Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Sim, agora todo dia eu vou postar capítulo :) Boa leitura!



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Em toda a minha vida, eu nunca presenciei um momento tão estressante. Ficar esperando naquele corredor com cheiro de naftalina era torturante. Tomei aspirina e bebi uma água gelada para tentar me acalmar. Mas eu não era a em pior estado. Camila não conseguia parar quieta. Andava de um lado para o outro. Não chegou a chorar nem nada. Na verdade, nenhum de nós derramou uma lágrima. Estavamos paralisados demais com o que havia acontecido.

    Foi tão rápido. Tão rápido que não conseguimos segurar ele. Quando Rafael se desequilibrou, lembro-me de até achar que ele só estava brincando. Quem dera. Camila deu um berro. Um estrondoso berro de dor. Foi até a beirada, com cuidado, e gritou outra vez. Rodrigo correu em direção as escadas. 

    - Meu Deus! Meu Deus, meu Deus, meu Deus! - gritava Camila.

    E eu fiquei quieta. Com a mão tampando a boca. 

    - Liga pra ambulância, Juliana, pelo amor de Deus! - pediu ela e foi para as escadas. 

    Liguei com a mão tremendo. Conseguia ver lá embaixo Rodrigo e Camila em volta de Rafael. Este não fazia nenhum movimento. A moça do celular disse que estava mandando uma ambulância para o endereço.

    Foi a minha vez de acordar. Corri para baixo e cheguei perto deles. Camila ainda berrava e Rodrigo dava leves tapas no rosto de Rafael, suplicando:

    - Acorda, cara, vamos lá.

    Rafael estava com os olhos fechados. Caiu em cima de um arbusto, o qual ficou destruido. Vi sangue nas mãos de Rodrigo. Percebi que estava vindo da testa de Rafael, a qual havia um corte que parecia bem profundo. Ele estava sujo por causa da terra. Tinha arranhões por toda pele. A camisa estava rasgada e mostrava seu peito ferido e com sangue saindo.

    Três homens musculosos pediram para nós nos afastarmos; o fizemos. Um deles trazia uma maca. Eles seguraram Rafael com muito cuidado e colocaram ele devagar na maca. Camila perguntou se nós podiamos ir junto. Ao ver nossas feições, ele disse que sim. 

    Rafael não fez nenhum movimento dentro da ambulância. Ele parecia tão pacífico. Tão pacífico que parecia que estava dormindo, tendo um sonho lindo. Camila perguntou ao homem umas oito vezes se ele achava que Rafael iria ficar bem. Ele sempre respondia:

    - Vamos fazer de tudo pra fazer isso acontecer. Ele está respirando, isso que mais importa agora. Relaxe. 

    Quando chegamos no hospital, eles levaram Rafael rapidamente para uma sala. Mandaram-nos esperar em uns bancos desconfortáveis. Camila ligou para os pais de Rafael para avisar sobre o acidente. Eles vieram bem rápido e ficaram olhando para nós com o olhar mais bravo que eu já vi em minha vida. 

    Já havia completado meia hora de pura espera e nervosismo. Não estava mais aguentando aquele ambiente. Avisei que ia sair um pouco pra respirar um ar puro. Rodrigo quis vir comigo. 

    Sentamos num banco de madeira do lado de fora. Uma ventania forte começou. Só ficamos calados e observando o nada. 

    - Eu sinto como se isso fosse um alerta - falou ele, olhando para um pássaro cinza que voava perto - Sabe, só agora que eu percebi como a vida é traçoeira. Um minuto a pessoa está ali, no próximo ela pode não estar. Só agora que eu percebi como que não dá pra a gente ficar gastando os minutos preciosos da vida se lamentando, brigando, reclamando... Eu sinto muito, Ju. Por esse meu afastamento. Eu amo a Sarah mas a sua amizade é tudo pra mim... Desde que a gente brigou é como se sempre há um pedaço de mim faltando. Me desculpa por ter sido um babaca. 

    Eu só abracei ele. Abracei ele muito forte. Senti o cheiro de primavera que ele tinha, um cheiro que me lembrava de casa. Olhei para seu rosto. Eu tinha sentido tanta falta daquelas bochechas rosadas cheias de pintinhas espalhadas, daqueles olhos coloridos pelo oceano mais profundo, daquele sorriso delicioso que me fazia ter vontade de olhar toda hora.

    - Só te desculpo se você me perdoar por ser uma amiga tão ridícula.

    - Isso não é verdade. Mas eu te perdoo sim.

    Sorrimos e fomos pra dentro. Camila estava finalmente sentada porém estava com um olhar tão entristecido que eu senti a vontade de ir falar com ela, mesmo sabendo das probabilidades dela não querer falar comigo. 

    - Cam - comecei, mas aí me lembrei do que ela havia me dito mais cedo - Quer dizer, Camila. Hm, você quer alguma coisa? Um copo d'agua ou algo assim? 

    - É tudo a minha culpa. 

    - O que?

    - É tudo a minha culpa.

    - Cam, não viaja. É claro que não é a sua culpa.

