Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Só vocês para me fazer ficar acordada agora escrevendo capítulo novo... Obrigada por lerem, espero que gostem ♥



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Comecei a andar mais devagar. Também não podia simplesmente me virar e correr em direção à pessoa, ela (ou ele) podia se assustar e fugir. Então eu, fingindo ser inocente, fui mais para dentro do bosque (sim, meu colégio tinha um pequeno bosque, que até diziam que rolava um trafico de maconha, mas eu nunca soube se era verdade). Se fosse realmente a Senhorita X, iria me seguir.

Passava entre as árvores com atenção. Ouvi um barulho de uma folha seca sendo partida. Resisti ao desejo de olhar para trás. Comecei a dar passos mais rápidos, sem saber o que fazer em seguida. Meu plano era maior furada. Conseguia perceber a presença de outra pessoa. De repente, ouvi outra folha sendo despedaçada. Virei-me rapidamente, sem conseguir aguentar. Mas não vi nada. Comecei a olhar para os lados. Para onde tinha ido?

E aí, quando me virei novamente, tudo ficou preto. Haviam colocado um saco na minha cabeça que impossibilitava a visão e amarraram uma corda em meu pescoço. Comecei a gritar e tentar fugir mas a pessoa estava segurando meu punho com força demais. Aí que eu percebi que não era apenas uma pessoa. Quatro mãos começaram a tatear meu corpo.

Comecei a gritar mais, sabendo que eu não acharia ajuda. Aquela parte do colégio era muito abandonada. Percebi que eu mesma havia me colocado na armadilha. Gritei um pouco mais mesmo assim.

Uma das pessoas riu e colocou a mão em minha boca. Sussurou em meu ouvido "xiu!".

- Quem são vocês? - falei, quando a pessoa tirou a mão da minha boca.

- Cala a boca, vadia - disse a pessoa. Agora sabia que um era um homem. Mas não reconheci a voz.

- Cara, cala a boca. Ela não pode ouvir nossa voz, lembra do que a Senhorita X disse? - outro homem.

- Você acabou de falar, mané.

- Porra - falou baixinho.

- Pera, nenhum de vocês é a Senhorita X, realmente? - perguntei.

- Não, tu é retardada? Fica quietinha, guria, e deixa a gente fazer o nosso trabalho.

- A Senhorita X paga vocês? - falei, ficando incomodada com minha posição. Eles estavam amarrando minha perna com um arame.

- Paga sim, é pouco, mas dinheiro é dinheiro.

- Porra vei, para de falar!

- Porra vei ela não vai saber quem a gente é, ela tá com um saco preto na cabeça, dã!

- Mas ela não é surta, idiota!

- Não me chama de idiota, idiota!

- Idiota é você!

- Não, é você!

- Vocês são dois idiotas, agora será que vocês podem tirar a droga desse saco da minha cabeça? Eu estou tendo dificuldade para respirar - falei.

- Não, não podemos, queridinha - disse um deles, voz profunda.

- Eu estou com falta de ar, sério, vocês querem que eu morra? - falei, não estando tão incomodada assim.

Ficaram calados.

- Vei, acho que a Senhorita X não vai gostar se essa mina desmaiar ou algo assim.

- Cala a boca, a gente ta fazendo o que mandaram, não?

- Quem é a Senhorita X? - atrevi a perguntar, mesmo sabendo que não iriam me responder.

Um deles riu.

- Tá, como se a gente fosse te contar - disse de novo o da voz grossa.

- Se a gente pelo menos já tivesse conhecido ela. Ou ele, não sei.

- Cala a sua boca, Gilberto, porra!

- Você. Não. Vei, puta merda.

- Opa, foi mal vei, ela nem ouviu, não é guria?

- Se eu ouvi que o nome dele é Gilberto? Não, que isso - falei.

- Tu ta morto, moleque.

- Ah, ta, me mata depois. A gente tem que terminar isso logo. Pronto, fiz o último nó.

Senti dois braços fortes me pegarem no colo e me carregarem. Me debati e tentei escapar de suas mãos suadas, mas era inútil. De repente, fui jogada numa superfície dura e áspera.

- Pronto, vamos. Tchau, querida.

