Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 21
Noite em Claro


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco mais do que pensava, mas consegui. Adorei todos os comentários. E só postei hoje por causa deles.



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Por Laura

Mal Edgar havia saído, meu pai abriu os braços e disse carinhoso:

– Vem cá, filha – eu corri para ele e recebi um abraço apertado, como precisava daquilo para tentar abrandar aquela angústia do meu peito.

– Ahhh, pai... Edgar descobriu da pior forma possível. Foi horrível! Ele me olhava de uma maneira! Parecia que eu era uma criminosa. – desfiz o nosso abraço e olhei em seus olhos.

– Antônio percebeu? – ele perguntou preocupado

– Não, acho que não... – eu estava zonza – pelo menos isso!

– Vai dar tudo certo, filha. Você vai ver... Você e o Edgar vão acertar isso.

– Como eu queria ter o seu otimismo... ahh, pai... desculpe, por não ter ido ao nosso encontro.

– Que isso, Laura. Eu percebi o que aconteceu. Não tinha como você ir. Vem cá e me dá outro abraço

– Obrigada por estar aqui – falei enquanto o abraçava

– Onde está o meu neto? – ele me perguntou após nos afastarmos

–Lourdes tá com ele, mas falei que o veria logo. Acho que vou agora. - disse tentando arrumar ânimo

– Vou com você, não posso perder a chance de ver o Antônio.

Eu tentei dar atenção ao meu filho, mas era difícil, já que os vários problemas e a aflição que sentia me distraíam. Ainda bem que meu pai me ajudou. E nós conseguimos colocá-lo para dormir. Deitei na cama, mas não consegui pegar no sono. Aliás, eu sabia que não dormiria nessa noite.

Tantas vezes eu imaginei a forma que contaria a Edgar. Deveria ter sido em um momento calmo, sabia que sua reação não seria boa. Mas se eu tivesse contado a ele, se ele não tivesse descoberto sozinho, a reação talvez não fosse tão drástica. Ele não havia feito um escândalo, meu filho não tinha percebido, mas eu vira o seu olhar e notara o seu ódio.

Tivera algumas chances para contar, mas as desperdiçara... Devia ter contado naquele dia depois da nossa noite de amor. Mesmo ele agindo de forma egoísta, possesiva e intolerante. Se aquela mulher não tivesse chegado, eu podia ter falado. Mas fui tomada por uma raiva. Aquela mulher de novo...

Talvez devesse ter passado por cima dos meus sentimentos. Pelo meu filho deveria ter sido menos impulsiva, mais sensata. Não poderia ter deixado a situação chegar a esse ponto.

Lembrava do momento que os vira juntos pela primeira vez. Fora uma visão transcendental, por instantes cheguei a pensar que eles tinham convivido todos esses anos. Pareciam estar tão à vontade. Da maneira que sempre sonhei vê-los. Era tão belo que não consegui me conter, lágrimas inundaram os meus olhos.

Depois o medo tomou conta de mim. Eu sabia que Edgar havia descoberto e o olhar feroz que ele me lançou só fez essa sensação aumentar. Estava extremamente abalada, mas coloquei todas as forças que me restavam nas pernas e andei até eles.

Para Toninho Edgar disfarçava sua reação, mas comigo seu olhar parecia me esmagar numa parede. Não sei como consegui caminhar. Enquanto estava com meu filho e Edgar, nunca me senti tão perdida. Aquilo era um pesadelo. Será que algum dia andaríamos juntos como uma família sem nenhum sentimento sombrio nos perturbando? Eu daria tudo por isso. Eu daria tudo para ter paz.

Quando vi Edgar abraçando o filho emocionado, uma culpa, uma dúvida cruel me dominou. Foi tão lindo e ao mesmo tempo tão devastador. Edgar era um homem bom, e seria um ótimo pai. Nós dois sonhamos tanto com um filho. Mas havia aquela mulher e os acontecimentos infernais nos cercando. Será que eu tinha direito de mantê-los afastados assim? Eu pensava que era o melhor para Toninho, mas era mesmo? Ou estava sendo egoísta ao privar Edgar do filho? Ao privar Toninho do pai?

