Doppelgänger: Primeiro Dia escrita por Rauker


Capítulo 4
Capítulo 03 - Bem-vindo, Ventura




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   Famosa é sua qualidade de ensino e repertório de lendas colegiais. A melhor escola da cidade de Nova Vida, Ventura, deitava-se afastada do centro urbano. Fisicamente extensa, sua forma, se vista de cima, assemelhava-se a duas asas envergadas sobre um tapete verde, e dentro delas cresciam construções cinzentas e formosas.

   Léo respirou fundo e ultrapassou os portões de Ventura.

   O nervosismo não é nada conveniente. Por causa dele, meu andar é vacilante e as pernas parecem que irão congelar a qualquer instante. São meus primeiros passos num mundo desconhecido; minha insegurança, à flor da pele. Sempre sozinho nessas ocasiões, não tenho ninguém com quem dividir ou abrandar essa insegurança.

   Pelo o que sei do colégio, há duas entradas bem afastadas uma da outra: a primeira para o ensino fundamental, e a segunda para o ensino médio, que é onde me encontro. A quantidade de alunos é realmente proporcional ao tamanho do terreno; na verdade, creio que há espaço demais mesmo para tanta gente.  

   Analiso o interior do campus, constituído por um bom pedaço de região gramada e entrecortado por ruelas onde transitam alguns carros. Árvores e outras plantas enfeitam o cenário, um típico espaço natural que combina com a imagem do bairro. Parecia um local de passeio ao ar livre.

   Faço um percurso reto, seguindo o grupo que saiu do ônibus; logo adiante, o prédio retangular da escola. Alguns alunos diminuem o ritmo para simplesmente olharem um detalhe peculiar. A alguns metros da frente do prédio, jaz um suporte acimentado sustentando o busto de uma estátua, no mínimo, estranha. Trata-se de uma escultura em homenagem ao fundador da escola: Dionísio Ventura. Ao contrário dos outros, paro e avalio sua forma. A imagem mostrava um sujeito de cabeça calva com punhados de cabelos nas laterais, rosto meio enrugado (belíssimo trabalho artístico), e olhar meio... hum ...intimidador. Para ser sincero, aparentava ser a face de um ditador, as feições autoritárias e rígidas despejadas sobre os alunos que entravam no colégio. Mas isso é o de menos! O detalhe mais insólito da estátua são duas grandes asas que, ao invés de envergadas, como vem estampado no logotipo da escola acima do nome “Ventura”, estão fechadas em torno do busto do homem, velando parcialmente toda a escultura, com exceção da região do pescoço para cima. Dionísio Ventura, por acaso, era ou sentia-se um anjo? Qual o significado dessas asas? É realmente uma arte sobrenatural para um colégio, e posta logo na entrada, dava uma sinistra boas-vindas.     

   No pilar abaixo da escultura, li a data em que foi esculpida. “11/02/1973”. Quarenta anos atrás. Aqui, Dionísio Ventura simula beirar os setenta anos. Hoje (ele ainda está vivo, por incrível que apreça), se não me engano, ele tem entre 110 e 120 anos. O velho parece que tomou algum tipo de elixir para alongar a vida. Pelo o que pesquisei dele, ele se mudou para o estado do Acre desde o início do milênio, alegando que se o mundo acabasse na virada do século, aquele lugar seria um dos últimos a ser acometido pelo Apocalipse, embora o senso comum do brasileiro veja prontamente o Acre como um “fim de mundo” (e o mesmo valeria para Ventura). 

   Uma incrível coincidência é a relação entre o nome do lugar e meu sobrenome: Ventura. Ele significa felicidade. Desde que conheci essa escola e resolvi passar pra cá, senti que esse era o lugar onde realmente queria e deveria estar. Parecia estar predestinado a vir para Ventura. Talvez, a coincidência no nome tenha criado uma ilusória e até afetiva conexão com a escola. Se minha presença é obra do acaso ou do destino, não faço a menor ideia. 

   Enfim, dou a volta na estátua e percebo o tempo gasto com pensamentos diante dela: o grupo de adolescentes se encontra muito à frente, quase dentro do prédio. Acelero meus passos para não ficar longe deles, pois os usava como guia. Porém, dois segundos depois, um som me chama atenção, uma espécie de grasno altivo e medonho. Paro imediatamente e giro os calcanhares. Provavelmente é uma gralha, mas…

   Encarapitado no ombro direito de Dionísio Ventura, um pássaro negro me encara e abre o bico para um novo grasno. Não é uma ave qualquer. Aquele tamanho, aquela plumagem escura... é exatamente como... um corvo!?


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Notas finais do capítulo

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