A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de dedicar o Capítulo 10 a Jean Claude, o melhor e mais dedicado leitor que manifestou sua opinião sobre A Clarividente até o momento. A história deixou a pausa graças a dedicação dele, portanto, estou postando um novo capítulo para que ele possa continuar acompanhando.

Boa leitura a todos, mas, de forma especial, ao senhor Jean. ♥



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            Zahra bateu na porta dos aposentos da Rainha Naama, e não obteve resposta por algum tempo. Manteve-se ali em pé, esperando. Bateu de novo e esperou mais um pouco, quando a Rainha finalmente atendeu.

            — Eu não quero falar, Zahra, por favor — ela deixou a porta entreaberta. — Volte outra hora, por favor.

            — Naama, deixe-me entrar. Precisamos falar.

            Naama suspirou de forma contrariada e abriu a porta para a maga e, algumas vezes, sua confidente. Zahra era esperta, confiante, e habilidosa com as palavras, por isso, era uma das poucas pessoas que aguentava uma conversa com a – irritante – Rainha.

            — Nasser me pediu para dizer que se acostume com a ideia de ter Nirina como aprendiz do reino — disse Zahra, cuidadosa. Não queria contrariar a senhora do reino tão cedo.

            — Eu sei — assentiu Naama, sem vontade. — Ele vem me dizendo isso desde que recebemos a carta de Arthus.

            — A jovem não tem nada a ver com os acontecimentos do passado, minha senhora, entenda, por favor. Isso será melhor para todos nós, inclusive para a senhora, Naama.

            — Obrigada pela tentativa de consolo, Zahra, mas sabe que eu não consigo engolir aquela... Aquela filha de magos tão arrogantes.

            A maga balançou a cabeça diante do depósito tão grande de ódio que Naama conseguia conter dentro de si. Afinou os olhos.

            — Sinto muito, senhora Naama, mas sua decisão é imprudente e não é sábia — desafiou Zahra, a única capaz de contrariar a Rainha. — Nirina é importante para o reino. Ela é sábia apesar da pouca idade e é forte. Cresceu sem conhecer seus pais e agora vai crescer sem Arthus, que era como um pai. Admita que o reino precisa de Nirina, e esqueça os desentendimentos do passado.

            — Você fala isso como alguém que não sente o que eu sinto — prosseguiu com o desafio, acostumada às conversas com Zahra. — Farei o que for necessário para que Nirina cresça como clarividente, pelo Reino. Por Sira. Não por você, não por Nasser.

            — É o que estive pedindo esse tempo todo, minha senhora. Esqueça os sentimentos e governe como alguém racional.

            — Está dizendo que não sei ser racional em minhas decisões, Zahra?

            — Foi o que deixei claro, não foi? Eu disse com todas as letras. Afinal, é só olhar para você, para ver o quanto de ódio você está sentindo. Esse sentimento esquecido foi revivido, e você não vê Nirina como a pessoa que é. Vê Nirina como Elisa!

            — Não fale o nome dessa mulher — disse Naama, parando por uns segundos. — Zahra, saia. Disse que não queria falar e você está apenas dizendo coisas que não quero ouvir.

            — As coisas que você não quer ouvir tem nome, Naama — disse Zahra em tom áspero, se afastando até a porta. — As coisas que você não quer ouvir se chamam “Verdade”, minha senhora, e por isso elas doem tanto.

            Naama mordeu o lábio inferior, contrariada, sentindo os olhos encherem de lágrimas. Apertou as mãos e ergueu a cabeça, decidindo que não choraria por nada. Nem pelas coisas que Zahra dizia, nem por Nirina, nem por Nasser. Muito menos por se lembrar de Elisa, nem por se lembrar de Adiel. Limpou as lágrimas dos olhos de modo sutil e passou as mãos pelo belo vestido longo, recompondo-se. Decidiu que seria mais energética com Zahra da próxima vez que ela tentasse falar essas bobeiras. Perguntou-se onde Martin estaria e saiu do quarto a sua procura.

            Selene e Nirina haviam terminado de arrumar as coisas e estavam à mesa da sala de estudos tomando chás que Selene havia preparado. A aprendiz os achou tão bons quanto os de Arthus e sentiu-se satisfeita por isso. As duas mantinham-se em silêncio a maior parte do tempo. Quando ouviram alguém bater à porta, Selene se precipitou em levantar e atender.

            — Senhora Zahra — disse Selene, sorrindo, dando um passo para o lado convidando-a a entrar. — Quer que eu a deixe com Nirina para que possam conversar?

