Doppelgänger: Primeiro Dia escrita por Rauker


Capítulo 13
Capítulo 12 - Alvo




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A relação entre aluno e professor é crucial para melhor potencializar o aprendizado de ambos. Todavia, dissonâncias geradas pela falta de respeito entortam a linha uniforme da mútua compreensão, cria-se um nó tão forte que ambos os lados, eufóricos, se veem na situação de cortar essa linha.

Nenhum aluno, no entanto, se atrevia a cortar a linha que os ligava ao professor Victor. Nem mesmo o Barril tampouco Léo.

Subitamente, a presença desse professor chamado Victor cria um ambiente tenso e silencioso. Seu olhar se fixa no veterano enquanto este se afasta, e percebo a fisionomia temerosa estampada no rosto do Barril. Nunca imaginei que aquela face carregada de desdém pudesse exprimir tamanho receio e apreensão. De alguma forma, Victor inibia qualquer movimento ou feição engraçadinha no outro garoto. Ele é mesmo um professor? Pois é peculiar alguém como Barril ser domado por um.

— Eu… — O gorducho começa a falar, mas é interrompido pelo professor.

— Não arranje desculpa se não a tem. E, mesmo se a tiver, não justifica o que você iria fazer. — A voz de Victor é de uma dureza que me faz desejar não estar no lugar do Barril. Seus passos na direção da divisória onde ainda me encontro ajoelhado ao lado do vaso reboam no ambiente silencioso.

Victor não é um homem velho, pelo contrário, a aparência é de alguém beirando os 25 anos, de um jovem professor que acabou de finalizar a faculdade de alguma licenciatura. Seu visual é muito mais formal que o meu: sapatos, calça-jeans, camisa social azul, cabelos escuros bem penteados e um par de óculos que lhe dão um aspecto mais intelectual. Considerando também sua musculatura ideal, parece ser o tipo de jovem adulto que facilmente atrai as mulheres, embora não ache que ele demonstre essa fisionomia inflexível para o sexo oposto. De qualquer forma, parece ser uma pessoa muito séria.

— Você está bem? — ele pergunta. Apenas assinto com um movimento de cabeça. Em seguida, ele olha para a privada, e vejo seu rosto vergar-se sutilmente. Ele, então, puxa a corda da descarga. Contemplo a água obrigando a sujeira descer e sinto um grande alívio, apesar do odor ainda permanecer. Victor solta violentamente o ar pelo nariz ao constatarmos que uma única descarga é insuficiente para limpar a privada. — Quando alguém faz uma merda é impossível limpá-la por inteira — diz ele.

Barril permanece quieto, aguardando mais palavras do professor. Nem eu sei se devo falar alguma coisa. O que eu falo? “Dê um jeito nesse filho da mãe que tentou jogar minha cabeça dentro de uma privada cheia de merda, leve-o até o diretor ou qualquer outra pessoa de autoridade suficiente para aplicar-lhe uma suspensão. E leve junto os amigos dele. Posso reconhecer seus rostos e achá-los nos corredores aplicando trote nos outros calouros.”

— Levarei os dois até o diretor. — Será que ele ouviu meus pensamentos? — Ele precisa saber até que ponto chegaram suas brincadeiras estúpidas, Barril.

— Obrigado — digo para o professor, mas não consigo falar nada mais além disso. Ele me olha sucintamente e volta-se na direção da porta. 

— Venham. — Barril e eu o obedecemos e seguimos atrás dele, um ao lado do outro.

Esse tal de Victor parece ser uma boa pessoa, apesar da aparência austera. Sinto-me realmente aliviado e protegido por encontrar alguém com bom senso, e, de fato, só acharia essa qualidade definitivamente num professor.

No corredor, não vejo muitos alunos, mas percebo alguns já dentro das salas de aula que avisto por onde passo. O professor Victor caminha na frente, Barril e eu atrás, em silêncio, sem nos olharmos.

Subitamente, um movimento rápido. Interrompi meus passos, surpreso. O corpo de Victor joga-se para o lado. Vejo uma silhueta a mais ou menos dez metros, ao final do corredor, mas não consigo identificá-la nem mesmo reconhecer o objeto em suas mãos. Um estampido. Uma cruciante dor no peito. Um impacto faz meu corpo cair para trás.

O que está…?

Entrementes, na casa de Léo, sua irmã, já arrumada para a escola, olhava, pensativa, para a mesa do café da manhã.

— Que foi, Marcela? Não está com fome — pergunta minha tia. Ela senta-se à mesa para ver meu rosto cabisbaixo. — Está passando mal? — Eu movo a cabeça em negação. Devo contar a ela? Sim, devo. Gotas de lágrimas caem, e uma fungada no nariz me impede de mentir.

— Eu tive um pesadelo — digo a ela, limpando minhas lágrimas.

— Sobre o que? — Minha tia se aproxima e acaricia meus cabelos. Então, falo:

— Sonhei que… meu irmão tinha morrido.


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Notas finais do capítulo

AVISO: Não haverá capítulo na semana que vem. Apenas no dia 08 de Junho.



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