Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

5000 palavras :D Recorde! Hahaha Espero que gostem!



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Abri os olhos e tive uma visão totalmente conhecida. Mas dessa vez, ela tinha um significado completamente novo para mim. Era o quarto do Rodrigo. Escrivaninha cheia de coisas espalhadas; chão com roupas por todo seu espaço; cortinas meio abertas, de vista para o meu quarto; posters de bandas de rock, alguns um pouco rasgados nas pontas; e prateleiras preenchidas com CDs herdados do pai.

Olhei para meu lado e ele estava lá. A lembrança da noite anterior encheu meu coração de alegria e me fez perguntar pra mim mesma se era tudo verídico. Tudo parecia ser muito bom para ser verdade. Confirmei que era quando olhei para ele de novo. Um pouco do meu batom estava no canto de sua boca. Sorri ao ver aquilo.

Não queria acordá-lo, então sai da cama com muito cuidado. Fechei a porta com lentidão. A casa estava silenciosa. Olhei para o relógio pendurado na parede: sete e vinte e três da manhã. Sabia que os pais de Rodrigo só acordavam em volta das nove, então fiquei relaxada. Não gostava de mentir para eles e se eles me vissem, toda desarrumada, talvez descofiassem de algo. Preferi ir embora.

Quando estava quase encostando a mão na maçaneta da porta principal, levei um susto.

- Bom dia - falou João, segurando uma caneca vermelha.

- Putz, João! - sussurrei, colocando a mão no peito. Meu coração estava acelerado - Que susto.

- Porque você está sussurrando? E porque você está fugindo? Não, primeiro de tudo, o que você está fazendo aqui?

- Quantas perguntas! Porque não me amarra numa cadeira e faz o interrogatório inteiro, logo?

- Espera. Cabelo bagunçado. Batom borrado. Fugindo. Você e o Rodrigo se beijaram! Espera, você passou a noite aqui. Então vocês fizeram mais do que se beijar ein, uh, parabéns, Juliana!

- Fala mais baixo! E não, a gente não fez nada disso que você está pensando, eu só dormi aqui.

- Dormiu depois de fazer...

- Nada! Ah, João, por favor né. Tô indo pra casa.

Ele sorriu pra mim e acenou como despedida.

Minha casa também estava quieta. Só ouvia o tic-toc do relógio antigo da minha bisavó. Fui até meu quarto, coloquei um pijama, e deitei na cama. Logo em seguida me peguei lembrando da noite passada. Percebi que estava sorrindo.

Tentei ler um livro, ver um filme pra matar o tempo até meus pais acordarem, mas minha mente estava em outro lugar.

Lá pelas nove, uma pedrinha acertou minha janela. Rodrigo que havia jogado ela. Abri minha janela e acenei.

- Oi - disse ele, sorrindo - Hm... Aquilo aconteceu mesmo ontem?

- Aquilo?

- Eu e você.

"'Eu e você'... Que combinação maravilhosa", pensei, sorrindo pra ele como resposta.

- Posso ir aí? - perguntou ele.

- Hm... Acho que sim.

Em trinta segundos ele já estava abrindo a porta do meu quarto. Sorrimos um pro outro e demos um beijo longo.

- O que você quer fazer hoje? - perguntou Rodrigo, sentando na cama e colocando-me em seu colo - Últimos dias de férias, temos que aproveitar.

- Que tal passá-los com você?

- Ah. Resposta mais linda.

Voltamos a nos beijar. Ele me beijava com tanto desejo e carinho que eu sentia o quanto ele queria aquilo. E era um sentimento recíproco. Rodrigo abaixou sua mão até meu quadril e o apertou com força. Exatamente nessa hora, abriram a porta.

Minha mãe deu um gritinho fino que nos fez nos soltarmos no mesmo segundo, já que não tinhamos notado a presença dela antes. Eu sentei do lado dele na cama, ele preferiu ficar de pé, longe de mim.

