Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 42
Capítulo 42


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews lindos, mesmo!



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Cólica, torcicolo, dor de cabeça, costas, dente, estômago. Para praticamente todas as dores no mundo existem remédios para fazê-las parar. Milhões de embalagens preenchem as prateleiras de diversas farmácias, em pequenas a grandes cidades. Bilhões de reais são gastos em pesquisas científicas para encontrar as curas para dores terríveis, doenças fatais ou incapacitantes. Porém, em pleno século vinte e um, não existe uma medicação que cure, ou pelo menos alivie a dor do coração partido. Provavelmente porque não há onde atuar exatamente, já que é algo apenas da nossa mente traiçoeira e perigosa. Não existe remédio para a pior dor que eu já senti, e isso me apavora.

Depois do episódio na casa do Rodrigo, liguei para Camila. Não devi muitas explicações: ela entendeu que eu precisava dela. Como ela e seus pais estavam por perto, deram-me uma carona até a casa dela. Foi vergonhoso. Eu não me aguentei e chorei bastante. Os pais da Camila se mostraram realmente preocupados, perguntando se algo tinha acontecido com a minha família. Pararam de perturbar quando eu falei que era por causa de um garoto. Camila não disse nada, só me abraçou forte enquanto fazia um cafuné em minha cabeça. Começou a garoar.

Depois de quase desidratar por causa do meu choro levemente exagerado, eu liguei para minha mãe para avisar que ia passar a noite na casa da Camila. Ela não reclamou. Aparentemente Valéria havia ligado para minha mãe e descrito a cena que tinha ocorrido há pouco. Minha mãe falou para eu não fazer nada estúpido por causa do término. Traduzindo, ela falou para eu não me suicidar. Ela já ia começar com o velho discurso "existem muitos peixes no mar", mas eu cortei o assunto pela raíz. Agradeci e desliguei a ligação.

Camila ficou muito preocupada comigo. Dava para ver que ela queria perguntar o que havia acontecido exatamente, mas não sabia como introduzir o assunto sem que eu voltasse a berrar novamente. Por volta da meia-noite eu contei tudo. Exatamente tudo. Ela ficou muito pensativa, principalmente com o vídeo da Senhorita X.

Camila deixou eu dormir na cama dela, e me deu todos os travesseiros que ela tinha. Eu me agarrei um a um, e, ao longo da noite, cada um deles foi ensopado pelo meu choro. Camila dormiu assim que eu parei de fazer drama. Depois que ela começou a roncar baixo eu voltei ao meu estado anterior.

Eu não conseguia assimilar nada. A nossa briga me deixou tão confusa que eu não sabia se ele estava triste ou não com o nosso término. "Rodrigo dizia tanto me amar, dizia que desde sempre me quis... Talvez tenha sido isso! Talvez ele tenha criado uma imagem perfeita e inalcançável de como seria me namorar, e eu provavelmente não atendi às expectativas. Ele se desiludiu e voltou a namorar a Sarah. Não terminou comigo porque não queria me magoar. Mas então porque ele continuou a falar aquele bando de coisas doces? Porque ele continuou a querer me agradar, falar que me amava, me dar presentes?" Nada pra mim fazia sentido completo.

Eu só consegui dormir às quatro da madrugada, quando meu sono derrubou minhas mágoas. Eu queria dormir pra sempre. Eu queria acordar apenas na condição de descobrir que tudo era uma brincadeira. Mas nem sempre você ganha o que quer.
–--

Acordei na manhã seguinte com Camila jogando um copo d'água em cima de mim. Ela vestia o uniforme de modo indecente. Jogou para mim o uniforme extra dela e disse para eu me arrumar logo. Eu levantei com uma dor de cabeça extremamente forte e vesti-me com má vontade. Ela mascava um chiclete compulsivamente.

Quando chegamos no colégio, senti que havia algo diferente. Haviam muitos cartazes colados nos murais "Eleja o rei e a rainha do colégio! Hoje, vote para o casal mais bonito da escola! Horário: recreio. Local: pátio". Por um segundo, virei-me esperando achar Rodrigo. Já ia esnobar esse concurso, e ele provavelmente ia concordar e rir alto. Então lembrei-me que ele não estava lá.

As primeiras aulas passaram rapidamente, como segundos. Eu não prestei atenção em nenhuma. Percebi que Rodrigo não estava na sala. Avistei João beijando Manuela do outro lado do corredor.

