Tudo aconteceu muito rápido. Mas tudo começou com a Amanda chegando com passos apressados até a mesa da Camila. Bateu com força na carteira de plástico.

– Então, Camila, me conta como foi roubar o meu namorado?

– Oi?

– Não se faça de sonsa. Tudo agora faz sentido agora. O Rafa só não me perdoou porque tinha uma vadia na história! Você! Está feliz agora? Olha o que você fez comigo! Olha como eu estou arruinada!

– Amanda, - falou Camila, tentando disfarçar seu medo. Piscava compulsivamente os olhos maquiados - eu e o Rafael nem estamos namorando. Eu mal falava com ele durante o namoro de vocês.

– Ah, Camila, para de mentir! Nunca fui com essa sua cara de retardada não!

Naquela hora, muita gente estava observando de longe a cena, curiosos sem vida.

– Olha aqui, Amanda, você que estragou tudo, eu não! Não é a minha culpa se você agiu como uma puta e traiu o Rafinha, ok?!

Amanda pareceu muito indignada com as palavras de Camila. A fúria era o único sentimento que ela parecia sentir no momento, já que em seguida, ela deu o maior tapa na cara da Cam, que colocou a mão no rosto e levantou-se com raiva. As pessoas, em um coro irritante, gritavam "Briga! Briga!". Era isso que ia acontecer, realmente, se Rafael não tivesse aparecido no momento e impedido o soco que Amanda ia dar. Segurou sua mão. Ela se derreteu por um momento mas logo recompou-se.

– Me larga - ela disse, olhando para ele. Virou-se para Camila - Olha aqui, você não sabe nada, tá bom? Então em vez de ficar me chamando de puta, procure entender tudo antes.

Camila ia revidar algo mas pareceu preferir se calar. Quando todos estavam mais calmos e parecia que tudo ia ficar bem, Bruno chegou na sala.

– Filho da puta - falou e deu um soco bem no olho do Rafael.

Amanda e Camila foram acudir Rafa, que estava no chão, com a mão no olho.

– Que porra foi essa, Bruno? - gritou Camila.

– Que porra foi aquela, Camila? - ele berrou. Parecia triste - Eu achei que a gente tinha algo acontecendo.

– A gente só ficava, Bruno. Apenas isso.

– Mas... - ele parecia confuso - Eu... Eu e você, Camila...

Bruno parecia estar ao ponto de chorar ou esmurrar alguém quando a diretora chegou, extremamente brava. Mandou Bruno, Rafael, Amanda e Camila irem para a sala dela.

Todos eles ficaram suspensos por uma semana.

Quinta-feira Alex me convidou para jantar em sua casa. Preparei-me que nem em nosso primeiro encontro, e tão animada quanto. Disse que iria apresentar-me a sua mãe, então eu me arrumei bem, fazendo um look de menina santa.

Chegando lá, apertei a campainha redonda, reproduzindo um som alto. Logo em seguida uma mulher vestida com um vestido lilás marcado na cintura abriu a porta, cenho franzido. Abriu a boca para falar quando Alex apareceu do lado, ofegante.

– Essa é pra mim - ele disse. Beijou minha bochecha - Entre.

Entrei e me deparei com uma casa bem arrumada e com um aroma citrico no ar.

– Prazer em lhe conhecê-la, querida - a mulher disse - Eu sou a mãe do Alex, Cassandra. E você deve ser a... - hesitou - Fabiana! Alex falou tanto de você.

– Oi? - indaguei, totalmente confusa e olhando para ela com cara de interrogação.

Ela pareceu inquieta e envergonhada.

– Mãe, essa é a Juliana - ele disse, irritado - Minha namorada.

– Ah sim, sim - falou ela, levantando os braços - Desculpe-me querida, é a idade.

Ela parecia ter no máximo quarenta.

Dei um sorriso torto e me direcionei para a sala de jantar, onde Alex me guiava.

Deparei-me com uma grande mesa de madeira, com uma vela meio derretida no meio. Em duas cadeiras tinham pratos já com a comida posta.

– Minha mãe estava animada para te conhecer.

– Você quer dizer, conhecer a Fabiana?

– Não, Juliana, para de ser boba. Minha mãe só teve uma confusão, e só. Não me condene por um erro dela!

– Não estou, só quero saber quem é Fabiana.

– Que droga, isso não vem ao caso. Foi só uma namorada minha.

– Achei que você só tinha namorado a Suzana.