- Rodrigo - falou ela, com sua pronuncia acentuada, algo que ela fazia quando estava irritada - Sua namorada está lá embaixo procurando por você.

Ele me olhou meio apreensivo. Eu tinha esquecido totalmente da Sarah. Pelo jeito ele também havia. Rodrigo parecia querer falar algo pra mim, porém minha mãe foi mais rápida.

- Vamos, Rodrigo. Não vai deixar sua namorada plantada esperando você.

Rodrigo evitou olhar nos olhos de minha mãe e saiu do meu quarto correndo. Ela me olhou, séria.

- A quanto tempo isso tem acontecido? - perguntou ela.

- Desde ontem, juro por Deus - respondi rapidamente, ao notar seu olhar ameaçador.

- Espero. Não quero mais ele subindo aqui pra cima sem eu ou seu pai saber. Me ouviu, mocinha?

Balancei a cabeça em afirmação. Ela saiu do meu quarto e fechou a porta. Voltei a respirar normalmente. Fui até a janela e vi, com muita dificuldade, Sarah e Rodrigo conversando. "Ela não parece triste", pensei "Ela não parece triste para alguém que está levando um pé na bunda..." vi ela abraçando Rodrigo "Porque ela não está!".

Foi aí que eu percebi que eu e Rodrigo devíamos ter conversado sobre isso. Parecia tudo óbvio na minha mente mas e se ele não quisesse terminar com Sarah?

Vi Sarah dar um beijinho na bochecha dele e ele dizer algo. Rodrigo começou a andar em direção da entrada da minha casa. Sarah notou eu espionando e acenou sorrindo. Acenei de volta.

Rodrigo entrou no meu quarto como um furacão. Minha mãe passou na frente da porta lentamente, com os olhos grudados em nós.

- Rodrigo, o que você está fazendo?

- Eu falei pra Sarah que eu tinha esquecido uma coisa aqui em cima. Mas eu só queria falar com você. Olha, eu esqueci totalmente que hoje de manhã eu tinha combinado de passear com a Sarah, preciso ir.

- Rodrigo.

- Eu vou terminar com ela, relaxa. Eu quero ficar só com você, lembra?

Fez biquinho e se aproximou. Eu virei o rosto.

- Beijos só depois de você terminar com ela - falei.

- Poxa! Tá bom, vou fazer de tudo pra ser rápido. Já estou com saudade.

Saiu do meu quarto e fechou a porta. Voltei pra perto da janela. Sarah e ele entraram num carro vermelho e se foram.

Camila me ligou uns vinte minutos depois.

- Vamos sair, amiga? - disse ela, animada.

- Só nós duas?

- Não. Eu, você e o Rafinha! Eu ia convidar o Rodrigo, mas eu lembrei que vocês não estão se falando direito...

- Hm, na verdade estamos.

- Sério?!

- É, te explico isso depois. Mas ele tá com a Sarah agora, não adianta convidar.

- Ah - desanimou-se - Tudo bem. Hoje vai ser a primeira saída do Rafa desde o acidente, então eu estou bem animada! Pensamos em ir até o lago fazer um piquinique ou sei lá.

- Hm, tô dentro. Não tenho nada pra fazer essa manhã mesmo.

Em dez minutos um carro cinza chegou, com Camila e Rafael no banco traseiro. Rafael estava com apenas um curativo na testa e tinha a perna direita engessada. Sorriu ao me ver. Entrei no carro e abracei os dois.

O parque estava mais cheio do que o normal, mas mesmo assim não tinha muitas pessoas. Escolhemos um lugar embaixo de uma grande árvore de tronco largo. A sombra fez tornar o lugar agradável. Colocamos uma toalha de mesa quadriculada em cima grama recém cortada. Pegamos uma cadeira para Rafael sentar, eu e Camila preferimos ficar na grama.

Havia frutas, suco de laranja e um bolo caseiro. As conversas eram direcionadas para Rafael, algo que ele parecia apreciar. Camila tinha uma alegria diferente quando estava com ele. Era bom de assistir.

