Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Nem eu sei porque eu demorei tanto pra postar! Desculpa, estou compensando com um capítulo grandinho! Beijos ♥



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Queria ter visto minha feição naquele instante. Queria que tivesse um espelho por perto, só para eu conferir a minha expressão cômica e levemente louca que fiz quando eu vi Manuela. Acho que fiquei com a boca bem aberta, olhos esbugalhados, sobrancelhas arqueadas e rugas assustadas na testa.

- Ah, oi Juliana - Manuela disse, esboçando um sorriso sem mostrar os dentes, e cruzando as suas pernas finas.

O homem ao lado dela olhou para nós com desdém e pigarreou. João mandou-nos sentar. Só havia uma cadeira sobrando. Rodrigo ofereceu-me o lugar e continuou de pé, perto de mim. O silêncio era frio e constrangedor. João decidiu rompê-lo.

- E então, vocês tem algo para me dizer? - perguntou ele, com uma animação na voz que não era presente ao ver.

- Não exatamente, nós viemos só para ver como você estava - falei - Checar como as coisas estão indo. Não sabia que você já tinha companhia.

- Pois é, eu também não esperava por isso - respondeu ele, escondendo um sorriso.

- O que você está fazendo aqui, Manuela? - arrisquei-me a perguntar. Tentei ao máximo não parecer intrometida.

- Visitando João. E, bom, ajudando ele nessa.

- Sério? - eu e Rodrigo falamos, em uníssono.

- Sério - respondeu ela, estranhando a surpresa - Depois daquela nossa conversa, Juliana, eu percebi que tinha que fazer algo. Então conversei com o meu tio - apontou para o homem perto dela -, que é um advogado, e o convenci a ajudar João.

- Não fale assim, Manuela - disse o homem, revelando seu sotaque - Parece que eu estou aqui por obrigação. Eu quero ajudar João, você sabe que eu acho ele um bom garoto, apesar de tudo.

- Uau - falei - Quando a gente conversou, eu confesso que achei que você não estava nem aí, porque você praticamente encerrou a chamada na minha cara e nunca mais se comunicou.

- Ah. Não foi minha intenção, desculpa. Na verdade, no segundo que eu encerrei a chamada de vídeo, já fui procurar passagens de avião para cá. Infelizmente não pude vir antes porque meu tio Leon aqui é simplesmente um chato com essa história de passagens, hospedagem, malas e tal.

- Manuela, você está começando a me fazer achar que vir aqui foi um erro - ele disse, cerrando o cenho.

- Tô brincando, titio. Eu te amo, você sabe. Enfim, eu queria ter vindo antes mas não deu. E também não quis avisar ninguém porque quem sabe se eu conseguiria ir mesmo? Não queria decepcionar ninguém.

Por um segundo eu parei de olhar para ela e olhei para João, o qual estava apoiado numa móbilia de madeira. Ele não estava sorrindo, mas tinha uma alegria presente em seus olhos cor de amêndoa. Ele olhava para Manuela com uma certa ternura, e foi aí que eu percebi o quanto ele estava feliz por ela estar lá. Sorri por isso.

- Enfim, eu vou ser o advogado do João - disse o homem, e foi então que eu notei que eu tinha perdido uma parte da conversa.

- Meu tio com certeza vai tirar o João dessa! - comemorou Manuela, sorrindo.

- É, o senhor Leon é um dos melhores advogados lá da Alemanha - disse João - Realmente cobiçado.

- Que exagero - disse Leon, dando uma risadinha acanhada - É, mas eu sou bom mesmo. Manuela, olha o horário! - olhou para o seu relógio de couro preso no pulso - Acho melhor nós já irmos para o hotel.

O homem pôs-se de pé e, com um aperto firme de mãos, despediu-se de mim e Rodrigo, dizendo que fora um prazer nos conhecer. Disse o mesmo para João, apenas adicionando que eles se veriam na manhã seguinte. Manuela deu um abraço amigável e rápido em nós, levemente envergonhada. Observei atentamente para ver como ela iria se despedir de João. Dava para ver que ele estava curioso e nervoso para conferir isto também. Foi decepcionante: num atrapalhar de movimentos (aposto que ela não tinha pensado nisso: como irei tratar meu ex namorado que ainda está apaixonado por mim?), acabou preferindo um aperto de mãos impessoal, junto com um sorriso. João preferiu prolongar o momento, apertando a mão dela e dizendo:

- Obrigada. De verdade - e abriu um sorriso torto. Manuela tentou fingir que não se derreteu com isso. Mas eu percebi.

