O Corvo escrita por Jhiovan


Capítulo 5
Capítulo 4 - Aparição


Notas iniciais do capítulo

Demorei um tempão escrevendo tudo praticamente só em um dia. Então, desculpem por ter saído longo. Não tenham preguiça de ler, isso é feio. E boa leitura!



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Corvo carregou algumas caixas, e mandou Amanda carregar as outras. Não demorou muito tempo para ela cair, derrubando-as.  Foi quando ele olhou para seu pé e viu que sangrava muito.

– Amanda! – ele gritou agachando-se para verificar o ferimento.

Amanda gemia pela dor. Corvo analisou a situação. Não havia muito que fazer. Estavam no meio do deserto sem medicamento algum. Ele tinha duas opções: deixá-la morrer daquela forma drástica ou ajudar aquela que prometera ser sua ajudante.

– Siga em frente, Corvo. Faça o que tem que fazer. Deixe-me...

Então Corvo tomou sua decisão. Andou em frente pelo deserto.

A visão de Amanda estava turva, a dor incessante, o sangue não parava de jorrar. Ela não conseguia andar. A audição diminuía aos poucos, e a visão começou a escurecer. Quando ela pensou que estava chegando seu fim, ouviu um som.

Um corvejo. O corvo sobrevoava o céu sem nuvens. Então ele pousou perto dela. Amanda pensou que ele começaria a comer sua carne, que deveria estar apodrecendo. Ele enfiou o bico no pé dela sangrando. Ela não tinha forças para espantá-lo. A dor só aumentou, fazendo-a gritar. Ele movimentava o bico lá dentro, perfurando-a ainda mais. Mas depois, Amanda percebeu o que ele fazia. Quando finalmente terminou, retirou a bala que estava no seu pé e cuspiu-a na areia. Ela conseguiu avistar a ave nos ombros de Corvo. E essa foi sua ultima visão naquelas horas.

Amanda finalmente acordou. Estava numa cama em um quarto cheio de objetos muito variados espalhados. Era sem dúvida o abrigo do Corvo. Haviam-se passado horas dês de que ela apagara. Ainda sentia um pouco de dor no pé, porém mais amena. Olhou-o e viu que estava com um torniquete. Ela quase se assustou ao ver Corvo ali de pé em frente à cama olhando-a.

– Obrigada – disse. – Pensei que você me deixaria morrer...

– Você é minha única aliada, eu não poderia – Corvo respondeu.

– Então por que quase me matou na estrada?

– Eu havia calculado. Mas poderia dar errado, dependeria do motorista. Era um risco necessário. O que importa é que agora você está viva.

Corvo e Amanda ficaram calados por um tempo.

– Posso saber por que você não me deixou matar aquele homem? – Corvo perguntou.

– Você alguma vez imaginou-se no lugar das suas vítimas, Corvo? Alguma vez já se imaginou sendo obrigado a trabalhar como homem-da-lei para não morrer de fome e morrer exercendo seu cargo?

– Eu nunca faria isso. Preferiria morrer de fome – ele interrompeu-a.

– Eles não têm total culpa Corvo. Mas aquele homem muito menos, é um simples motorista. Nunca feriu ninguém. Ele não “merecia a morte”, como você falou uma vez. Seria injusto...

– As pessoas não são tão inocentes quanto parecem, Amanda.

– E quem é você, ou eu para julgar? Ninguém é, Corvo.

– Este assunto está encerrado – ele falou, rapidamente.

Lentamente, os olhos de Amanda foram se fechando. Depois de cair no sono, começou a sonhar.

Havia um homem, cujo rosto ela não pôde ver pelo excesso de luz vindo da porta onde ele estava. Ele estava vestido com farda militar verde-escura segurando duas malas em cada mão. Ele acenava para uma mulher jovem, que Amanda reconheceu. Era a sua mãe. Porém ela estava mais nova, o cabelo ainda era negro como o dela. A senhora Félix Jones segurava um bebê no colo, Amanda. Félix acenou de volta, o homem fechou a porta e ela começou a chorar.

O ambiente mudara. Amanda viu sua mãe em um quarto de bebê, a criança de meses estava em um berço. Félix cantava para tranquilizar ela, que chorava desesperadamente. O quarto inteiro tremia vez ou outra. E luzes na janela indicavam que eram bombas caindo. A cantiga que Félix cantava era melancólica, porém com um leve tom esperançoso.

“Pequeno preso pássaro

O que fez ficar assim?

Destruiu seu próprio lar,

Tudo na vida tem um fim...”

Amanda acordou ao som da mesma melodia tocada no piano. Seu pé ainda doía, mas ela fez um esforço para levantar-se da cama. Pegou uma bengala que provavelmente Corvo havia deixado para ela e seguiu o som.