            — Por favor, Selene — assentiu Zahra, agradecendo.

            — Há chás na mesa — sorriu a mestra, antes de sair. — Sinta-se à vontade.

            — Muito obrigada, Selene, não devo demorar. Em breve a chamarei de novo.

            Selene assentiu com uma leve inclinação da cabeça e as deixou. Assim que Zahra entrou, Nirina se levantou.

            — Senhora Zahra! — exclamou sorrindo, empolgada.

            — Por favor, Nirina — ela riu. — Só Zahra está ótimo. Somos mestra e aprendiz a partir de agora.

            — Se assim desejar, Zahra — sentiu-se no lugar de Kevin e compreendeu como era difícil deixar o tratamento formal de lado ao se dirigir com alguém superior. Pensou no soldado e em Reno e sorriu. Constatou, surpresa, que estava com uma leve saudade da voz energética do líder do exército.

            — Como está se sentindo? — perguntou, sentando-se à mesa e pegando um pouco de chá.

            — Deslocada, como era de se esperar — ela deu um sorriso sem graça. — Já sinto falta de Arthus e de minha amiga Riana, mas estou gostando. Não de tudo, mas estou gostando.

            Zahra riu divertida. Imaginou que se daria bem com Nirina.

            — Você é sincera, gosto disso.

            — Obrigada, mestra.

            A clarividente sentiu comoção pela garota ao ser chamada desse jeito.

            — Sabe, eu posso sentir sua presença — disse Zahra. — Você tem um grande poder mágico. Magos clarividentes podem sentir a presença um do outro, assim como podem sentir a presença de magos negros. Sabia disso?

            — Sabia sobre os magos negros, não sobre os outros clarividentes. Não sinto nada da sua presença.

            — Isso acontece porque a presença dos magos negros é mais fácil de ser sentida. Algo quase automático, por não ser algo natural. A maioria dos magos negros não controlam outros elementos.

            — Por que isso? — indagou Nirina, curiosa.

            — Começou em batalhas, quando reis perceberam que controlar espectros dava uma grande vantagem nas guerras. Mas, como sabe, o que um espectro sofre reflete em seu invocador, e perder magos elementais seria perder demais. Por isso, vários reis ordenaram que a magia negra fosse ensinada a soldados comuns, para que pudesse combater com espectros e a vida dos magos natos fosse preservada.

            — Isso é um tanto covarde.

            — É o que eu também acho. Existe outra coisa que quero que saiba desde já. Magos negros também podem sentir a presença de clarividentes, mas não todos. Apenas os magos elementais que aprenderam magia negra conseguem sentir a presença dos clarividentes. Pessoas comuns que aprenderam magia negra não podem sentir um mago clarividente, o que era uma desvantagem nessas guerras. Clarividentes encontravam os invocadores dos espectros e os matavam de surpresa. Já com os magos elementais que aprenderam magia, é um pouco mais difícil, embora não tanto, já que a concentração para controlar os espectros é alta demais.

            — É bom saber mais sobre isso — disse Nirina, tomando um pouco de sua xícara. — Estou ansiosa para começar com as aulas de clarividência.

            — Eu também estou — admitiu Zahra.— Nunca tive uma aprendiz antes. É bom que saiba desde agora que aprender magia clarividente requer, acima de tudo, muita meditação e concentração. Consiste em treinar e controlar sua mente, que tem um poder maior que a dos magos comuns e, sem a preparação necessária, pode fugir de seu controle. É como uma faca de dois gumes: sem o treinamento adequado, essa habilidade pode te levar à loucura. Mas não se preocupe — tranquilizou-a —, isso não vai acontecer agora que vamos começar com as aulas.

            — Fico feliz e aliviada — disse Nirina. — Será hoje?

            — Amanhã. Hoje quero que você arrume todas as suas coisas e se acostume com o lugar onde vai morar. Já conheceu seus vizinhos aqui ao lado?

            — Existem aprendizes morando aqui também?

            — Sim — sorriu Zahra. — Outros aprendizes, geralmente da família do Rei ou conhecidos, que futuramente servirão no exército de magos. Gostará de conhecê-los.

            — Espero que sim mesmo — assentiu Nirina. — Agora preciso de novos amigos, já que não tenho mais Riana.

            — Eu posso contar como uma? — perguntou, com um sorriso discreto.

            — É claro que sim! — respondeu Nirina, surpresa e satisfeita. — Muito obrigada por tudo, Zahra.

            — Vejo-a amanhã?

