Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por todos aqueles reviews no capítulo passado! Agradeço também todos que me desejaram feliz aniversário *-* Enfim, boa leitura ♥



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Eu não sei como que eu consegui chegar em casa. Depois que eu saí da festa, decidi andar, apesar que eu tinha dinheiro para pagar um táxi. Eu não sabia qual era o caminho até minha casa, mas de alguma forma, eu consegui. 

    Não tenho ideia como não fui roubada ou sequestrada até lá. Quer dizer, foi uma longa caminhada. E em sua maior parte, passei por lugares sem quase nenhum ser vivo a vista, o que me deixava aflita. Mas eu acho que o meu estado que impediu alguém fazer algo comigo. Eu estava mal. Tirei meu salto alto e fui andando e chorando, por toda a estrada. Em alguma parte do trajeto, desisti de segurar aqueles sapatos e soltei-os no chão. Só na manhã seguinte que eu fiquei brava por ter feito isso. 

    As pessoas deviam me olhar e pensar "Pobre garota. E como é esquisita". Quer dizer, eu deveria parecer uma esquizofrênica. Sem brincadeira. Não me lembro de toda a ida até minha casa, só lembro que quando cheguei, já tinha parado de chorar e já estava cansada de pensar. Meus pais estavam dormindo, então não perceberam minha chegada adiantada. 

    Acordei as onze e pouco da manhã. Um pouco de luz saía da fresta entre a cortina e a janela. Minhas pernas estavam doloridas e meu rosto, inchado. Olhei para o lado: Camila roncava alto, com a maquiagem ainda no rosto e o vestido da festa ainda no corpo. 

    Fiz um coque e desci as escadas para comer alguma coisa.

    - Bom dia - falou minha mãe, com sua voz sem emoções audíveis, para variar - Como foi a festa?

    - Bem legal - menti, passando manteiga num pão de forma. Coloquei-o em uma torradeira.

    - Ontem eu falei com a Ana Cristina - ignorou-me - Lembra dela?

    - A sua amiga que trabalha lá no colégio? 

    - Sim. Ela disse que foi no parque ontem e ela viu um dos alunos vendendo drogas! Você acredita nisso? Que absurdo, fiquei chocada! Como o colégio não faz nada a respeito... Como os pais do menino não sabem disso ainda?! E se sabem, porque ainda não fizeram nada?

    - Que loucura. Você sabe o nome dele? - perguntei, enchendo um copo com água e depois bebendo-o.

    - Um tal de João. Juliana, espero que você não seja amiga dele porque eu não quero filha minha com amizades assim! 

    Engasguei com a água e tossi forte, ferindo minha garganta.

    - João? Tem certeza? - falei, imaginando que podia ser qualquer um.

    - Sim. Um do terceiro... B. 

    "Porra, é o João mesmo", pensei, sem conseguir acreditar.

    - Você não é amiga dele não, né Juliana? - perguntou minha mãe, ao ver minha feição ligeramente assustada - Porque se for, trate de parar de ser! Se eu descobrir que você toma alguma droga ilícita, você vai se ver comigo! Na verdade nem lícita pode, se eu descobrir que você fuma cigarro...

    - Calma mãe! Relaxa. Eu não fumo. Nada. 

    - Bom mesmo. Porque, Juliana, eu sou muito rígida com essas coisas de drogas. Eu e seu pai. Nós não temos a ilusão que vocês só bebem refrigerante nas festas, mas não se envolve com as outras drogas Juliana. Eu tiro você dessa cidade se eu descobrir alguma coisa!

    - Relaxa, mãe! Você está me assustando. Eu não me drogo.

    Ela me deu um olhar ameaçador e saiu da sala.

    Comi a torrada bem devagar pois estava muito ocupada pensando sobre a história do João. Eu não conseguia acreditar. Ele não ia fazer coisa tão estupida... Ou será que ia? Decidi ir ao parque para tirar essa história a limpo.

    Depois de terminar o café da manhã, recebi uma ligação.

    - Alô? - disse uma voz fina.

