Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia
Notas iniciais do capítulo
Obrigada pelos comentários no capítulo anterior, espero que gostem.
Por Laura
Olho o movimento nas ruas e vejo como o lugar mudou e ao mesmo tempo não mudou. Após quase 6 anos ainda consigo reconhecer a cidade que cresci, mas tudo parece mais veloz e iluminado, com carros andando pelas ruas, e lâmpadas acesas nas lojas. Por outro lado, vejo a população negra como vendedores ambulantes ou puxando carros de burro e as senhoras elegantes da sociedade olhando vitrines pela rua Ouvidor e indo a confeitaria Colonial.
Já eu mudei mesmo, e quando vejo os olhos verdes de Toninho encantado com aquela agitação sinto uma emoção indescritível. Meu filho de 5 anos, com seus cabelos dourados e sorriso encantador, um jeito sapeca mas doce. Minha joia mais preciosa, e o único homem por quem eu seria capaz de fazer tudo até mesmo contrariar ideias que possuía... Memórias voltam a minha mente, e eu penso no quanto meu garoto se parece com ele...
Nós andamos até a pensão onde moraremos, ele vai correndo e pulando pelo caminho. Fico impressionada em como ele está feliz, e nem um pouco assustado com essa mudança.
Já eu tenho muito medo. Medo do encontro inevitável com o passado, de quando meu precioso segredo for revelado e o que poderá acontecer a partir dali.
A dona da pensão nos recebe muito bem, mostra o lugar: os cômodos em comum e o nosso quarto. Tudo é muito simples, mas me parece limpo. E eu já me acostumei a viver sem luxo nos últimos anos.
Já minha minha mãe teria um ataque se descobrisse onde estou morando, até a escuto falando: “A minha filha, filha de uma baronesa, num lugar desses...”. Mas ela não tem o direito de dizer qualquer coisa, já que ela me renegou após o divórcio.
Nem ela nem ninguém da minha família sabe do Toninho. Fiquei com medo de contar até mesmo para a Tia Celinha que se correspondia comigo constantemente ou ao meu pai. Não gostaria que essa notícia chegasse aos ouvidos da baronesa e muito menos do Edgar.
Minha única confidente nesse assunto tem sido Isabel que está há milhares de quilômetros, em Paris, mas continuou sendo a minha melhor amiga, mesmo que por correspondência. Mas ela está voltando. E sua volta foi o último evento necessário para eu decidir retornar ao Rio.
Toninho tem o direito de saber sobre a minha vida antiga e conhecer seus parentes. Ele me faz tantas perguntas sobre isso. E a ele não posso mentir. Vou mostrar tudo. O mais difícil e o que mais me amedronta é apresentá-lo ao pai. Mas aos poucos vou conseguir, tenho que apresentar toda verdade a ele. Ele é a luz da minha vida, e não pode viver escondido para sempre.
Aliás, para encontrar minha paz, meu sustento, e por ele, eu também tenho escondido certas coisas do mundo. Não tirei minha aliança e todos pensavam que era viúva. Assim pude ter um emprego de professora no interior e sustentá-lo, sem ele ou eu sermos desdenhados.
Mas o dia em que ele me perguntou como o pai morrera, eu não pude mentir e vi que já estava na hora de voltar. Não contei a verdade no momento mas disse que em breve a contaria, ou melhor, mostraria a ele.
Toninho e eu tomamos banho e nos arrumamos para dormir, ele ainda queria conversar, estava aceso com a mudança mas sei que deveria estar muito cansado pela viagem:
- Mamãe, amanhã eu vou conhecer a tia Celinha, o tio Albertinho, meu avô?
- Talvez. Eu ainda tenho que ir a biblioteca para ver o meu trabalho – eu havia conseguido o emprego da Teresa na biblioteca que tinha viajado por causa de uma gravidez temporã e desistira do trabalho
- Mas mãe... - eu comecei a fazer cócegas nele e ele começou a rir
- Calma, garotinho. Nós já chegamos aqui, temos muito tempo para isso.
- Tá bom... - disse ele contrariado, mas depois seu olhar se iluminou- Então me conta uma história?
- È claro, o que eu não faço por você?
***
Eu havia saído da biblioteca e iria começar a trabalhar em dois dias. Só precisava arrumar um lugar para deixar Toninho que me acompanhara nesse dia. As coisas pareciam estar se acertando. Logo eu começaria mais uma etapa e apesar de muito medo, já sentia uma pontinha de animação.
Então eu o vi na rua. Era como se todo o passado fosse refletido em meus olhos: Edgar andava distraído, e meu coração disparou com um turbilhão de sentimentos, saudade, medo, raiva, paixão, tudo ao mesmo tempo.
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