Era melhor não pensar mais no passado, deveria pensar no futuro e no meu filho. Tinha de arrumar uma forma de conversar com o Edgar sem brigar. E considerando os nossos últimos encontros isso era muito difícil ainda mais quando se tratava de algo que mexia tanto conosco e relacionado a coisas tão íntimas e importantes.

O dia amanheceu e como tinha previsto não pregara o olho por um só momento. Ainda não era hora de a biblioteca estar aberta, mas telefonei para lá com esperança de encontrar ao menos seu Assis, o responsável pelo lugar, que sempre chegava mais cedo. Tive sorte (pelo menos essa), ele me atendeu e lhe informei que não estava bem e não conseguiria trabalhar naquele dia.

Eu não estava doente, mas com certeza depois dos últimos acontecimentos e dessa noite sem dormir, eu não conseguiria trabalhar mesmo.

Depois conversei um pouco com Isabel, contei tudo. Ela me consolou e apoiou a minha decisão. Fiquei esperando Edgar chegar, mas tia Celinha veio antes, expliquei a situação. E pedi que fosse embora, queria o máximo de privacidade para nossa conversa, e naquele dia eu poderia cuidar de Toninho, já que não trabalharia.

Quando Edgar chegou, eu ainda estava com medo, mas me mantive firme:

–Edgar, só conversarei se você prometer que não brigaremos.

– Laura... – ele parecia receoso

– Só assim, Edgar. Pelo Antônio!

– Tá bom – nos sentamos na sala e comecei

– Eu devia ter te contado antes, mas não contei. Tive meus motivos... Eu devia ter te contado quando você pensou que ele não era seu filho. Mas a gente sempre brigava, e não achei a oportunidade certa, não da forma que queria. Sinto muito, e minha intenção não era te magoar ou deixar você sofrer em nenhuma das situações.

– Laura, não é assim tão simples. Eu ... – ele começava a ficar nervoso

– Edgar você disse que não brigaríamos. É melhor não entrarmos nesse assunto.

– Tá bom – ele falou seco

– Isso é passado. Quero olhar o futuro pensando em Toninho. Eu tenho uma ideia, você consegue ouvi-la sem me interromper? – falei de maneira objetiva, ele confirmou com a cabeça – Não quero traumatizar meu filho, gostaria que você não revelasse que é o pai dele agora. Quero que vocês se conheçam, e se aproximem de forma natural. Quero encontrar com você uma maneira de contar todos os nossos problemas, esclarecer a situação de um jeito que ele entenda e não se assuste. Preparar o terreno, criar um ambiente de paz. Durante esse tempo nós evitaremos brigar, e você poderá conviver com ele o quanto quiser, terá todo o meu apoio nisso. Quero fazer o certo. E nós decidiremos juntos o melhor momento de contar a Toninho. O que acha?

– Não me agrada não contar nada. Mas por nosso filho ... concordo. – ele falou frio, até parecia que acertava um contrato da Tecelagem

– Bom, então se você quiser, pode esperá-lo acordar. Preferi deixá-lo dormir até mais tarde hoje.

– Onde posso esperar?

– Pode ficar naquela sala – apontei a sala de jantar – ele normalmente acorda esfomeado e corre para comer.

– Com licença – ele se levantou e saiu

Agia de modo frio, mas eu percebia os nuances, em seu olhar conseguia sentir o rancor e a mágoa que ele tentava disfarçar com a indiferença. E pensar que há poucos dias ele me olhava encantado, dizia que me amava e passamos uma noite cheia de paixão. Como a situação mudara tanto em tão pouco tempo? E mais importante ainda, isso poderia ser revertido?


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Notas finais do capítulo

Foi mais difícil escrever esse capítulo. Já que a situação é complexa e o sentimento é de desesperança. Eu não queria que esse momento fosse assim, e foi difícil para mim até escrever.
Mas a situação não pode ser resolvida de maneira mágica, senão não seria coerente.
Então mesmo que seja triste, espero que apreciem, comentem, comentários sempre me animam a escrever mais, e quanto mais eu escrever, mais perto estaremos das situações boas.