Inversamente Opostos escrita por IsaDoraBMS


Capítulo 14
Interrogatório e um Presente Inesperado




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  E então? – perguntou Tomas calmamente.

 - E então o que? Só queria conversar um pouco – respondi – Me fale sobre a sua infância.

 Ele franziu o cenho e ignorou minha última pergunta.

 - Se você quer falar sobre ontem à noite eu…

 - Ontem? O que aconteceu ontem? Algo interessante? Por que não me lembro de nada de mais. – o interrompi – Mas e sobre a sua infância?

 - Tudo bem, se quer fingir que não aconteceu nada, vamos fingir. – falou se sentando em uma cadeira de balanço, já de fora do castelo, eu me sentei ao seu lado – O que quer saber sobre minha infância?

 - Tudo, coisas inúteis, brincadeiras, o que quiser. – falei empolgada.

 - Motivo? – perguntou.

 - Não, motivo não precisa, apenas o que eu disse. – disse com um sorriso de canto.

 - Engraçadinha. Por que quer saber isso?

 - Não posso te falar, apenas responda as perguntas, vamos.

 - Tudo bem. Me mãe diz que eu aprendi andar no meu aniversário de um ano, depois de ganhar sapatos de lã azuis e um ratinho de madeira, eu ia para todo lugar com os dois. Nós três éramos inseparáveis. – terminou com um sorriso bobo de lembrança no rosto.

 - Interessante. – falei – Agora fale sobre sua adolescência.

 - Não sei o que falar. – disse passando os dedos longos no cabelo preto.

 - Não sei, talvez, fases de rebeldia, problemas ou fatos que aconteceram, coisas que ache importantes…

 - Ah, eu não tive exatamente uma fase rebelde, eu era quieto, não me envolvia em brigas nem nada, diferente do meu irmão, que foi um brigão de ruas, mas eu não segui seus passos, eu apenas não gostava muito do rumo que a sociedade tomava, mas não dizia nada. Acho que meu maior problema foi a acne, eu tive realmente muita espinha, mas durou até em média meus dezessete anos. Acho que uma coisa importante que posso citar foi meu primeiro beijo, que foi horrível – ele riu –, tentei roubar um beijo de uma garota, ela não gostou da ideia, mordeu minha língua, pisou no meu pé e saiu correndo. Acho que ela preferia os cavaleiros da época, e não os contra regra.

 - Gosto de contra regras, são mais legais que cavaleiros.

 - Infelizmente, agora mudei de time, obrigatoriamente, virei cavaleiro, assim que meu pai começou meu treinamento, caçadas toda manhã, e montaria à tarde.

 Eu iria pedir que ele continuasse falando de sua juventude, mas um ser vermelho e histérico apareceu gritando.

 - Tomas, está atrasado, ficamos te esperando com a costureira, mas ela tinha outros compromissos, o casamento é amanha e você ainda não tem uma roupa.

 - Mel, se acalme, eu tenho certeza que nosso maior problema não é minha roupa e tenho que terminar de resolver alguns assuntos sobre o casamento com Luna. – falou Tomas calmamente.

 - Assuntos do casamento? Certo. Vou terminar de arrumar algumas coisas realmente sobre o casamento. – falou rabugenta e saiu pisoteando o chão castelo à dentro.

 - É… acho que você devia ir experimentar a tal roupa. – falei baixo.

 - Prefiro ficar com você. – disse dando de ombros.

 - Tudo bem, então. Ainda preciso saber sobre você. Continue falando, por favor.

 - Não tenho muito mais o que falar… tenho mania de roer a unha, a caçada virou um hobbie e sou compulsivo por limpeza, tanto que todas primeiras segundas feiras de cada mês, pela manhã, eu tenho que polir as lâminas das minhas espadas e os meus escudos. E uma coisa estranha é que ainda tenho meu sapatinho azul. – falou ficando vermelho com a ultima frase.

 - Obrigada, isso é suficiente. – falei me levantando e segurando para não rir.

 - Posso saber para que?

 - Ainda não. – dei de ombros – e você devia ir experimentar aquela roupa.

 - Tudo bem, senhorita ‘’ainda não’’, já vou lá. Até mais tarde.

 - Te vejo depois.