E então chegou o dia da viagem de Rodrigo. Com malas prontas, passagem na mão, sorriso no rosto e sonhos no bolso, ele foi para o aeroporto. Eu fui com ele, junto com a mãe e o pai dele, totalmente emocionados com o acontecimento. Valéria estava chorando bastante, dizendo-se orgulhosa do filho. E ele falava que eram apenas três dias fora. Ela respondia que três dias era muita coisa, alegou que uma hora sem ele já era uma dor no coração de tanta saudade, imagina sentir essa dor multiplicada por 72? Então começava a enumerar os possíveis terríveis acontecimentos que podiam acontecer ao filho, sozinho, inocente, numa cidade grande como São Paulo. Aí o marido a chamava de exagerada e dizia que tudo ia ficar bem, que Rodrigo era já tinha idade de se cuidar. E então começava tudo de novo.

Durante toda essa choradeira, eu fiquei calada, abraçando Rodrigo com força e sentindo seu cheiro. Sim, eram simplesmente 72 horas, mas eu sabia bem que seriam horas sofridas. Não tinha um único dia que eu não o visse, que eu não falasse com ele. Mas tentei ser matura e não sofrer antecipadamente. "Três dias", pensei "Pouco. Nem vou notar a ausência dele. Moleza".

Encontramos com o resto da banda. Todos estavam animados, principalmente Sarah, a única que ainda não tinha se apresentado na frente de um público recheado de pessoas desconhecidas. Abracei Rodrigo muito forte antes dele ir, e ele fez a mesma quantidade de força ao me apertar contra seu corpo. Ergueu meu corpo no ar e deu uma volta. Ele sabia que eu achava aquilo bem divertido. Demos o último beijo, e só soltamos nossas mãos quando ele entrou numa área do aeroporto que eu não podia entrar. Voltei pra casa com os pais deles, Valéria chorando ainda mais, preocupadíssima com seu filho indefeso nesse novo mundo cheio de pessoas maldosas. Ela era uma pessoa bem liberal, com a mente aberta, mas quando se falava de Rodrigo, virava uma mãe coruja super protetora. Sempre achei isso engraçado.

Rodrigo me ligou no segundo que saiu do aeroporto. Estava animado e, mesmo sendo uma conversa pelo celular, eu sabia que ele estava sorrindo sem parar. Disse que ia para o hotel e prometeu ligar no dia seguinte; mas não o fez.

Fiquei maluca tentando contatá-lo no próximo dia, mas foi impossível. Tudo que eu ouvia era a voz robótica da caixa de mensagens. Como eu ansiava em ouvir sua voz o mais rápido possível, acabei por ver vários vídeos dele no meu celular. Foi suficiente por alguns minutos.

O dia se passou e eu me senti ansiosa porque Rodrigo voltava em poucas horas. Incrível como em três dias eu sentira a falta dele. Eu precisava ouvir as suas notícias, sentir seu cheiro, olhar seus olhos e tocar seu rosto. Era uma necessidade absurda e assustadora. Foi impossível não pensar na possibilidade de nós terminarmos. Não achava algo provável, não naquele momento, mas fiquei preocupada em como eu ficaria se isto ocorresse. Eu estava no meu auge de paixão. No nível mais maravilhoso, porém o mais preocupante e sensível. Senti-me como uma boneca de vidro nas mãos de um menino descuidado: protegida até o momento que caísse.

Valéria estava tão ansiosa quanto eu. Aquela fora a primeira vez que seu filho havia viajado sem nenhum membro da família junto. Segurei suas mãos suadas e trêmulas para tentar tranquilizá-la. Quando Rodrigo e o resto da banda apareceram, com suas malas cheias e feições exaustas, Valéria deu um berro, indicando que seu filho havia chegado. Um banho de alívio limpou minha alma, apenas por vê-lo. Ele deu um sorriso com todos os dentes quando me avistou. Eles vieram até nós, comprimentando com um sorriso cansado. A mãe de Rodrigo o abraçou com força e, falando bem rápido, como um locutor de futebol, perguntando mil coisas. Ele apenas disse que já iria respondê-la, só precisava respirar um pouco. Virou-se para mim.