Chegou à sala cheia de objetos e observou Corvo tocando um piano de cauda bem antigo, contudo ainda funcionava. Ele tocava maravilhosamente bem.

Abra essas asas, reaprenda a andar. Pequeno livre pássaro foi feito para voar – Amanda cantou, acompanhando a melodia do piano.

Corvo finalizou o arpegio com um acorde. E logo se voltou para Amanda.

– Você canta lindamente – ele observou.

– De onde você conhece essa canção? – perguntou impressionada.

– Ela já foi bem popular – respondeu. – É uma longa história, mas agora não há tempo. Eu estava esperando você acordar. Não temos tempo a perder. Faremos algo muito importante hoje.

– O que? – ela perguntou.

– Você acha que roubamos todos aqueles suprimentos só para nós? Ou só para deixar o Gubner sem? Hoje é o dia em que faremos a justiça acontecer, Amanda. Esse vai ser o dia em que esse povoado conhecerá a mim e a você.

– Espera... – ela o interrompeu – mas hoje é o dia da Colheita, certo? O dia em que todos se reunem para...

– Receberem a miserável alimentação que o governo oferece para não morrerem de fome – ele interrompeu-a de volta. – Certo. É o momento ideal, não se preocupe. Eu venho planejado tudo há dias.

Corvo contou todos os detalhes de seu plano para ela.

***

O hino do país começa a tocar nos rádios espalhados por diversos postes ou até mesmo casas. Então o Gubner anuncia:

– Hoje é o dia da Colheita. Reunam-se todos imediatamente no Centro para receberem seus alimentos.

As pessoas saíram de suas residências e se reuniam no Centro do vilarejo, um local aberto e espaçoso, com várias colunas que compunham um segundo andar feito para os homens-da-lei vigiarem a população. Havia uma espécie de palco no centro. Em minutos, todas as pessoas entraram pelo portão. Em média, quinhentas. A maioria magra, com os ossos quase a mostra e várias com cicatrizes não curadas que espunha a carne asquerosamente. Algumas multiladas, sem braços ou pernas. Andares cansados, mais parecendo mortos-vivos.

Três homens-da-lei subiram ao palco carregando várias caixas de papelão velhas. Eles tiraram das caixas pacotes de plástico com comida. A comida fedia bastante e tinha uma aparencia horrível: se não estava estragada, estava bem próximo de ficar. As pessoas formaram três filas – uma para cada homem-da-lei. Eles liam uma lista e chamavam cada um.

Uma criança ao esperimentar a comida vomitou.

– Tá podre! – ele gritou.

– Você prefere morrer de fome, garoto?! – um dos homens-da-lei resmungou.

O garoto calou-se.

Um homem-da-lei chamou o nome de uma mulher jovem.

– Aqui diz que você não pagou os impostos esse mês – ele disse lendo o papel. – Próximo! – gritou.

 – Me desculpe porfavor! Estou faminta! – ela implorou, quase chorando.

– Não é problema meu – ele respondeu ignorantemente.

E assim passou-se um tempo.

***

Amanda lançou seu laço de corda para o alto. Ela estava na lateral do
Centro. Vestia um capuz preto para encobrir seu rosto de uma roupa que Corvo a dera. Após algumas falhas principalmente pelo ferimento no pé, finalmente alcançou o corrimão do segundo andar da construção. Escalou a parede. Tropeçou, mas logo se recompôs e continuou a escalar.

Amanda chegou ao segundo andar e andou sorrateiramente. Por sorte, não havia nenhum homem-da-lei por perto. Ela andou o corredor cheio de colinas até chegar a uma sala. Ela avistou pela porta de vidro, um homem-da-lei lá, vigiando. Pegou duas pedras no chão. Uma grande e outra pequena. Jogou a pequena no solo, para criar uma distração. O homem-da-lei foi atrás do som, saindo da sala. E foi quando Amanda atingiu a pedra grande batendo-a em sua cabeça e fazendo o homem desmaiar. Ele carregava uma arma e deixou-a cair. Amanda arrastou o corpo até a sala e pegou a arma, entrando na sala.

Dentro havia baús e estantes com várias armas carregadas de balas. Amanda seguiu seu objetivo: tirou todas as balas de cada arma, uma por uma colocando-as dentro de uma bolsa grande.