No recreio, todos foram pro pátio. Camila sumiu e eu fiquei completamente sozinha. A multidão deixou eu chegar perto para ver melhor o evento acontecer. Haviam arrumado bem. Colocaram uns panos coloridos para esconder o que parecia ser uma espécie de camarim atrás. Imaginei que os casais estivessem se arrumando lá ou algo parecido.

Um homem que eu nunca tinha visto na vida chegou usando um terno rosa. Ele falava tão alto, mas só eu parecia me incomodar. Ele tirou o microfone de seu suporte e começou a explicar:

– Durante o ano inteiro nós observamos vários casais passarem pelas portas deste colégio. Eu analisei cada um de vocês este ano, e elegi os três melhores casais. Vocês, alunos, votarão em qual é o melhor, clicando nos aparelhos que nós distribuímos de sala em sala.

Olhei para os lados: todos seguravam objetos parecidos com celulares, e na tela estava escrito "Casal 1", "Casal 2", "Casal 3". Porque eu era a única sem tê-lo?

– Deem uma salva de palmas para o primeiro casal! - e os alunos obedeceram.

O casal número um saiu de trás dos panos e subiu na plataforma em que se encontrava o homem elétrico e rosado. Era impressão minha ou até a íris dele era colorida?

Camila e Rafael vestiam, respectivamente, um vestido longo vermelho um pouco brega e um terno cinza simples. Camila sorria como se quisesse rasgar a boca. Rafael parecia entediado.

– Porque vocês acham que merecem vencer, Camila? - berrou o homem.

– Eu sempre sonhei com isso minha vida toda, meus amigos sabem bem!

Minha cara se resumia num "Hã" gigante.

– Eu sei que os competidores são muito fortes, mas ainda tenho esperanças de levar o prêmio pra casa.

– E que prêmio!

Que prêmio?

– Agora deem um beijinho para mostrar o amor juvenil de vocês!

Um selinho deram, seguido por aplausos e uma despedida cafona, cheia de gesticulações. O casal dois foi chamado. João e Manuela saíram com roupas de banho.

– Que modelito lindo! - disse o homem, olhando mais para João, como dava para perceber.

– Obrigada. Eu e a Manu gostamos muito de ir pra praia então achamos que essa roupa seria boa para mostrar isso para o público. Além de exibir nossos corpos incríveis.

Manuela deu um giro e os caras assobiaram. Eu estava mais do que confusa. Como assim, eles agora saiam falando que namoravam? A ex professora volta para a cidade para namorar o ex aluno, ir no ex colégio participar de um concurso?! Como aquilo estava sendo bem aceito?

Eu já estava desistindo de ver aquele espetáculo louco, tanto que me virei para ir embora. Mas então o homem chamou o casal três. Rodrigo apareceu com um casaco escuro, calça e seu all star mais velho. Seu cabelo estava totalmente bagunçado, dando um charme que sempre foi único dele. Eu reconhecia aquela exata combinação: mesma roupa, mesmo cabelo, tudo igual ao dia que ele me pediu em namoro. Não podia ser uma coincidência.

– Hã, cadê sua namorada? - falou o homem, dando risadinhas.

Ele percorreu o olhar pela multidão e só parou quando me viu. Sustentou o olhar quando disse:

– Deve estar chegando - respondeu Rodrigo, colocando um sorriso adorável no rosto.

Eu parei. Ele estava se referindo a mim? Não fazia sentido, era óbvio que nós havíamos terminado ontem! Porém havia um quê de invitação no olhar azul sedutor dele. O apresentador me olhou também. Quando virei o rosto, todas as pessoas me encaravam. Por isso, dei um passo para frente, envergonhada. Mas então Sarah chegou saltitando e acenando para o público. Estes pararam de me olhar e viraram suas cabeças com brutalidade para a loira. Acenaram de volta dando sorrisos alegres.

– Ah, atrasada! - disse o homem, gargalhando.

– Atrasada, mas bem vestida.

– Uau, realmente! Que vestido lindo!

Olhei para a roupa. Azul, na altura dos joelhos, bordado no final, cinto amarelado marcando a cintura, aberto nas costas nuas.

– Eu que comprei pra ela - respondeu Rodrigo.

Era o meu vestido?

A multidão gemeu "aw" e começou a cochichar. Uma menina de piercing no lábio berrou:

– Perfeitos!

– Parece que vocês são os favoritos de muita gente - falou o apresentador.

– Espero, Josh - falou Sarah - Quero muito ganhar isso.

– E eu quero muito ganhar também - adicionou Rodrigo - Por ela.

O quê?

