A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Novas personagens serão introduzidas aqui. Boa leitura!



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            O soldado abriu a porta, que dava para o salão principal do castelo. Era muito espaçoso e bonito, com decorações belas e simples. Nada muito espalhafatoso, mas charmoso. Ele seguia com um tapete marrom de bordas douradas até a escada central, que se dividia em duas mais para cima, levando a dois caminhos do andar de cima. Olhando para as escadas, Nirina percebeu que todos que a esperavam estavam ao pé da escada principal. Passou os olhos por todos e reconheceu um rosto familiar: Zahra.

            — Senhores — ela ouviu a voz de Kevin, alta, chamando a atenção de todos. — Apresento-lhes Nirina de Sira, a aprendiz de maga clarividente do reino.

            Todos ficaram em silêncio enquanto ela se aproximava. Kevin andou com Nirina até seus anfitriões, que estavam em fila, um ao lado do outro. A primeira pessoa que se apresentou a ela foi Zahra, que estava em uma das pontas da fileira.

            — Nirina — ela disse, com uma leve inclinação da cabeça. — Seja bem vinda. Acho que você já me conhece.

            Nirina se preparou para usar o vocabulário mais formal e educado que havia aprendido com seu antigo mestre. Como mago da Corte, Arthus sabia exatamente como ela devia se portar, caso precisasse, algum dia, falar com os senhores do reino.

            — O que é uma honra, senhora Zahra — ela respondeu, com uma leve reverência.

            A próxima mulher era um pouco mais alta que Zahra. Não era atraente, mas era simpática. Seus cabelos eram longos e escuros. Observou, com curiosidade, que devia parecer com sua mãe. Usava a túnica que era uniforme dos magos do reino, azul, de um tecido fosco e elegante.

            — Saudações, Nirina — disse a mulher, com um sorriso carinhoso. — Chamo-me Selene, e a partir de hoje serei sua mestra em magia de água.

            — É um prazer conhecê-la, senhora Selene. — Limitou-se a dizer, pensando em Arthus. A mulher a sua frente parecia atenciosa e compreensiva, no entanto, e ela teve uma boa sensação a respeito da nova professora.

            O próximo da fila era um homem imponente, de ar arrogante. Usava a mesma túnica que era uniforme dos magos do Rei, azul como a de Selene, mas com bordas douradas na ponta das mangas e nas bordas da gola em seu pescoço.

            — Nirina — ele disse, seco, em tom sério e sem um sorriso como o dos outros. — Meus cumprimentos. Chamo-me Martin, sou o líder dos magos do exército do Rei. Provavelmente trabalharemos juntos em alguns anos.

            — É uma honra, senhor Martin — disse Nirina, contrariada. O homem à sua frente era extremamente arrogante e nada simpático, e ela sentiu vontade de afinar os olhos enquanto o encarava. “Espero ansiosa pelo dia em que lhe darei ordens”, teve vontade de responder, mas disse algo bem diferente: — Espero ansiosa pelo dia em que trabalharemos juntos.

            Seu próximo anfitrião também era um homem, mas bem diferente de Martin: este a recebeu com um sorriso caloroso e um aperto de mão firme.

            — Bom dia, Nirina, seja bem vinda — ele disse, olhando-a de forma tão simpática que ela se obrigou a sorrir. — Sou Reno, líder dos soldados do exército do Rei. Eu designei Kevin para a senhorita — abriu mais o sorriso, quase rindo. — O que achou dele, hein? Bom homem, não é?

            — É um prazer e uma honra imensa conhecê-lo, senhor Reno — ela se reverenciou de leve, divertida pela personalidade do líder. — Com certeza, Kevin é um bom homem. Obrigada pela escolha.

            Atrás de Nirina, Kevin encolhia-se devagar. Havia pedido ao chefe que não fizesse menção a nada do tipo. Ele havia dito que não diria nada, mas Reno não conseguia resistir a uma oportunidade de brincar com seus homens. Quando o soldado encarou o líder, este deu uma piscadela, sorrindo. Kevin sorriu sem jeito e desviou o olhar.

            O próximo era alguém que ela conhecia: Rei Nasser. Ela parou a sua frente e fez uma reverência profunda.

            — Erga-se, Nirina — ele disse, sério. Quando ela a olhou, ele abriu um sorriso. — Seja bem vinda. Você é uma de nós agora, aja como tal.

            — Muito obrigada, meu senhor — limitou-se a dizer. Devia seguir o que ele havia dito. — Estou honrada.

            Ele assentiu e ela olhou para a próxima anfitriã, outra mulher: a Rainha Naama. Ela era diferente do que imaginava. Muito mais séria que o Rei, tinha o olhar esperto e afiado. Parecia desconfiar de todos, e era mais antipática que seu marido. Os dois nem mesmo combinavam como casal, ela reparou mentalmente.