Azar: dois homens-da-lei aproximavam-se. Eles entraram, acenderam a luz e viram as armas espalhadas. Tiraram suas armas das bainhas no cinto e apontaram-nas para todo lugar à procura do ladrão. Por pouco, Amanda havia se escondido atrás de um baú. Ela pensou em usar as armas de fogo para matá-los, mas resolveu tirar esse pensamento de sua mente. “Vai atrair outros... e afinal eu não sou uma assassina!”, repetia-se. Mas o tempo até eles encontrarem-na seria curto, ela devia agir. Pegou uma das armas de longo cano e bateu-a na cabeça de um deles que estava de costas. Imediatamente ele desmaiou e o outro se virou para ela pronto para atirar. Ela o chutou no meio das pernas e sua arma girou no ar. O homem contorseu-se pela dor e Amanda pegou a arma, batendo em sua cabeça fazendo-o desmaiar também.

Amanda agrupou os corpos desmaiados do homens-da-lei e amarrou-os com a corda pelas mãos e cintura. Continuou a tirar as balas das armas. Após um tempo, ela conseguiu terminar. Um dos homens-da-lei começou a grunir baixo, para certificar-se de que ele não acordaria, Amanda bateu novamente com a arma em sua cabeça.

Logo, saiu da sala e foi até o corredor. Remecheu uma das bolsas e tirou dela, um corvo que antes não parava de movimentar-se. Ela soltou-o no ar e ele voou. Aquele era o sinal que Corvo e ela haviam combinado. A multidão estava na parte de baixo a Amanda.

***

 Corvo usava um pano para esconder sua máscara. E uma roupa preta com capuz. Ele estava infiltrado no meio da multidão. Finalmete viu o sinal de Amanda. Um corvo sobrevoando o céu. Ela já havia conseguido desativar as armas e ele já poderia agir.

Corvo subiu o palco. Um dos homens-da-lei foi em sua direção gritando:

– Você não pode subir aqui! Isso não é permitido... – Mas ele foi interrompido por Corvo dando-lhe um soco na cara.

Os outros dois largaram o serviço de entregar os alimentos e partiram para cima dele. Em um Corvo deu um chute no peito, e no outro um soco na barriga. Com eles debilitados, jogou-os para o meio do povo. E o outro que havia recebido um soco no rosto que sangrava, arrastou-o também. Todos o observavam calados.

Corvo tirou a bandana do rosto e o capuz, e começou seu discurso.

– Sobreviventes do Oeste – Corvo gritou em sua voz metálica e abafada pela máscara – quem lhes fala, é o Corvo. Vocês aqui acabaram de presenciar uma revolução! Os homens-da-lei têm carne e osso como todos nós – ele apontou seu braço indicando carne. – Eles não são mais fortes, nem superiores. Apenas têm armas de fogo, mas o que são sem elas?! Nada! Quem aqui achar justo eles nos comandarem e reprimirem manifeste-se agora!

Porém, todos permaneceram calados.

 – Vocês merecem uma vida melhor... Eu mereço uma vida melhor. Nós merecemos um mundo melhor! E juntos, nós podemos! – gritou com empolgação e esticando o braço para o alto com punho cerrado.

Alguns aos poucos começaram a concordar. Houve vários sussurros medrosos de um povo acostumado com a repressão. E logo, vários gritaram em concordancia.

Corvo pegou algumas caixas das roubadas do caminhão anteriormente e tirou alimentos em pacotes destribuindo para as pessoas. Além de alimentos, jogou também objetos preciosos como diamantes, dinheiro, objetos úteis como relógios, etc. As pessoas jogavam-se desesperadamente para alcança-los.

***

No andar de cima, os homens-da-lei correram rapidamente para a sala das armas. Todos pegaram uma. Havia uns dez homens. Eles posicionaram-se e começaram a tentar atirar. Porém sem sucesso, pois não havia nenhuma bala.

Amanda aproveitou a oportunidade. Sacou de uma das bolsas um estilingue e começou a atirar as balas neles. Ela estava escondida atrás de uma coluna. Ela conseguiu acertar um, que acabou caindo do andar pela dor. Talvez sua queda tenha sido amortecida pelas pessoas em baixo, ou talvez não. Amanda nunca chegou, a saber. Outros homens vinham correndo em sua direção. Ela mirou e atirou o estilingue com balas neles. Alguns pararam no caminho, contorsendo-se de dor. Mas outros continuavam correndo atrás dela. Quando ía colocar mais uma bala pra atirar neles, dois deles alcançaram-na e a pegaram segurando cada um por um braço.

De repente, duas facas apareceram em suas cabeças, lançadas por Corvo. Ele estava no segundo andar também. Dois outros homens-da-lei lhe atacaram, mas ele logo se livrou deles, esfaqueando-lhes.

– Obrigada – disse Amanda. – Agora vamos dar o fora daqui.

Eles saíram do lugar, em meio o tumulto da multidão. 


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Notas finais do capítulo

Lembrem-se de comentar, recomendar e favoritar! :)