Seu rosto não demonstrava medo algum diante do foco de luz direcionado a ela, pelo contrário, parecia um tanto confiante. Linda com aquele vestido tinha um sorriso estonteante no rosto e mantinha a cabeça sempre levantada. Olhando por esse lado, eu poderia mudar e tentar me parecer um pouco mais com ela nesse ponto, minha autoestima havia caído bastante há um tempo, não que eu me achasse feia, apenas perdi a vontade de parecer bonita, afinal Jason parecia gostar bastante de mim naturalmente, então eu não me importava em maquiagem ou roupas caras para nossos encontros. Mas pensando por outro lado, ficar bonita faz qualquer um se sentir bem com si mesmo, eu precisava disso.

 Eles pareciam ter planejado algo especial para o começo da festa, ela foi recebida com uma salva de palmas, e a recebeu de braços abertos, literalmente, como se fosse abraçar alguém, mas girou o corpo 360°, olhando para cada pessoa ao seu redor, e girando lentamente o vestido, que deu um tipo de efeito especial, se enrolando em camadas em suas pernas, e destacando a cintura.

 Alguns segundos depois, um segundo foco de luz mostrou uma pessoa, elegantemente vestida em um terno preto com destaques em roxo escuro e uma rosa vermelha no bolso do paletó, pude ver de canto de olho Mel torcer levemente o nariz ao olhar para a rosa.

 Tomas parecia nervoso, a testa parecia suada e ele esfregava as mãos. Até seus olhos percorrerem a multidão até se encontrarem com os meus, dei um sorriso leve e sibilei as palavras ‘’vá em frente’’, ele piscou forte e desviou o olhar, balançou afirmativamente a cabeça e pude ver mesmo ele tenho os olhos fixos no chão e a cabeça baixa, ele falando com sigo mesmo ‘’ir em frente, posso fazer isso’’.

 Apenas notei que ele havia sido aplaudido quando o barulho diminuira, na verdade foi como se o som tivesse chegado oco na minha cabeça, no tempo que olhava para Tomas. Ele agora tinha um sorriso tímido no rosto, com a mão direita estendida caminhou em direção a Mel, que continuava com a mesma expressão feliz, também com a mão direita aberta com a palma para cima, esperando o amor da sua vida ‘’segura-la para nunca mais soltar’’. Esse era meu sonho de infância, me casar um dia, ser feliz para sempre com alguém, mas só de lembrar-me de Jay, imaginar nós dois no lugar de Tomas e Mel, meu estômago se retorcia. Não que eu tivesse deixado de ama-lo, nenhum sentimento vai embora assim tão rápido, mas eu me lembrava da cena que me fez vir parar aqui. Afinal, se eu o perdoasse isso poderia acontecer novamente, certo? Mas eu ainda sonhava com meu final feliz, isso nunca iria mudar.

 Ele segurava a mão dela, a esquerda, estava firme na cintura da garota, eles se olhavam nos olhos, Mel tinha um sorriso discreto, Tomas estava sério. Eu não duvidava de seus sentimentos, mas ele parecia mais nervoso do que o comum. Quando ele fica tímido, no Maximo seu rosto fica vermelho, mas agora uma gota de suor escorria pela sua testa.

 Uma musica calma começou, tocada ao vivo, por um tipo de banda de homens velhos que tinham apenas instrumentos clássicos.

 Depois de um tempo, homens tiravam mulheres para dançar de todos os lados, até que apenas as viúvas estavam sozinhas, sentadas às mesas decoradas suspirando com sorrisos tímidos no rosto olhando para os casais na pista. E eu, continuava de pé parada sem saber o que fazer, por que eu estava sozinha e ir para a pista e arriscar dançar break é que eu não iria.

 - Luna? – uma voz calma chamou atrás de mim, eu me virei e dei de cara com Alec, com um terno cinza escuro e cabelo brilhando penteado de lado.

 - Você está parecendo meu avô. – falei sorrindo.

 - Ah, sei que estou horrível, me ajuda a disfarçar dançando comigo? – perguntou estendendo a mão direita.