            — Com toda certeza, mestra.

            — Cuide-se — sussurrou Zahra. — Existem alguns predadores te rondando — ela riu.

            — O quê?

            — Amanhã lhe conto mais. Vou chamar Selene de volta.

            — Muito obrigada por tudo.

            Zahra sorriu e se reverenciou de forma suave. Nirina ficou sozinha durante algum tempo no quarto até que sua outra mestra voltasse, pensando no que a clarividente havia falado antes de sair.

            — Nirina — disse Selene, da porta. — Devemos começar nossas aulas amanhã, assim como suas aulas com Zahra. Ela lhe avisou, certo?

            — Sim — respondeu, terminando de tomar o chá.

            — Devo lhe deixar sozinha agora para que descanse, logo virão chamá-la para o almoço com os outros aprendizes. Encontre-nos no salão principal, o que você chegou agora cedo. Vou mandar alguém para arrumar essa mesa e levar as xícaras embora.

            — Certo — sorriu Nirina, desacostumada a não fazer nada. — Obrigada.

            Pouco tempo depois que Selene saiu, entrou uma serviçal baixa e magra, que tinha os movimentos rápidos e precisos, e que entrou em silêncio e saiu em silêncio reverenciando Nirina de forma breve em despedida. A aprendiz ergueu uma sobrancelha e foi para a cama de seu quarto, jogando-se no colchão.

            Sentiu-se sozinha novamente. Suspirou pensando em Arthus e como queria ter alguém para conversar. Passou pouco tempo deitada olhando para o teto até que ouviu batidas à porta. Seria Selene ou Zahra de volta? Será que elas haviam esquecido algo? Percebendo o quanto estava feliz por ficar sozinha, suspirou sem vontade, mas colocou uma expressão amena no rosto antes de atender. Quando a abriu, no entanto, sentiu vontade de fechar.

            — Olá, Nirina — disse o visitante, estendendo a mão para cumprimentá-la. Ela a apertou sem vontade e se forçou a abrir um sorriso amigável.

            — Pois não, Martin? Em que posso ajudá-lo?

            — Vim ver se a nova aprendiz precisa de algo — disse ele, com um irritante sorriso no rosto.

            — Estou bem, obrigada. Tenho Kevin para olhar por mim.

            — Kevin... Sei — riu Martin, cruzando os braços à frente do corpo e erguendo as sobrancelhas. — Não vai me convidar para entrar?

            Nirina deu um passo para o lado em silêncio, convidando-o com um gesto simples da mão, estendendo-a para o interior do cômodo.

            Martin entrou e olhou em volta, ainda com os braços cruzados. Sentou-se à mesinha sem ser convidado e Nirina manteve-se em pé.

            — Nenhum chá? Nada?

            — Desculpe — disse a aprendiz, fingindo arrependimento. — Você veio sem avisar e eu cheguei há pouco.

            — Ah, é claro — riu Martin. — Você tem razão. Então, o que está achando da nova casa?

            — É ótima.

            — Deve se sentir sozinha, não? Sem Arthus para lhe fazer companhia...

            — Um pouco, mas eu me acostumo.

            — Sábia — disse ele, sem abandonar o sorriso irritante que tinha no rosto. — E o que já sabe sobre os mais importantes da Corte, aqueles que os receberam na chegada?

            — O suficiente — limitou-se a dizer, arrancando outra risada de escárnio de Martin. — Como disse, cheguei há pouco tempo.

            — Entendo, entendo — disse, levantando. — Só tome cuidado com as pessoas em que quer confiar. Sabe, esse mundo é bem diferente da casinha de madeira em que Arthus vivia, espero que ele tenha te falado tudo sobre isso.

            Nirina manteve-se em silêncio, feliz pelo mago ter feito menção de ir embora.

            — Ah, se precisar de algo, não hesite em me chamar. Voltarei para visitas regulares, às ordens da Rainha.

            — Obrigada — disse, segurando a vontade de mandá-lo embora de uma vez por todas.

            Quando abriu a porta, avistou alguém que com certeza lhe faria uma visita agradável: Reno. Estava se sentindo como a atração principal do dia, mas imaginou que fosse algo normal. Assim que o líder dos soldados se aproximou do líder dos magos, no entanto, pareceu ignorar completamente que Nirina estava ao lado.

            — O que você veio fazer aqui, Martin? — disse Reno em tom áspero, um tom que Nirina nem imaginou que sua voz fosse capaz de adquirir.

