eu te conheço desde que eu nasci e só agora eu descubro como você é de verdade. Você tem ideia de como eu estou confusa e decepcionada? Eu sempre acreditei em você! O pior é que no momento que eu vi o quão falso você é, você morreu pra mim. Na verdade, você nunca existiu... O menino que eu amei foi uma ilusão. É horrível perceber que os sentimentos mais lindos e puros que você já sentiu, são por parte uma farsa.

Ele abriu a boca mas absolutamente nada de lá saiu. Rodrigo olhou para seus pés e foi até a porta. De costas para mim, falou:

– Tomara que você perceba logo.

Não tive nem tempo para assimilar de que porcaria ele estava se referindo, eu só queria fechar a janela e me fechar do mundo.

De alguma forma, com aquela briga toda, meu criado-mudo caiu e uma gaveta saiu. Eu vi o colar dentro dela e meu coração acelerou. Meu quarto estava uma bagunça, e eu não queria lidar com aquilo agora, então fui para o quarto dos meus pais, e fechei todas as cortinas, mesmo sabendo que nenhuma delas tinha a visão para a casa do lado. Deitei-me na cama dos meus pais. Chorei como no dia que eu terminei com ele, por uma sessenta minutos, até que eu caí no sono.

Acordei com minha mãe do meu lado. Ela estava me observando. O despertador marcava oito e quarenta da manhã.

– Quem te deu esse tapa? - foi tudo que ela disse.

– Ainda está a marca?

Ela me passou um espelhinho. Sim, havia uma grande parte do meu rosto com um contorno perfeito e rosa de uma mão.

Fiquei bolando na minha cabeça uma mentira bem boa de quem poderia ter me dado o tapa, mas acabei contando toda a verdade. Minha mãe ficou com uma expressão neutra até o final, quando disse:

– Quer faltar segunda-feira?

Eu afirmei com a cabeça e dei um abraço nela. Minha mãe contou um resumo do acontecimento para meu pai e ele disse que nunca mais me deixaria em casa sozinha. De alguma forma, eu ri disso. Talvez seria uma boa ideia.

Segunda-feira de tarde eu recebi o convite de ir na casa da Camila. Ela queria saber sobre minhas novidades, e disse que tinha comprado um presente para mim. Quando eu cheguei, ela primeiro ficou preocupada com meu rosto, depois pediu para ouvir a história, depois deu uma caixa para mim. Desamarrei o laço vermelho e consegui abrir. Lá dentro tinha uma camisa preta, onde se lia "GIRLS JUST WANNA HAVE FUN" em branco, que é uma música que eu amava. E, preso em cima, estava um broche. Ele era prateado e formava uma espiral. No centro, uma bolinha fosca preta. Era um broche estranho, mas que junto com a camisa, ficava legal.

Agradeci, avisei que ia experimentar e fui no banheiro. Camila ficou conversando comigo por trás da porta.

– Sabe quem encontrei na loja? Alex. O rosto dele está completamente ferrado.

– Oh, é mesmo? - respondi, tirando minha blusa.

– Sim. Eu comprei hoje as onze horas. Ele estava bem afobado. Queria me ajudar com as compras e tal.

– Que doido.

Saí do banheiro e Camila adorou o jeito que a nova camiseta me serviu.

– O estranho é que eu não me lembro desse broche... Acho que veio de brinde, sabe? Se você não quiser, não precisa usar.

– Tudo bem, eu gostei.

Decidi ir para casa alguns minutos depois. Quis ir a pé porque queria passar pelo parque. Quando cheguei lá, sentei-me debaixo de uma árvore enorme. O lugar estava totalmente deserto e só se ouvia os grilos cantando. "Finalmente paz", pensei. Não ligava por ser noite, por já estar escuro e por não ter ninguém no parque. Aquilo era um bônus para mim. Coloquei um fone de ouvido e comecei a ouvir música. "Bom não ter gente me perturbando", pensei.

Mudei de ideia um minuto depois, quando uma mão enluvada cobriu minha boca por completo e um pano foi posto em volta dos meus olhos. Senti meu corpo sendo levado. Eu gritava, me debatia de um lado para o outro, mas era inútil. Ninguém ia ouvir.


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