Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 41
Capítulo 41


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, seus lindos ♥



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Depois que eu li aquela mensagem, não consegui dormir quase nada. Meu estômago estava embrulhado, uma agonia estranha se concentrava no meu peito e minhas mãos tremiam quanto mais eu pensava a respeito. Fiquei no estado de negação por um bom tempo, jurando que era só alguém brincando comigo. Senhorita X devia estar só querendo me assustar, e não tinha nada para me fazer terminar com Rodrigo ou o contrário, e também não faria nada para fazer tal coisa acontecer... Será?

Depois de uma hora nervosa, tentei responder a mensagem. "Quem é você?", digitei. Quando mandei enviar, uma mensagem apareceu dizendo que aquela operação não era possível pois o número era bloqueado. Tive vontade de quebrar o aparelho.

Não tive coragem de mostrar a Rodrigo aquilo no dia seguinte, pois eu não sabia se queria ver a reação dele. Imagine se ele estivesse escondendo algo de mim realmente? Eu não estava preparada para receber essa informação, não sabia como lidaria com ela. Por isso eu tentei agir normalmente durante aquela semana, fingindo que não existia um relógio contando o tempo que havia até o meu medo se concretizar. Rodrigo agia como sempre, sendo meigo e tentando me fazer rir a cada instante. Teve momentos que meu medo crescia tanto que, no meio das aulas, eu olhava para ele e tinha vontade de chorar.

Naqueles dias, umas das únicas coisas que eu prestei atenção (além da agonia que eu sentia) foi como João havia mudado. Ele estava mais arrumado, andando cheio de livros na mão e sendo mais simpático com todos. Eu perguntei quarta-feira a ele o motivo dessa mudança. Ele deu um sorriso torto e mudou de assunto. Eu já sabia a resposta.

Sexta-feira, durante o recreio, eu recebi outra mensagem. "Tic toc, tic toc. O tempo vai acabar para vocês dois, Juliana. PS.: Você parece abatida. Querida, guarde as lágrimas para depois. Vai precisar."

Olhei para frente com a respiração falha. Seja lá quem tivesse me mandado aquilo, devia estar me espionando para ver minha reação. Não consegui ao menos disfarçar minha feição sofrida, para pelo menos ele ou ela não sentir satisfação por estar me vendo naquele estado. Eu tentei avistar alguém na cantina me observando mas o único era Rodrigo, que se aproximava com um sorriso e um enroladinho de queijo e presunto. Ele beijou a minha bochecha e começou a falar de um livro que iria virar filme... Não lembro-me bem. Estava ocupada demais procurando o possível louco me mandando mensagens, e ao mesmo tempo decorando todos os traços do Rodrigo, amando-os mais que nunca.

– Você quer depois do ensaio da banda? - disse ele, mordendo o salgado.

– O que, quer o que? - falei, boba. Ele deu uma risadinha.

– Você está me ouvindo? Você quer pegar uma sessão de cinema depois que eu tiver o ensaio da banda? Tem aquele remake que...

– Parece ótimo. Adoraria.

– Combinado então - respondeu ele, sorrindo e limpando a boca com as costas da mão.

Durante aquela tarde fria de sexta-feira, coloquei um moletom e percebi finalmente o quão neurótica eu estava sendo. "Eu e Rodrigo temos um relacionamento forte, praticamente inabalável! Senhorita X não vai me separar dele!", pensei, tentando me convencer. "Estamos mais bem do que nunca, e nossa relação nunca foi tão doce. Tudo vai dar certo. Estou pirando por nada. Aposto que domingo vai chegar e nada acontecerá. Aposto."

Eu comecei a me arrumar cedo: queria estar linda para ele. Pintei as unhas, passei hidratante, concertei a sobrancelha, ou seja, fiz tudo que eu não gostava de fazer para quando Rodrigo me olhasse, tivesse a certeza que nós éramos para sempre. Coloquei o vestido azul que ele me dera na noite que me pediu em namoro - uma homenagem a nós.

Rodrigo havia combinado de me buscar as sete da noite, para comermos e pegarmos a sessão das nove com tranquilidade. Combinamos de ser um shopping perto, para podermos caminhar até lá e salvar o dinheiro que gastaríamos com o táxi. O relógio marcou sete horas. Sete e quinze. Trinta. Quarenta. Oito horas, e ainda nada. Contando com o fato que eu já estava sensível com essa ameaça da Senhorita X, e com o fato que Rodrigo nunca tinha se atrasado mais que dez minutos para me levar para algo, eu fiquei desesperada. Tentei não transparecer mas eu estava me sentindo bem estranha. Sentia que algo estava errado.