Ouvi passos cada vez mais distantes e de repente tudo ficou mais escuro do que nunca. Não tinha a minima ideia de onde estava. Não era muito longe mas iria provavelmente demorar para alguém me achar, então comecei a tentar me livrar. Mas eram muitos nós.

Minhas mãos estavam amarradas de um jeito que sentia meus pulsos doerem de tanta pressão entre eles. Meus pés estavam com um arame bem enrolado que se eu mexesse muito, sentia arranhar. E aquele saco na minha cabeça estava começando a realmente me levar a loucura. O ar viciado e quente fazia eu ter que respirar com cada vez mais frequência.

Comecei a tatear o lugar. "Respira, Juliana, e se acalma". Com um medo enorme de botar a mão em algo que me machucasse ou de achar algum bicho lá dentro, comecei a me engatinhar com dificuldade. "Respira". Percebi que tinham prateleiras. Com ajuda delas, consegui me levantar, o que não era muito útil porque andar era mais complicado ainda.

Minhas mãos grudadas uma na outra deixavam mais difícil achar algo naquele escuro. "Respira, respira e proucura". De repente, algo pontudo tocou minha mão. Tateei melhor e reconheci que era uma tesoura de ponta bem fina.

Recortei o saco primeiro. Ainda não conseguia enxergar nada, já que não havia luz, mas pelo menos senti o ar entrar em meus pulmões exaustos.

O arame, apesar de me arranhar, era de péssima qualidade então consegui corta-lo. O problema agora era minhas mãos.

Tirei minha sapatilha e abri ao máximo a tesoura. De algum modo, encaixei a tesoura entre meus pés e aproximei minha mão. Apertei a tesoura, fechando-a, mas não acertei na corda. Tentei de novo e de novo, na quinta vez obtive sucesso.

Totalmente livre, agora, estava rindo internamente, pensando como os capachos da Senhorita X eram fracos.

Parei para pensar. Como iria sair daquele lugar? Só havia um ponto iluminado na sala. Quando cheguei mais perto, vi que era o lugar da fechadura. Olhei por aquele buraco. Conseguia ver o bosque. Localizei-me: estava na salinha do zelador.

Tentei abrir a porta mas estava trancada. Já esperava isso.

Se eu estivesse num desenho animado, uma lampada teria acendido em cima da minha cabeça naquela hora. Lembrei quando minha mãe me ensinou como abrir portas trancadas, utilizando apenas um cabide. Mas onde acharia um cabide? Ri mentalmente de novo quando percebi que eles haviam me amarrado com um arame. Procurei e achei facilmente. Minutos depois ainda tentando abrir a porta, alguém que vinha de fora abriu primeiro.

Uma claridade absurda entrou no lugar, deixando-me cega por segundos. Quando enxerguei melhor, vi quem era a pessoa que havia entrado. Era Rodrigo.

- Você? - falei chocada, abraçando-o.

- Ai meu Deus, que bom que você está bem - respondeu ele, parecendo realmente aliviado.

- Mas... Como você sabia que eu estava aqui?

- Vamos sair para eu te mostrar.

Saímos e fomos mais para dentro do colégio. Ele estendeu um papel que tinha uma colagem. Várias letras de recortes diferentes formavam: "Eu sei de você e Juliana. Traição me enoja. Você vai pagar caro por isso. Juliana já está pagando seu preço. PS.: Somewhere over the rainbow".

- Mesmo assim, como descobriu? - perguntei.

- Bom, não sei se você sabe, mas as pessoas chamam o final do bosque de "arco-íris" por causa dos maconheiros que ficam lá - ele riu - Então eu imaginei que fosse depois de lá. Só tem a casinha do zelador. E já haviam me dito que o zelador sempre deixa a chave debaixo do tapete que tem na entrada, então foi fácil.

Sorri agradecida por ter um amigo esperto. Abracei-o de novo.

- Não sei o que faria sem você, Rô.

- É, eu sei, eu sou o máximo.

Rimos juntos e eu dei um leve empurrão em seu corpo. Fomos para a sala. Eu perdi o quarto horário, já que fui considerada como quem havia "se atrasado". Mas ele conseguiu ver toda a aula, porque pediu para "ir no banheiro" no começo da aula, já que foi aí que viu o papel dentro de sua mochila.

