Ao chegar, João já estava me puxando. Disse que havia achado e chegara a entrar lá dentro, apesar de não ter feito nada sem mim. De repente, apressou o passo.

Segui João até o esconderijo. Ele dava passos precisos e olhares paranóicos ao nosso redor, com os olhos arregalados. Chegamos perto ao bosque. João começou a observar a terra molhada coberta de folhas alaranjadas e secas. Ajoelhou-se e começou a cavar um buraco. Quando achei que ele havia perdido a cabeça, vi algo prateado se destacar em meio a lama. Ele sorriu de modo um tanto psicótico e fez força para puxar a argola de prata. A portinha se abriu.

- Primeiro as damas - disse ele.

Agradeci, neguei e insisti que ele fosse antes de mim. Lá foi ele. Quando foi a minha vez de pular, um medo tremendo subiu pela minha espinha. Era escuro e parecia ser bem fundo. Mal exergava João. Ele deu um grito de incentivo. Pulei.

Caí de mal jeito em cima de uma cerragem. Logo senti as grandes mãos de João me erguindo do solo. Um abajur foi ligado.

Naquele pequeno espaço, só havia uma coisa a vista: uma mesa de metal com um laptop prateado no centro, bem alinhado, e uma estante cheia de caixas de papelão.

Estava pensando no que fazer quando João já estava se sentando, abrindo o laptop da Senhorita X. Para nossa surpresa, não tinha senha.

O plano de fundo era um tanto assustador. Era a junção de umas cinquentas fotos, uma ao lado da outra, de várias pessoas do colégio. Um dos atalhos chamou a nossa atenção. Era um X vermelho e o nome era "Sou Eu". Como eu não imaginei que era uma cilada?

Assim que João clicou no arquivo, a tela do computador ficou preta. Briguei com ele por ter ferrado com a chance de ver algo, ele brigou comigo sem argumentos. Tentou ligar de novo. De repente, ouvimos um grito bem estrindente e desesperado. Senti meu coração acelerar rapidamente.

Pedi para a gente ir embora, o grito estava cada vez mais alto e eu estava morrendo de medo. Quando olhei para a estante atrás de nós, vi tudo que não queria ter visto. Tinha um buraco em uma das caixas. Quando a abri, havia uma camera lá, gravando tudo. O pior era que era uma câmera bem tecnologica, e assim que eu toquei nela, esta parou de gravar e um sinal de "enviando..." apareceu na tela.

Mostrei para João com desespero, ele me olhou com aquele olhar neurótico e começou a bater a câmera contra a mesa. A mesa amassou, a câmera não. Depois de muita mais força aplicada, a camera se desmontou completamente.

Naquela altura eu estava já roendo minhas unhas. Um som de sinere se espandiu pelo lugar, e o grito fino estava apenas aumentando de volume.

João gritou dizendo que estava na hora de ir. Apesar de isso ser tudo que eu queria já que estava simplesmente apavorada, eu não queria sair de lá sem nenhuma descoberta. Afinal, iria sair do mesmo jeito que entrara, apenas um pouco mais apavorada.

Ele achou uma escadinha inclinada na parede e a utilizou para subir. Pediu desculpas e foi, deixando-me sozinha. Eu estava já subindo na escada quando vi algo preto perto do pé da mesa. Corri para pega-lo. Era um pen-drive. Coloquei-o no bolso do meu short jeans e escalei.

Sai correndo até a entrada do colégio. Ofegava e sentia meu coração acelerando como nunca havia antes, e uma dor na testa terrível... Não achava João de jeito nenhum, então tive que ir para casa sozinha, correndo, com o mesmo olhar paranóico que ele.

Deitei-me na minha cama ainda com dificuldades de respirar. Peguei o pequeno pen-drive e o observei com as minhas mãos suadas.

Conectei-o em meu laptop. Três pastas surgiram, respectivamente nomeadas de 1, 2 e 3. Cliquei na 1. Lá dentro tinha mais pastas. Fiquei aterrorizada quando vi a que elas estavam destinadas. Cada uma tinha o nome de alguém que eu conhecia: Amanda, Camila, João, Sarah, Rafael, Rodrigo... E na última pastinha havia o meu nome. Cliquei nesta.

Deparei-me com dezenas de fotos e vídeos. As primeiras era apenas de mim andando em certos lugares na escola. Outras me pertubaram mais. A oitava foto era de mim com o rosto inchado e chorando na frente do laptop. O dia que eu havia descobrido que Alex havia me traído. Tinha um vídeo do mesmo dia, só que mais tarde, quando Rodrigo havia me puxado e me beijado. Surpreendi-me quando percebi que eu estava vendo e revendo aquele vídeo sem parar. Uma saudade esquisita me bateu no peito.

Abri a pasta da Camila. Não devia ter feito isso. Não descobri apenas que ela havia ficado com praticamente todo o menino do colégio, como descobri que ela e o Leandro... Tinham feito aquilo. Ou pelo menos era o que parecia no vídeo.

