Inversamente Opostos escrita por IsaDoraBMS


Capítulo 3
''Mel''


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei. Pretendia postar terça, mas não consegui terminar então só pude postar hoje, desculpa.
Eu não achei esse lá um dos melhores capítulos que já escrevi, então quero que vocês me falem se gostaram, ou não, e o que gostaram, ou o que não gostaram. Enfim u.u



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– Bom dia senhorita. – escutei alguém dizer e me deparei com o rosto sorridente de Tomas.

– Não precisa me chamar de senhorita, ok? – falei irritada – Prefiro Luna. Ou se você quiser puta, biscate, vadia, galinha ou qualquer outra coisa.

Eu me levantei, e olhei para o ser vermelho a minha frente, que de uma hora pra outra saiu correndo em minha direção e levantou minha cabeça, apoiando a mão no meu queixo e o erguendo, só então percebi a bola de sangue descendo para o meu olho, o corte da queda tinha voltado a sangrar freneticamente. Sorte minha ter um ‘’enfermeiro’’ ao meu lado que soube limpar o ferimento no rio e fazer um curativo improvisado enrolando uma faixa rasgada da sua camisa na minha testa.

Eu devia ter ficado parecendo um ogro ainda por cima com o cabelo desarrumado, mas pelo menos fez com que Tomas parasse de me lançar olhares preocupados a cada minuto.

Ele havia levado uma sexta como de piquenique, com um café da manhã roubado.

– Me senti na obrigação de trazer algo para a senho... – ele disse, mas percebeu meu cenho franzido e corrigiu – para você, Luna. Não posso leva-la ao castelo, o rei faria muitas perguntas. Prefiro que eu mesmo faça. Fale-me sobre esses Estados Unidos, o que está fazendo aqui?

– Foi um acidente. – falei mordendo uma maçã – Meu avião caiu.

Eu esperei sua reação, mas o máximo que ele fez foi franzir o cenho e esperar uma explicação.

– Por que não me mostra o castelo primeiro? Depois te levo até meu avião, e talvez você possa me ajudar, preciso conserta-lo para sair daqui. – falei.

– Tudo bem. – ele disse se levantando.

Eu joguei tudo dentro da bolsa e a coloquei no ombro, andamos por alguns muitos minutos e Tomas parou bruscamente.

– Temos um problema. – falou levantando as duas sobrancelhas como um cachorrinho perdido – Eu sou noivo de uma garota, mas não quero casar com ela. Se nos vissem juntos iriam rolar boatos pelo reino e o rei iria ficar sabendo, ele acha que esse casamento é importante para mim e ficaria zangado se eu estragasse tudo. – disparou de uma vez e parou para tomar fôlego.

Eu ri. Foi minha única reação por um bom tempo. Ele coçava a cabeça, apreensivo.

– Tudo bem, quer que eu vá embora? – perguntei.

– Não, claro que não. Achei que fosse divertido te mostrar o reino, mas havia me esquecido desse detalhe na hora e fiquei sem jeito para te falar depois. Mas não sei como entrar sem ser reconhecido e não posso deixar você sozinha agora que estamos aqui. – ele respondeu.

– Podemos ser tradicionais trocando de roupas com algo que ninguém vá reconhecer você.

– Você podia ir lá dentro e comprar alguma coisa. – falou e me entregou um saco que tilintou, eu olhei e havia moedas de ouro.

– Entrar? Onde exatamente? – perguntei.

Ele afastou algumas folhas grandes e eu vi um muro enorme com um portão de ferro com dois guardas dos lados com lanças nas mãos. Mulheres com vestidos enormes e espartilho. Pessoas, mulheres, homens e crianças com trapos. E homens com armaduras ou com roupas com babados, cores vivas ou golas grandes passavam por esse portão. Tomas queria que eu passasse por lá, mas minhas roupas não tinham nada haver com aquilo, tudo bem que eu estava suja, mas não tinha nenhuma mulher usando calças, coloquei a bolsa de moedas no bolso e prendi o cabelo para cima em um coque frouxo, peguei o chapéu que o principezinho ao meu lado usava, era preto pelo menos, mas tinha penas de cores vivas, ranquei-as e entreguei a Tomas. Coloquei o chapéu cobrindo o coque e abaixei a cabeça.

– Estou parecendo um homem? – perguntei ainda de cabeça baixa.

Em resposta ele tirou a capa que usava e a amarrou em volta do meu pescoço, me avaliou por alguns segundos.

– Mantenha a cabeça baixa, não olhe aos olhos dos vendedores e muito menos dos guardas. Volte logo.

Depositou um beijo em minha testa e deu dois tapinhas nas minhas costas me encorajando.

Abaixei a cabeça e entrei no meio da floresta até atingir o caminho que passava a multidão. Tentei ficar longe da vista dos guardas, mas eles devem ter achado um pouco estranho um homem com corpo de mulher e um deles me puxou pelo braço.

– Qual seu nome, senhor? – ele perguntou.

Qual meu nome? Qual meu nome?

– Jason – respondi –, Jason Cole.