- Oi você - disse a voz aveludada dele. Ele deu um sorriso torto.

Soltou sua mala e agarrou meu corpo, puxando-me para mais perto. Nossos corpos ficaram colados e eu tive vontade de beijá-lo todo. Ouvi sua respiração quente e pesada em meu pescoço. Vi Sarah se aproximar e cutucar o ombro dele, envergonhada. Ele se soltou de mim e olhou para ela. Sarah estava cheia de olheiras e com o cabelo bem bagunçado, mas ainda estava extremamente bonita.

- Rodriguinho, só vim avisar que eu, Clarissa e os meninos estamos indo embora. Meu motorista está lá fora e ele dará carona aos outros. Só vim me despedir.

Rodrigo foi abraçá-la. Percebi os olhos da menina se fechando e ela apertando o corpo dele forte.

- Queria te agradecer por tudo. Foi uma viagem incrível. O show foi perfeito.

- Foi mesmo, Sarinha - respondeu ele.

Ela rompeu o abraço, sorriu e segurou o rosto dele com as duas mãos.

- Descanse bem. Depois de amanhã temos ensaio. Não falte.

Rodrigo confirmou balançando a cabela. Ele deu tchau para os outros e, assim que terminou, Valéria o chamou para todos nós irmos para casa.

Durante a ida de carro, a mãe perguntou diversas coisas, desde como tinha sido a estada no hotel até se alguém tinha roubado algo dele. Ele respondeu tudo com muita graça e calma, agradando a mãe. Eu fiquei fazendo cafuné na sua cabeça enquanto isso. Minha outra mão segurava a dele.

Chegamos a casa dele e Rodrigo estava exausto. Seus olhos caíam toda hora e seus passos eram lentos. Eu caminhei com ele até seu quarto. Dava para ver que ele estava cansado, mas queria tanto me contar suas novidades que ficou lutando contra o sono enquanto conversava comigo.

- São Paulo é demais. São tantos prédios gigantes que eu fiquei um pouco tonto no primeiro dia, de tentar olhar até onde eles iam. O hotel era muito legal. No nosso quarto, o dos meninos, tinha uma barata perto do armário. Eu a matei. Os outros tinham medo. Achei isso hilário.

- Hm, homem que mata barata é pra casar - falei, encaixando-me entre os braços dele. Ele riu e beijou minha bochecha.

- Caramba, tava com muita saudade de você. Sério. Qualquer coisa que acontecia eu pensava "Não posso esperar para ver o que a Juliana tem a dizer sobre isso".

Eu sorri.

- E eu quero ouvir sobre tudo.

E ele me contou. Tudo numa riqueza de detalhes e numa animação contagiante. Ele contou sobre a linda reação da platéia durante o show deles. Disse que viu até algumas pessoas cantando o refrão. Rodrigo estava deslumbrado. Segundo ele, no final do show um garoto, aparentando uns quinze anos, veio pedir o autógrafo de cada um deles.

- E você acredita que a Sarah quis pagar a minha estada no hotel? Ela é tão generosa - ele se arrumou na cama - Mas eu tive que dizer não, claro.

- É, em falar na Sarah, vocês estão bem próximos, não é?

Ele concordou com a cabeça e fechou os olhos lentamente.

- Hm, que bom - menti.

- Não fica com ciúmes, tá amor? - respondeu ele, ficando de bruços.

- Não estou, é só que... - dei uma pausa longa - Não sei. Eu realmente acho que ela pode estar apaixonada por você. E eu acho que isso pode ser ruim por causa da banda. Imagina se você falar pra ela que você não corresponde? Imagina se ela ficar brava e te expulsar da banda? Por isso que eu acho que você não pode deixar isso prolongar. Acho que você deve dizer para ela logo. Melhor do que deixar a paixão crescer... A não ser que você sinta o mesmo. Você sente, Rô?

Eu sabia que era uma pergunta boba e sem nexo, mas queria muito ver a reação dele. Ele permaneceu do jeito que estava: deitado de bruços. Seus cílios negros permaneceram quietos. Tudo que ouvia-se era sua respiração pesada.

