Doppelgänger: Primeiro Dia escrita por Rauker


Capítulo 12
Capítulo 11 - Mundo de merda




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Ninguém entrou no banheiro naquele instante. Todavia, mesmo a presença de alguém não garantiria a mudança do iminente (e asqueroso) evento.

— Vou te oferecer uma refeição fecal. Vem cá!

Mal tive tempo para absorver a pretensão do Barril e já a sinto na pele. Cada uma de suas mãos brutas prendem meus braços, e ele obriga-me a andar na direção da mesma divisória da qual ele saiu. Obviamente, resisto o máximo que meu corpo frágil, se comparado ao dele, me permite. Meu avanço é lento, de modo que tenho a esperança de alguém entrar no banheiro e impedir esse repudiante destino. Eu poderia gritar a plenos pulmões por ajuda, mas seria tão humilhante e covarde que não seria tão diferente de ter a cabeça mergulhada no vaso (estranho eu pensar desse jeito). Seria degradante em ambos os casos. Mas seria terrível se, mesmo gritando por socorro, ninguém viesse me acudir e eu experimentasse os dejetos do Barril. Por essa razão, pelejo para distanciar-me da divisória, o que me traz uma boa sensação próxima à motivação, pois sinto que não estou me acovardando diante da situação e sim a afrontando, apesar de saber que dificilmente ganharei a disputa.

Em questão de segundos, no entanto, encontro-me de frente à divisória, segurando-me nas laterais enquanto o corpo do Barril me força a entrar totalmente no compartimento. Meu nariz captura o odor podre que exala do vaso, aquele característico de quando a pessoa está com uma baita dor de barriga e impregna o ar inteiro do banheiro após ter se aliviado. Tenho um rápido vislumbre da composição amarronzada não apenas no fundo vaso, mas também na borda (menos uma privada viável para uso até o servente limpá-la).  

O cheiro e a visão exaurem minhas últimas forças e sou domado pelo perpetrador da “barrigada”. Uma mão me força para baixo e sinto os joelhos tocarem o chão, o nariz recebe o mesmo odor cinco vezes mais forte, os olhos se arregalam e lacrimejam diante da nauseante visão. Não tem a consistência de massa, é algo… pastoso. Até uma vala possui um aspecto mais vistoso.

— Tá vendo? Fui eu que fiz. Delícia, né?

Ter minha cabeça mergulhada numa privada loteada de bosta não se encontrava nem mesmo em meus pensamentos mais pessimistas para esse dia. Eu imaginei tudo, inclusive os trotes, apesar de não ter pensado neles hoje de manhã como forma de não me preocupar mais ainda com a escola. Mas isso?

— Cara, você está exagerando? O trote lá fora não foi o bastante? — Arrisco novamente uma saída através da conversa.

— Cê não ouviu que eu disse. Tô bolado! — Ele imprime mais força sobre minha cabeça. — E eu não terminei aquele trote. Se eu enfiar sua cabeça no vaso, aí sim ficará tudo certo.

Não consigo entender a cabeça desses caras, decifrar o que os motiva a fazerem uma coisa dessas. É o simples desejo de humilhar os outros, de sentir-se superior? Não consegue se destacar em nada senão obrigando a submissão alheia? Eu… odeio gente assim! São tão merdas quanto essas que flutuam na água da privada. Se eu pudesse dar a descarga… se eu pudesse limpar o mundo dessa merda toda. Eu faria!

— Come e engole essa porra aí!

Mas não tenho o poder nem para me livrar de um deles, quanto mais dos outros. Sou um simples garoto impotente.

Vi a cor marrom se aproximar.

— Pare! — Uma voz forte e madura interrompe o ato. A bosta permanece boiando a centímetros de distância dos meus olhos. A mão do Barril solta a minha cabeça, e levanto-a rapidamente para respirar um ar menos fedorento. Só ouço o gorducho revelando o nome e a função daquele que me salvou.

— Professor Victor!?


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: 19/05



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