- Ah é, Ju - falou Camila, enquanto enchia seu copo plástico com suco - Você e o Rô voltaram a se falar! Se declarou pra ele já?

Eles riram e eu olhei para Rafael, envergonhada.

- Camila! - sussurrei.

- Juliana, desculpa mas a Camila já me contou tudo - disse ele - Eu não vou contar pra ninguém, não se preocupe. Achei o máximo você gostar dele, finalmente você viu que ele é o cara pra você.

- Desculpa por ter contado, Ju - falou Camila - Saiu sem querer!

Fiquei séria e mordi uma maçã.

- Mas então, como vocês voltaram a se falar? A gente quer saber!

Rafael balançou a cabeça em afirmação.

- Ah, sei lá. A gente foi no cinema, a Sarah e o Gustavo também foram, o que não era pra ter acontecido. Eu beijei o Gustavo e...

- Juliana! Como isso vai ajudar você e o Rô de ficarem juntos?

- Aí meio que o Rodrigo beijou a Sarah. Aí eu fiquei com raiva. Aí a gente brigou.

- Juliana, você não disse que vocês tinham voltado a se falar?

- Deixa eu terminar! A gente brigou e então no meio da briga ele me beijou e se declarou e tal - comecei a sorrir - Então a gente voltou a se falar, acho que foi assim.

Rafael estava de sobrancelhas arqueadas e sorria para mim.

- Aê, parabéns! - disse ele.

Olhei pra Camila. Ela parecia uma estátua assustada. Ela estava com os olhos arregalados e boca aberta, totalmente paralisada. Rafael bateu palmas na frente dos olhos dela. Ela permaneceu parada. De repente, gritou.

- Meu Deus, eu não acredito!! - berrou ela - Vocês dois! Juntos! Ai que perfeito!

Eu e Rafael começamos a rir por causa da animação exagerada dela.

- Calma aí - falei - Ele ainda nem terminou com a Sarah.

- Ah, mas vai, com certeza! Vocês dois juntos... Ah, que sonho. Vou comprar um picolé pra mim, pra comemorar. Vocês também querem?

- Com certeza - respondeu Rafael por nós dois.

Uma joaninha começou a andar em minha mão apoiada na grama. Uma brisa começou a mover as folhas das árvores de um lado pra o outro. Nenhuma nuvem no céu azulado.

- Juliana, eu queria te perguntar uma coisa - falou Rafael, olhando para um arranhado na mão.

- Diga.

- Bom, eu estou apaixonado pela Camila. Tá, isso não é nenhuma novidade. Mas, sendo você a melhor amiga dela, você... Hm, ela...

- Desembucha logo, menino!

- Ela comentou com você sobre estar gostando de mim também?

- Hm. Não. Não diretamente.

Ele fechou a cara e entortou a boca.

- Tudo bem. Obrigada.

- Rafael, ela gosta de você.

- Mas você acabou de dizer que ela não disse nada.

- Porque eu não cheguei a perguntar. Mas eu não preciso. Eu sei. Só pelo o jeito que ela fala de você e olha pra você. Fala sério, eu conheço a menina desde sempre. Eu sei das coisas. Ei, sabe o que eu acho que você devia fazer? Pedir ela em namoro.

- Eu quero fazer isso mas eu lembro da primeira vez que a gente namorou e...

- Você merece uma segunda chance, Rafael. Afinal, ela que estragou a primeira.

Nós dois observamos ela. Seus cabelos voavam e ela mordiscava seu dedo. Ela estava numa fila que tinha como sua maioria crianças de uns dez anos. Ela olhou para nós e acenou, sorrindo. Rafael suspirou.

- Então eu preciso fazer algo especial.

- Como assim?

- Um pedido de namoro especial.

Já iria falar como normalmente esses "pedidos especiais" são bregas, mas eu lembrei que Camila amava essas coisas.

- Vá em frente, amigo - falei.

Voltei pra casa de tarde e encontrei Rodrigo sentado na calçada.

- Oi.

