Não, Eu Não Sou Essa Sua Bianca di Angelo. escrita por Little Owl


Capítulo 19
Capítulo 19 - Mundo Inferior.




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Meu mundo parou.

Meu coração dava saltos toda vez que algum monstro estava quase conseguindo marar Jimmy. Eu acertava com o arco todo monstro que ele não via, - ah eu eu acertava alguns que estavam prestes a matar o James de vez em quando, mas ele estava tão bom com aquele machado que eu nem me intrometi muito.

Eu tinha subido em um armário. - Não me pergunte como, foi um desespero temporário. - Já que eu não teria chance com luta usando facas, de cima do armário me dava um pouco de espaço para o arco.

Meu mundo parou quando vi um daqueles monstros com ferrão no rabo acertar o Jimmy. E de repente, minha garganta ardeu, ouvi alguém gritando, com uma voz cheia de desespero e dor, mas nem Jimmy nem James estavam gritando, e então percebi que era eu.

Desespero. Dor. Angustia. Raiva. Medo. Amor. Foi o que senti em um segundo. E tudo isso me paralisou. Sabe quando você está dormindo e de repente sonha que caiu e acorda assustado? Quando parece que o chão sob seus pés desapareceu? Foi mais ou menos o que senti.

E ouvi uma voz rouca sussurrando na minha cabeça. E o mundo congelou.

O que você vai fazer agora? Ainda vai negar seu destino? Vai negar que é Bianca di Angelo? - Eram três vozes, roucas e velhas. Que se revezavam falando cada frase. - Escolheu não ir para a caçada e ficar com esse garoto. Mas você não pode mudar o destino. Você só arriscou a vida dele. Será que ainda se negará quando o perder?

Não! - Queria gritar, mas minha voz não saía.

Você ainda pode ter uma chance. - Disse outra voz, totalmente diferente. Era masculina e meio sombria, mas tinha um tom com um pouco de paixão disfarçada, como se eu fosse uma pessoa amada secretamente. Mas essa voz me soou muito familiar. - Use seus poderes herdados, use sua adaga do mundo inferior e vá para o lugar que é a sua casa.

Sua voz ainda ribombava enquanto eu estava paralisada. E o mundo à minha volta também estava congelado, mas eu podia me mexer, se eu saísse do choque.

Olhei para minha adaga e o ferro brilhou quando refletiu a luz das lâmpadas. Casa. Eu conheço essa palavra? No orfanato, onde passei minha infância, nunca me pareceu ser o significado de casa. No acampamento meio sangue, onde passei os últimos meses, foi bem acolhedor, mas eu podia ver como os outros semideuses se distanciavam de mim, como se eu fosse perigosa ou desse medo. Eu sempre parecia estar meio deslocada de lá, sempre gostei de ficar sozinha. Casa. Essa palavra me incomodava. Um filho de Hades que morreu, e retornou a uma vida igual, sendo novamente filha de Hades, poderia ter uma casa? Um lar? Olhei para minha adaga, e ela pareceu brilhar com um negro intenso, quase sugando a luz em volta. A menos que...

Decida. - A voz disse novamente. - Seu tempo está se esgotando. Use seus poderes herdados.

Fui então tomada por uma força quase divina, meus sentidos ficaram mais aguçados, me senti em transe. Sabia exatamente o que fazer.

E então o mundo voltou ao normal. Jimmy estava morrendo, os monstros inimigos estavam lotando a sala, sobrecarregando James.

Pulei do armário. E quando caí no chão, cravei minha adaga no piso, e imaginei toda aquela força indo para a adaga, e então o chão se abriu em uma rachadura, que foi se aumentando, uma mão esquelética segurou a extremidade da rachadura e logo um esqueleto guerreiro estava saindo, seguido de vários outros. O primeiro esqueleto que tinha saído se posicionou ao meu lado e nem precisei falar nada, olhei para ele e ele entendeu o recado. Eu precisava de ajuda. E então eles começaram a lutar contra os monstros.

Saí correndo em direção ao Jimmy, esquecendo todo o resto. Seu rosto estava verde, seus olhos castanhos estavam enevoados ,quase como se não estivesse enxergando, ele estava deitado em uma poça de sangue. Segurei forte ele, e o arrastei para mais perto da abertura.

- James! - Gritei para ele. - Pule na rachadura!

E abraçada com Jimmy, me joguei lá dentro.

.

.

.

O buraco não parecia ter fim, caí até não enxergar mais a luz vinda de cima, mais nem um pequeno pedacinho. E logo eu estava caindo na perfeita escuridão.

Nico, pelo pouco que passamos juntos, me ensinou a viajar pelas sombras. E enquanto caía, eu tentava me concentrar. Sabia que James caía um pouco acima de mim, e que ele estava com muito medo. Jimmy estava inconsciente, com a pele pálida e meio esverdeada. O pior é que eu podia sentir a morte se aproximando. E isso me assustou.

Mas eu precisava me concentrar para o lugar onde esse escuro me levava. Casa. Pensei novamente. O único lugar onde filhos de Hades poderiam chamar de casa. Comecei a imaginar o lugar, não seria o destino escolhido para a maioria das pessoas, mas imaginei.