– Achou errado.

Sentei me na primeira cadeira que vi, revirando os olhos. Ele se sentou na minha frente, estendendo as mãos para eu segura-la. Segurei com má vontade.

– Estou feliz que você está aqui. Vamos comer?

Afirmei com a cabeça e dei a primeira garfada.

– Tá com saudade do Rafael? - pergutei.

– Hã? Porque estaria?

– Hã, porque vocês estão amigos e ele está suspenso.

– Ah, sim. É.

– Tadinho, achei que ele não devia ter sido suspenso. Afinal, quem realmente quis brigar lá foi o Bruno e a Amanda.

– Arrã.

Silêncio dominou, apenas dando pausas para sons de mastigação ou talheres arrastando-se pelo prato. Decidi rompê-lo.

– Quem você acha que é a Senhorita X? - perguntei.

Alex engasgou com a farofa de ovos, ficando vermelho. Quando recompou-se, disse:

– Eu sei lá.

– Não é a Amanda. Nem o Rafa, nem a Camila - falei, lembrando-me das vitímas - Nem o Rodrigo.

– Como você pode ter tanta certeza que não é ele? - perguntou Alex, cortando com força a carne avermelhada.

– Claro que não é ele - falei, olhos semicerrados.

– Quem sabe, Juliana?

– Claro que não é ele! Olha, Alex, eu conheço ele melhor do que você então pode ter certeza que eu sei do que estou falando.

Percebi que ele pensou em lutar contra, mas desistiu. Acho que estava cansado como eu de tanto brigar.

Passamos o resto do jantar falando mal dos professores, rindo das piadas pessimas que Cassandra fazia e dialogando sobre o que adoravamos um no outro.

A noite terminou com uma séria sessão de beijos e um adeus cheio de abraços.

Apesar de tudo, eu era louca por ele. Não sei, havia algo naqueles lábios rosados e aqueles olhos esverdeados que me fazia ir até o céu e voltar ainda delirando por sua beleza estonteante. Acho que era aquele estilo rebelde e nervoso que me deixava naquele jeito. Eu estava apaixonada pelo Alex. E não havia nada no mundo que me fizesse sentir diferente.

Cheguei em casa dando olá até para os objetos, felicidade transbordando e um corpo cansado.

Decidi apenas checar minhas mensagens no computador - e se Camila estivesse online, adoraria ter uma longa conversa no chat com ela.

Digitei meu e-mail e minha senha com rapidez pois na verdade tudo que eu queria era me deitar e lembrar dos vários "eu te amo" que Alex dissera durante o jantar.

Porém quando eu vi o primeiro e-mail não lido, sabia que não iria conseguir descansar tão cedo.

"Remetente: não identificado.

Assunto: SX

Olá Juliana,

Aqui é a Senhorita X. :)

Calma aí, menina, não vá se achando a especial pois recebeu um e-mail particular enviado por mim. Faço isso com mais frequencia do que pensa.

Só queria mandar isso aqui para te falar o quanto você é ridícula. E cega.

POR FAVOR ALGUÉM BELISCA ESSA GAROTA AQUI PARA VER SE ELA ACORDA?

Vou eu mesma te beliscar, Juliana, se você não começar a enxergar o que está na frente do seu nariz.

Odeio gente lerda e retardada, meu Deus.

Seja lá o que você esteja fazendo agora além de ler meu e-mail (tá, como se você não estivesse sentadinha roendo as unhas e a ponto de chorar nessa altura do campeonato), pare e pense por alguns segundos. Alguém está te enganando, Juliana. Alguém, por todo esse tempo, tem te usado e te tratado como um capacho. Mas você não enxerga. Está muito cega por todos os beijos e carícias que esse alguém te promove.

Se até agora você não tem ideia de quem estou falando, É DO ALEX.

Calma, não quebre a tela do laptop antes de ver a minha prova. :) Clique no link. Contém um vídeo."

Abri o link exatamente como a Senhorita X preveu: roia as unhas e sentia a adrenalina percorrer por todo o meu corpo, assim como o sentimento do medo. Torcia para que tudo fosse uma brincadeira e o vídeo fosse apenas falando "Pegadinha do Mallandro".

Ah, se eu soubesse o que eu ia ver, teria parado um pouco, respirado, e me preparado psicologicamente para a pancada seguinte. Mas que nada. Inocentemente abri o vídeo, deparando-me com o meu pior pesadelo.