- Oi.

As coisas estavam vergonhosas entre nós. Mas era uma vergonha tão boa.

- Como você tá? - perguntou ele.

- Isso depende. Você terminou com a Sarah?

- Se eu terminei? - disse ele, gargalhando depois - Por favor, Juliana!

- Você não terminou, não é?

- Eu não consegui!

- Arrã, tá bom.

- Eu tentei! Eu estava introduzindo o assunto de terminar e aí ela começou a chorar! Eu não consigo ver gente chorando, você sabe. Aí ela explicou: o avô dela faleceu nesta madrugada! Eu não consegui terminar com ela depois disso. Ela só chorava!

- Olha, Rodrigo, não estou te forçando a fazer nada. Termine com ela se quiser.

- Que história é essa? Claro que eu quero, eu quero ficar com você.

- Falar uma coisa, fazer é outra.

Sai e entrei em casa. Rafael me ligou nesta hora, chamando-me para ir para o parque de diversões.

- Vou chamar pouca gente - disse ele - É só porque eu estou com muita saudade dessa época de criança minha. Você se importa se eu convidar a Sarah? Ela tem sido bem simpática comigo ultimamente sabe e aí...

- Não, tá tudo bem. Pode convidar ela sim.

- Legal. Amanhã as quatro da tarde.

Naquela noite, Sarah apareceu na casa de Rodrigo. Vi-a entrando no quarto para fazer-lhe uma surpresa. Ele percebeu que eu estava espionando pela janela. Vi Sarah sair do quarto, provavelmente indo para o banheiro retocar sua maquiagem impecável. Rodrigo fez sinal para eu abrir a janela.

- Vou terminar com ela - falou ele - Depois você quer ver uma serie aqui em casa?

- Que insensível. Mas sim, quero.

- Tá - respondeu ele, sorrindo - Te vejo daqui a pouco.

Deitei na cama em tal posição que podia ter uma boa visão do quarto de Rodrigo. Liguei a tevê para fingir que estava fazendo alguma coisa. Rodrigo se sentou numa cadeira e Sarah sentou-se na cama. Não entendi o que ele estava dizendo mas ele segurou a mão dela. A feição de Sarah estava curiosa, não parecia triste, feliz, surpresa, entendiada, nada. Então, no meio do nada, ela começou a chorar. Bastante. Rodrigo a abraçou, Sarah roubou um beijo, ele recuou. Ela disse alguma coisa e saiu do quarto, batendo a porta tão forte que um quadro pendurado na parede caiu.

Rodrigo virou-se para a janela, olhando-me, e balançou os ombros. Dei um sorriso fraco e fui até a casa dele. Eu estava me sentindo mal pela Sarah. Por isso que quando o Rodrigo tentou me beijar, quando eu entrei no quarto, eu virei o rosto.

- Ah não. Você diz que não ia me beijar até eu terminar com a Sarah, aí quando eu termino você ainda não me beija?

- Rodrigo, você não está se sentindo mal? Ela foi sua namorada por um bom tempo! Você não se sente mal por isso ter acabado?

- Sinto mas se eu terminei um capítulo da minha vida para começar um novo, que parece ser tão melhor e, bom, tem você... O sentimento ruim meio que desaparece.

Eu beijei sua boca e abracei-o.

- Já está tarde - falei - Acho melhor eu ir pra casa. Te vejo amanhã no parque de diversão?

- Combinado.

Exatamente as quatro no dia seguinte nós estávamos lá. Não foi difícil achar Rafael pois ele estava rodeado de muitas pessoas. Ele conversava com elas seriamente e elas pareciam ouvir. Quando ele nos viu, disse apenas mais alguma coisa para o grande grupo e veio até nós. Olhei-o como se esperasse alguma explicação.

- Ah - disse ele - É pro... Pedido que eu te falei. Eles vão me ajudar.

- Rafael, isso vai ser grande assim?

- Hm, bom, um pouco. Vou precisar da ajuda de vocês uma hora. Posso contar com vocês?