    - Tudo que eu faço nessa vida é atrapalhar a vida dos outros. É tudo a minha culpa. Se eu não tivesse sido tão imatura... E se ele não conseguir se recuperar? E se ele ficar paraplegico ou algo assim? E se ele não resistir e morrer, Juliana? Ai meu Deus.

    Camila começou a chorar desesperadamente. Abri o braço para abraça-la e, surpreendentemente, ela aceitou o gesto. Encharcou o ombro da minha camisa com as suas lágrimas. Só parou de chorar quando ouviu a porta da sala onde Rafael estava, abrir. Uma mulher magricela de jaleco saiu de lá. 

    - E então, doutora? - falou a mãe de Rafael, envolvida pelos braços acolhedores do marido.

    - Bom, ele quebrou as duas pernas, teve de levar pontos em várias partes do corpo, quebrou também o pulso, mas tudo já está sob nosso controle. Ele vai ter que ficar aqui por mais duas semana, pelo menos, por causa da recuperação. A sorte é que ele deve ter caido em alguma árvore ou algo parecido, antes de chegar no solo. Isso amorteceu a queda. Se ele não tivesse nenhum obstáculo no caminho, é bem provável que ele não teria sobrevivido. 

    Todos nós suspiramos, aliviados. 

    - E vocês - disse a médica, olhando para mim, Camila e Rodrigo - Fizeram muito bem de ter ligado rápido para a ambulância. O Rafael perdeu sangue, mas nada tão absurdo como teria sido se ele tivesse passado mais um minuto lá. Acho melhor vocês três irem pra casa. E os senhores - falou ela, referindo-se aos pais deles - também devem ir para casa, só há alguns papéis para serem assinados. Mas caso um de vocês queiram ficar com o Rafael no quarto, tem uma poltrona lá bem confortável. Porém ele não pode acordar nem nada, ok? 

    A mulher pediu linçensa e foi falar com uma enfermeira. Os pais de Rafael sussurraram algo um para o outro, e deram olhadinhas em nossa direção. A mãe veio até nós.

    - Camila - disse ela -, se você quiser passar a noite aqui, passe. Só se você quiser, claro! Eu posso e quero passar a noite aqui para ficar de olho no Rafa, mas eu vi como você está apreensiva. Ouvi você dizendo que isso tudo é culpa sua. Não é, querida, acredite. Você namorava meu filho, não? Eu sei que vocês terminaram feio, mas eu acho que se ele acordar e você estiver no quarto... Ele vai ficar muito feliz.

    - A senhora tem certeza? - perguntou Camila - Eu adoraria ficar aqui pela noite. 

    - Tenho certeza, mas avise seus pais primeiro! 

    Camila a abraçou. A mulher ficou surpresa com o movimento. A verdade era que aquilo era o que Camila precisava no momento. Ela precisava ver ele para parar tanto de se culpar.

    Os pais de Camila foram embora depois que a médica permitiu Cam ficar por lá, e avisou que eles e ela não tinham nada para se preocupar porque se algo acontecesse com Rafael pela noite, haveriam médicos prontos para ajudar. Depois que eles foram, foi a minha vez e de Rodrigo. Quando avisei à Camila que estavamos de saida, ela me abraçou e disse:

    - Vamos nos ver amanhã? Eu preciso conversar com você.

    - Com certeza. Te ligo.

    Eu e Rodrigo preferimos ir a pé para casa. Não era tão longe e a noite, apesar de tudo, estava muito bonita. Caminhamos pela calçada em passos lentos. 

    - Estou tão feliz que Rafael está bem - disse ele - Quer dizer, ele não está bem, realmente. Mas estou feliz que ele não está... Você sabe. 

    - Nossa, eu também estou muito aliviada. E finalmente a Camila enxergou o fato que ele é o cara certo pra ela. Aquele Leandro é um tremendo idiota.

    - Se eu ver aquele cara na rua... Caraca, vão ter que me segurar pra eu não dar um soco nele. 

    Eu ri.

    - Mesma coisa aqui, Rô. 

    Ele deu um sorriso largo e me encarou.

    - O que que foi? - perguntei.

    - Estava com muita saudade de você me chamando de Rô. 

    Eu sorri. 

    Chegamos na frente de casa mais rápido que eu esperava. Paramos e ficamos quietos apenas nos olhando. Olhar para ele me fez ter um embrulho no estômago muito estranho. Eu me peguei decorando cara detalhe de seu rosto. Percebi pela primeira vez que ele tinha uma pintinha bem perto do olho, um corte no queixo, uma rachadura nos lábios rosados... 

    Ele me abraçou novamente, desta vez ele era o que apertava meu corpo contra o dele. Sussurrou em meu ouvido:

    - Então você é a minha melhor amiga de novo?

    Pela primeira vez na minha vida eu não gostei daquela expressão, "melhor amiga". Senti um incomodo estranho quando ele disse. Não entendi por quê.

    - Claro. Claro que sim, Rô.


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Notas finais do capítulo

Deixem review e não percam o próximo capítulo, beijos! ♥