Era obrigatório esperar em uma salinha especial para os alunos atrasados. Só havia eu naquela sala, enumerada de 22, tremendo graças ao ar condicionado exagerado.

Fui beber água um momento. Ainda me sentia nervosa por aquilo tudo. Apesar de ter sido salva rapidamente, fiquei ainda assim com um resto de medo no peito. Comecei a pensar: o que essa Senhorita X era capaz? Até que ponto essa pessoa ia para estragar e expor a vida dos outros? Quer dizer, ela PAGAVA pessoas para fazer o que quisesse. Acho que até ela ou ele havia pegado leve comigo.

Fiquei preocupada com Rodrigo. Senhorita X disse que ele iria pagar. A questão era: com que preço?

Outro pensamento me deixou aterrorizada: a Senhorita X estava em todos os lugares. Ele(a) sabia onde eu morava. Ele(a) conseguiu ter uma visão do meu quarto. Não consegui suportar a ideia de que ele(a) viu toda aquela cena, viu todo o meu medo... A partir daquele momento eu decidi deixar minha cortina fechada sempre.

Afastei-me do bebedor com pressa e sem querer esbarrei em um menino rechonchudo e de cabelo avermelhado. Ele pediu desculpas e saiu correndo, de um jeito muito estranho e incomum.

Sua voz não me pareceu estranha. Mas ele falara tão rápido e baixo que não consegui me recordar.

Voltei para a sala, dando a autorização na mão do professor. Todos da sala me olhavam intrigados. Fingi que não era comigo.

Enquanto ia em direção para o meu lugar, lembrei que estava sentada no meu lugar de sempre. O problema é que Alex estava sentado na carteira ao lado da minha, evitando me olhar nos olhos.

Já estava pensando em mudar de lugar quando o meu professor falou de um modo ríspido que eu me sentasse logo, senão iria passar outro horário na sala 22. Sentei-me chateada.

Depois da nossa briga mais cedo, Alex tinha se mudado para outro lugar, um bem longe. Mas parece que havia mudado de ideia e queria me irritar um pouco mais.

O professor começou a falar das datas das provas. Foi a deixa para Alex começar a me pertubar. "Juliana, eu quero conversar com você", "me desculpa gatinha", "você é melhor que todas elas", "me dá mais uma chance" e "prometo que vou mudar" são exemplos do que ele falou incessantemente pelos próximos dez minutos, só parando para respirar e fingir estar prestando atenção quando o professor olhava para ele.

Ignorei todas as frases, mas quando ele teve a audácia de repetir, na minha cara, "eu te amo", eu simplesmente não aguentei. Comecei a sussurar em tom irritado:

- Puta merda, Alex, eu estou cansada disso. Você não me ama que eu sei e eu não te amo, ok? Vamos seguir em frente, que tal isso? Sei que você quer me ter de volta, para suprir suas necessidades de macho alfa e me ter como um troféu para exibir para seus amigos, mais uma menina ingênua para sua coleção. Eu não quero mais isso. E eu já pedi para você NÃO me dirigir mais a palavra, eu NÃO quero mais conversar com você. Eu não estou brava nem magoada, não mais, só não quero você na minha vida.

Alex parecia conformado. Calou a boca e se sentou reto na cadeira de plástico. Começou a copiar a matéria que o professor passava no quadro negro.

À tarde liguei para Camila. Ela atendeu com empolgação.

- Amiga! - berrou ela - Que bom falar com você.

- Camila, onde você tá? Porque você não foi no colégio? Porque você não respondeu as minhas mensagens?

- Hahaha bobinho, para hahaha!

- Camila?

- Ah, oi, oi, Ju!

- Quem está aí com você?

- Estou com o Leandro.

- Quem é Leandro?

- Depois te conto. Hm, acho que ele pode me levar ai na sua casa para eu te contar. Leandrinho, você pode me levar na casa da Juju? Pode né? Ah você é o melhor!

Cara, como eu me senti invisível e confusa naquele momento.

- Ju, daqui a dez minutos eu chego - continuou ela - Beijinho, beijinho!

Achei estranho mas relevei. Em quinze minutos eu desci e fui até a calçada, encontrar com ela e o tal Leandro.

