Doppelgänger: Primeiro Dia escrita por Rauker


Capítulo 16
Capítulo 15 - Quem é você?


Notas iniciais do capítulo

O capítulo saiu atrasado porque fiquei sem internet no final de semana :(



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Enfurnado nas trevas, algo nos contempla.

Os passos se encerram. Os últimos metros de chão iluminado aguardam mais uma passada, apenas uma para que minha curiosidade seja satisfeita. Mas a pessoa não parece estar disposta a revelar uma única parte do seu corpo. Estranhamente, os raios de luz parecem temer o breu que esconde sua identidade, ou talvez sejam engolidos por aquela escuridão tão perturbadora.

Meu corpo enfraquecido permite, no máximo, que eu fique sentado no chão, após considerável esforço. Minhas pernas parecem moles demais para servirem de sustentação. Mas não me preocupo com isso, somente o enigma no interior daquela escuridão me interessa. Aguardo ouvi-lo dizer alguma coisa, mas quem quer que seja prefere se manter em silêncio. Não suportando mais essa quietude angustiante, inquiro, finalmente, em voz alta:

— Quem é?

No momento seguinte à pergunta, sinto meu corpo vibrar como se houvesse tomado um susto, e talvez realmente tenha me espantado, pois vi, por um décimo de segundo, um rosto (não sei se na escuridão adiante ou se dentro da minha cabeça) de fisionomia insana e excitada, um rosto parecido com o meu. Isso me causa extremo desconforto. Uma sensação que poderia ser traduzida da seguinte maneira: uma pessoa que olhasse por anos para a face de um anjo e subitamente se deparasse com a cara de um demônio.

 Fiquei tão perturbado que não tenho coragem para mais nenhuma pergunta. Porém, meu silêncio não incomoda aquela camada de escuridão, talvez aquele que nela se esconde esteja apreciando o meu medo, e por isso não pronuncia uma única palavra. Passam-se segundos, minutos, horas, não sei mais, talvez o ciclo de uma vida enquanto me sentia preenchido, pouco a pouco, por uma inquietação angustiante. Até que não suportando mais esse cenário, escolho matar o medo e pergunto novamente, dessa vez, com mais fúria e desespero.

   — Me diga que merda é você!

Vejo minha própria imagem (sim, era realmente o meu rosto antes) em um tempo maior, talvez por dois segundos, tempo suficiente para discernir contornos de uma expressão maléfica e insana, uma expressão que parecia não respeitar nada nem ela mesma, uma expressão livre para fazer o que quiser independente dos resultados, uma expressão que desejava tão somente se divertir insanamente com a vida.

 Da minha boca sai um grito de horror. Agora sinto como se um demônio houvesse sorrido para mim a menos de um palmo do meu rosto. Levo a mão direta sobre a face, transtornado. Tento fechar os olhos, mas estranhamente não consigo fazê-lo. Que diabos está acontecendo?

Tenho medo… Tenho medo… TENHO MEDO DE VOCÊ!

— Eu sei — Enfim, responde a escuridão. Por um momento penso ser minha própria voz irrompendo do breu, mas me engano, ela é tão juvenil quanto a minha, mas certamente é de outro garoto. Além do mais, possui um tom extremamente frio, como se aquela própria escuridão moldasse o som. Espere. A voz veio daquilo que se esconde na sombra, ou da própria sombra? Será que existe mesmo alguém escondido ali? Claro que há! Eu ouvi os passos. Com certeza ele está ali!

Procuro abrandar o medo, mas ele segue em meu encalço. Coragem, coragem. Pergunte de novo! Pergunte!

— Quem é você?

— Você?

Não tenho tempo de entender a réplica, porque algo mais confuso acontece. O chão frio, as paredes de barro, as lâmpadas, a escuridão e aquele que nesta se esconde… desaparecem num piscar de olhos. Minhas mãos tocam um gramado bem podado. Olho ao redor e confirmo estar dentro do campus da escola. Não consigo entender o que está acontecendo, não sei o que pensar. Então, ouço minha voz proferida dentro da minha cabeça.

— Quem é você?

E, logo em seguida, escuto vozes familiares. Ergo a cabeça e avisto, mais à frente, o grupo do Barril, os mesmo que me aplicaram o trote. Dois deles estão segurando alguém pelos braços. Aquele… aquele sou…

— Quem é você? — ecoa minha própria voz.


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