            — Saudações, jovem aprendiz — ela disse, sem tratá-la pelo nome. — Seja bem vinda.

            — Muito obrigada, minha senhora — respondeu. — É uma honra.

            — Bem — disse Nasser, quando percebeu que as apresentações estavam terminadas. — Agora que está tudo certo, Selene, por favor, leve Nirina até seus aposentos. Kevin será o responsável por levar suas coisas até seu quarto.

            — Providenciarei roupas adequadas — disse Naama, em tom áspero.

            — Naama, agora não, por favor — o Rei disse, virando os olhos suavemente. — Existem coisas mais importantes a serem resolvidas.

            — Ela é maga do Reino agora, uma maga clarividente. Não pode andar por aí como se ainda fosse qualquer uma.

            Naama disse e virou-se para as escadas, começando a subi-las. Nirina foi sábia o suficiente para manter-se em silêncio enquanto Nasser voltava-se à aprendiz.

            — Desculpe-me, Nirina. Ela teve algumas frustrações no passado que não exatamente dizem respeito a você e tem dificuldade em superá-las.

            — Está tudo perfeitamente bem, meu senhor — respondeu a aprendiz, andando para o lado de Selene, que a chamou com um movimento suave da mão. — Obrigada por se importar.

            Nasser acenou afirmativamente com a cabeça e deixou que Nirina seguisse Selene até seu quarto. Zahra se aproximou do Rei e chegou bem perto.

            — Parece que Naama ainda não consegue esquecer, não é mesmo?

            — Fale com ela, Zahra — disse o Rei. — Diga que isso não pode interferir na vida da menina, e que ela terá que se acostumar com a ideia de que precisamos dessa aprendiz aqui, formada como maga clarividente.

            — Sim, senhor — sorriu Zahra, e em seguida subiu as escadas.

            Nasser mordeu o lábio inferior de leve, percebendo que todos já haviam saído, e subiu as escadas pouco tempo depois de Zahra.

            Selene guiou Nirina até o lugar que era preparado para os aprendizes de magia do reino. Era uma casa distanciada do castelo principal, extremamente confortável, que tinha vários quartos: um para cada aprendiz. Cada quarto tinha três cômodos pequenos: um quarto de dormir, uma sala de estudos – onde os aprendizes geralmente tinham aulas individuais – e o banheiro. Nirina gostou do lugar, apesar de preferir a casa de Arthus, com certeza.

            Selene abriu a porta e logo chegaram os serviçais com os pertences da aprendiz. As empregadas distribuíram tudo rapidamente nos guarda-roupas e deixaram os pertences pessoais por conta da nova moradora. Ela organizava as coisas quando Selene atraiu sua atenção:

            — Então, como está seu mestre, Arthus? — ela perguntou, com o sorriso atencioso de sempre. Nirina a olhou e continuou a arrumar as coisas, pensativa.

            — Bem — limitou-se a dizer, voltando a organizar.

            — Sabia que — prosseguiu Selene, numa tentativa de estabelecer maior contato com sua nova aluna — eu fiquei feliz quando soube que você era aprendiz de Arthus?

            — Por quê? — indagou a aprendiz, franzindo o cenho. — Você o conhece?

            — Arthus? — Selene riu, lembrando-se. — Ele foi meu mestre.

            — Sério? — Nirina arregalou os olhos, surpresa. — Isso faz tempo?

            — Um pouco — sorriu, olhando para os lados. — Ele foi meu primeiro mestre, na verdade. Não chegou a me formar, pois teve que sair. O Rei determinou que ele não seria mais um mago a seu serviço depois de ter ajudado um...

            — Um soldado justo a fugir do país — completou Nirina, séria. — Arthus me contou sobre Hazael. Estamos falando do mesmo homem, certo?

            — Sim — Selene inclinou a cabeça, sem abandonar o sorriso. — Arthus lhe contou tudo sobre ele? Estranho, pois ele nunca falava para ninguém sobre essa história.

            — Pois é. Ele disse que achou que eu merecia saber um pouco mais sobre seu passado. Mas esse homem, esse mago chamado Hazael — disse Nirina, parando de arrumar as coisas por um instante. — Você chegou a conhecê-lo?

            — Sim — respondeu a professora, desempacotando algumas das coisas da aprendiz. — Já que você sabe tanto sobre essa história, vou te contar mais uma coisa.

            Nirina voltou-se completamente para Selene e se sentou sobre a cama.

            — Na verdade, eu que pedi para Arthus que ajudasse Hazael a fugir de Sira — ela disse, arrancando um suspiro surpreso da jovem maga. — Eu — Selene sentiu o rosto esquentar, corando — era apaixonada por Hazael na época, e não queria que ele fosse pego pelos guardas de Martin.

            — Então... Espere — interrompeu a aprendiz, erguendo uma das mãos — Arthus me disse que existia um mago de água que odiava Hazael. Esse homem... É Martin?!