 Relutante, eu a segurei. Seria apenas uma dança, não seria?

 Ele me conduziu até a pista de dança, e guiava os passos, eu o acompanhava com os olhos fixos na parede logo atrás. Seus dedos longos encostaram-se ao meu queixo, forçando meus olhos encontrarem os seus, ele tinha um sorriso leve no rosto, mas minha expressão continuava dura e fria.

 Ele aproximou o rosto do meu, mas eu me separei, dando um passo para trás. Foi possível disfarçar a situação constrangedora, pois todos olhavam para o casal principal, eu não tinha percebido antes, mas agora Tomas tinha um joelho no chão e colocava um anel no dedo de Mel.

 O salão voltou ao normal depois disso, todos continuaram a dançar, mas eu queria me ‘’livrar’’ de Alec, então fui até uma das mesas de comida, mesmo não estando com fome, e me entupi com salgadinhos que tinham um gosto horrível, parecia com alho e alcachofras, meu hálito ficaria péssimo depois disso, com certeza o afastaria por um tempo.

 Até que eu tomei a minha primeira taça de vinho, tudo bem, não fez efeito algum e eu continuei comendo como louca. Mas eu não parei na primeira, pela oitava, eu tirei uma viúva para dançar, que deve ter sentido meu hálito e saiu correndo, do mesmo jeito que eu estava fazendo com Alec.

 Parei de beber para poder ver Tomas em cima do palco, cantavam parabéns para ele em outra língua, ou pelo menos imaginei que fosse outra língua, ou era isso, ou eu já estava muito bêbada, o que não era o caso.

 Eles distribuíram bolo, e todos comentaram sobre meu trabalho, mas eu não peguei nem um pedaço, já tinha comido demais durante aquele tempo.

 Então voltei a beber, e me lembro de estar lá, no meu da pista, dançando break, e de ter agarrado Alec pelo colarinho da roupa, eu beijei ele, ele apertou minha bunda, eu saí correndo e rindo, e eu me esqueci de tudo.

[...]

 Acordei pela manhã no meu quarto, minha cabeça explodia dor, minha visão estava turva, quando finalmente voltou ao normal, pude perceber que Tomas estava sentado ao meu lado. Ele tinha olheiras e bocejava, olhando para o chão.

 - Tomas? – chamei, ele instantaneamente olhou para mim – Você passou a noite toda aqui?

 - Não. – respondeu seco – Só vim aqui agora ver se você tinha acordado.

 - O que aconteceu?

 - Você saiu correndo em direção ao palco, Mel falava fazendo uma homenagem para mim, você a interrompeu e começou falar coisas sem sentido.

 - Que tipo de coisas?

 - “Você é uma vadia, quer roubar meu namorado, mas ele me ama não a você, ele nunca vai te amar, sua iludida” – falou fazendo aspas com as mãos e me mandando um olhar severo – E então você desmaiou. Alec te trouxe para cá. Tenho que ir.

 - Desculpe, foi a bebida falando. – falei ficando vermelha.

 - Não se desculpe. – falou se levantando.

 - E como está Mel? – perguntei segurando seu braço.

 - Ela está bem, começou a rir de você, então você… deixa pra lá, eu tenho que ir. – se desvencilhou do aperto da minha mão e saiu. Eu parecia o ter magoado.

 Levantei-me e o quarto rodou, mas ele não havia terminado a frase, eu precisava saber o que tinha acontecido, então fui atrás de quem eu achava que podia me dizer a verdade.

 Alec estava parado escorado na parede do corredor que dava para a garagem, dois guardas estavam à porta.

 - O que aconteceu ontem? – perguntei direta.

 - Quer mesmo saber? – falou sarcástico, eu cruzei os braços e arqueei uma sobrancelha – Tudo bem, você me beijou.

 - Disso eu me lembro, eu falo depois.

 - Você subiu no palco, fez um discurso e arrumou uma briga com a Mel. – ele parecia segurar o riso. – Foi uma noite e tanto.

 Eu olhei meu braço e tinha marcas de unha, do cotovelo ao pulso, com certeza foi uma noite e tanto.