Por Laura

Eu paro com a visão de Edgar na rua. Não esperava vê-lo tão cedo e ser invadida por tantas memórias. Mas aí lembro do garotinho que segura a minha mão. Edgar não pode nos ver agora, ainda não. E o medo me invade, não consigo me mover.

Felizmente ele passa distraído e não nos nota. Eu deveria estar me sentido aliviada mas emoções ainda me dominam, meu coração continua disparado e meu filho não demora muito a perceber isso:

– Mãe? Mãe?

– Sim, Toninho.- falo voltando para realidade

– Eu quero passear, ficar aqui é chato!

– Claro, desculpe, meu amor. - falo carinhosa para ele, beijo o seu rosto, e continuamos andando

Eu vou conversando com ele, contando sobre os lugares em que passamos, as coisas que vivenciei, ainda não estava recuperada do susto, mas era melhor esconder isso dele e continuar.

Mas não demora muita e tenho outro encontro com o passado. Vejo minha Tia Celinha andando atrapalhada pelas ruas. Felizmente ela está sozinha, o que é estranho.

Seria um problema se ela estivesse acompanhada por minha mãe ou a tia Carlota. Até mesmo a ideia de encontra-la com Alice não me agrada, pois essa apesar de bem intencionada, nunca conseguiu esconder as coisas por muito tempo da mãe. Vou em direção a minha tia e a abraço:

– Tia Celinha!

– Laura, você por aqui? Nem imaginava …

– Eu voltei a pouco tempo.

– A senhora está sozinha?-ela me lança um sorriso desafiador

– Estou, agora sou uma mulher ousada, Laurinha. Ando sozinha, vou a confeitaria assim, e até comecei a flertar com um rapaz, minha querida!

– Ótimo saber disso, tia – era bom mesmo ver Celinha feliz e com mudanças em sua vida, ela merecia

– E quem é esse garotinho? - ela percebe meu filho ao meu lado, e abri novamente um sorriso

– Esse é Antônio, o meu filho. E essa é a tia Celinha, meu amor.

Celinha curvou o corpo e deu um abraço em meu garoto:

– É claro, você é lindo, Antônio, a cara do seu pai. - ela disse sorrindo

– Você também é linda, tia. Minha mãe falou muito da senhora.- ele disse com seu sorriso mais adorável

– Lindo e encantador. Que beleza de menino, Laura. - ela tocou no rosto dele e se virou para mim, mas logo voltou a ele que fazia uma pergunta

– A senhora conheceu meu pai? Como ele era? - ela percebeu que se tratava de um assunto delicado, olhou para mim e pelo meu olhar temeroso deu uma resposta

– Sua mãe vai te contar, Antônio. Mas digo isso …. encantador como você.

Nós tínhamos muitos assuntos a tratar, e eu não podia ir a casa da Tia Carlota, então fomos até a pensão. No caminho ela me contou que o homem que estava flertando, era Guerra, o melhor amigo de Edgar. Ele era uma ótima pessoa, e fiquei muito feliz por ela, mas com certo medo já que era uma ligação a mais com Edgar, e o fato de confrontá-lo ainda me assustava muito.

D. Amália, a dona da pensão ficou de olho em Toninho enquanto eu e Celinha conversávamos no quarto. Falei sobre o meu filho, do porquê de tê-lo escondido e ter voltado ao Rio naquele momento. Contei também sobre o emprego na biblioteca e que precisava encontrar um lugar para deixá-lo enquanto trabalhava:

– Eu fico com ele, Laura – Celinha falou prestativa

– Não, tia. Você tem a sua vida Não pode ficar por conta do meu filho.

– O que é a minha vida, Laura? Bordar e olhar vitrines com a Alice na rua do Ouvidor? Agora tem o Carlos, mas mesmo assim dá para cuidar do Antônio. Eu adoro crianças, e será um prazer conhecer e cuidar do meu sobrinho. Por favor, me deixe fazer isso.

– Tá bom. Mas quero fazer as apresentações sem muita pressa. Por enquanto, não quero que nem mesmo Alice, e muito menos a tia Carlota saibam do meu filho. Pretendo colocá-lo em uma escola em breve, aí não precisará ficar com ele por muito tempo.

– Claro, seu segredo está seguro comigo e pensarei num jeito delas não descobrirem. Enquanto você estiver no trabalho, virei aqui para cuidar do meu sobrinho, pode ficar tranquila. Vai ser ótimo – ela disse animada