Liguei para ele, sentei-me na cama, e forcei minha voz mais angelical.

– Alô? - disse ele, baixo.

– Oi, amor! Hm, tudo bem com você? A gente não tinha combinado de sair hoje?

– Sim, vamos remarcar isso depois. Eu estou ainda muito ocupado, Juliana. Hm, a gente ainda está ensaiando. Tenho que desligar.

– Está falando sério? Rodrigo, eu estou te esperando a uma hora.

– Desculpa, tá bem? Vir aqui hoje não foi como eu esperava! Eu tinha planos com você mas... Não dá pra falar mais, Juliana, tchau - e desligou.

Eu segurei o celular e fiquei olhando para ele. Emoções mistas inundaram meu coração quando eu olhei para o plano de fundo: uma foto minha ao lado do Rodrigo, ambos fazendo caretas. Tentei ignorar a ligação. Eu tirei minha roupa, limpei minha maquiagem, soltei meu cabelo e vesti um pijama velho. Eu só queria me deitar. Fiz o máximo para me concentrar em algum programa da tevê.

Dormi relativamente cedo e acordei as sete. Quando fui abrir a cortina, olhei para o quarto do Rodrigo. Não havia ninguém lá. A cama permanecia intacta, com o lençol completamente liso. "Desde quando ele acorda cedo?", pensei.

Vesti uma roupa simples e tomei um café da manhã rápido. Decidi que iria visitá-lo. Não estava em seu quarto, mas tinha que estar em outro canto da casa.

Peguei a chave extra debaixo do tapete da entrada e entrei. Não queria tocar a campainha para acordar alguém. Quem sabe Rodrigo estivesse dormindo no sofá da sala? De vez em quando ele fazia isso!

O silêncio tomou o ambiente por inteiro. Avistei, no andar de cima, todas as portas dos quartos fechadas. O único movimento visível na casa eram as flores perto da sacada, as quais balançavam por causa da brisa que entrava pela janela aberta. Pisei com cautela no piso de madeira. Não sabia o que fazer em seguida, pois estava esperando achá-lo por perto. Ele não estava a vista. Então decidi ir embora, o que eu teria conseguido fazer imediatamente se eu não tivesse tropeçado numa cadeira que, sinceramente, nunca tinha percebido a existência.

A porta do quarto principal abriu-se de supetão e Valéria saiu de lá, apenas com uma camisola, olheiras e uma cara assustada. Quando me viu no andar de baixo, deitada no chão, com sua cadeira decorada de cabeça para baixo, mudou a feição para uma brava.

– Juliana, você me matou de susto. Jurei que era um ladrão.

– Desculpa! Eu não queria ter tropeçado - respondi, levantando-me do chão e colocando o objeto em seu devido lugar - Já estou indo embora, desculpe mesmo.

– Pra que você veio aqui nessa hora da manhã, querida?

– Eu só queria ver o Rô... Percebi que ele não estava no quarto, aí quis passar aqui...

– Oh. Ele não passou a noite aqui. Me mandou uma mensagem dizendo que iria passar a noite na casa de um amigo da banda. Otávio Rocha, acho. Daqui a um tempo eu ligo pra ele para ver quando eu vou buscá-lo.

Franzi o cenho e agradeci a informação. Voltei para casa e passei praticamente o resto da manhã na sala de estar, observando a janela e esperando por Rodrigo voltar. Ele chegou por volta das onze, com a mãe, e vestindo a mesma roupa do dia anterior. Eu corri até o gramado e consegui alcançá-los. Dei um sorriso e segurei o ombro do Rodrigo para ele notar minha presença. Valéria me viu e continuou andando, pensando que nós iríamos conversar. Rodrigo virou-se para mim.

– Oi - falei, abraçando ele com força. Ele não se mexeu.

– Oi - respondeu ele, assim que eu o soltei.

– Porque você passou a noite na casa o Otávio? - perguntei, sorrindo de leve.

– Hm, achei melhor. Não queria voltar pra cá. Já estava muito tarde quando... Acabou.

– Ah. Mas então, quer fazer o que hoje?

– Pretendo estudar. E depois, hã, minha mãe queria ir no shopping comigo comprar umas coisas.

