Doppelgänger: Primeiro Dia escrita por Rauker


Capítulo 17
Capítulo 16 - Uma outra ação e...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/338934/chapter/17

Um conflito, um único final… dentre muitos finais. Léo ainda não tinha pensado dessa maneira.

É como estar dentro de um filme, os olhos realizando a função de uma câmera permitindo a visualização da cena a partir de inúmeros ângulos. O roteiro do filme, no entanto, parece ser biográfico, e a cena, um fragmento de minha memória. Não é a mesma impressão de se ver em um espelho, foto ou tela; ver-se no plano real dá a sensação de que estou possuindo um corpo diferente e de que aquele quem vejo é quem, de fato, sou eu. Examino rapidamente as mãos para confirmar se não estou realmente no corpo de outra pessoa, mas consigo reconhecê-las como partes de minha imagem. Eu ainda sou eu, e aquele também sou eu. 

Não sei se é porque não estou mais naquele corredor, mas tenho energia suficiente para ficar de pé. Só que não ouso a correr na direção da cena. Contento-me em ver a mim mesmo esculachado por aqueles garotos, afinal, não posso fazer nada contra eles. Sou fraco demais para me livrar dessa situação. Muito em breve alguns estudantes irão se aproximar para ver o espetáculo, enquanto contemplo minha própria humilhação.

— Aaaaiii! Filho da puta! — Fico espantado quando ouço a voz do Barril praguejando. Não consigo raciocinar a cena de imediato, pensando ser algo impossível de acontecer. Mas aconteceu. Aquele Léo Ventura deu um chute nas partes baixas do Barril e conseguiu se soltar dos caras que estavam o segurando. Agora ele está correndo de volta para a entrada do prédio enquanto o Barril está curvado sobre a grama, gemendo, xingando, e ordenando aos seus colegas: — Aai, ai! Peguem… aaai, aaai, peguem aquele filho da puta! Peguem ele! Aaai!

Não foi assim que aconteceu. Eu fiquei submisso aos caprichos daqueles caras enquanto meu corpo era lambuzado de tinta. Lembro-me de ter fechado os olhos, detestando a situação e esperando o pior, e não ter aplicado um chute nas partes baixas do Barril.

Não são minhas memórias diante de mim, são apenas… desejos. Devaneios dos quais desfrutava quando era alvo desse tipo de brincadeira, a vontade de conseguir humilhá-los ao invés do contrário.

Não consigo resistir ao pequeno gozo de satisfação ao ver aquele gorducho de quatro no chão grunhindo como um porco.

Vejo os “seguidores” do Barril obedecerem seu “mestre” e correrem em direção a entrada do prédio, apesar do outro Léo já ter escapado da vista de todos. Decido persegui-los e noto que toda aquela fraqueza anterior me abandonou, agora estou correndo como qualquer pessoa saudável. Já dentro do edifício, os garotos param de chofre na primeira encruzilhada do corredor. Ao me aproximar deles lembro-me de que tenho a imagem daquele que estão perseguindo, e meu sangue gela quando um deles olha para trás. No entanto, ele não me vê, e acho que nenhuma pessoa é capaz disso. Sou algum tipo de fantasma.

O grupo se divide para cobrirem as quatro direções, e não sei qual deles seguir. Então me lembro do banheiro. Talvez o Léo daqui também tenha ido até lá, embora por motivos diferentes dos meus.

Quando chego ao banheiro, porém, não há ninguém. Encontrei apenas o Léo refletido no espelho. Mas então vi meus olhos se arregalarem ao som de um trinco. A porta de uma das divisórias está sendo aberta, e dela sai… Barril?... Não, eu. Viro-me para encará-lo, e o rosto do outro Léo assume um espanto que presumo ser derivado do fato de conseguir me ver. Porém, ele parece mais confuso do que surpreso. Sua fisionomia denota mais estranhamento que horror, como se estivesse procurando discernir uma imagem distante em vez de estar olhando praticamente um clone dele. Quando ele estreita os olhos e move-se lentamente para a esquerda, concluo que ele não está me vendo, e sim outra coisa. Mas o quê? Olho para trás, na direção do espelho, e escuto um grito de terror da boca de Léo Ventura.

Agora ele está me vendo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Doppelgänger: Primeiro Dia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.