Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 20
Meu filho


Notas iniciais do capítulo

Estou emocionada com os comentários do capítulo anterior. Acho que deve ter sido o capítulo mais comentado. Esse capítulo é dedicado a todas que comentaram, espero que gostem.



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Por Edgar

Eu ainda olhava para Antônio, enquanto a felicidade tomava conta de mim. Meu coração estava acelerado, e não conseguia fazer mais nada a não ser olhá-lo e sorrir. Eu tinha um filho! Um filho com a Laura. Um menino lindo e esperto como sonhara. Era um turbilhão de belos sentimentos se aflorando. Um sonho e estava a minha frente:

– Senhor? Senhor? - ele puxou o meu paletó e me trouxe de volta a realidade

– Desculpe – eu tentava me conter quando o que queria era abraçá-lo, apertá-lo em meus braços, dar um beijo em seu rosto, dizer o quanto estava feliz por ele existir e por estar em frente a mim:

– E a minha pergunta? - ele era adorável

– Estou distraído, não ouvi. Me desculpe.

– O seu nome? - ele abriu um sorrisão, e fiz força para não apertá-lo

– Edgar. É um prazer, Antônio – ele não imaginava quanto – O que você está lendo?

– O soldadinho de chumbo - ele falou animado

– Está gostando?

– É triste... mas tô- como era esperto

– É mesmo? Eu não conheço essa história... Você pode me contar?

Então ele começou a narrá-la animado, e com uma desenvoltura que daria inveja a muitos. Eu fiquei cada vez mais encantado. Meu filho estava me contando uma história. Como era bom!

Quando soubera que Laura tinha um filho, eu a imaginara com outro, e me sentira apunhalado, mas agora essa dor havia desaparecido, pois era meu filho, como estava enganado. O fato dele existir não me doía mais, pelo contrário, me deixava imensamente feliz.

Em certo momento, eu desviei meu olhar e percebi que estávamos sendo observados. Laura nos via, seus olhos estavam molhados, e uma lágrima caía em seu rosto.

Essa visão trouxe outros aspectos dessa realidade. Laura escondeu meu filho durante todo esse tempo. Ela sabia o quanto eu o queria. Qual era a minha ideia sobre filhos. Mesmo assim o escondera. Fora uma vingança? Ela achava que faria mal a ele? Ela pensava que eu era um homem tão ruim assim que merecia não saber dele, não vê-lo crescer? E depois quando descobri que ela tinha um filho, e pensei que não era meu, ela sabia o quanto isso era doloroso para mim. Por que não contou a verdade?

Um ódio começou a me preencher. Eu ia me levantar e confrontá-la. Mas percebi onde estava e que Antônio permanecia ao meu lado e por ele me contive.

Laura secou suas lágrimas e veio andando em nossa direção. Ela me parecia assustada:

– Edgar... - seu olhar era de medo

– Laura … - falei para ela, deixando transparecer um pouco de raiva no olhar

– Filho … acho que não veremos o vovô hoje, a mamãe tá cansada! Vamos para casa! - ela falou carinhosa tentando não deixar transparecer o que acontecia

– Ahh... mãeeee....- ele fazia manha

–Antônio, vamos! Outro dia, te levo … prometo!– ela falou firme e o menino se levantou, parecia haver algum entendimento ali, quase como se não adiantasse a manha, pois ela estava falando sério

– Tchau, Edgar – ela falou dando a mão ao filho e tentando sair, mas não iria se livrar tão fácil assim

–Eu os acompanho – pelo meu olhar ela soube que não adiantava resistir

– Você conhece o Edgar, mamãe? - perguntou Antônio enquanto deixávamos a biblioteca, Laura estava estranha e preferi responder

– Eu e sua mãe nos conhecemos há algum tempo, Antônio... sua mãe era um pouco mais velha que uma menina – falei disfarçando o clima com um sorriso

– Ohhh... muito tempo, né? – ele ficou admirado

Quando já estávamos na rua indiquei o caminho para eles seguirem:

– Edgar, nós vamos para lá – falou Laura resistente mostrando o lado contrário

– Tudo bem, vou levá-los onde você quiser … de carro. È só me mostrar o caminho, acho que agora não tem mais motivos pra eu não saber onde vocês moram, né? - deixei transparecer a minha mágoa