    - Oi Sarah - falei, ao reconhecer.

    - É você, Ju?

    - Quem mais seria?

    - Desculpa, é porque eu não reconheci sua voz... Ela está bem rouca.

    - É. É porque eu... Gritei muito ontem. Então, porque você me ligou?

    - Ah, sim. É porque quando eu desci para voltar à festa, Camila me disse que você já havia ido embora pois estava passando mal... Só queria me certificar se você melhorou... Foi alguma comida da festa? Porque eu posso com certeza processar aquela loja da comida que eu encomendei! Sabe, eu já passei mal comendo aquela empadinha de frango, e eu não queria pedir mas aí...

    - Não, não - interrompi - Nem cheguei a comer. Acho que eu bebi demais com o estômago vazio, foi isso. Estou bem agora.

    - Que bom! Hm, Juliana, apesar de você ter ido para a festa ontem, o que tecnicamente significava que você havia me perdoado, eu percebi você me dando uns olhares meio bravos... Acho que foi impressão mas eu queria confirmar... Está tudo bem entre a gente?

    - Hm, claro - menti - Desculpa por ter... Hm, interrompido aquele momento ontem. 

    - Ah, aquilo... É, foi meio vergonhoso, mas tudo bem. Não tinha como você saber que eu estava lá. Com o Rodrigo. E como estávamos ocupados. 

    - É, é, entendi. 

    - Tem algo que eu possa fazer pra você? Ainda acho que foi a comida da minha festa, estou me sentindo mal por isso.

    - Na verdade tem - falei, lembrando-me do plano que ainda não tinha botado em ação.

    Contei para Sarah a minha ideia e ela topou na hora. Acho que ela se sentiu feliz por se sentir útil. 

    Fui até o quarto e vi Camila se espreguiçando, ainda na cama. Ao me ver, sentou-se e perguntou o que tinha realmente acontecido para eu ter sumido da festa. Expliquei cada minimo detalhe e no fim, ela estava tão paralisada quanto eu.

    - Eu ainda acho que você deve contar pra ele - falou ela.

    - Não viaja, Camila! Você não vê? Isso tem que acabar! Eu vou me afastar dele, não quero nem saber.

    - Você tem que pelo menos explicar porque vai se afastar.

    - Tenho nada. Ele não é meu pai ou minha mãe para merecer explicações. 

    - É, ele é só o seu melhor amigo.

    Eu sabia que ela estava certa. Mas eu não queria ver o Rodrigo tão cedo. Eu iria fazer de tudo para tirar ele do meu coração. 

    Fui até o parque naquela tarde, escondida da minha mãe. Demorei para achar João pois ele estava bem escondido, no meio de umas árvores de troncos largos. Aproximei-me devagar. Sussurrei seu nome e ele se virou.

    - Juliana, o que você tá fazendo aqui?

    - N-Nada, só queria te ver.

    - Hm. Me ver. Ninguém quer me ver, a não ser que tenha outra coisa envolvida. Você sabe que eu vendo drogas agora né? Deu pra perceber. Você tá com mó cara de medo. Relaxa, eu não mordo. Só se preciso. Mas e aí, quer o que?

    - Já disse o que eu quero.

    - Não, quer que droga? 

    Ele me entregou um pacotinho plástico com um pó branco. Demorei um pouco pra perceber que era cocaína. Devolvi na hora na mão dele.

    - Ô Juliana, tá chamando atenção! Relaxa, te conheço, gosto de você, então a primeira vez por conta da casa.

    - O que aconteceu com você, João? - falei, nervosa.

    Ele parecia não querer responder, observando uma fileira de formigas andando. De tanto eu encará-lo, bufou e explicou:

    - Tive que me virar de algum jeito. Não quis mais morar com os meus pais, então eu fugi de casa. Eles nem se deram o trabalho de procurar. Mas tudo bem. Tentei arranjar um emprego, mas ninguém queria me empregar.

    - Mas começar a vender drogas não é solução, João! - apressei-me.