[…]

 Eram duas da tarde do dia da festa, eu estava na cozinha, teria que trabalhar sozinha, cada cozinheiro de lá preparava uma coisa diferente para a festa, e ninguém parecia disposto a me ajudar.

 Vinte e três andares, com certeza demoraria muito, resolvi fazer por partes, por sorte, eles guardavam formas, cinquenta exatamente, uma menor que a outra, peguei às vinte e três primeiras, e distribui a massa, já pronta nas três primeiras e pus para assar. Lá, eles assavam em fornos de tijolos improvisados, como grandes churrasqueiras.

 Depois dos três primeiros prontos, montei um acima do outro, e decorei com glacê branco, feito poucos minutos atrás, e blue berry que pus no meio do glacê branco, fiz alguns sapatinhos de bebê azuis decorativos, postos rodeando a segunda camada de bolo.

 Depois de as três camadas prontas, pus mais três no fogo. Quando prontas, foram montadas em cima das três primeiras e decoradas com glacê branco.

 Misturando um pouco de chocolate no glacê, consegui fazer a forma de ratos marrons, postos na quinta camada.

 E sempre do mesmo jeito consegui terminar o bolo duas horas depois, com uma camada decorada com glacê cor de pele e replicas perfeitas, ou horríveis dependendo do seu ponto de vista, de espinhas vermelhas rodeando toda essa camada. Outra com muitas imitações de bocas vermelhas. Outra tinha vários cavalos pequeninos, e outra ainda com várias espadas e escudos.

 Uma tinha mãos com unhas roídas e outra, desenhos de garrafas espirrando água, e paninhos de limpeza dos lados.

 No final, percebi que faltava alguma coisa naquele bolo gigante, e preenchi cada camada extra, menos a ultima, com miniaturas de pequenas cabeças de leões, talvez não fizesse muito sentido para qualquer um que olhasse, mas cada um daqueles desenhos tinha um significado diferente para Tomas, e os leões, bem… foi assim que nos conhecemos, e achei que fosse legal expressar isso também no meu presente de despedida. E na ultima camada, fiz novamente miniaturas de sapatos azuis de bebê e a preenchi com eles.

 O bolo não ficara tão alto, cada camada era fina, e no topo seriam colocadas vinte e três velinhas pequenas.

 - Tudo bem, obrigada, agora a senhorita pode se arrumar para a festa, nós levaremos tudo para o salão. – falou um cara baixinho usando roupa branca. Ele devia trabalhar na cozinha, mas parecia mais com um enfermeiro.

 Dei apenas um aceno positivo com a cabeça e saí de lá. Ele me disse para me arrumar para a festa, mas eu não tinha roupa para uma ocasião assim.

 Entrei no quarto e não fiquei nem um pouco surpresa ao encontrar um vestido roxo escuro, longo, com renda preta e muito básico comparado ao que todas usavam ali. Ao lado tinha um cartão, com uma caligrafia delicada ‘’essa pode ser a ultima vez que irei te ver, esteja linda’’ mas a assinatura não era de quem eu pensei, com uma letra miudinha, eu pude ler ‘’Alec’’ e me perguntei onde ele arrumara aquele vestido.

[...]

 Eu havia me arrumado e saíra do quarto, eram sete da noite, hora marcada para o começo da festa, pelo visto, eles eram bastante pontuais, pois escutava uma musica calma vinda de andares a baixo.

 Eu não sabia onde ficava tal salão, mas não foi difícil descobrir, o fluxo de pessoas seguia em uma direção só, mas a quantidade de mulheres com vestido de babados e cores estonteantes não era nada comparada a que eu vira ao olhar pela janela, carruagem uma atrás da outra chegavam cuspindo mulheres e homes que pareciam estarem indo para o carnaval.

 Eu estava me sentindo linda no meio de tanta gente estanha, até entrar no salão. A primeira coisa que vi foi meu bolo, colocado em cima de um palco e outro, ao seu lado, um pouco menor, todo branco decorado de listras rosas e azuis e com dois bonecos, aparentemente de madeira, como representando os noivos.

 E então olhei para onde um fleche de luz apontou, deixando aquele ponto instantaneamente sendo o único iluminado de todo o lugar, lá estava eu, em um vestido rosa longo, sem nem um detalhe extra a não ser uma faixa, com rosas vermelhas marcando a cintura.

 Mel estava realmente linda, afinal, aquela era a sua noite.


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