Por Edgar

Hoje quando estava lendo para a Melissa, pensei em aumentar meu repertório de estórias, afinal elas já estão ficando bem repetidas, e mesmo ela não parecendo se cansar delas, eu gostaria de lhe contar novas. Ela adora meu modo de contar, fazendo vozes e imitando personagens. E nada me dar mais prazer do que ver o brilho dos olhos da minha florzinha.

O fato de eu ter escrito uma reportagem sobre a revolta da Chibata, usando minha habilidade jornalística e meu codinome de Antônio Ferreira depois tantos anos, também me trouxe ânimo para pesquisas. Gostaria de ler periódicos e livros sobre assuntos diversos, buscar inspiração e orientação para mais matérias sobre a revolta e até sobre outros tópicos.

A biblioteca seria o lugar mais indicado.  Só há um porém, possuo tantas memórias da Laura naquele lugar. Lembro-me do dia em que descobri quais os livros da Laura D. Constância havia doado. Lembro que Laura dava aulas e até eu até assisti uma delas.

Mas contraditoriamente essas lembranças parecem me dar mais vontade de ir, como se eu pudesse vivenciar o meu passado feliz e perdido. E afinal são poucas coisas em meu cotidiano que não me fazem lembrar ela. Desde que ela partiu, não houve um só dia em que não pensei nela.

Após sair do fórum resolvi dar uma passada na Biblioteca, era o final do dia, e eu não precisava chegar em casa cedo, já que não havia ninguém esperando por mim.

Ao passar por uma sala tive uma sensação estranha. Era como se estivesse escutando a voz de Laura dando uma aula como nos velhos tempos. A sensação foi tão forte, que quase abri a porta para ver se ela estava lá.

Mas eu desisti, a lembrança de Laura em minha vida estava se tornando uma obsessão. Eu devia estar ficando louco, e começando a ouvir a voz dela em qualquer lugar. Laura não podia estar ali, ela estava muito longe desde a época em que se separara de mim.

Continuei andando pela biblioteca, tentei ler alguns periódicos, mas não conseguia me concentrar, fui atrás de livros infantis, e também de política e filosofia. Não conseguia lê-los, mas ao menos pude selecioná-los, de forma que poderia leva-los . A verdade é que voz de Laura me assombrava e resolvi ir para casa mais cedo do pretendia.

Peguei os livros emprestados e me dirigi à porta, eu estava passando pela escada quando não pude acreditar em quem via. Era Laura, eu realmente tinha ouvido a voz dela. Não era loucura, Laura estava lá e agia de forma tranquila até me ver, pois sua expressão se tornou assustada.

Já comigo, também veio o susto, depois algo que se assemelhava ao encantamento, a felicidade. Laura estava de volta, e para mim parecia mais bonita do que eu me lembrava, se isso fosse possível. Mas depois uma raiva começou a tomar conta de mim, como se ela tivesse me traído ao voltar para o Rio. Ela tinha que me avisar, ela foi embora, e não podia retornar assim.

Nós ficamos por alguns segundos mudos, apenas olhando para o outro, quando ela quebrou o silêncio:

- Edgar, o que você está fazendo aqui?

- O que eu estou fazendo aqui? Eu é que pergunto o que você está fazendo aqui, Laura.  Desde quando voltou? Por que não me avisou? - tenho que admitir que essas perguntas saíram com um tom de raiva maior que deveria, mas eu não conseguia disfarçar, minha raiva beirava a indignação.