            — Ora, Reno e sua simpatia de sempre para comigo — Martin disse, rindo. A aprendiz ficou olhando para os dois, imaginando qual era o desentendimento entre eles. “Não deve ser difícil se desentender com Martin, afinal”. — Vim apenas ver se nossa querida aprendiz necessita de algo.

            — Com certeza não — olhou para Nirina com um sorriso, depois afinou os olhos para o mago. — Dá o fora daqui.

            — Estava mesmo de saída — falou Martin, como se não quisesse admitir que faria o que Reno pedia —, não se preocupe. Mas voltarei. A Rainha Naama me pediu que ficasse de olho em Nirina.

            — Imagino mesmo qual deve ser a preocupação da Rainha com a jovem — depois pigarreou, lembrando-se de que Nirina estava parada ao lado. — Suas roupas — riu Reno, arrancando um rosnado de Martin. — Está demorando pra sair, Martin, quer ajuda?

            — Não — respondeu Martin, irritado. — Até mais, Nirina. Só pra constatar, eu tentei ser seu novo mestre — acrescentou, desafiando o olhar de Reno. — Se não gosta da minha companhia, agradeça a Zahra por ter sugerido Selene, que há anos não tinha uma aprendiz do reino. — Sentiu um tom de desprezo enquanto ele mencionava o nome da nova mestra de água, então lembrou que Martin odiava Hazael e Selene era apaixonada pelo mago de fogo. Ele provavelmente sabia disso.

            — Sai logo daqui, Martin! — disse Reno, elevando a voz. — Duvido que a sua magia lhe servirá muito bem se eu decidir desembainhar a minha espada.

            — Cuidado, Reno, cuidado — sorriu, aquele sorriso irritante novamente. — Você tem falado demais ultimamente. Não vá perder seu cargo por isso, hein?

            — Esquece que ocupamos o mesmo nível hierárquico? Saia de uma vez por todas ou saio eu.

            — Martin — disse Nirina, chamando a atenção dos dois homens. — Faça como Reno pede, por favor. Sem mais discussões em frente a meu quarto, e eu quero a companhia do líder dos soldados. Queira fazer a gentileza.

            Martin ergueu uma sobrancelha, surpreso com a atitude e a educação da garota. Foi sábio o suficiente para sair em silêncio enquanto Reno exibia um sorriso vitorioso, tirando a mão da espada atada à sua cintura.

            — Muito obrigado pela intervenção, Nirina. Eu estava prestes a te desrespeitar com uma violência desnecessária.

            Nirina se inclinou para perto de Reno. Com um sorriso, sussurrou:

            — Podia ter dado um soco nele por mim — depois, riu, seguida por Reno. — Queira entrar, por favor.

            O líder dos soldados seguiu a aprendiz, fechando a porta atrás de si depois.

            — Martin parece esquecer que eu, embora inexperiente, sou uma maga clarividente. Dificilmente vou me enganar com relação à personalidade de alguém.

            — Ele é assim mesmo — disse Reno. — Vim só para uma visita rápida.

            — Veio em boa hora para me salvar de Martin.

            — Ele lhe disse algo desagradável? Porque ele parece ter um talento natural para essas coisas.

            — Não exatamente, mas era sempre insinuante.

            — Como esperado. Se precisar de ajuda, me chame. Pode ser por Kevin também. Eu soube que Martin estava de olho em você por isso designei um de meus homens mais fiéis para me manter a par da situação. Você pode confiar em Kevin.

            — Muito obrigada, Reno — disse, comovida. — Sua ajuda é de grande valia.

            — Você é diferente, sabia? — ele riu, fazendo-a erguer uma sobrancelha. — Fala como uma pessoa mais velha apesar da idade. Me faz lembrar de Zahra.

            — Isso é um elogio e tanto, obrigada.

            — Vamos nos dar muito bem, mas voltarei, às minhas ordens — riu ao lembrar de Martin, fazendo a jovem sorrir. — Vou dizer algo desnecessário, mas que vale a pena relembrar: tome cuidado com esse homem.

            — É. Você não é o primeiro a me dizer isso.

            — Pois é, ainda existem algumas pessoas sensatas por aqui. Bem — disse Reno, aproximando-se da porta — você deve estar cansada de receber tantas visitas. Deixarei que descanse até a hora do almoço.

            — É bom vê-lo, Reno. Seu bom humor é contagiante.

            — Eu tento! — riu de forma divertida, acenando. — Vejo-a em breve.

            — Até mais, Reno!