    - Escuta aqui, Juliana, essa foi a minha única escolha, ok?! - gritou - Meus pais não me querem mais, eu não tenho dinheiro... A Manuela foi pra outro país, Juliana. Outro país! E eu não tenho noção pra qual! Ela não se preocupou nem em me avisar! Eu tive que um dia bater na casa dela. Ninguém veio. Tive que pedir explicação do vizinho dela! Eu não tenho mais porque querer viver! Simples assim! Não tenho casa, não tenho família, não tenho amigos, não tenho nada...

    Ele se virou e encostou a testa numa árvore de casca grossa. Virei-o com a ajuda da minha mão e o abracei. Ele me apertou. Ele não fez nenhum som, mas eu percebi que ele estava enxugando lágrimas. Não dissemos mais nada. Eu só segurei seu braço e levei-o a uma lanchonete próxima. Paguei um sanduíche pra ele, o qual foi engolido em segundos.

    - Não vou te deixar voltar pra aquele parque - falei, quando paguei a conta.

    - Juliana, eu durmo lá. Você vai ter que deixar.

    - Não! É muito perigoso. Você vai dormir na minha casa hoje. 

    - Eu não quero atrapalhar. Sua mãe não vai querer um traficante na casa dela. 

    - Você vem. 

    - Juliana...

    - Eu vou dar um jeito. 

    Quanto mais eu pensava, mais eu ficava em dúvidas de como iria fazer aquilo. Eu teria que escondê-lo. Mas onde? Minha mãe andava em cada parte da casa todo dia. Eu me concentrei bastante pra tentar achar uma maneira, mas não consegui. Havia outra opção, uma que eu não queria mesmo recorrer, porém era a última e a única.

    Bati na porta da casa de Rodrigo. Poucos segundos depois, foi ele mesmo que atendeu. Quando me viu, inspirou forte e olhou para os lados. Fiz o mesmo quando ele que olhou nos meus olhos.

    - Oi - disse ele.

    - Oi. Eu preciso de um favor. 

    Ele suspirou e olhou para nós.

    - Tá. Entrem.

    Sentamos no sofá bege do centro da sala. João pareceu realmente alegre de sentar em algo tão confortável.

    - O João pode dormir aqui na sua casa hoje a noite? Só hoje. Vou tentar convencer minha mãe pra ele dormir lá amanhã em diante.

    - Juliana - falou João - Eu não queria isso. Eu não queria atrapalhar. E agora, certamente, eu tô atrapalhando. 

    - Cara, você pode dormir aqui sim. Não vai atrapalhar nada - disse Rodrigo - Minha mãe é bem liberal com qualquer amigo meu que precise de alguma coisa.

    Lembrei que João e Rodrigo nunca haviam nem trocado uma palavra. Percebi como Rodrigo estava sendo legal com isso. "Ele é tão maravilhoso", pensei, logo em seguida ficando com raiva de mim "Merda. Era pra eu estar esquecendo ele. Porra".

    João agradeceu e perguntou se podia usar o banheiro. Rodrigo apontou o lugar e lá foi João, deixando eu e Rodrigo sozinhos. A quietude deixava-me agoniada, sendo o único som audível minha própria respiração.

    - Então... Porque sua mãe não deixaria o João dormir lá?

    Tentei resumir a história mas não consegui. Acabei contando tudo pra ele, desde a conversa da minha mãe até o parque. 

    - Entendi - respondeu - É melhor eu não falar pra minha mãe que ele vende drogas.

    - É, acho que ela não vai gostar muito disso.

    Compartilhamos uma risada baixa e rápida.

    - Rodrigo - falei, evitando olha-lo - Desculpa por ontem. Por ter entrado no quarto naquela hora.

    - Não, não se preocupa com isso. Não tem o que se desculpar. 

    Ele escorregou sua mão até a minha e segurou-a. Por mais que eu quisesse ficar daquele jeito para sempre, rompi o momento, tirando minha mão. Olhei para um dos quadros pendurados na parede.