            — Exatamente — assentiu Selene. — Os dois não se davam bem, especialmente por serem magos de fogo e magos de água. Mas não é sempre assim. Eu, como maga de água, me apaixonei por ele também, que era de fogo. Quando os dois magos são homens e de elementos opostos, as disputas tendem a ficar mais acirradas.

            — Entendo — disse Nirina. — Quando Arthus me contou essa história, disse que podia estar errado, mas pensava que a maior parte da perseguição a Hazael havia acontecido por causa de um mago de água que o odiava. Esse homem é Martin — Selene confirmou com a cabeça, fazendo-a continuar. — Você acha que Arthus tem razão?

            — Acho. Martin odiava Hazael o suficiente para querê-lo morto.

            — O que Hazael fez assim de tão terrível para ele?

            — Essa é uma parte da história que você vai ter que esperar um pouco mais para ouvir, pequena Nirina — disse Selene, com o sorriso afável de sempre. — Mas aos poucos vamos conversando, e eu vou lhe contando mais sobre cada pessoa que faz parte da Corte e as minhas histórias. Combinadas?

            — Sim — sorriu Nirina, sentindo uma simpatia imensa pela nova mestra. — Muito obrigada pela conversa. Vejo que nos adaptaremos bem rápido!

            — Isso é ótimo! — disse, segurando uma das mãos de sua aprendiz. — Fico realmente feliz. Vou te ajudar a terminar de arrumar tudo. Quer minha ajuda?

            — Seria muito bom — Nirina levantou, voltando a arrumar as coisas.

            As duas ficaram em silêncio por um tempo, silêncio quebrado pela voz de Selene, que às vezes cantava. Ela tinha uma voz suave, de beleza inigualável, que tranquilizava a aprendiz. Nirina percebeu que gostava de ouvi-la cantar.

            — Selene — chamou, voltando-se a ela e juntando as mãos na frente do corpo. — Hazael... Você sabe onde Hazael está?

            — Não sei — mentiu Selene, protegendo o amigo, sem querer revelar o fato de que havia voltado à Ima. — Por que pergunta?

            — Ele parecia um homem justo. Admiro o fato de ele ter se recusado a matar um inimigo que implorava pela vida quando estava quase morto. E não gosto de Martin, desde a primeira vez que o vi hoje cedo.

            — Não se preocupe, Nirina — disse Selene, tentando tranquilizá-la. — Aposto que Hazael está bem. Ele era esperto o suficiente para fugir de seus perseguidores e sobreviver.

            — É bom saber disso — ela sorriu, voltando a arrumar as coisas. — E quanto a Martin? Quem é ele?

            — Martin... — Selene mordeu o lábio inferior, pensativa. — Ele é um homem ambicioso, que passaria por cima de qualquer um para conseguir seus objetivos. Ouço dizer que ele inveja o Rei Nasser por ter se casado com a Rainha Naama e sempre sonhou em tomar seu lugar como governante de Sira, mas podem ser só rumores. Você deve tomar cuidado com ele. Seja o mais evasiva possível com as perguntas que ele lhe fizer, e acredite: ele vai te questionar sempre que tiver a oportunidade. Se tiver dúvidas, Nirina, por favor, fale comigo.

            — Por que o Rei ainda o mantém como líder dos magos de seu exército? — Nirina franziu o cenho, surpresa. — Por que um cargo tão alto a um homem tão prepotente? Podia ser alguém como Reno.

            — Hazael diria que é porque o Rei não sabe escolher seus subordinados — riu Selene, lembrando-se das palavras do amigo de dias atrás. — Mas esqueça, Nirina. Não cabe a nós julgar as decisões tomadas pelo Rei. Quanto a Reno, acho que percebeu: nele você pode confiar. É um homem justo, simpático, divertido e energético. Ele sempre faz uma brincadeira quando passa por você, ou brinca com seu cabelo. Todos os seus homens os seguem por amor, porque o admiram e o respeitam. Acho que se eles tivessem que se matar em seu nome, fariam sem pensar duas vezes. O contrário de Martin: todos os seus homens o seguem por temor. Acho que se eles tivessem que morrer em seu nome, deixariam que morresse.

            Nirina assentiu e soube que era o suficiente para saber por aquele dia. Sentiu-se grata, no entanto, por ter uma mestra tão carinhosa e disposta a lhe contar tanto sobre as coisas.

            Selene, por sua vez, não conseguia parar de pensar em Riana e no fato de que sabia que as duas eram amigas. Estava ansiosa por encontrar Hazael, Ian e Riana novamente e poder conversar com eles. Teriam muita coisa para compartilhar, e Hazael teria algumas surpresas. Sorriu em silêncio ao perceber como a história de Nirina e Riana parecia se entrelaçar sem que as duas soubessem. Algumas coincidências eram até mesmo estranhas demais. A mestra desempacotou as últimas coisas da aprendiz e sorriu, então voltou a cantar.


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