            Fechou a porta de seu quarto, suspirando. As pessoas que não gostavam de Martin diziam para tomar cuidado com ele; Martin a dizia para tomar cuidado com as pessoas que ele não gostava. Sentia-se confusa tão cedo e, apesar de gostar de Selene, Reno e Zahra, não conhecia nenhum dos três há bastante tempo para confiar cem por cento. Sabia que detestava Martin. Detestara-o desde que soube que ele era responsável pela perseguição a Hazael. Martin podia dizer o que quisesse, mas jamais confiaria nele.

            De repente, lembrou-se da recepção áspera da Rainha e o que Nasser havia dito, sobre problemas passados que a Rainha não conseguia superar. Franziu a testa enquanto olhava para o teto, deitada na cama, apreciando o silêncio do lugar. Mas a hora passava rápido e em breve a chamariam para o salão principal, onde se reuniria com os outros aprendizes para o almoço então outro ritual de apresentações seguiria.

            Fechou os olhos e chegou a sentir a respiração ficar mais profunda. O colchão era confortável e o silêncio, aconchegante. Sentou-se na cama assustada pelas batidas à porta, e logo foi atender. Torceu para que não fosse Martin, nem a Rainha Naama.

            Assim que abriu, a mesma serviçal rápida e silenciosa que levara as xícaras do chá estava a sua frente. A moça fez uma reverência leve e anunciou:

            — Estão esperando sua presença no salão principal para o almoço com os outros aprendizes, senhorita Nirina — depois, entregou túnicas novas, de cor roxa: a mesma cor que Zahra usava enquanto estava no reino, como clarividente. — Deve usar essas túnicas publicamente como uniforme agora. Vista-se e estarão à espera. Necessita de mais alguma coisa?

            — Não, muito obrigada — disse a aprendiz com um sorriso, e logo a serviçal se virou e foi embora, sem dizer nada a mais.

            Nirina entrou e trocou as roupas pela túnica roxa. Ela era linda. O tecido era fosco como a túnica azul de Martin, mas de um roxo escuro que a aprendiz adorou. Era larga, descia até seus pés e as mangas eram igualmente largas. O tecido pendia de seus pulsos, dando-lhe um ar de ser mais velha. Nirina gostou e tomou o caminho até o salão principal.

            Quando chegou, avistou várias pessoas desconhecidas. Provavelmente eram os aprendizes e seus mestres. Percebeu que Selene e Zahra estavam ali também, e ela logo foi ao encontro das duas.

            Todos estavam em silêncio e Zahra logo seguiu com as apresentações.

            — Nirina, você terá tempo para conhecê-los melhor, mas — conduziu sua aprendiz pela fileira, da esquerda para a direita: — Adrien e seu mestre, Raoni.

            Ambos se reverenciaram e deram as boas vindas. Como magos de terra, vestiam a túnica cinza escuro. Os aprendizes não tinham as pontas das túnicas enfeitadas, e os mestres tinham as pontas enfeitadas como as de Martin, mas com a cor prateada.

            — Ísis e sua mestra, Shira. — Como magas de fogo, vestiam a túnica vermelha. — Aiko e seu mestre, Sven — magos de ar, vestiam a cor verde. — Laina e sua mestra, Ranya — como também eram magas de ar, vestiam o verde. — E, por fim, aprendizes, devem ter ouvido sobre Nirina, maga de água e aprendiz de clarividente. Selene e eu seremos suas mestras. Devemos seguir para o refeitório?

            Nirina respirou fundo de forma inaudível e seguiu suas mestras. Estava cansada de tantas apresentações. Percebeu que queria deitar em sua cama e dormir pelo resto dia.

            Chegou ao almoço, no entanto, um grande banquete perfeitamente servido. Poucos serviçais iam e vinham, terminando os últimos detalhes. Ela sentiu falta dos almoços simples na casa de Arthus.

            O almoço seguiu de forma rápida. Os aprendizes e seus mestres estavam em silêncio, como se temessem dizer algo. Nirina gostou da comida, mas não gostou muito da companhia: se não fosse pelas tentativas de Selene e Zahra de conversar, ninguém teria dito uma palavra.

            Saiu rápido do salão quando terminou o almoço, despedindo-se de todos de forma atenciosa e se enfiou em seu quarto. Jogou-se na cama e abraçou seu travesseiro, sem conseguir parar de pensar em Arthus e Riana. Estava rodeada por pessoas desconhecidas e de costumes estranhos, e ela se sentia completamente perdida.

            Não demorou muito para adormecer, desejando que o dia seguinte demorasse a chegar.


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