    - O que você tinha pra me falar? - perguntou ele, quebrando o silêncio novamente.

    - Como?

    - Você entrou no quarto falando que precisava me dizer algo.

    Meu cerébro começou a fazer uma caçada em busca de uma boa mentira. Era como se um relógio estivesse gritando, avisando que os segundos estavam passando e me convencendo que eu estava demorando demais.

    - Ah! - raciocinei, finalmente - É só porque eu tinha encontrado o Bruno. E a Amanda. E aí eu queria te contar que... Eles estão namorando! Você acredita nisso?

    - Bom, eu já sabia - estranhou ele - O Bruno já tinha me contado.

    - Poxa, não sabia! Viu, atrapalhei vocês ontem pra nada. Sinto muito.

    - Tem certeza que era só isso? Quer dizer, parecia que você queria me dizer alguma coisa bem séria.

    - Que nada, menino! - ri falsamente e o empurrei pelo ombro - Impressão sua! Isso que dá beber muito, fica imaginando coisas!

    - Eu não bebi ontem. Essa foi você.

    - Você - ri novamente - Você devia ser comediante. Olha, eu acho que já tá na hora de eu ir embora. Já posso deixar você e o João sozinhos? 

    - Hm, tá.

    - Você vai adorar ele! - gritei, saindo. 

    - Juliana! - gritou ele - Espera!

    Eu fiquei parada lá fora, o vento forte confrontando meu corpo, fazendo-me sentir frio. Rodrigo veio até mim.

    - Eu só queria te falar que ontem não aconteceu nada - disse ele.

    - Hã?

    - Tipo, eu e a Sarah... A gente não... Fez nada.

    - Rodrigo, eu não tenho sete anos. Você não precisa mentir sobre transar com a sua namorada.

    Virei-me e comecei a andar. Ele me parou.

    - Não é mentira. É só que... Não parecia certo. Então nada aconteceu.

    - Foi porque eu interrompi?

    Ele hesitou.

    - Não exatamente.

    - Rodrigo, porque você tá me contando isso? Não é da minha conta. E eu não ligo o que você e sua namorada fazem ou deixam de fazer. 

    - Porque você sempre fala "sua namorada" com tanto desprezo?

    - Rodrigo, isso não é verdade.

    - É sim. E também é verdade que você fala muito meu nome completo quando você está brava comigo. 

    - Isso não também não é verdade, Rodri... Rô.

    Ele arqueou as sombrancelhas como quem fala "Eu não disse?". 

    - Tanto faz, eu não estou brava com você! Não tem porque estar - falei, mais alto do que esperava.

    - É mesmo? - eu concordei com a cabeça - Então vamos no cinema amanhã.

    Rodrigo passou a mão pelo meu braço de pelos eriçados. Seus olhos azuis deslumbrantes me analisavam.

    - Isso é uma ordem? - perguntei

    - Deixa eu reformular. Então, vamos no cinema amanhã, por favor?

    - Está implorando?

    - Estou - ele riu - Vamos?

    - Se você insiste - falei, sorrindo torto - Você me busca às oito. 

    Soltei-me de seus braços e fui em direção a minha casa.

    - Ei - chamou ele - Isso é uma ordem?

    Sorri e entrei em casa. 

    Quando cheguei no meu quarto, Camila ainda estava lá, conversando no celular.

    - Sério, mãe? Tem certeza?

    Camila estava com os olhos cheios de água, com a mão tampando o rosto.

    - Entendi. Eles disseram isso, é? - continuou ela. Sentei-me ao seu lado, preocupada - Nossa. Com certeza. Obrigada, mãe. Obrigada. Beijos. Tchau.

    - O que foi, Cam?

    Ela se virou e um sorriso se formou. Ela me abraçou e falou, com felicidade evidente:

    - Meus pais deixaram eu continuar no colégio!

    E foi assim que eu descobri que meu plano tinha dado certo.


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Notas finais do capítulo

Não percam o próximo capítulo, acho que vocês vão gostar :D
Obrigada por lerem.
Review?