- Claro - respondemos em uníssono.

- Ótimo. Camila deve estar chegando. Caramba, eu estou ansioso! E a Sarah, Rodrigo, ela vem?

- Hm, bom, eu não sei. A gente terminou ontem, acho que ela não virá.

Rafael olhou para Rodrigo e depois para mim. Sorriu para nós.

- Certo. Que bom! - disse ele.

Camila chegou bem sorridente e deu um abraço em nós todos.

- Já podemos começar a se divertir? - gritou ela - Vamos na montanha-russa primeiro? Amo montanha-russa, amo montanha-russa.

- Camila - falei - Você morre de medo de montanha-russa.

- É, eu sei, hoje é o dia de perder esse medo idiota. Vamos!

A fila da montanha-russa estava menor do que eu esperava. Esperamos uns minutos e já era nossa vez. Quando o cara que controlava o brinquedo disse que nós podíamos ir, Camila simplesmente travou.

- Podem passar na frente - gritou ela, para as pessoas que estavam atrás de nós na fila - Eu não vou conseguir gente. Vocês viram? Tem dois loppings. A descida é praticamente noventa graus. Eu não posso fazer isso.

- Camila - disse Rafael, segurando seu rosto - Você consegue. Nada vai te acontecer, sabe porque? Porque eu estou aqui com você.

Ela balançou a cabeça e o abraçou.

- OK, eu vou - disse ela, sorrindo.

- É mas a gente vai ter que esperar a próxima vez - falou Rodrigo - Porque esse já está saindo.

Ficamos parados mais uma vez na fila. Rodrigo deu um beijo longo em minha bochecha e segurou minha mão. Camila não só notou o movimento, como que ela abriu a boca e gritou.

- Eu nunca vou me acostumar com vocês dois! Mas espera, e a Sarah?

- Eu terminei com ele ontem - disse Rodrigo.

- Ai que maravilha! Então vocês estão, tipo, namorando?

Eu e Rodrigo nos olhamos. "É verdade", pensei "O que somos? Namorados? Ficantes?". Acho que ele estava pensando a mesma coisa. Bem nesta hora, vi um rosto conhecido ao longe vir em nossa direção. Cabelos loiros e lisos, pele clara, olhos azuis inconfudíveis... Era a Sarah, com certeza. Soltei minha mão da dele ao vê-la. Ele estranhou e virou o rosto para onde eu estava olhando. Sarah nos avistou e acenou com um grande sorriso branco no rosto.

Sarah furou a fila e veio até nós, o que gerou muitos xingamentos das pessoas de trás. Ela os ignorou.

- Ufa, que bom que achei vocês! Achei que ia ser impossível porque é bem grande esse parque mas o primeiro cara que eu virei e perguntei onde estava o Rafael, ele apontou a direção.

- Hã? - estranhou Camila - Porque um cara do parque sabia onde você estava?

- Olha, é a nossa vez - gritou Rafael, ignorando-a.

Chegamos perto da montanha-russa. Camila e Rafael sentaram-se nos dois primeiros lugares. Um clima estranho surgiu quando eu entrei no próximo assento.

- Hm, Juliana, você podia passar pra trás? - perguntou Sarah.

- Hm, porque? - perguntei.

- Bom, pra eu sentar aí com o Rodriguinho! Vamos lá, não dói. Eu quero também ficar perto da Camila e do Rafa!

Olhei para Rodrigo, achando a situação muito esquisita. Ele também parecia estar confuso.

Sarah puxou ele pelo braço, assim que eu fui para o banco de trás me sentar perto de um completo estranho. Eles se sentaram e ela disse, usando um tom de voz que normalmente é usado para falar com bebês:

- Eu tenho muito medo de montanha-russa, amor, então eu quero que você segure minha mão bem forte, pode ser?

Rodrigo abriu a boca pra falar algo, mas não teve a chance de dizer pois Sarah o beijou antes e segurou sua mão. Ele virou o rosto discretamente e me olhou. Eu olhei para outro lugar.

