Cidade Atual – Tóquio

Local: Apartamento de Levy

Nota: Tentando entender as cartas.

Lá estava eu sentada sobre o sofá da sala pensativa.

“Um fim inevitável para dois corações que se amarão para toda a eternidade”.

A frase ecoou novamente em minha.

— Droga! —grunhi irritada.

— O que houve Lu-chan? Desde que você chegou está ai sentada... Pensativa? — Levy acomodou-se ao meu lado com duas canecas de chocolate quente, uma para mim e outra para ela.

— Encontrei uma cigana... — respondi após bebericar o conteúdo quente.

— E ela rogou uma praga em você? Por isso está assim? — perguntou-me divertida.

— Idiota... — pela primeira vez no dia eu consegui rir. — Vou dormir, amanha cedo terei que ir ao escritório do Loki para assinar alguns papéis.

— Vai mesmo tomar a presidência do seu pai? — questionou-me receosa.

—Ainda não sei... — suspirei pesadamente. — Irei pensar bem sobre isso. Boa noite baixinha!

Levantei-me e baguncei todo o seu cabelo deixando-a possessa. Ouvi-a praguejar enquanto rumava para o corredor. Abafei o riso, ela era mesmo uma pessoa divertida.

****

Meu corpo se remexia de acordo com o ritmo da música. Meus quadris estavam soltos fazendo com que minha saia verde esmeralda se balançasse suavemente, meus braços ora estava sob a cabeça, ora estava em frente a minha silhueta balançando-se freneticamente fazendo com que as minhas variadas pulseiras se chocassem e ecoassem um melodioso som.

— Você está ótima Lateefah! — ouvi alguém gritar para mim.

Meus lábios se curvaram num doce sorriso. Eu adorava aquilo. Eu tinha o dom para aquilo... Eu encantava as pessoas com o que eu sabia fazer, e fazia muito bem... A dança estava em meu sangue e foi com ela que eu havia o conquistado... Verano, o homem que me fizera mulher. O homem que me escolhera para si... O homem pelo qual eu me apaixonava mais e mais a cada dia.

— Corram! Corram! Os cavaleiros estão vindo! — alguém gritou desesperadamente.

— Cavaleiros do reino a essa hora do dia? — parei de dançar imediatamente, corri meu olhar por toda a praça central de Madri na esperança de encontra-lo.

— Venha Lateefah! — Sarita, minha bela amiga, loira dos olhos intensamente azuis, puxou-me para fugir consigo.

— Preciso encontra-lo! — puxei meu braço fazendo com que ela me soltasse.

— Os cavaleiros irão te prender... — cortei-a.

— Isso se eles me capturarem — respondi convicta.

—Boa sorte! — murmurou-a antes de nos separarmos.

Comecei a correr como uma louca. Precisava encontrar Verano. Precisava tê-lo em meus braços.

Logo me deparei com um beco sem saída. Droga!

“Lateefah sua idiota, é claro que ele está bem! Esqueceu-se? A única cigana aqui é você, ele é um homem nobre.”

Minha consciência tinha razão. Decidi ignorar toda a emoção e voltar ao nosso esconderijo.

— Ora, ora... O que temos aqui! — um soldado do reino aparecera em minha frente. Seus olhos castanhos avermelhados arrepiaram-me, seus cabelos negros desalinhados lhe davam um ar maquiavélico. — Uma pirralha fugitiva — ele aproximou-se de mim empresando-me contra a parede. — O que devo fazer com você? É tão bela! — sua mão começou a percorrer minha barriga que estava exposta.

— Me solta! — rosnei tentando me livrar dele, mas era em vão.

— Eu adoro mulheres ferozes — disse-o antes de levar os lábios ao meu pescoço e lambe-lo de forma vulgar. — Por que não nos livramos dessas roupas? Elas só irão nos atrapalhar não é mesmo? — num piscar de olhos ele rasgou toda minha blusa deixando-me apenas com o sutiã.

— Por favor, pare... — disse eu lutando contra as lágrimas que já estavam vindo a tona.

— Relaxe boneca... A diversão está apenas começando — senti sua mão abaixar minha saia, comecei a me debater em seus braços. Mas era tudo em vão, sua força era superior a minha.

— Me solta! Me solta! — gritei desesperada, mas ele levou seus lábios aos meus, calando-me com um beijo não correspondido.

— Solte-a agora mesmo Pillo! — uma voz grave e autoritária soou no local fazendo com que o soldado, chamado Pillo me soltasse.

— Ora, ora veio se juntar a nós Aguijón? — indagou o moreno com um sorriso malicioso nos lábios.

Aguijón era um homem tão bonito quanto Verano. Sua pele alva combinava perfeitamente com seus belos olhos azuis e seus cabelos acastanhados. Ele era alto e possuía um belo físico... Resumindo se ele se juntasse ao moreno a minha frente, certamente não sobreviveria.

Encarei-o receosa por alguns instantes, sua expressão que antes era irritadiça tornou-se séria.

— Retire-se agora mesmo Pillo — ele suspirou.

— Não acredito que irá interromper a minha diversão? — o outro questionou incrédulo.

— Vá logo, antes que eu faça algo que me arrependerei depois — ao ouvir tais palavras Pillo rumou para a saída do beco, mas ele não estava satisfeito com as decisões do outro. — Desculpe-me por isso — ele caminhou até mim, fazendo com que eu recuasse alguns passos. — Está tudo bem, eu não irei lhe machucar.

O moreno retirou sua capa e estendeu-a para mim, com a mão tremula peguei-a e a pus sobre meu corpo desnudo.

— Obrigada... — sussurrei.