– Sério? Mas à noite, que tal eu passar aqui para nós vermos um filme? Você me deve, já que ontem você não pôde ir no nosso encontro.

– Não vai dar. Tô com sono, quero ver se eu durmo cedo.

Olhei para ele, curiosa. Percebi que ele estava acabado. Bolsas escuras se escondiam debaixo de seus olhos azulados caídos. O cabelo estava mais bagunçado que de costume. A camisa, totalmente amarrotada.

– Você dormiu bem? - perguntei, séria.

– Claro - respondeu ele, virando-se e indo em direção a porta de sua casa.

– Mesmo? Você está parecendo que passou a noite toda em claro.

– Obrigado - disse ele, irônico. Tocou na maçaneta. Eu segurei a mão dele, para ele não girá-la - Eu sei que eu não estou arrumado, mas não sabia que estava tão mal.

– Eu não quis dizer isso, você sabe.

Rodrigo encarou a porta e respirou bem fundo. Eu tentei olhar para o rosto dele, mas ele virou-o cada vez mais. Disse:

– Desculpe. Eu só estou com sono. Vou ver se eu cochilo agora. Tchau, Ju.

A última frase ele disse com a voz trêmula.

Ele abriu a porta e entrou rápido. Eu fiquei lá, de pé, olhando para o nada, por alguns minutos, tentando tirar algum sentido de qualquer coisa que ele dissera. Decidi deixar pra lá. "Dê um tempo", pensei. Porém, no fundo, eu sabia que tempo não mudaria nada.

Rodrigo passou o resto do dia fazendo sei lá o que em seu quarto. Não pude dizer pois a cortina totalmente fechada me impedia. E eu terminei o dia remoendo as conversas, analisando o que poderia ter acontecido, e acelerando meu coração pelo medo que eu sentia.

Meu relógio mental contava os segundos restantes para o dia seguinte. Preferi dormir para não presenciar a dura passagem de sábado para domingo. Não acreditava que Senhorita X ia agir exatamente a meia noite, mas decidi que era melhor não testar. Achei que eu poderia adiar algo ruim.

Acordei cheia de dores no corpo e uma noite mal dormida evidente debaixo dos olhos. Assim que eu me sentei na cama e espreguicei, meu celular vibrou e me deu um baita susto. Nova mensagem.

"Bom dia, Juliana, dormiu bem? Espero que sim, pois duvido que hoje à noite você vai conseguir pregar os olhos. Uma surpresinha lhe espera. Abra seu e-mail.

Senhorita X."

Fiquei algum tempo pensando se eu deveria obedecer àquela ordem cruel. Não queria, mas sabia que mais cedo ou mais tarde eu me renderia. Queria matar logo a curiosidade que crescia no meu peito.

O e-mail estava lá, como Senhorita X prometera. O usuário ainda não era indentificado, o mesmo caso da outra vez; do dia que descobri que Alex havia me traído. Senti calafrios quando lembrei. Não por causa da lembrança em si, mas por causa do sentimento que eu sentira. O pior de todos, o qual eu desejava do fundo do coração que não se repetisse, já que eu sabia que a única pessoa que poderia curá-lo era Rodrigo (e como ele estava afastado naqueles dias, sabia que não poderia contar com ele).

O e-mail não havia saudação, texto provocativo, nem assinatura. Apenas um vídeo para baixar. Déjà vu. Já sentia a dor de cabeça provocar um ritmo dentro da minha mente. Quando o vídeo baixou, eu sabia o que estava vindo, mas não quis acreditar em meus pensamentos negativos. Bem-feito para mim.

O vídeo começava com uma visão tremida do lado de fora de casa da Sarah. O gramado verde limão era familiar, e eu quase conseguia sentir o cheio da plantação de flores ao redor da cerca. A imagem tinha uma resolução maravilhosa, apesar da câmera continuar tremendo e se mexendo para algum lugar. A pessoa que filmava, que eu desconfiava ser a Senhorita X, puxou uma escada e inclinou-a na parede de fora da casa, enfiando um pouco a escada dentro da terra, para diminuir os riscos da escada balançar ou algo parecido. A pessoa parecia estar subindo esta, e sendo incrivelmente silenciosa. O jeito de filmar parecia que era eu mesma vendo tudo, uma intrusa. Colocou a câmera apoiada na sacada da janela, a qual estava aberta e nos deixava com a imagem perfeita do meu namorado sentado na cama de sua ex.