Quando o percurso da montanha-russa havia acabado, Camila, a qual tinha ficado calada todo o momento, começou a gritar.

- Caramba! Eu consegui! - berrou ela, dando um grito fino em seguida - E graças a você.

Ela foi até Rafael e o abraçou.

- Qual é o próximo brinquedo? - perguntou Sarah, abraçando o braço de Rodrigo. Rafael e Camila notaram isso e me deram um olhar confuso. Desviei o olhar - Que tal o carrinho de bate-bate? Eu sou incrível naquilo!

E lá fomos nós em outra fila. Desta vez nós ficamos totalmente quietos e parados. Quando foi nossa vez, cada um escolheu um carrinho. Uma música eletrônica começou, iniciando o jogo. Eu normalmente só tentava fugir nesse brinquedo, para tentar dirigir o máximo, pois achava mais divertido. Mas desta vez eu queria bater nos outros.

Quando eu estava dando uma volta, Sarah me acertou de lado e começou a rir. Virou seu carro e foi atacar sua próxima vítima. Comecei a ir numa reta, mas logo Rodrigo veio no seu carro ficar perto de mim.

- Deixa eu explicar - disse ele.

- Não acredito que você não terminou com ela! Você mentiu pra mim!

- Não, não menti! Escuta!

Dei ré e fui para outro lado. Rodrigo me acertou de frente.

- Escuta! - continuou ele - Eu terminei sim com ela! Não sei porque ela está assim hoje, eu fui bem claro!

- Tão claro que ela ainda enfia a língua na sua boca! Ah é, esqueci que ex namoradas fazem isso o tempo todo.

- Juliana, é sério!

- Me poupa, vai.

O tempo acabou e nós saímos.

- Eu sou ótima, vocês viram aquilo? - perguntou Sarah, dando pulinhos - Eu acertei todo mundo!

- Vi, você acertou até aquele menino de... Hm, sete anos? - disse Rafael.

- Ah, quem entra naquele brinquedo sabe dos perigos! - continuou ela - A Sarah aqui não considera ninguém café com leite!

Revirei os olhos e falei que ia comprar um refrigerante. Rodrigo quis vir junto.

- Rodrigo, não precisa ficar inventando mais nada. Eu acho que isso é o destino, sabe? A gente não devia ficar juntos. Você e a Sarah se combinam e se merecem. Fica com ela, não quero mais nada com você - chegou a minha vez de comprar - Uma Coca-Cola normal.

- Que história é essa? - falou Rodrigo.

- Você quer alguma coisa pra comer ou beber?

- Não! Juliana, como assim você não quer mais nada comigo?

- Eu só acho que você devia ficar com a Sarah. Obviamente tem uma parte de você que também quer...

- Eu terminei com ela ontem sim! Mas eu acho que ela não se tocou, não sei... Eu vou acabar com isso hoje mesmo.

- Faça o que quiser.

O homem me deu o refrigerante e eu entreguei o dinheiro. Abri a lata e dei um gole.

- Na verdade, eu vou fazer isso agora - disse ele, apressando o passo para me alcançar.

- Faça o que quiser.

Rafael, Camila e Sarah estavam sentados em um banco nos esperando.

- Sarah, posso dar uma palavrinha com você? - disse Rodrigo.

- Claro, mas vamos no elevador primeiro!

- Não, no elevador não - respondeu ele.

- Porque? Tá com medinho?

- O Rodrigo tem pavor do elevador - disse Camila.

- Ah, fala sério! Então quem vai querer vir comigo? Juliana? Camila? Rafinha? Ninguém? Que sem-graça vocês! Tô indo.

E lá foi ela. Ficamos calados, apenas ouvindo as risadas das crianças de longe, e os gritinhos finos delas.

- Então, Rodrigo - disse Camila - Quando você falou que tinha terminado com a Sarah... O que você quis dizer? Eu entendi que era o relacionamento, mas acho que errei.