- Você está me ouvindo? - e nada - Rodrigo!

Ele abriu os olhos com rapidez, num susto elétrico.

- O que foi, o que aconteceu? - ele disse apressado, olhando para mim.

- Você estava dormindo?

- Hm, bem... - ele parecia sem graça.

- Uau, obrigada. Estou aqui falando coisas importantes e você cochila.

- Desculpa, amor! Não foi de propósito, você sabe. A última coisa que eu me lembro é de eu te perguntei se você estava com ciúmes e você respondeu que não. Continue daí, vou ouvir tudo desta vez.

Rodrigo passou a mão em seu rosto e esfregou os olhos. Olhei no fundo destes e desisti.

- Não falei nada demais. Nada que mereça repetição - percorri os dedos pelo seu rosto morno - Vá dormir. Você parece super cansado.

Arrumei ele em sua cama, cobrindo-o com um lençol branco e dando um beijo maternal em sua testa.

- Não vá - pediu ele, com lamento em seu olhar - Fica aqui.

Eu fiquei. Deitei-me ao lado de Rodrigo, virando de costas para ele em seguida. Ele encaixou seu corpo no meu e respirou perto do meu pescoço.

- Nunca achei que podia ter sentido mais falta de alguém como eu senti de você. Senti saudade de cada centímetro do seu corpo, cada uma de suas manias esquisitas, cada uma de suas caretas engraçadas.

- O quê? - falei, abrindo a boca em O - Eu mal faço caretas!

- Está fazendo uma bem agora - ele respondeu, gargalhando. Desfiz-a imediatamente - Não, eu amo as suas caretas! Não pare de fazê-las nunca.

- Hm, problema seu. Essa foi a última que você viu. E eu não tenho manias esquisitas.

- Não, é? - Rodrigo arqueou as sobrancelhas.

- Diga uma.

- Você mexe no cabelo toda santa hora.

- Todas as garotas do mundo fazem isso, é relativamente normal.

- Tá bom - ele disse - Durante testes, você estala os dedos de um em um minuto. Quando você está nervosa, pisca mais que o normal. Sempre sai arrumando a posição dos objetos pela casa, deixando-os em posições horizontais, normalmente. Quase sempre que eu olho pra você eu percebo você enrolando fios de cabelo nos dedos e soltando, formando cachinhos. Você muda de canal na TV toda hora. Estação de rádio também, impossível ficar dois minutos na mesma. Você olha para dentro dos copos antes de usá-los, mesmo sabendo que acabaram de ser lavados. Sempre quando você vai falar um segredo, umedece os lábios primeiro.

Rodrigo olhou para mim e deu um sorriso brincalhão, como quem diz "Te peguei".

- Nossa... - falei - Não sei com que fico mais medo: de mim por ser uma esquisita ou de você por observar todos os meus movimentos.

Ele gargalhou e acariciou meu ombro.

- De mim, faz mais sentido. Mas eu não posso fazer nada. Você é uma pessoa interessante de se olhar.

Rodrigo se sentou e ficou me fitando. Ele pegou minhas coxas e as puxou de modo que minhas pernas ficaram abertas e ele pôde encaixar seu corpo. Ele chegou mais perto e beijou meu pescoço sutilmente, fazendo-me sentir arrepios pelo corpo inteiro.

- Primeiramente porque você é linda - e mordeu de leve a pele. Eu fechei os olhos.

- Você fala isso só para me agradar - falei, chegando ainda mais perto dele - Sei que existem garotas muito mais bonitas. A Sarah, por exemplo.

Ele parou com os beijos e me olhou com o cenho franzido.

- Sério que você pensa assim? - perguntou. Eu balancei minha cabeça discretamente como afirmação - Não acredito que até hoje você não percebeu como você é bonita. Juliana, sua beleza é natural. Você não precisa de um quilo de maquiagem para todos lhe acharem linda. A Sarah é bonita mas não como você. É uma pena que você não encherga isso.

Levantei seu queixo e cheguei mais perto: agora nossos corpos estavam totalmente juntos. Umedeci os lábios.

- Obrigada por ficar comigo. Eu te amo tanto, Rô. Nunca senti algo tão forte por alguém. Nunca.

Seus olhos azuis brilharam. Eu acho que durante aquele tempo todo Rodrigo ainda tinha dúvidas se o que eu sentia por ele era igual, menor ou maior do que eu sentira por Alex. Agora ele sabia.