O rosto do Rodrigo estava estranhamente quase invisível. Eu não sabia quais eram suas emoções naquele segundo, mas ele parecia incomodado. Ele folheava um livro grosso, até o momento que Sarah entrou no quarto e trancou a porta, dizendo:

– Agora estamos a sós.

– Finalmente - disse ele baixo, sorrindo de lado.

– Boa ideia falar que nós vamos ensaiar para sua namorada, quando o que nós realmente fazemos é namorar.

– Bom, eu sou um gênio - respondeu ele, virando o rosto para encará-la em frente a porta. Não sabia dizer se ele estava sorrindo. Provavelmente estava.

– O que você quer fazer agora, amor? - perguntou ela, indo até o colo do Rodrigo e sentando em cima deste.

– Acho que você já sabe.

Sarah começou a depositar diversos beijos na bochecha, testa e pescoço de Rodrigo, exatamente nesta ordem. Ele segurava ela pelo quadril.

– Mas eu me sinto mal por causa da Juliana - disse ele, empurrando Sarah levemente para impedi-la de continuar beijando-o - Estou enganando ela com isto a um bom tempo, você sabe.

– Amor, você tem que decidir. Já tem um tempo que eu quero te pedir para fazer isso, mas sempre fico em dúvida se devo... Você tem que escolher entre eu ou a Juliana. Com quem você quer continuar?

– Com você, claro - sua voz soava robótica, e para mim, era isso que ele devia ser, um robô sem coração.

– Então termine com ela.

– Não é tão fácil. Ela me ama. Pena que eu não posso corresponder...

– Você não pode continuar com isso. É injusto com todos os envolvidos! Pare de falar com ela por um tempo, dê um gelo, e depois termine. "Não está dando certo, sinto muito", e toda aquela baboseira mais.

– Tudo bem, tudo por você - disse ele, abraçando-a com força e olhos fechados, logo em seguida.

Sarah começou a beijar o pescoço dele, e depois tirou sua camisa colada, expondo seu sutiã vermelho sangue. Ela puxou o rosto dele para tal área, e fez-o deitar. Rodrigo tirou a camisa (que eu constatei que era a que ele havia usado sexta; dúvidas ruins sendo concretizadas) e ela lambeu os lábios quando viu o corpo semi-nu dele. Rodrigo permaneceu deitado enquanto ela beijava seu corpo, indo em direção a sua calça. Antes de abrir o cinto, Sarah perguntou, piscando os cílios longos:

– Mas quem é melhor na cama, eu ou ela?

Uma risada seca saiu da boca dele.

– Você, dez mil vezes.

Ela esboçou um sorriso orgulhoso.

– Bom garoto.

Sarah puxou a calça jeans dele para baixo e a câmera foi retirada de lugar. Uma mão enluvada lampou a lente no meio da descida de escada. O vídeo permaneceu em preto por três segundos, e tudo que se ouvia era o som de um pássaro no fundo, uma bela cantoria solitária. Quando terminou o vídeo, ouvia-se apenas minhas lágrimas caindo sobre o teclado.

Limpei as lágrimas do meu rosto. Eu não tenho ideia do que eu estava sentindo naquele momento, eu só queria explodir, brigar, berrar! Eu não conseguia assimilar tudo que tinha visto, eu não conseguia acreditar, e não queria. Pra mim tudo tinha sido apenas um pesadelo causado pelo meu medo acumulado. "Você deve estar dormindo agora mesmo, Juliana", forcei-me a pensar. "Você ainda está na sua cama, esperando ainda domingo chegar. Nada disso aconteceu."

Parei de tentar me conformar e uma força sobrenatural me levou imediatamente para a casa ao lado. Eu corria, com um ódio crescente e assustador dentro do coração. Meu coração acelerado acalmou-se por míseros segundos, os quais eu estava esperando alguém atender a maldita porta da casa do Rodrigo. Não me interessava com o fato que era manhã, e que era domingo, eu só queria conversar com Rodrigo. Talvez discutir fosse uma palavra mais apropriada. Ele me devia aquela conversa, eu merecia uma explicação decente para a porra que eu tinha assistido, e não importava o que acontecesse, eu ia ter.

O pai dele abriu a porta com camisa surrada e short frouxo; eu havia o acordado. Pedi desculpas e o com licença mais rude que eu já dissera, mas eu pouco me lixava. Subi as escadas com a adrenalina me servindo de amiga, correndo em minhas veias.

