Puxo-a e a beijo novamente. Não devia estar fazendo isso, principalmente depois de toda minha experiência traumática com relacionamentos. Mas dane-se. Estava com uma das garotas mais lindas da terra nos braços, não deixaria essa passar.

Mas é claro que, o universo tinha que entrar em ação.

Nove sai sonolento de seu quarto, e, por pura coincidência – ou o que eu chamo de azar – olha em nossa direção.

Pedras. Eu devo ter jogado muitas delas na cruz. Por que caramba, eu devo ter alguma maldição! Sempre, sempre, que eu tento ficar com alguém eu sou impedido. Mas não do jeito normal, do meu jeito:

Alienígenas raivosos. Mogadoriano ou Lorieno.

Olho pra ele, e ele olha pra Seis. Antes dele vir em nossa direção, aciono a telepatia.

Vá dormir. – ordeno. Ele volta pro seu quarto e bate a porta com tanta força, que assusta Seis. Ela se vira rápido e volta pro seu quarto, sem falar uma palavra.

Garota estranha.

Entro no meu quarto, com um sorriso bobo na cara, e me jogo na cama. Concentro-me em Seis.

O que diabos foi isso? – escuto seu pensamento - Por que eu fiz isso? Eu nem queria fazer isso.

Entro totalmente em sua mente, e viro o co-piloto de seu corpo. Ela está de costas pra porta, encostada na mesma. Controlo-me pra não rir. Acho que a Seis passou tempo demais perto da Sarah e do Quatro. Quando a conheci, ela era aquela garota durona, que poderia, facilmente, destruir toda Mogadore. Agora ela está parecendo uma adolescente normal, Punk, mas normal.

Ela passa o dedo no lábio, mas logo o tira, como se não quisesse fazer isso. Uma parte de mim se diverte com isso, o que é estranho.

Espera ai... Se é estranho...

Corto a conexão com Seis outra vez e corro pra me olhar no espelho do banheiro. E lá estavam meus olhos, o direito estava num azul-claro que eu conhecia bem, outro estava num vermelho vivo, que eu não gostava de ver.

Isso não é bom. Não é nada bom. Sabe, eu gostava mais de quando eram as vozes que faziam eu tachar-me de louco. Não quando uma outra personalidade minha aparecia.

Balanço a cabeça forte, bagunçando ainda mais meu cabelo, agora loiro, e fazendo-o cair sobre os olhos. Ele esconde o olho vermelho, e sinto-me mais calmo.

Isso não pode acontecer agora. No sonho meus olhos estavam vermelhos. E ele não pode se concretizar. Não pode.

Uma lágrima cai do meu olho direito, o que me deixa, simplesmente, fascinado. Isso sim era raro. Controlo a lágrima e ela vira uma pequena esfera, que flutua na minha frente.

Sopro a franja e vejo meu olho esquerdo voltar ao normal. Vejo o vermelho virar roxo claro e depois azul.

Você não pode dar importância á esses problemas agora. Não agora.

Passo a mão no cabelo, tentando fazer com que ele ficasse longe dos meus olhos, mas era inútil. Quando ele não se transformava num topete ridículo, ele virava uma franja, que caia nos meus olhos. Sempre que olhava pra uma tesoura, eu sentia uma certa vontade e arrancar fora a franja, mas desistia.

Volto pra cama e fecho os olhos. Sinto minha mente ficando ainda mais lerda, se é que isso é possível no momento. Meu corpo relaxa e eu adormeço.

Ok, meu sonho foi, no mínimo, estranho:

Um tipo de, o que eu achava ser, um anjo, carregava uma garota no colo. O anjo tinha olhos dourados maiores que o normal, que ocupavam toda a cavidade do olho. Seu cabelo, como visto em toda lenda de anjos, era também dourados claros, e tinham o mesmo tamanho que o meu, mas estava totalmente desarrumado. Quando ele sorri, mostra seus caninos estranhamente pontudos, que são maiores que os outros dentes, como os de um lobo. Ele tinha duas asas gigantes, de, pelo menos, três metros cada, eram brancas e tinham penas grandes. A garota era normal, parecia humana. Seu cabelo longo era castanho claro, e pendia de sua cabeça. Sua cabeça estava encostada no peito do anjo. Sua roupa estava rasgada, e estava manchada de sangue, mas a garota não tinha nenhum ferimento.

Ela abre os olhos, revelando seus olhos verdes brilhantes.

–Tudo bem? – o anjo pergunta.

A garota assente e desce de seu colo. O anjo se curva e faz uma careta de dor, então suas asas se contorcem. Elas começam á encolher, e, alguns segundos depois, desaparecem totalmente nas costas dele. O garoto levanta o rosto e abre os olhos. Eles continuam dourados, mas agora tem um tamanho normal. A garota fala algo e bate no peito do ex-anjo. Ele sorri e mostra seus dentes, agora normais.

A garota arruma o cabelo num coque, e pega, das costas, uma espada branca brilhante, a maldita espada mogadoriana que eu conhecia muito bem. Ela rasga as mangas do moletom preto e as joga no ar. O vento leva as mangas, e só então eu percebo onde estamos. Em cima de um prédio. Conhecia bem a cidade ao nosso redor: Nova York. Á nossa frente estava o Empire State, com quase nenhuma luz acesa.

–Quantas horas são? – a garota pergunta, soando irritada.

–Cinco e cinquenta.. – ele responde.

Viro-me pra olhar os dois. A garota olha pros prédios á nossa volta, e o garoto olha pra ela.

A garota vira-se pro outro e abre a boca. Um estrondo alto, que eles não pareceram escutar, impediu-me de entender o que ela falou. Mais um estrondo e meu corpo todo treme. Escuto uma voz sussurrar meu nome, e procuro-a por toda a volta, mas as únicas pessoas aqui são os dois.

Sky.

Continuo girando, procurando qualquer um.

Sky, acorda.

Então tudo fica preto.

–ACORDA LOGO! – Mesmo com a visão embaçada, consigo ver seis na minha frente. Com a mesma roupa de ontem. Seu cabelo estava solto, e caía sobre os ombros. – ACORDA!

Sinto tudo tremer de novo e a poeira cai do teto do quarto. O olhar na face da Seis dizia tudo:

“Ataque”