Laura não resistiu mais e os levei. Por mais que ela não quisesse, acabei entrando na casa deles:

– Lourdes, leve o Antônio, por favor. O ajude com o banho e a se aprontar para dormir, eu irei logo.- ela tentava sorrir, mas percebi que estava abalada

– Sim, Dona Laura – a mulher pegou na mão do meu filho, mas ele a puxou, foi até Laura e a beijou

– Quero histórias, mamãe – ele estava animado

– Daqui a pouco, filho.- ela fez um carinho no rosto dele e o beijou

Antônio já estava indo quando me aproximei dele e disse:

– E eu, será que você me daria um abraço? - ele sorriu, veio em minha direção e me abraçou, era o primeiro abraço que dava em meu filho, o que senti foi tão intenso e maravilhoso que prometi a mim que seria o primeiro de muitos, e com ele ainda próximo, olhei em seu rosto

– Você é um menino incrível, Antônio. Eu fiquei tão … - não sabia o que dizer – Adorei te conhecer … de verdade! - ele não sabia o quanto

– Eu também, Edgar .

Ele mal havia saído e não consegui mais me conter, derramei uma lagrima, e a limpei enquanto me virava para Laura. Ela me olhava emocionada:

–Edgar... isso ..

– Laura – eu falei baixo, mas pelo meu rosto, ela sabia que não viria algo bom – Por que? Por que me escondeu?

– É que …

– Não vai negar, né? Não vai me dizer que não é meu filho? Eu não tão burro, sabe?

– Não vou, Edgar. Ele é seu.- ela estava se recuperando

– Então agora explica, por que tudo isso? Por que esse segredo? Você me achava tão perigoso a ponto de escondê-lo por tanto tempo? Ou apenas pensava que eu merecia um castigo?

– Não é isso, é que … eram tantas coisas … eu ia contar, mas fui deixando pra depois e …

– Ia me contar? Laura, quando você voltou para a audiência do divorcio, você fingiu que nada acontecia, podia ter me contado, mas preferiu me esconder que estava grávida.

– Não é bem assim, Edgar.

– Não é bem assim, é? Então como é? Por que escondeu meu filho?

– Eu tive os meus motivos. E você fala meu filho com tanta propriedade, Edgar. Como se fosse dono da razão. È meu filho! Você teve participação apenas naquela noite. Foi eu que o carreguei, que o tive, que fiquei noites acordada por causa do seu choro, ou cuidando de uma febre, sou eu que conto histórias e o faço dormir! - ele parecia irritada

– E você fez isso sozinha, por quê? Você não me contou que ele existia, e o fato de não ter ajudado, de não tê-lo visto crescer cai agora nas minhas costas? Você tá me culpando por isso?

– Não … Edgar. Você não tá entendendo, e eu não consigo me fazer entender ... Estamos nervosos, é tudo muito recente. Não é um bom momento para conversar. Vá. Eu tenho que cuidar do meu filho.

– Nosso filho, Laura! Nosso! Você não vai mais me afastar dele- nervoso, coloquei minhas mãos no rosto e senti um toque em meu ombro:

– Edgar ... rapaz ... Laura tem razão. Vocês estão com a cabeça quente. È melhor conversar outra hora.- era o pai de Laura

– Tem razão – falei vencido e depois me virei para ela – Mas eu volto pela manhã!

Sai, e pude pensar nos últimos acontecimentos, eu tinha um filho lindo... Laura não devia ter sido de outro ... isso era magnífico!

Mas ela escondera esse filho de mim, me fizera perder parte da infância e formação dele. Me parecia imperdoável. Era uma punhalada profunda. Me sentia traído, magoado. Por que as coisas com ela eram assim? Sempre com emoções boas e ruins me remoendo por dentro.


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Notas finais do capítulo

1-Até escutei "o filho que eu quero ter" enquanto escrevia esse capítulo.

2- Adoro Hans Christian Andersen por causa de suas histórias belíssimas e as vezes tristes, como Toninho tem bom gosto, kkkk, o coloquei lendo o soldadinho de chumbo. Hans Christian Andersen é demais

Espero que tenham gostado dele. Então comentem, pois esses comentários sempre me fazem escrever mais.