Continuei de cabeça baixa ele segurou meu braço por algum tempo, tive a sensação que ele estivesse me observando, mas alguns segundos depois ele me soltou.

Continuei andando e não olhei nos olhos dele momento nenhum como me foi recomendado, talvez eu ainda estivesse livre somente pelo motivo de ter dado o nome de Jason. Ah Jay... Balancei a cabeça e continuei andando. Vi uma barraca, vendia ‘’roupas’’ pareciam mais com sacos de batatas, era exatamente o que eu queria. Comprei algo que achei que servisse em Tomas, joguei algumas moedas no balcão e me virei levando as roupas. Passei pelos portões novamente de cabeça baixa e tomei o cuidado de ficar longe do guarda que anteriormente havia me segurado.

Depois de passar pelos portões, andei por alguns metros em meio à multidão de pessoas e entrei no meio da floresta. Encontrei Tomas apreensivo, esfregando as mãos e com a testa suada, quando me viu correu até mim e me abraçou.

– Eu estava te observando, mas o guarda segurou seu braço, pessoas entraram na frente e eu te perdi de vista, achei que tivessem pegado você. – falou.

– Tudo bem, fica calmo. – me separei dele e entreguei as roupas e o saco de moedas – Aqui, veste.

– Com você me olhando? – perguntou.

– Tudo bem. – falei e me virei.

Após algum tempo de costas para ele, eu ouvi um barulho, como algo caindo no chão e me virei, me deparei com uma cena ridícula.

Ele estava no chão vestido com a parte de cima, que devia ser a blusa do saco de batatas. E as pernas enroladas na calça que havia dado um tipo de nó e provavelmente havia sido o motivo do tombo. Ele vestia o tipo de cueca da idade média, que era como uma calça, mais fina. Ele parecia um pimentão e passava a mão na cabeça, provavelmente um galo iria crescer ali. Eu ofereci a mão para ele segurar, mas recusou.

– Vira de costas. – falou corando mais ainda.

Eu me virei, mas caí na gargalhada. Ainda estava rindo quando ele pôs a mão no meu ombro, eu me virei e dei de cara com um perfeito plebeu. Ou quase. Passei a mão em seus cabelos e os baguncei, agora sim um perfeito plebeu.

Ele passou por um lado do portão e eu pelo outro, tomei o cuidado de ficar longe do guarda que havia me segurado. Encontramos-nos do outro lado sem problemas, ele pegou minha mão e começou a correr no meio da multidão como uma criança, seu cabelo caia no olho, o que tornava difícil o reconhecer. Eu ainda tinha o chapéu. Quando saímos do meio da multidão olhei em volta, um castelo de pedras e torres estava à minha frente, dos lados casas também de pedras e barracas como a que comprei as roupas para Tomas, que se pareciam com barraquinhas de feira.

Pelas ruas andavam pessoas geralmente mal vestidas, crianças com burros e homens de armadura a cavalo.

– Você está parecendo um homem. – falou Tomas – Vou comprar roupas novas para você, vem comigo.

– Não precisa, Tomas, eu estou bem.

– Depressa. – Foi sua única resposta.

Ele parou de frente a uma casa simples, mas não muito. Não se comparava ao luxo do castelo, mas havia ao redor coisas muito piores.

Ele bateu três vezes na porta, alguns segundos depois ela se abriu um pouco e um olho azul apareceu na fresta.

– Vá embora, não tenho dinheiro. – disse de dentro fechando a porta.

– Espere. – ele segurou antes que fechasse – Sou eu. – disse levantando a franja.

A garota abriu um pouco mais a porta e observou por alguns segundos a roupa que ele usava e seu sorriso forçado.

– Príncipe Tomas? O que está fazendo vestido assim? - perguntou gritando.

– Fale baixo, por favor. – ele pediu educadamente enquanto eu me segurava para não voar no pescoço da escandalosa. – Podemos entrar? Quero lhe pedir um favor.

Ela abriu a porta e nós entramos. A casa não se parecia nada com a decoração antepassada. Havia poltronas e algumas estantes cheias de livros em um canto da sala, mas na maior parte do espaço havia manequins espalhados, a maioria com vestidos enormes e babados complicados. Ela nos levou até as poltronas e foi até outro cômodo, voltou trazendo uma bandeja com um bule e xícaras decoradas, serviu chá para cada um e se sentou.

– Queria saber se poderia… hum… fazer um vestido, para ela. – ele falou.

– Ela? – perguntou a mulher.

Tomas me deu um tapinha leve nas costas, eu entendi o que ele queria dizer. Tirei o chapéu e soltei o coque, deixando meus cabelos soltos de novo. Olhei para a mulher sentada a minha frente que tinha uma expressão surpresa no rosto, ela tinha olhos azuis, o cabelo loiro preso em um coque perfeito e usava um vestido como os outros espalhados pela sala, com uma saia grande, espartilho e uma gola que se elevava à altura das orelhas.

– Por que essa dama está vestida como um rapaz? – perguntou ficando vermelha – Isso é um assassinato á moda, me recuso ficar na presença de uma moça...

