Estava indo em direção ao refeitório quando uma mão me puxou. Virei-me assutada, mas era só João. Briguei com ele pelo susto. Ele ficou quieto e me puxou. Nos levou até o bosque.

– Por que a gente tá aqui? - perguntei, desconfiada.

– Eu sei.

– Sabe o que?

– Onde a Senhorita X se esconde.

Olhei para os lados e abri a boca.

– Onde? - sussurei.

– Prefiro não te falar agora.

– Porque?!

– Porque quanto menos gente souber, melhor... E eu não sei se a informação que eu recebi é correta, então eu vou lá confirmar primeiro.

– Mas você não acha perigoso?

– Sinceramente, - deu uma risada - acho... Mas eu sozinho ou acompanhado não vai mudar nada. E eu só quero fazer isso com você. Não vou fazer nada, só quero ver se há alguma maneira de nós entrarmos.

– Então tá - conformei-me - Mas qualquer notícia eu quero ser a primeira a saber.

– Assim será - disse ele e deu um sorriso torto.

Camila veio para minha casa comigo depois da aula pois tinha um encontro com Leandro. O fato é que ela estava escondendo dos pais sobre estar namorando com um cara mais velho, e com razão. Eles a trancariam em casa para sempre se descobrissem.

Lá para às duas da tarde Leandro ainda não havia chegado mas em vez dele chegou Rodrigo, muito inquieto, dentro de meu quarto.

– Juliana, a gente tem que conversar! - disse ele, batendo o pé em um ritmo chato.

– Pode falar - disse, levantando-me e indo para perto dele. Ele recuou.

– Camila, acho melhor você sair - disse ele com até certa calmaria em sua voz.

– Epa, Rodrigo, ela não vai sair não - falei, estranhando a situação - Nós somos três melhores amigos, lembra?

Ele hesitou.

– Então tá - olhou para mim - Pode me explicar porque você deu um tapa na minha namorada?

– Wow, você deu um tapa na Sarah? - berrou Camila - Caraca Ju, bate aqui! - levantou a mão. Tive que ignorá-la, Rodrigo parecia a ponto de explodir.

– Você sabe que eu odeio que falem mal de mim pelas costas - comecei - Eu ouvi ela falando e não suportei!

– A Sarah não fez nada, Juliana, nada! - gritou ele. Que bom que meus pais não estavam em casa - Ela só disse que você estava se metendo com a Senhorita X ao fazer essas coisas, e na opinião dela, de propósito.

– Ah, então foi isso que ela te disse?

– Er, eu acho que eu vou indo - disse Camila - Acho que o Leandro chegou.

Ela saiu.

– Sim, foi isso que ela me disse. Ela também me disse que você veio super alterada e deu um tapa nela, sem mais nem menos! Mas olha, a Sarah é boa, Juliana, e...

– É, muito boazinha, - interrompi - realmente!

– Ela não vai contar para a diretora. Sabe porque? Porque, segundo ela, apesar do tapa e de tudo mais, ela gosta de você e não quer que você ganhe uma advertência ou algo parecido.

– Ah! - gritei - Que anjo! Nossa, tenho que agradecê-la!

– Juliana, se ela contar você vai levar no mínimo uma suspensão!

– Que tal agora você calar a boca e ouvir a versão verdadeira da história?

– Então pode começar!

– Eu estava no banheiro. Ela entrou com as amiguinhas dela, elas começaram a falar que eu era uma rodada e tal, aí a Sarah, boazinha, que dissera que era minha amiga, falou que eu era uma vadia mesmo.

– Ela não disse isso - falou Rodrigo.

– Eu não acredito que você acredita nela e não em mim! Rô, olha para mim, - desviou ainda mais o olhar - eu nunca menti para você. Não estou mentindo agora.

– Está cada vez mais difícil acreditar em você, Juliana.

– O que você quer dizer? - ficou calado. Repeti, agora com mais firmeza na voz - O que você quer dizer?!

– Olha para você, Juliana! Eu não te reconheço mais! Essa menina superficial e tarada que bebe, fica com qualquer um, faz streap, transa com os populares, briga... Essa menina eu não conheço! Ela não é a minha melhor amiga. E o pior é que...

Parou de falar.

– O pior é que o que? - falei, voz trêmula por causa da vontade de chorar.

– O pior é que você virou uma vadia mesmo.

Arqueei as sobrancelhas e olhei para o lado. Senti meus olhos marejarem e virei-me de costas para ele. Esperei um pedido de desculpas que não veio.

– Você não era assim, Ju. Eu não tô entendendo mais nada, sabe? Como que a garota meiga e doce que eu era apaixonado virou essa...

Calou-se. Virei-me para ele, meu cenho franzido e olhos arregalados. Ele pareceu desconfortável, olhando para tudo menos para mim.

– Que você era... Apaixonado? - falei.

Ele bufou e foi em direção a porta. Corri para alcança-lo. Tranquei a porta antes que ele saisse.

– Rodrigo...

– Sim, eu era apaixonado por você, Juliana! Não se preocupe, eu era, já passou.

– Ah. Mas desde quando?

Ele riu.

– Quando? Bom, comecei a ter um sentimento estranho em relação a você por volta dos oito anos.

– Porque você não disse nada?!

– Hm - ele sorriu - Eu não sei. Eu nunca esperei que você me correspondesse então eu fiquei calado porque eu, no fundo, sabia que se eu te contasse, ia ficar um clima tão esquisito... Como agora... - riu sozinho - E não valia a pena perder sua amizade.

Ficamos calados nos encarando por um tempo. Eu me sentia triste.

– Acho que eu vou indo - disse ele. Destranquei a porta.

Deitei-me na minha cama e me senti devastada. Apesar daquela declaração no final, tudo indicava que nós iriamos ficar brigados por um bom tempo. Ainda não me conformava com tudo que ele disse, sobre eu ter virado aquela menina superficial... Será que havia mesmo?

Minha mãe sempre disse que é muito mais fácil nós julgarmos os outros em vez de nós mesmos. E como era verdade. Naquele momento eu evitava olhar para dentro de mim pois sabia que não iria gostar do que veria.

Foi aí que eu comecei a chorar. Até que ponto eu tinha ido?! Nunca fui dessas de querer chamar atenção. Nunca fui dessas que agredia. Dessas que mostrava o seu corpo para qualquer um...

Nem eu mesma me reconhecia.

Lá para as cinco da tarde, recebi uma ligação de um número desconhecido. Fiquei intrigada.

– Alô, Juliana? - disse a voz profunda.

– Hm, quem é?

– É o João!

– Ah, oi João! Tudo bem?

– Tudo sim. Dá para você vir aqui no colégio agora?

– Er - hesitei - Agora?

– Tem que ser.

Quando cheguei lá, João já estava na frente me esperando.