Entrei no quarto dele e fechei a porta. Rodrigo não estava dormindo. Ele estava deitado na cama com a cabeça virada para o criado-mudo. Olhou-me totalmente surpreso. Seus olhos estavam avermelhados e suas olheiras haviam piorado.

– Oi - disse ele, como um garotinho medroso porém educado - Ouvi a campainha mas não sabia que era você.

– Não faria diferença se soubesse, não é? Está no seu processo de me ignorar até o ponto que terminará comigo, logo faria de tudo para não abrir a porta.

Rodrigo se sentou e suspirou, como se esperasse pelo meu surto.

– Do que está falando? Quem disse que eu vou terminar com você?

– Pode ir parando, que eu já estou sem paciência! Eu sei que você anda me traindo com a porcaria da Sarah.

– Não - hesitou, com as suas pernas chacoalhando - Não fala dela assim. E, por favor, vamos conversar. Eu posso explicar.

– Então me explica! Vai, me explica! Eu te dou uma chance de me convencer a mudar minha cabeça, então vai.

Por essa ele não esperava. Tornou-se pensativo.

– Isso, Rodrigo, está quase conseguindo inventar a melhor mentira da sua vida, melhor ainda do que foi esse namoro todo.

– Nosso namoro não foi uma mentira.

– Ah, só tudo que você me disse, todos os momentos especiais que nós passamos.

– Não é verdade. Só que não está dando certo, sinto muito.

Rodrigo encarou o teto por alguns segundos, dando inspirações fundas e dolorosas, enquanto eu simplesmente o encarava e me sentia eletricamente furiosa, lembrando que Sarah mandou ele dizer algo assim. Ele tentou se aproximar, e eu recuei.

– Eu sei que não está. Eu só estou tentando achar um sentido nessa história toda - falei - Tipo, eu não acredito que você fez isso comigo. Eu não acredito que você mentiu tanto. Você deve imaginar o ódio que eu estou sentindo por você agora! Quer dizer, você sempre desprezou o Alex totalmente por causa do que ele fez, e sinceramente, o que você acabou de fazer foi tão pior. Você me iludiu muito mais.

– Eu não menti quando disse que te amava - retrucou ele, forçando outra aproximação.

– Cala a boca! Chega de mentir! Eu só vim dizer pra você que está tudo - ele tampou minha boca com sua mão. Fiquei chocada por causa da rapidez e desespero que ele apertou a mão contra meus lábios.

– Não, você não vai acabar as coisas assim. Não. Vamos conversar.

Eu queria tanto chorar. Briguei comigo por pensar em me mostrar frágil. Segurei-me. Respirei fundo e me acalmei um pouco.

– Vamos. Então, eu só queria perguntar por quê. Porque a Sarah? Porque você me traiu? Assim, porque você não podia simplesmente terminar comigo e fazer o que queria?

– Eu não posso explicar, literalmente não posso - disse a voz carregada de dor. Rodrigo se virou de costas - Só aconteceu. Eu não consegui me controlar.

– Não - pausa - conseguiu - pausa - se controlar?

Eu virei ele para minha direção com um puxão terrível na manga da camisa. Rodrigo ainda não me olhava nos olhos.

– A Sarah é irresistível.

Uma força estranha correu dentro do meu corpo, e subiu pela minha garganta, como um vulcão em erupção. Uma energia incrivelmente raivosa preencheu a palma da minha mão e eu não pensei duas vezes: dei um tapa estrondoso no rosto do Rodrigo. Ele colocou a mão esquerda por cima da parte da bochecha afetada e esta área começou a ganhar uma cor vermelha e viva. Uma parte de mim estava querendo pedir desculpas, abraçá-lo, perdoá-lo e dizer que tudo iria ficar bem. Mas uma parte bem maior apenas lamentava pela ardência que minha mão recebeu por causa da força dada. Essa parte me dominava, quando eu gritei:

– Você é tão desprezível! Onde eu estava com a cabeça quando aceitei namorar com você? Como eu era cega!

Rodrigo me encarava com a boca franzida e sobrancelhas tortas, bravo mas parecendo envergonhado. Decidi aprontar.

– Ah é, me lembrei porque eu comecei a namorar com você. Eu queria fazer ciúmes no Alex e, ao mesmo tempo, tentar superá-lo. Bom, consegui as duas coisas.

– Como assim, ele ficou quando com ciúmes? Juliana, você conversa com ele??