O homem tinha vinte e poucos anos na cara e transpirava charme. Tinha cara de malandro e pelo jeito era surfista: vi alguns pingentes de pranchas pendurados em seu carro, além de que ele era bronzeado e loiro. Mastigava chiclete com a boca aberta e me olhou dos pés a cabeça. Deu tchau para Camila com um beijo exagerado. Entrou em seu carro conversivel e saiu a alta velocidade. Quando ele estava longe, ela deu um grito e foi em direção para dentro da minha casa.

"Mas que droga é essa?", pensei.

Camila entrou no meu quarto e começou a pular em cima da cama. Quando parou, sentou e ordenou que eu me sentasse ao lado. Fiz isso.

- É ele, Ju.

- É ele o que Camila?

- Eu não disse que quando eu encontrasse o amor da minha vida eu iria saber? Eu sei. É ele!

Consegui resisti ao impulso de revirar os olhos. A Camila dizia isso volta e meia. Ela disse "É ele!" sobre o primeiro namorado dela - terminaram em doze dias -, sobre o Johnny Depp, sobre um garoto que ela trocou uma palavra numa padaria, sobre até Bruno - e já sabemos como isso acabou...

- O nome dele é Leandro - começou ela, olhos brilhando - Ele tem vinte e sete anos...

- Ah - interrompi - Apenas dez anos a mais que a gente, nenhum problema.

- Idade não é documento, Ju!

"Na verdade o certo é "Tamanho não é documento", mas deixa pra lá", pensei.

- Ele trabalha numa loja maneiríssima que vende só essas coisas de surfe, praia... Ele mora sozinho, não tem família aqui, a família toda dele é de uma cidade lá do interior. Nós no conhecemos na loja de havaianas ontem à noite. Foi a coisa mais romântica do mundo. Ele estava procurando uma havaiana preta comum e eu estava procurando mais uma rosa para decorar com aqueles brilhinhos... Aí eu experimentei uma branca - que era horrível, por sinal - e ele falou que tinha ficado "da hora" em mim! "Da hora"!! Ah, ele tem um sotaque paulista tão forte, tão lindo... Acabei comprando o chinelo "da hora" e nós fomos numa lanchonete. Ele me contou da vida dele. Aí a gente se beijou, fomos pro apartamento dele...

- Pera, pro apartamento dele? Cam, vocês...

- Não, não! Eu até queria mas, na hora, não me senti preparada. Ele quis mas eu fiquei sem jeito.

- Ele não ficou puxando a barra não, né?

- Não, ele foi um doce! Falou que cada um tem seu tempo.

- Ok, nada disso ainda explica porque você faltou hoje de manhã.

- Ah, sim. Ele me ligou bem na hora da aula e me chamou para tomar café da manhã. Sai escondida de casa e passei a manhã toda com ele. Deixei um bilhete falando que iria de carona com uma amiga pois queriamos chegar cedo para ensaiar um trabalho e que eu sentia muito por ter esquecido de avisar com antecedencia.

- Não custava nada ter me avisado - disse.

- Eu sei, desculpa amiga!

Começamos a conversar sobre o dia de cada uma, ela falava bem mais do que eu. Camila disse que tinha amado meu novo visual e pediu desculpas por não ter comentado antes, é porque só queria falar tudo do "Leandrinho" logo... Contei sobre meu plano, minha briga com o Alex, minha descoberta, meu sequestro... Parecia que havia um ano que não conversavamos! Passamos duas horas falando e falando sem pausas.

Cheguei o dia seguinte no colégio faltando meia hora para o primeiro horário começar. Estava subindo as escadas quando um garoto moreno que falava no telefone me empurrou, deixando cair meu material. O garoto pegou uns livros sem me olhar, ainda falando no celular. Eu reconhecia aquela voz... Ele me olhou nos olhos e calou sua boca. Soltou os livros no chão e se virou, fugindo.

- Ei, você! - gritei, catando meus livros.

Era o garoto da voz profunda que trabalhava para a Senhorita X. Tinha certeza. E dessa vez ele não iria escapar.


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Notas finais do capítulo

PELO AMOR DE DEUS, COMENTEM! Preciso de 6 reviews para postar o próximo ;) Beijos, bom final de semana para todos.