– Susan. – chamou Tomas antes que a mulher explodisse – Ela é de outro reino, um lugar em que mulheres têm o estranho hábito de se vestir assim. Como previ que ela não seria bem aceita, a trouxe aqui. Pode ajuda-la?

Ela me olhou por um momento com cara de nojo, imagino que eu deva estar muito ruim, mais então um pequeno sorriso se formou em seu rosto e ela foi em direção aos manequins.

– Venha até aqui, mocinha. – chamou – Gosta desse?

– Escolha o que achar melhor, não sou boa nisso. – respondi.

Ela olhou por mais alguns instantes outros modelos e enfim se decidiu e me levou para longe de Tomas, em um tipo de estúdio fotográfico, sem câmeras ou equipamentos, mas com claridade natural vinda de uma grande janela á esquerda da sala. Ela me fez subir em um tipo de mini palco.

Vestiu-me em um daqueles vestidos, roxo e rosa desbotado, apertou o espartilho e ajeitou a saia e a gola, que como a dela ia à altura das orelhas, quando se virou para pegar uma caixinha com agulha e linhas, achei uma linha e a puxei o que fez que a gola saísse em minha mão. Joguei disfarçadamente para trás, pelo menos agora não teria mais aquela coisa ridícula.

Ela se virou e se deparou comigo assoviando alegremente. Abriu a boca para falar alguma coisa, mas desistiu, apenas revirou os olhos e foi arrumar a barra da saia.

Fui levada de volta à sala agora já arrumada. Bem, eu devia estar arrumada, mas estava parecendo um enfeite natalino.

– Sra. Maddison, fez um ótimo trabalho. – falou Tomas olhando para mim – Agora parece mesmo com uma dama.

– Obrigada. – respondi – Eu acho.

Ele riu e se dirigiu a mulher. Pagou pelo vestido e se despediu, estávamos à porta quando Susan disse:

– Ainda não explicou se não for ousadia de minha parte, o motivo de vossa realeza estar vestido como a um camponês.

– Sim – respondeu ele –, é ousadia de sua parte, e peço que essa visita não se espalhe.

Ela fez uma referencia e abriu a porta. Nós saímos e caminhamos pelas ruas de pedra, ele não falou muito, parecia preocupado.

– Ela não pareceu ter acreditado na história do outro reino. – comentei.

– Estou com medo de que ela espalhe a história, te levei lá por que achei que pudesse confiar nela, mas afinal fui rude. – falou – E se ela espalhar?

– Você tem um título de autoridade, ela tem que te obedecer, não é mesmo?

Ele não disse nada, mas pareceu melhor depois que eu disse isso.

– Mas afinal, por que está fazendo isso por mim? – perguntei – Você me conhece há dois dias e já está gastando sua fortuna comigo. Você tem um motivo?

– Você não entenderia. Eu... – começou a dizer, mas foi interrompido por um tumulto.

Havia uma multidão se formando na rua, nos aproximamos e pude ver uma mulher andando com uma tropa de guardas em seu encalço, ela usava um vestido como o meu, mas muito mais luxuoso e visivelmente mais caro. Ela passava quando seus olhos se encontraram com os meus e em seguida com Tomas ao meu lado e se arregalaram.

Fez um sinal para que nos aproximássemos e nos levou até uma carruagem.

Tomas se sentou ao seu lado, eu fiquei à sua frente. Fecharam as portas da carruagem e a mulher me abraçou e beijou minhas bochechas. Eu estranhei aquilo, mas não falei nada, afinal ela parecia ter muito poder.

– Não acredito que está viva. – ela foi falando depois de me soltar – Onde esteve todo esse tempo? Sua mãe vai ficar tão feliz em saber que está viva.

Por um momento pensei que minha mãe estivesse me procurando e conhecesse essa mulher, mas o que Tomas disse me fez perder as esperanças.

– Mãe. – falou calmamente – Ela não é Mel. O nome dela é Luna, Mel está realmente morta.

– Quem é Mel? – perguntei.

A mulher me olhava incrédula, Tomas tinha um olhar de compaixão, eu ainda estava confusa.

– Ano passado. – Ele falou por fim – Eu tinha um casamento marcado. Com Mel. Éramos amigos desde crianças, ela vinha de uma família nobre, nossos pais eram amigos, então decidiram nos casar. Aceitamos a ideia muito bem, afinal estávamos apaixonados. – sua voz soava falha – Ela nunca foi princesa de castelo, única filha entre quatro filhos, gostava desde pequena de sair com seu pai nas caçadas. Mas pouco antes do casamento ela foi caçar com algumas amigas, e nunca mais voltou. Seu corpo também não foi encontrado, diferente das outras que foram encontradas vivas dias depois, mas com ferimentos graves e sem memória. Então você veio. E esse é o motivo de eu estar ‘’gastando minha fortuna com você’’.


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Notas finais do capítulo

Então...
Sabe? É pascoa e se alguem quiser me mandar um chocolate eu aceito u.u
Ou um review... Melhor ainda.
Concordam? u.u