Rodrigo avançou com um beijo direto na minha boca. Eu cambaleei para trás. Ele segurou minhas costas e me derrubou para eu me deitar. Tocou os lábios nos meus uma, duas, três vezes, e depois mordiscou minha boca com força. Eu abracei seu corpo com minhas pernas. Ficamos nos beijando por alguns minutos, até que eu disse:

- Acho melhor você dormir, amor.

- Você acha mesmo que eu quero dormir? - ele respondeu, lambendo os lábios. Eu sorri.

- Você está exausto. Mais tarde vá na minha casa, quando acordar.

E ele veio. O único problema é que eu já estava dormindo, já que era meia noite. Porém o que ele tinha pra me dizer não dava para esperar até a manhã seguinte. Rodrigo me acordou com empurrões animados. Xinguei-o antes dele dizer:

- Você não vai acreditar! Sarah me ligou agora e disse que um amigo do pai dela viu o nosso show e quer ser o nosso empresário!

Eu abri a boca e o abracei. Ele estava tão eufórico que saímos escondidos para dar uma volta, comemorar em silêncio. Fomos até uma lanchonete que ainda estava aberta e pedimos um milk-shake grande de morango. A banda ia se encontrar com o homem no dia seguinte, ver se aquele cara valia a pena.

E lá eles foram no dia seguinte, na casa do cara (a qual beirava uma mansão), me levando como uma bagagem inútil. O homem se chamava Ricardo Moreira, tinha trinta e poucos anos, era muito bonito - o que me fez estranhar o fato de estar solteiro -, e era louco pelo seu trabalho. Encheu a banda com elogios que deixariam qualquer um de bochechas coradas. E para deixar ainda mais todos eles ajoelhados aos seus pés, prometeu que arranjaria vários shows, começando com um na semana seguinte. No fim, todos apertaram as mãos de Ricardo com um sorriso largo.

Depois de assinarem uns papéis, Ricardo tornou-se oficialmente o empresário deles. Rodrigo estava mais animado do que nunca, assim como os outros, e todos admirados pelo homem cheio de promessas. Por algum motivo eu não acreditei em nenhuma delas. Porém ele as compriu. Na semana seguinte, Moreira arranjou uma apresentação para a banda num bar famoso da cidade. Eles cantaram uma música bem animada, e a família de cada integrante foi assistir. Depois de cantarem, uma boa parte das pessoas aplaudiram. Rodrigo agradeceu e apresentou a banda: The Beginners.

A partir daí as coisas começaram a correr ainda mais rápido. Visitei o vídeo deles no YouTube. As visualizações haviam triplicado. Li os comentários recentes, e os meus favoritos foram: "Fui ao show deles em SP! Arrasaram!", "The Beginners é perfeito ♥", "Postem mais vídeos, por favor!". E haviam vários perguntando quando que a banda iria para tais cidades. Esses pedidos começaram a ser atendidos duas semanas depois, quando Ricardo ligou e disse que tinha conseguido um show no Rio de Janeiro. Eles iriam abrir o show de uma outra banda, chamada Made In Brazil. Foi aí que eu senti Rodrigo escorregando pelos meus dedos pela primeira vez.

Foi a mesma coisa da vez passada. A mesma ida ao aeroporto com mangas encharcadas de lágrimas, abraços apertados e beijos tristes. Ele e Sarah foram de braços dados até o avião.

Alguém na platéia do show do Rio filmou o show com uma câmera tremida e postou no YouTube. O vídeo ficou ainda mais famoso do que os vídeos do canal deles. As visualizações foram aumentando gradativamente. Mais comentários positivos.

No dia planejado para eles voltarem, houve um imprevisto. The Beginners foram chamados para outro show. Adiaram o voo para mais uma semana. E de novo, outro show. Mais uma semana. Rodrigo não tinha tempo para atender telefonemas, mandar mensagens, e tudo foi realmente estressante para mim. No final das contas, foi um mês longe dele. E ele parecia não se importar.

