Por Edgar

Volto da casa de Catarina, onde acabo de deixar minha filha, Melissa. Ficar com minha menina é uma das poucas coisas que me trazem alegria ultimamente. Ela é a única mulher da minha vida agora. E ouvi-la contar sobre a sua escola já serviu para me animar.

Mas toda vez que entro nessa casa, lembro dela … Laura. Fecho os olhos e vem todos os momentos felizes que vivemos aqui. A primeira vez que ela me beijou depois que eu comprei os livros dela. A primeira vez que a espiei na cama, brava por causa de Catarina, estava belíssima, parecia uma ninfa, uma musa. A vez em que ela ia buscar água e roubei o nosso primeiro beijo. Depois que me declarei e tentei tê-la em meus braços, foram tantos beijos , já pude sentir a pele dela, e fervi por dentro. E quando ela disse que queria ser minha... O seu sorriso, o seu olhar, ela me contando seus planos para o futuro ... a nossa noite de despedida mesmo estando brigados e ela decidida a se divorciar…. Ahhh, são tantas lembranças boas, e apesar das ruins também me assombrar, não consigo mudar muita coisa na casa, e dessa forma, as vezes até me esqueço, penso que nada mudou e que ela ainda está comigo.

Mas ela quis se divorciar de mim... Ela foi embora. Eu já deveria tê-la esquecido. Mas eu … eu não quero. Aquela foi a melhor época da minha vida. Digo que tenho raiva, que ela escolheu o seu destino, aí lembro do bilhete que me deixou. Já li tantas vezes que o papel começou a rasgar. As suas razões, quero esquecê-las, senão me torno o grande vilão... Ela não entende, eu só queria protegê-la e não abandoná-la. Eu iria conseguir fazer funcionar, ela só não esperou.

Estar em conluio com a Baronesa para esconder o divórcio, é uma forma de proteger a Laura, mas também uma maneira para eu me sentir casado. Essa aliança já faz parte de mim. Mesmo que eu tenha as lembranças da audiência do divorcio dilacerando minhas breves ilusões.

Ahhh, a audiência do divórcio, um mês após a sua partida, eu torcia para que ela relevasse, que estivesse com saudades e voltasse para mim. Mas não, ela se manteve firme. A situação não havia mudado e ela não voltaria atrás. Teimosa! Senti muita raiva e ainda sinto, mas não posso deixar de admirar a sua firmeza e seu poder de decisão.

As vezes penso que estou sendo patético! Eu sou um homem! Eu tenho orgulho. Deveria seguir em frente, me envolver com outra mulher. Já deveria conseguir sentir o cheiro de alecrim sem me alterar... Deveria esquecê-la, mas não consigo, parece que dessa vez, ela foi marcada com ferro em brasas no meu coração. Apesar de eu admitir isso somente a mim mesmo e dizer aos outros que eu não a amo mais. Eu ainda amo a Laura.