– Oh, nada melhor numa segunda-feira que ver um casal tão apaixonado como vocês. A alma fica alegre! Olha o relógio, daqui a pouco acaba o recreio então temos que terminar com isso logo.

Sarah fez bico e Rodrigo apertou as bochechas dela e sorriu.

– Garota mais linda do mundo.

Eles se abraçaram. A platéia se derreteu. Minha respiração estava terrivelmente falha. Aquilo não podia estar acontecendo.

– Hora de votar! - disse Josh, balançando os pulsos de acordo com a música eletrônica que tocava no fundo - Todos os casais, voltem para o palco - o fizeram - Agora é com vocês público. Cliquem no botão cujo nome tem o casal que vocês acham ser o melhor!

As pessoas clicaram praticamente ao mesmo tempo, fazendo um som relativamente alto. Os três casais tinham jeitos únicos de acenar e tentar fazer a platéia se apaixonar. Camila era, definitivamente, a mais eufórica e agitada. Com certeza, a mais irritante.

Depois de cinco minutos que passaram sem eu notar, Josh berrou:

– Votação encerrada! Vamos agora contar os votos.

Um homem moreno mexia num laptop. Pelo que eu entendi, ele que tinha contado os votos. Escreveu num papel dourado o nome do casal vencedor e caminhou até Josh, dando o papel na mão do homem de terno rosado.

Josh fez um breve suspense antes de se aproximar do microfone.

– E os vencedores, com surpreendentes noventa por cento dos votos foram... Rodrigo e Sarah!

Os aplausos arderam meu tímpano. Berros ecoaram o pátio. Casal três foi a frente do microfone. Sarah balançou seu (ou seria meu?) vestido azul antes de falar:

– Aw, vocês são uns amores! Muitíssimo obrigada, isso é o mundo para mim!

– E ela é o mundo pra mim - disse ele, fazendo todos gemerem de inveja por ela ter um cara tão incrível; ridículo, na minha opinião - Então vê-la alegre assim é melhor que qualquer prêmio.

– Parem de ser tão maravilhosos! - disse uma garota alta de cabelo comprido.

As pessoas voltaram de aplaudi-los. Não lembro de como eu me sentia no momento.

– O amor é lindo, mas será que é mais lindo que o prêmio? - berrou Josh, gargalhando - Acho que não! Alguém traz o prêmio, por favor?

Uma mulher loira levou uma caixinha dourada até o apresentador. Ele deu para Sarah, e ela pulava de euforia. Era um colar do símbolo do infinito prateado formado por dois corações. Era o meu colar!!

Rodrigo deu um beijo de cinema nela antes de abrir o fecho. Já estava colocando a joia no pescoço da namorada quando eu simplesmente dei um berro.

– Não!

Todas as pessoas naquele espaço viraram sua cabeça para mim com um ponto de interrogação no rosto. Pararam de se mexer. Eu não queria ter abrido a boca, mas de alguma forma aquele grito saíra de mim numa rapidez incrível e incontrolável. Paralisado, Rodrigo gaguejou:

– Como?

Já tinha feito besteira, então que eu continuasse, certo?

– Esse é o meu colar?

– Bom, era. Até você jogar no chão ontem.

Josh pigarreou.

– Com licença, mocinha, temos que continuar o show. Se você permanecer calada, talvez poderemos prosseguir.

Fiquei quieta com uma cara de ódio gigante. Ele considerou aquilo como uma aceitação.

– Parabéns para o casal três! Uma salva de palmas para eles!

Sarah e Rodrigo se abraçaram. O colar já estava estacionado entre os seios dela.

– O quê vocês, casais perdedores, tem a dizer? - perguntou Josh.

Todos eles estavam com microfones individuais, mas Camila que quis falar primeiro.

– Eu acho totalmente justa a vitória, eu mesma votaria neles! - respondeu ela, rindo - Pra falar a verdade, eu sempre torci por vocês dois. Desde do momento que vocês começaram a namorar escondido, eu amei a relação de vocês. Tanta paixão!

Outro momento de eu falar mais alto que queria.

– Como assim, você sabia que o Rodrigo estava me traindo? - escapou de minha boca.

– Por favor, Juliana. Só você que sempre foi lerda que não percebeu uma coisa dessa! - disse João, fazendo todos em volta rirem, sem exceção - Levante a mão quem não sabia que o Rodrigo estava traindo a Juliana - eu virei e me deparei com nada - Levante a mão quem sabia e sempre torceu pra Sarah e o Rô ficarem juntos.