Minha mãe se mostrou preocupada comigo. Eu não tirava o celular da mão e não ficava longe do computador ligado, apenas procurando um tipo de comunicação com Rodrigo. Na segunda semana sem notícias dele, descobri que havia um Fã Clube deles no Twitter. Era incrível. A garota que comandava a conta era uma completa perseguidora. Sabia onde eles estavam quase sempre. Já tinha tirado foto com todos diversas vezes. Ela era bem bonita e devia ter uns dezoito anos. E parecia bem apaixonada pelo Rodrigo. Ela tweetou "Ele foi um doce comigo! Não parou de dizer que eu era linda" e depois "Pena que ele está com a Sarah :( #TodasChoram". Uma menina respondeu "Tem certeza? No show de SP eu percebi ela dando milhões de olhares para ele, mas acho que eles não estão juntos". A outra retrucou mandando fotos deles dois de braços dados, e outra foto da Sarah encostada no ombro do Rodrigo. Era uma foto típica de capa de revista para adolescentes. Fechei a tela do computador com raiva. No dia seguinte li tudo o que tinha de novo. E foi assim até o final do mês. Fiquei cada vez mais pra baixo, percebendo que todos adoravam ele e Sarah juntos, e ninguém sabia da minha existência. Os poucos fãs eram já apaixonados pelo casal.

E eu fiquei ainda mais pra baixo na semana seguinte, quando a banda decidiu fazer uma Twitcam. Foi tarde da noite, depois de outro show deles. Eles liam o que as pessoas mandavam e normalmente respondiam, sempre com muitos sorrisos. Arrepiei-me quando ouvi a voz de Rodrigo, depois daquele tempo todo.

- O que vocês fazem durante o dia? - ele leu - Bom, a gente está fazendo várias apresentações. Em bares, em palcos de verdade, e até na rua a gente está cantando. Estamos fazendo de tudo para ser mais conhecidos.

- Quais de vocês estão solteiros? - leu Sarah - Bom, só a Clarissa e o Otávio. Eu estou tentando juntá-los, mas está difícil. O Otávio é meio sem atitude.

Rodrigo e Daniel riram. Foi a vez de Otávio ler, um pouco envergonhado.

- Então isso quer dizer que é verdade que a Sarah e o Rodrigo estão juntos?

Os dois se entreolharam e compatilharam um sorriso acanhado. Rodrigo olhou para a câmera.

- Não. A Sarah namora com um cara misterioso que ela não quer me contar quem é nem morta, e eu namoro a uns dois meses com uma garota linda chamada Juliana. Minha melhor amiga. Até me pergunto se ela está assistindo isso. Tem um tempinho que eu não converso com ela.

Dei um sorriso ao ouvir ele dizendo meu nome e fiquei com uma vontade estranha de chorar.

- Ah, as pessoas não gostaram dessa resposta - disse Clarissa, aproximando-se do computador e dando uma olhada nos comentários - Caramba, as pessoas queriam que vocês ficassem juntos mesmo - e riu baixo.

- Gente, para! - disse Sarah, olhando para a câmera - Eu e Rodriguinho já namoramos, para ser honesta, mas não deu certo. Até por causa dessa menina, a Juliana. Rodrigo é louco por ela, sempre foi. Agora nós estamos mais próximos do que quando namorávamos, e é muito legal isso porque ele é um cara muito divertido, um ótimo amigo.

Rodrigo sorriu e deu um beijo na bochecha dela. Ela sorriu para ele. Eles responderam mais algumas perguntas e ficaram offline. Dormi mal aquela noite.

Nos dias seguintes tentei me ocupar com coisas que não envolvessem Rodrigo, porque senti que aquilo não estava me fazendo bem. Fui na casa da Camila na maioria dos dias. Ela me convenceu a deixar a minha tristeza e saudade de lado, além do meu ciúme, e ficar feliz por ele. E eu fiquei. Afinal das contas, ele estava fazendo o que ele amava. Seguindo seu maior sonho. Não pude deixar de ficar alegre por isso.

Uns dias depois, numa madrugada fria, eu recebi um telefonema. Meus olhos arderam quando a luz da tela piscou. Atendi bocejando.

- Juliana?! - ouvi Rodrigo gritar - Juliana!

- Rô? - sussurrei, esfregando os olhos.

- Quem mais seria? Elvis? - sua voz disse, arrastando. Ele estava gargalhando sem parar.

- Porque você me ligou as - olhei para o relógio na minha cabeceira - as quatro da manhã?