- Você sabe que eu quis dizer isso. Eu terminei o namoro com ela. Eu disse "Eu não acho que nós devíamos nos ver novamente" e "Acho que devíamos dar um tempo".

- Ah, seu mané - gritou Cam - Tem garotas que não se tocam que isso é um término definitivo! Garotas idiotas, mas mesmo assim! Na próxima vez que você terminar com alguém, não esqueça de falar "Estou terminando com você"!

Sarah voltou do brinquedo desanimada.

- Uh, tô um pouco cansada de tanto pular e correr - disse ela.

- Sarah, agora eu posso falar com você? - perguntou Rodrigo.

- Vamos no trem fantasma! - berrou ela - Trem fantasma é o máximo! Tudo bem que o desse parque é meio fraquinho, mas dá pro gasto! Sempre vou, eu adoro, vamos lá!

- Sarah - disse ele.

- Vamos, amoreco - beijou sua boca.

- É, vamos - falei, tentando sair da situação.

Entramos no vagão do trem e este começou a se mover. Um fantasma apareceu sob nossas cabeças. Um grito fino veio no fundo, seguido de uma risada macabra. Senti que alguém estava tremendo. Vi que era Rafael, que estava do meu lado.

- Rafa - falei - Você está bem?

- Não! Odeio trem fantasma!

- Você tá com medo? - perguntou Camila.

- Hm. Um pouco.

- Não se preocupa, eu estou aqui. Nada vai te acontecer. Segura minha mão.

Ele se acalmou e deu uma risadinha, mas aí logo berrou quando um boneco sem braço apareceu do lado dele.

Depois de mais uns bonecos mal feitos e alguns efeitos sonoros, a trilha havia terminado. Rafael pediu à Camila que ela comprasse uma água gelada para ele se acalmar. Ela foi.

- Gente, eu não preciso de água, na verdade, só precisava despistá-la. Agora que eu vou botar em pratica o meu pedido de namoro. Vão até a roda gigante e peçam ao cara de camisa azul o cartaz. Digam que é pro Rafael. Ele vai explicar pra vocês o que fazer em seguida.

Balançamos a cabeça ao mesmo tempo, para mostrar compreensão. Ele deu um sorriso e agradeceu.

Fomos até a roda gigante e fizemos o que Rafael disse. O homem nos explicou o que deveríamos fazer. Mas quando ele mandou a gente entrar na roda gigante, eu comecei a pirar.

- Pera, a gente vai ter que ficar lá? - perguntei.

- Claro, você estava aqui quando eu disse o que vocês tem que fazer? - respondeu o homem.

- Eu só não achei que a gente teria que ficar tanto tempo lá em cima.

- Menina, você está me atrasando. Entrem logo vocês três. Tomem o cartaz.

- Mas...

- Vão!

Entramos no brinquedo. Coloquei a mão na frente dos olhos quando senti que estávamos subindo.

- Ah não, você tem medo de roda gigante? - acusou Sarah - Meu Deus, vocês são muito bebês! Cada um tem medo de alguma coisa, fala sério. E o seu medo é o mais idiota, Juliana, roda gigante é tão tranquilo.

- Desculpa se é um trauma de infância! - gritei.

- Calma aí - disse ela - Relaxa. Olha, chegamos no topo.

E foi aí que eu fiz a coisa mais idiota do mundo: eu olhei para baixo. A distância me deixou zonza foi um momento, e eu tive que colocar a mão nos olhos novamente.

- Sarah, agora eu posso falar com você? - disse Rodrigo.

- Amor, porque agora? Estamos meio ocupados, não acha?

- Mas você foge toda vez que eu tento conversar! Pelo menos aqui você não tem escapatória.