Não precisava me virar. Eu sabia que todos estavam com o braço erguido. Quer dizer, até Camila estava. João, Manuela, até uma garota mais nova que eu nunca havia visto na minha vida e que, provavelmente, nem sabia o que estava acontecendo, levantou a mão. Eu me sentia totalmente humilhada. Eu não podia continuar ali.

Virei-me e comecei a empurrar os corpos para poder passar. Os rostos da multidão ficaram semelhantes e borrados por um segundo.

Senti-me num clichê filme de terror. Eu era a mocinha tentando escapar do monstro, aflita a cada passo, até que ela tropeça envergonhosamente. Demora para levantar. Quando agrupa força, sente o monstro pisoteando-a.

Sarah apertou o salto alto dela em minhas costas para impedir que eu me levantasse. Eu conseguia sentir o sapato literalmente entrando na minha coluna.

– Você foi só um passatempo - disse ela - Pro Rodrigo. Pro Alex. Ninguém gosta de você na verdade. Também, porque gostariam? Você é patética.

Eu me virei para encará-la. Aquilo não podia estar acontecendo. Só conseguia ver em volta de mim rostos curiosos sedentos por uma cena dramática. Sarah voltou a apertar o salto alto contra minha lombar, agora com uma força maior. A dor era terrível. Comecei a chorar e tentar tirar o pé dela de cima de mim. Ela tirou antes de eu tocar efetivamente na pele dela.

– Aw, ela está chorando. Mas que bebezona!

As gargalhadas eram altas e eram muitas. Rodrigo se aproximou e envolveu Sarah pelo ombro. Começou a rir pra caramba também. Eu só queria fugir, mas um bloco de pessoas me impedia disso. Por isso, continuei sentada no chão, chorando ainda mais, o que fazia todos rirem mais. Coloquei a mão cobrindo meus ouvidos e fechei os olhos.

– Parem!! - berrei, mais alto do que nunca.

E eles pararam, porque logo em seguida eu acordei, suando na cama de Camila. O pijama estava molhado e grudado em minha pele. Meu coração estava extremamente disparado. Camila saltou da cama de baixo.

– Parar o quê, o quê está acontecendo? - disse ela, como uma bêbada confusa.

– Desculpa - respondi. Minha respiração estava muito rápida - Eu tive um pesadelo horrível.

– Oh. Quer falar sobre isso?

– Não.

– Eu até insistiria mas é madrugada, então... Caralho, já são seis horas!! Já tá na hora de acordar, daqui a cinco minutos meu despertador vai tocar. Vamos, a Maria vai fazer um café-da-manhã para nós.

– Camila, eu não posso ir para lá.

– Juliana, você não pode faltar aula por causa dele. Daqui a pouco têm as provas finais e...

Ela olhou pro meu rosto e suspirou. Acho que eu estava com cara de choro.

– Tá. Fica em casa. Pode voltar a dormir, amiga.

Até tentei fazer isto mas o abre e fecha de gavetas vindo de Camila, adicionado com meu corpo grudento, impediu-me de fechar o olho. Tomei uma chuveirada e coloquei roupas novas. Só depois que Camila foi ao colégio que consegui voltar a dormir. Só acordei uma hora da tarde, quando ela chegou e me cutucou, perplexa que eu ainda estava na cama. Sorte que eu não tive nenhum pesadelo novamente.

Camila me trouxe as anotações e deveres que eu havia perdido. Voltei pra casa quando estava anoitecendo. Exatamente o minuto que eu chegara na calçada, Rodrigo estava saindo. Nos encaramos por alguns segundos. Ambos hesitamos antes de voltar a andar. Eu pude notar o olhar dele sobre mim quando andamos lado a lado. Um instante estranho que tocou em um dos meus pontos fracos: o cheiro incrível que exalava dele. Depois de revirar os olhos por causa da fragrância, a qual me dava nostalgia, eu abri a porta.

Quando subi no meu quarto, não resisti e fui até a janela tentar pegar uma vista da calçada. Rodrigo ainda estava lá, cabisbaixo, quando um carro preto chegou. Ele entrou de uma vez e saiu. Só pude imaginar que era a Sarah dentro do automóvel.

Eu queria voltar a chorar. Era tudo que meu corpo parecia ter vontade de fazer. Chorar e dormir. Apenas. Eu não queria pensar, comer, eu mal queria andar. Eu já havia decidido mentalmente que iria por um pijama e já ir para debaixo das cobertas, quando eu vi em cima do criado-mudo o colar do infinito.