- Credo, ein - ele berrou - Bem que a Sarah disse que você não ia gostar. Sarah sempre está certa, que coisa.

- Rodrigo - falei, me sentando na cama - Você está bêbado?

Ele ficou calado. Ouvi vozes no fundo e um barulho de vidro quebrando.

- Defina bêbado - ele disse, em seguida rindo.

- Amor! Quem deu bebida pra vocês?

- O Ricardão.

- Ele sabe que você é de menor?

- Claro, mané. Que pergunta é essa. Ele trabalha comigo.

Ignorei a grosseria em sua voz.

- A Sarah também está bebendo?

- Acho que sim, levando em conta que ela esta dançando em cima de uma cadeira. Sem saia.

- Ela está pelada?! - berrei.

- Não, está de calcinha rosa, meio rendada. Por enquanto.

- Para de olhar para a porra da calcinha dela, Rodrigo - briguei. Ele riu.

- Relaxa, minha gata. Você é a única garota que eu quero ver a calcinha. Nossa, isso foi muito romântico, vou escrever uma música com esse título - eu ri alto - É sério.

- Rô, porque você não me ligou nenhum desses outros dias? Eu estou morrendo de saudades.

- Desculpa - ouvi ele dando um gole de alguma bebida - Mas toda vez que eu tentava ligar, alguém me chamava, ou então a Sarah dizia que eu ia te incomodar.

- Ela está errada. Você não vai me incomodar. Quando você volta?

- Semana que vem. Acho. Mas não sei se eu quero voltar, o Rio é tudo de bom. As praias são demais, tudo tem um clima agradável, e tem muita garota bonita, você não tem ideia.

- Rodrigo...

- Relaxa! Ai Juliana, não posso te contar as coisas porque tudo você tem ciúmes, caramba. Com a Sarah é diferente. Se eu falar pra ela que achei alguma menina bonita ela vai concordar e mostrar que cara ela achou bonito. Porque você não faz isso também?

- Uau, então quer dizer que você gostaria que eu agisse que nem ela?

- Você entende tudo errado, caralho! - ele gritou, parecendo realmente bravo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu estava com muita vontade de chorar.

- Vou desligar - disse ele - Daniel, me passa aí mais uma garrafa!

- Tá.

- Depois a gente conversa - ele falou - Sarah, que movimento é esse? - e começou a rir - Sexy. Tchau, Juliana.

Ele desligou antes que eu pudesse dizer tchau.

Aquela ligação acabou comigo. Eu não consegui acreditar em como ele tinha sido grosso. Mais tarde, quando conversei com Camila sobre isso, ela insistiu que ele estava bêbado e não quis dizer aquilo tudo. Mas eu tinha certeza que todas suas palavras tinham um pingo de verdade.

Fiz uma contagem regressiva mental até o dia que Rodrigo voltasse. Eu estava meio brava com ele, principalmente porque ele não havia ligado desde daquele dia, mas não podia deixar de ficar ansiosa em vê-lo novamente.

Tirei da minha cabeça a ligação, a raiva e a tristeza. Fui até o aeroporto com o meu melhor sorriso e um cartaz com o nome da banda. Sabia que aquilo ia deixá-lo feliz. Lembrei dos nossos melhores momentos juntos, repetindo para mim mesma que ele me amava, e a Sarah não era nada além de uma amiga e parceira de banda. Pensei em nossos beijos e no abraço dele. Os abraços que ele me dava de alguma forma sempre me diziam que ele se importava. Ele sempre me apertava forte, cheirava meu pescoço e colava nossos corpos. "Ele não faz isso com mais ninguém nesse mundo", pensei. Aqueles abraços eram tudo que eu queria naquele momento.

Quando eu o vi, uma avalanche de alívio e animação percorreu pelo meu corpo. Não consegui esconder o sorriso. Estávamos separados por um portão de vidro. Ele estava esperando sua mala assim como os outros. Fiquei balançando meu braço tentando chamar a atenção dele. E então ele fez algo que me fez sentir uma dor terrível no peito. Ele deu o abraço na Sarah. O nosso abraço. Ele nunca havia abraçado ela assim. Eu me senti burra. Foi aí que eu percebi que a nossa pior briga estava por vir.


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Notas finais do capítulo

E agora?