A música começou, alertando-nos que deveríamos levantar o cartaz. Tinha a letra M em vermelho. As algumas das outras pessoas na roda gigante estavam com cartazes também, formando a palavra CAMILA. Olhei para baixo e, depois que parei de me sentir tonta, avistei Rafael e Camila. Vi a cena se desenrolar: pessoas no barco pirata levantaram cartazes que formavam a palavra QUER. Na montanha russa descendo, de alguma forma as pessoas aceitaram segurar NAMORAR. Então a música parou, assim como as pessoas do parque que ficaram paralisadas com o momento. Rafael se aproximou com um cartaz pequeno escrito "comigo?" em letra cursiva. Eu estava longe, mas conseguia ver que Camila estava chorando. Rafael disse no microfone:

- Eu sou louco por você. Desde o primeiro dia que eu te vi. Camila, quer namorar comigo?

Ela pegou o microfone e disse:

- Claro que quero!

Eles se beijaram e as pessoas aplaudiram. Foi uma cena linda de assistir.

- Obrigada a todos que me ajudaram! - falou Rafael, e assim eu vi os cartazes se abaixando.

Abaixei o nosso cartaz.

- Isso foi lindo - falei, feliz por eles.

- Foi mesmo - disse Sarah - Porque você não fez algo assim pra mim, Rodrigo?! Que coisa, o que que custava?

- Sarah, porra, eu estou aqui tentando falar de término e você vem com esse papo?!

- Término?

- Sarah, lembra de ontem?

- Da nossa briguinha? Por favor, amor, todo casal discute! Vamos passar por essa tranquilamente.

- Aquilo era um término.

- Claro que não era. Rodrigo, não quero fazer isso na frente da Juliana, vamos descer e conversar. Esfria a cabeça, você está muito exaltado, não sabe do que está falando.

- Sei sim. Eu não quero mais namorar você.

- Espera, isso é sério? - ele afirmou com a cabeça - Porque você quer terminar comigo?

- Porque as coisas não estão mais dando certo, Sarah, simples assim.

- Não é só isso que eu sei. Tem outra garota não tem?

- O que? N-Não, claro que não.

- Você gaguejou. Quem é a vadia?

A roda gigante finalmente voltou a se mexer, indo para baixo.

- Não tem nenhuma "vadia".

- Eu sei que tem! Não tente me fazer de idiota!

Fiz questão de ser a primeira de sair do brinquedo pra tentar sair daquela situação constrangedora o mais rápido possível. Quando estava botando o pé lá fora, acabei tropeçando, mas Rodrigo conseguiu me segurar a tempo. Agradeci. Sarah me encarou com um olhar raivoso e deu um grito.

- Você! Você é a razão do Rodrigo ficar falando essas coisas sem sentido!

- Calma, Sarah! - disse Rodrigo.

Eu me afastei discretamente, mas não tão discretamente para Sarah não me notar.

- Volta aqui, vadia!

Parei e me virei.

- Sério mesmo que você vai me chamar assim de novo? - perguntei.

- Sério. Só que dessa vez quem vai dar um tapa em você sou eu.

E ela deu. O tapa foi tão incrivelmente forte que me fez cair no chão. Não entendi como aquela menina que parecia uma bonequinha tinha tanta força. Rodrigo veio até o chão para me acudir. Ao ver a marca vermelha que ela fizera no meu rosto, virou-se para Sarah com raiva e falou:

- A Juliana não é a razão de eu estar terminando com você. A razão é que eu não te amo e nunca te amei. E agora, mais do que nunca, eu não vou voltar com você. Nunca mais. Acabou, Sarah, acabou!

- Não fala isso, amor - disse ela, chorando e tentando segurar a mão dele.

- Não me chama de amor - respondeu ele, tirando a mão perto dela.

- Vamos conversar, por favor, não fica assim comigo.

Levantei-me e sai perto deles. Dessa vez, ninguém notou. Comprei uma garrafa de água gelada para botar no meu rosto. Aquilo estava doendo mais do que eu esperava. Por isso, eu preferi ir pra casa. Avistei Rodrigo de longe ainda brigando com a Sarah. Suspirei e falei baixinho, desta vez realmente falando a verdade:

- Não era para ser tão complicado... Não quero mais nada com você, Rodrigo.


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor ♥ Beijo pra todos!