Manhê– falei alto. Ela não ia ouvir, então fui até ela - Mãe, o que isso está fazendo no meu quarto?

– Ah, o Rodrigo veio deixar depois do colégio hoje. Ele disse que ia te devolver lá, mas como você não foi... Em falar nisso, eu teria gostado se você tivesse pedido minha permissão para faltar!

– Desculpa, esqueci. Mãe, você tem que devolver. Eu não quero isso. Não quero nada que envolva o Rodrigo.

Coloquei o colar na mão dela. Ela respondeu botando ele logo de volta na minha.

– Bem que ele falou que você não ia querer. Bom, ele insistiu para que eu fizesse de tudo para você ficar com o colar. Ele disse que é seu, e que você não tem que achar mais que é um símbolo do amor de vocês ou algo assim. Ele também falou que você pode esquecer isso tudo e fingir que é apenas um mero colar.

– Eu não vou conseguir. Mãe, devolve, por favor.

– Não - disse ela, recuando - E se você não quer nada que envolva ele, vai ter que se desfazer de tudo do seu quarto e grande parte dessa casa. Tudo que você tem e é hoje tem uma pitada do Rodrigo, filha. Vocês podem ter terminado feio mas é injusto você ficar com raiva dele. Ele é seu melhor amigo.

– Injusto é você se meter assim sem saber de absolutamente nada!

Saí, com muita raiva e tristeza misturada no peito, e comecei a subir as escadas.

– Juliana! Não fale assim comigo.

– Mãe, você já percebeu que você não sabe nada sobre mim? Você nunca parou sequer para perguntar sobre o meu relacionamento com ele! Você não se importa com o que realmente aconteceu, só se importa em ser simpática com todos, tirando a sua família. Você não sabe nem um pouco do que foi o meu namoro com ele, e você não sabe o quanto que eu estou sofrendo agora - eu já estava chorando a esse ponto - E não venha com a história que eu não sei o que é amor, sou jovem e essa baboseira toda porque o que eu tive com o Rodrigo foi mais real que tudo que eu já senti na vida. E você não tem o direito de se intrometer nessa história! Eu não lhe dou o direito.

Ela estava totalmente surpresa com a minha explosão. Eu me tranquei no quarto, desliguei as luzes, fechei a cortina e me cobri completamente com o cobertor. Muito do que eu tinha falado era errado, sabia isso, mas eu estava precisando gritar. Pena que minha mãe foi a vítima da minha raiva desenfreada.

Percebi que ainda estava com o colar nas minhas mãos. Meti este numa gaveta e evitei pensar.

Meu pai estava evidentemente chateado comigo quando veio avisar que ele e minha mãe iam pegar uma sessão de cinema. Fez cara de decepção. Ele perguntou se eu ia ficar bem sozinha. Queria falar que pra mim não importava se eu estava num lugar com cem pessoas ou sem nenhuma: sentia-me igualmente vazia e solitária. Em vez da verdade, afirmei com a cabeça.

Assim que eles bateram a porta eu fui atrás dos soníferos. Raquel, minha irmã mais velha, tinha umas crises de insônia terríveis então minha casa sempre foi recheada de soníferos. Raquel não morava mais conosco mas mesmo assim haviam medicamentos no banheiro.

Eu peguei a caixa toda e fui para o meu quarto. Engoli um comprimido com ajuda de água e guardei a caixinha dentro de uma gaveta. O remédio era forte, então não demorei muito mais para dormir.

O resto da semana resumiu-se em acordar na hora do almoço, não almoçar, ficar deitada, chorar, tentar me distrair com tevê, abrir a porta para falar que estava bem, tomar comprimido, dormir. A única divergência entre os dias foram ocasionais discussões sobre eu faltar as aulas. Sinceramente, o que eu menos pensava era colégio.

Naquele sábado à noite, por volta das oito, eu estava indo fazer um café descafeinado para mim quando a campainha tocou. Eu normalmente não iria até lá, até porque eu estava parecendo um mendigo-zumbi nos últimos dias. Só que naquele dia eu tinha acabado de tomar um banho e posto umas roupas limpas, então lá fui eu abrir a porta.

Não pude excluir a possibilidade de ser Rodrigo. Hesitei quando pensei nisto, mas abri de qualquer maneira.

Um garoto de jaqueta preta e camisa do Pink Floyd, calça rasgada no joelho e all star branco sujo, levantou a cabeça com um sorriso extremamente sedutor. Os olhos verdes dele chocaram com os meus.

– Olá - disse ele, bagunçando o cabelo cacheado.

– Oi Alex.


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