Por isso que eu sai na hora de lá para falar com Camila. Nada parecia mais importante naquele momento.

Cheguei na casa da Camila com pressa. Ela estava deitada na cama com seu laptop rosa para variar.

- Ah, oi Ju - disse ela em tom animado.

- Oi.

Foi ai que eu percebi que não sabia como falar com ela sobre aquilo. Não poderia dizer sobre ter achado no pen-drive da Senhorita X um vídeo dela com Leandro, porque aquilo geraria perguntas demais as quais eu não sabia se poderia responder, por mais que quisesse.

- Bom, Cam, como vai a vida? - perguntei, tentando soar do modo mais normal possível - Quais são as novidades?

Ela me olhou de modo suspeito.

- Bom, acho que não tenho nenhuma novidade desde de manhã, quando eu te vi!

- Certeza? - falei - Então não tem nada que você queira me contar?

- Hm - ela fechou a tela do laptop e começou a me olhar - Não, eu acho.

Eu não acreditava que Camila seria capaz de esconder algo daquele tipo de mim. Ok, eu também não estava sendo a melhor amiga, havia inúmeras coisas que eu não havia contado a ela, mas eu queria que ela confiasse em mim para isso.

- Eu sei sobre você e o Leandro terem transado! - disse mais alto do que queria.

Camila olhou para os lados. Foi até a porta e a trancou.

- Enlouqueceu, Juliana? - sussurou ela - Você sabe que as empregadas contam tudo para os meus pais!

- Então vocês transaram mesmo?

- Juliana, quem te falou isso?

- Camila, não interessa, o que interessa é que eu não acredito que algo assim rolou e você não me contou!

- Desculpa, Ju! - ela parecia lamentar mesmo - Eu queria te contar, queria mesmo, mas...

Ao ver a cara dela, só pude perguntar:

- Ele te obrigou?

Camila deu um sorriso torto e desabou em lágrimas.

- Camila - abracei-a - O que que foi, amiga? Fala comigo.

- E-Eu não tive escolha - falou ela, tentando se recompor - Ele disse que ia terminar comigo se a gente não fizesse. Eu estou tão apaixonada por ele, Ju, tão apaixonada que eu fui lá e dei meu corpo como um objeto que não vale nada...

- Camila! Você não pode ficar com um cara que te trata assim!

- Eu sei, Ju, mas é o Leandro...

- E daí, Camila?! É só mais um dos caras que vai passar na sua vida e...

- Juliana - interrompeu-me - Ele é o amor da minha vida. Eu sei.

Já ia dar mais lição de moral quando o celular dela começou a vibrar.

- É ele - sorriu.

- Camila, você precisa me prometer que você não vai mais fazer nada sem que você queira. E você tem que se cuidar! Promete?

- Ta, ta, prometo.

Ela atendeu o celular e mudou completamente o tom de voz. Fui embora.

Ao chegar em casa, fui direto até meu quarto. Queria terminar de vasculhar o pen-drive da Senhorita X.

Sentei-me na cadeira e liguei o meu laptop em cima da escrivaninha de madeira. Quando vi, o pen-drive não estava lá.

Comecei a mexer em todo mínimo espaço da minha mesa e ao redor, tentando achar o objeto. Baguncei meu quarto inteiro. Não achei. Desesperei-me. Minha mãe passou bem na hora.

- Filha, tá procurando alguma coisa?

Como se não fosse obvio.

- Tô sim, mãe, você viu um pen-drive preto por aí?

- Hm, não, não. Desculpa, filha.

Ela já estava longe de meu quarto quando falou:

- Sabe quem veio aqui agora a pouco? Pouco antes de você chegar da casa da Camila.

Uma vozinha vinda do fundo da minha mente gritou "Seja lá quem foi, é a Senhorita X". Fazia sentido o sumiço do pen-drive. E eu já sabia que a Senhorita X tinha meu endereço.

- O Alex, querida. Ele chegou até a subir aqui no seu quarto, mesmo eu dizendo que você não estava. Ele foi muito atencioso, acho que quer voltar com você, filhinha!

Minha mãe continuou a falar sem parar mas eu não prestei atenção em nada. De repente tudo fez sentido na minha cabeça. O pen-drive tinha pastas com o nome de todos, menos dele. Ele nunca foi uma vítima. O Alex sabia meu endereço.

Mas porque ele havia me mostrado o vídeo dele com a Amanda? Porque ele correria esse risco? "Ele já estava planejando terminar com você", lembrei da Suzana dizendo para mim. Então era isso. Aquele e-mail foi só uma forma de fazer com que nós terminassemos. E eu sabia que, de algum modo, ele tinha a certeza que eu iria fazer aquele escandalo. E ele ficou tão popular depois disso.

O Alex era a Senhorita X. Tantas respostas vieram na minha mente mas o dobro de perguntas veio a tona. Uma em destaque: Porque ele fez aquilo?