E de repente eu não estava mais caindo. Eu conseguia sentir a escuridão como uma nuvem fria. Tentei não tirar a imagem da minha cabeça, tentei imaginar mais detalhes. E agora o ar se solidificou aos meus pés, e eu estava em terra firme, coloquei a mão à minha frente, como se para tirar uma cortina da minha frente, e uma luz apareceu por entre a fumaça negra de escuridão. Estava consciente de James atrás de mim. E então dei um passo à frente.

No próximo instante senti o cheiro ácido de romãs. Pisei para fora da sombra, e desabei na grama amarela, deitando Jimmy cuidadoramente à sombra de um pé de romã.

- O que...? Onde estamos? - James cambaleou para junto de nós. - O que foi aquilo?

- Estamos no Mundo Inferior. - Respondi.

Mais precisamente em um jardim. O jardim era escuro, fileiras de flores prateadas brilhavam fracamente, refletindo enormes pedras preciosas que delineavam os canteiros: diamantes, safiras e rubis do tamanho de bolas de futebol. Árvores se espalhavam pelo jardim, com flores e frutos espalhados pelas copas.

- Estamos no Jardim da Perséfone. - Eu disse a James. - Não coma nada.

Olhei para o Jimmy. Sua pele estava se esbranquiçando, ainda com um tom preocupante de verde.

- Ele foi envenenado por um monstro mutante. - James disse, se ajoelhando ao meu lado. - Isso é preocupante.

Eu estava desesperada. O que eu podia fazer? 

Coloquei a mão na testa dele. Estava terrivelmente quente, e ele estava verde. 

- A caixa... Com os amuletos. Será que tem algum antídoto? - Perguntei ao James. 

Ele pegou a caixa dentro da mochila do Jimmy, e começou a procurar alguma coisa. 

- Aqui só tem coisas ameaçadoras, que podem ser usadas como armas. - Ele procurava. 

- Não. - Jimmy não podia morrer. - Não. Não, não, não, não, não.  - Comecei a sussurrar, entre soluços. 

Tirei a camisa do Jimmy, que estava ensopada de sangue, e o virei de barriga para baixo. Seu ferimento foi bem embaixo de onde terminam as costelas nas costas. Estava inchado e parecia quase incurável. 

- Angelica... - James começou a dizer. 

- Não. Não, não, não, não, não.

- Angelica. Pelo que Peter disse, ele estava criando um veneno sem cura. 

- Todos os venenos têm cura. - Disse uma voz masculina, a uns 4 metros de distância. 

James ficou em pé em um pulo, com o machado em punho. 

- Não vou atacar. - Disse um homem, saindo de trás do pé de romã. Ele estava vestido de toga grega que lhe cobria o ombro direito, tinha o cabelo preto cheio de cachinhos, ele trazia um cajado com uma serpente enrolada em volta. 

- Hermes? - James perguntou, abaixando o machado. 

O homem bufou. 

- Por que tanto me confundem com aquele deus ladrão? A serpente é o símbolo da cura. 

- Quem é você? - James perguntou. 

- Eu sou Esculápio. - Ele disse, como se o nome deveria explicar tudo. Mas é claro, James não se lembrou de nada. Esculápio, notando isso, suspirou e disse: - Sou filho de Apolo, sou o deus da medicina e da cura. 

- Cura? - Perguntei. - Pode curar o Jimmy? 

Ele olhou para mim, como se eu fosse um cachorrinho irritante. 

- Posso. Mas não se você pedir. Hades pediu a Zeus que me matasse porque eu estava despovoando o reino dele. 

- Despovoando? Você estava ressuscitando pessoas? - Perguntei. Isso parecia muito errado. 

- Devolver a vida não é tão ruim assim, filha de Hades. - Ele disse. - Não quer a vida de seu amigo de volta? 

Meu coração se apertou. 

- Jimmy não morreu. 

- Ainda. - Ele olhou para ele. - Ele foi envenenado. É uma questão de horas. 

- Pode curá-lo? - James perguntou. 

- Posso, mas não vou. - Ele disse, como se fosse uma criança mimada. 

- Por que? - Perguntei. Estava com vontade de enforcar o deus. 

- Porque eu conheço você, filha de Hades. A TV Hefesto nos mantem informados com notícias. Você escolheu mudar seu destino, escolheu ficar com ele. - Esculápio apontou com a cabeça para Jimmy. - Mas você não sabe o que te espera no futuro e essa pequena escola pode atrapalhar seu destino, e seu destino é muito importante. Você mal imagina, mas suas escolhas podem mudar o mundo. Você tem sua ultima chance de mudar sua escolha: vai aceitar seu destino ou vai escolher esse garoto? 

Os deuses são cruéis. Pensei. 

- Você pode curá-lo o suficiente para que eu possa conversar com ele? - perguntei depois de um longo tempo. 

O deus pensou. 

- Te dou 15 minutos. - Estralou os dedos.

E Jimmy abriu os olhos. 

- Eu te amo. - Foi tudo o que ele disse. 

- Eu te amo. - Eu disse. 


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Notas finais do capítulo

E aí?
~~ tan tan tan tan ~~~ le suspense~~
o que vocês acham que vai acontecer? muahaha
o que vocês escolheriam? o seu destino e o do mundo, ou o garoto que você ama?
muahaha

mas gostaram do capítulo? :3



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