Não sei se consigo mais negar.

Sempre que me lembrava desses sonhos uma sensação estranha passava por mim. Eu tinha medo de dizer que era mesmo essa tal de Bianca. Porque, seja sincero, se você é uma criança órfã e um dia desses é adotado e seus novos pais lhe dizem que você é a reencarnação de uma velha amiga deles que morreu a uns 12 anos, o que você faria? Eu reagi com medo disso. Porque é meio assustador isso. E tem mais, você acaba encontrando um irmão!

Era muita informação pra mim. Eles me deram uma semana para que eu absorvesse tudo isso. Percy, Annie e Nico tinha ido pra um outro acampamento. Eu não chamava mais Percy a Annie de pais, porque meu verdadeiro pai é Hades, - o meu e o da Bianca, ou o meu duas vezes. Cara que confuso. - Percabeth, como todos chamavam os dois, me adotaram porque se não eu nunca sairia daquele inferno de orfanato.

Quíron me explicou um pouco nesse tema sobre a reencarnação, e disse que tinha um mau pressentimento sobre isso, porque não existe coincidência.

E nesse meio tempo conheci melhor o Billy e a Vivian, - meus meio-irmãs. - eles eram bem legais.

O Billy era um menino de 10 anos, tinha o cabelo preto e olhos castanhos, sempre usava a franja para esconder o rosto. Quase sempre estava escutando músicas do AC/DC, Iron Maiden, Slipknot, Green Day e Linkin Park.

A Vivian tinha 12 anos, o cabelo era pintado de vermelho, seus olhos eram pretos e não tinha um dia que ela passava sem usar alguma blusa que não tinha uma caveira.

Conheci melhor o acampamento, fiz um novo amigo que é um filho de Hermes, seu nome é Jimmy, é muito engraçado.

Acordei de uma noite sem sonhos. Billy e Vivian já estavam acordados jogando mitomagia.

Quando sentei no chão junto com eles Vivian disse:

– Angelica, o Jimmy passou por aqui mais cedo, ele pediu pra você procurar ele assim que acordasse.

– Claro, obrigada Vivian.

Me levantei, peguei umas roupas no meu baú e fui tomar banho no pequeno banheiro do chalé 13. Dez minutos depois eu estava vestida um uma regata preta com uma grande caveira estampada, um short azul escuro e AllStar preto. Deixei meu cabelo curto solto e prendi a franja com um lacinho.

– Vivian, ele disse onde estava? - perguntei antes de sair.

– Ele falou que estaria perto do lago.

– Ok. Valeu.

O sol lá fora já estava alto e brilhante no céu. Devia ser umas 10 horas. Vários campistas estavam espalhados pelo acampamento, era um sábado e ninguém tinha muitas atividades pra fazer. Fui até o lago e Jimmy estava sentado ao lado de uma árvore na margem do lago e estava acenando para mim.

Jimmy tinha 14 anos, era uns dois palmos mais alto que eu, tinha o cabelo castanho encaracolado um pouco grande e sempre tinha um sorriso estampado no rosto. Hoje ele usava a camiseta do acampamento e uma bermuda jeans com tênis vans azuis. Seus olhos castanho me encararam até eu chegar até ele.

– Oi. - ele disse quando me sentei junto com ele.

– Oi. - respondi.

– O que quer fazer hoje? - Ele perguntou pegando uma pedrinha e jogando no lago que quicou 3 vezes.

– Sei lá. acho que era pra eu tentar entender que sou uma reencarnação de uma menina filha de Hades que morreu por seus amigos quando tinha a minha idade a tipo uns 12 anos e que sou ela que voltou dos mortos pra continuar vivendo.

– É, é bem complicado. Não quer ficar jogando pedrinhas no lago?

– É, acho bem mais legal. - Peguei uma pedrinha e joguei no lago fazendo ela afundar como, bem, como uma pedra mesmo.

– O que você faria se descobrisse - Jimmy me perguntou enquanto jogava outra pedra. - que na sua vida passada você era uma pessoa super rica e esnobe e nessa outra vida, uma pessoa pobre e esquecida?

– Bom, bem feito pra mim, quem mandou ser esnobe na outra vida? - Respondi jogando uma pedra que afundou. - Como consegue fazer isso sem que ela afunde?

– Anos de prática. - Ele jogou outra pedra que quicou 7 vezes (!).

– O que você faria, - minha vez de perguntar. - Se você descobrisse que na sua vida passada você foi uma pessoa da classe média, que ajudava sempre aos outros e era o exemplo de pessoa, e nessa sua vida você é pobre, sem amigos, sem felicidade e sem nada.

– Como eu, nessa vida, não teria felicidade e descobrisse que eu era um exemplo na vida passada, eu gritaria para ninguém em especias tipo: - ele alterou a voz pra dizer: - "O QUE EU FIZ PRA MERECER ESSA VIDA? NÃO FUI UMA ÓTIMA PESSOA ANTES? PORQUE NÃO MEREÇO ALGO MELHOR?"

– Segundo as freiras da minha antiga escola, você seria reprovado em mais um teste, - Eu disse imitando a voz de uma das freiras. - você estaria sendo egoísta por querer algo em troca de ser bom e não é esse o espirito da coisa. É distribuir sem a intenção de querem nada em troca. É o amor incondicional ao próximo. Como Jesus nos disse.

Mas eu não acreditava em Deus.

– Vai, sinceramente. O que você faria?

– Eu acharia uma sacanagem. Tipo, de que adianta ser bom se vou me ferrar? - Me senti um pouco mal, mas isso me da raiva.

– Minha vez. - Jimmy disse jogando mais uma pedra no lago, que quicou 3 vezes. - O que você faria se descobrisse que na sua vida passada você foi um astro do Rock e nessa vida, você é uma super fã dele e sempre quis conhece-lo porque se identificava com ele, mas ele tinha morrido na época em que você nasceu.

– Nossa, eu acho que dava tudo para ter alguns desses sonhos que eu estou tendo. Imagina só. Você poderia ter sido o próprio Freddie Mercury.

Nós ficamos brincando disso o dia todo, por mais alguns dias. Jimmy me ajudou a entender direito sobre a Bianca. Logo Nico, Percy e Annie voltariam desse acampamento romano e me chamariam novamente de Bianca. A ideia me fez arrepiar, mas eu precisava aceitar que eu, em uma vida passada fui essa Bianca.

O que eu mais queria era dizer: Não, eu não sou essa sua Bianca di Angelo.