– Ai, foi um dia bom - comecei a bolar uma história. Eu não tenho ideia porque eu senti tanta vontade de mentir, acho que queria que ele provasse o próprio veneno - Eu não queria te contar pra não te deixar magoado, mas como descobri hoje que você não sente nada por mim, vou te contar. Foi no dia que o boato da Camila estar grávida espalhou. Alex veio falar comigo - até aí nenhuma mentira -, disse que estava com saudade de mim. Me chamou para casa dele.

– Não, você está brincando - ele parecia indignado.

– Não, eu até fui na casa dele naquela mesma tarde - falei, sendo verdadeira. Então eu decidi começar a mentir - A gente conversou um pouco e então ele me beijou. Quer saber, eu revidei. E amei. A gente ficou por um bom tempo se beijando - suspirei - Ah, Alex. Aquele foi um dia quente.

– Para, Juliana, isso não é verdade! - gritou ele, gesticulando bastante - Me fala que você não me traiu com o Alex, por favor me fala.

Rodrigo segurou meus ombros com força. Ele levou as mãos gélidas para meu rosto morno e sussurrou, quase de modo imperceptível, "Por favor".

Para uma pessoa que eu tinha conhecido a minha vida toda, eu estava tendo muita dificuldade em entender as emoções do Rodrigo. Eu também estava com dificuldade de entender o que eu estava sentindo também, mas não entendia por que ele estava fazendo tanto esforço para transformar a nossa briga em algo dramático e, de algum modo, poético. Eu não entendia porque ele ainda estava fingindo se importar conosco, quando ele já tinha confessado estar com a Sarah, e de acordo com o vídeo, querendo ficar com ela. Apenas ela. Então porque ele estava fazendo aquela cena toda, o que ele ganhava com isso? Só estávamos perdendo nosso tempo, adiando algo inevitável. Quando percebi isso, tirei as mãos dele de meu rosto e decidi acabar com aquilo logo.

– Nem sempre você ganha o que quer - falei. Aquela frase servia para ele acreditar que eu havia traído-o, servia para a nossa relação onde eu fui a única apaixonada, servia para tudo que eu conseguia imaginar.

Ele parecia sem ar. Simplesmente não se mexeu. Só piscava. Abaixou os olhos gradativamente e finalmente respirou.

– Eu sei que é algo óbvio mas, vamos terminar.

– Não, não vamos não - implorou ele - Vamos lá, isso foi apenas uma crise.

– Para, não foi.

Ele se ajoelhou e abraçou minhas pernas, deixando-as úmidas por causa das lágrimas que ele começou a soltar. Aquilo era tão constrangedor e triste que eu tentei mesmo desviar o olhar. Avistei o seu criado-mudo e o retrato meu num ângulo virado para a cama. Senti-me mais desconfortável.

– Eu não acredito que você está chorando. Eu era a pessoa que devia estar chorando, foi você que me traiu por maior tempo!

– E você e o Alex, ein? - retrucou ele, levantando o queixo para me olhar.

– Beijos. Você e a Sarah transavam - respondi, e ele me ignorou.

– Você disse "vamos terminar", ou seja, é necessário o consentimento dos dois para haver o rompimento, e eu não vou terminar com você. Então nada feito.

Eu me agachei para nós podermos nos olhar frente a frente. Queria responder olhando na alma dele.

– Então deixe-me reformular: eu estou terminando com você, Rodrigo.

– Não faz isso. Juliana, eu não consigo imaginar minha vida sem você.

– Eu não posso namorar uma pessoa que eu odeio. Acabamos, Rodrigo.

Ele se sentou no chão, dobrando os joelhos e enfiando o rosto entre os braços. Eu estava na frente da porta quando percebi que devia algo a ele. Abri o fecho do meu colar e, depois de me aproximar, joguei a joia ao lado dele. Eu andei com pressa até a porta e abri esta, deparando-me com Valéria a alguns metros de distância me observando. Eu virei-me para fechar a porta do quarto dele, e vi Rodrigo encarando o símbolo do infinito jogado no chão.

Desci as escadas numa pressa absurda e, quando saí, nunca tive tanta vontade de berrar, cair naquela mesma calçada e chorar até o fim do mundo chegar. As lágrimas caíram com uma velocidade e quantidade impressionantes; não esperaram nem eu chegar em casa. Mas eu também não queria ir para lá. Tudo perto do Rodrigo eu preferia recusar. Liguei para Camila.


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