— Pode deixar que eu cuido dela a partir de agora — ouvi aquela voz rouca que aquecia meu coração.

— Por que eu a confiaria a você? Quem garante que não quer apenas se aproveitar dela? — Aguijón protestou. — O que sua noiva diria se descobrisse que está abusando de uma jovem cigana?

Arregalei meus olhos. Meu coração começou a doer.

— Noiva? — minha voz quase falhou.

— Eu posso explicar Lateefah... — Verano veio até mim — Por favor, escute-me.

—Você mentiu para mim — já não conseguia evitar as lágrimas, a dor em meu ser era enorme.

Encarei os dois rapazes presentes ali, então corri. Corri para longe, para aliviar a minha dor. Eu fui tão boba. Como pude pensar que alguém como ele amaria alguém como eu?

Eu estava tão perdida em pensamentos que nem avistei a carruagem vindo em minha direção. Quando dei por mim já estava sendo derrubada e pisoteada pelos belos cavalos brancos.

— Não! — acordei ofegante e desesperada.

— Lu-chan o que houve? — Levy adentrou em meu quarto acompanhada de Erza.

— Os cavalos... Mataram-me, não eu... A Lateefah — respondi ofegante.

— Calma Lu-chan, foi só um sonho — a azulada sentou-se em minha cama e abraçou-me na tentativa de acalmar meu coração que estava doloroso e agitado.

****

Eu estava inquieta, aquele sonho havia me deixado atordoada, fiquei a noite toda refletindo sobre ele.

Verano havia mentido para Lateefah, e agora ela estava morta.

— O que está havendo Lu-chan? — Levy sentou-se ao meu lado trazendo em mãos uma xícara de café e um enorme pedaço de bolo.

— Achei que não tomasse cafeína... — disse num tom desanimado.

— Às vezes abro alguma exceção — respondeu-a me olhando de soslaio. — Mas e você? Está tudo bem?

— Só estou um pouco cansada, todo aquele alvoroço de madrugada me deixou atordoada — suspirei pesadamente.

Logo meu celular começou a tocar, no visor avistei o nome de Loki.

— Bom dia minha musa! — ouvi sua voz melodiosa ecoar do outro lado da linha. — Espero que esteja animada, porque as notícias que tenho são muito boas.

— Bom dia Loki! — forcei alegria em minha voz. — O que seria tão animador? — indaguei receosa.

— Estou em frente à porta do apartamento de Levy, se me deixar entrar, talvez eu possa explicar melhor.

— Tudo bem! — levantei-me num pulo e me direcionei a entrada.

Assim que abri a porta avistei-o. Como sempre estava belo, trajando seu terno Prada, que o deixava extremamente elegante. Para dar uma quebrada no look ele usava os fios dourados desgrenhados, dando um ar mais rebelde e sexy a sua feição jovial.

— Está linda como sempre — disse-o beijando minha mão.

— Obrigada Loki — sorri timidamente. — Por favor, entre! — fiz sinal para que ele entrasse e se sentasse no sofá, fechei a porta assim que o mesmo passou e segui-o. — O que poderia ser tão animador?

— Todas as ações que sua mãe deixou para você já estão em seu nome e sob sua posse — ele retirou alguns papéis de sua maleta e os pos sobre a mesa. — Agora você é a maior acionista da Magnólia Records — abri um grande sorriso. — Porém se quiser assumir a presidência terá que conseguir pelo menos metade dos votos dos outros acionistas.

— Tudo bem! — ignoro a ultima parte. — Acho que não servi para guiar a empresa, além disso, Jude morreria se eu tirasse dele o seu precioso cargo. Ele pode ter feito o que fez, mas ainda é meu pai.

— Sua capacidade de perdoar os outros é incrível — o loiro esboçou um lindo sorriso.

— Eu não perdoei, apenas lembrei que ele é meu pai... —minha voz saiu falha.

— Olha só parece que não sou a única rancorosa por aqui — ouvi a voz sombria de Erza ecoar pelo local. — Achei que a filhinha do papai fosse inofensiva — zombou-a. — Mas vejo que ela ataca tudo e todos. Talvez seja melhor eu me cuidar, quem garante que eu não serei a próxima vítima.

Assim que disse isso ela retirou-se me deixando tão confusa quanto Loki.

— Apenas a ignorem — Levy apareceu na sala trazendo consigo uma badeja com três copos de suco — A Erza não é do tipo sociável.

— Você arranjou uma colega bem estranha — Loki comentou ainda boquiaberto.

— Talvez ela só precise de ajuda — murmurei tão baixo para que eles não escutassem.

****

—Lu-chan vamos assistir a algum filme? Assim como fazíamos na turnê do Jellal, com direito chocolate, pipoca, refrigerante, Nutella e todas as coisas extremamente calóricas — a azulada sentou-se ao meu lado toda animada, trajando seu pijama listrado em tons de azul.

Assim que me deparei com seu olhar pidonho não consegui dizer não, na verdade ao menos me esforcei para contrariar, pois talvez aquilo pudesse ser divertido.

— Tudo bem... — suspirei derrotada — Mas você fará a pipoca...

— Enquanto você escolhe o filme... — ela fingiu estar brava.

Fitamo-nos por breves segundos e logo caímos na gargalhada. Não tardou muito para que ela rumasse para a cozinha e eu me perdesse no meio de seus filmes. Iriamos fazer uma noite tão divertida quanto às outras que tivemos na Europa, sem Erza, sem Sabertooth e acima de tudo sem sonhos malucos.

Estava perdida em pensamentos... Tudo estava tão bom... Tão tranquilo... Até que a campainha ecoou tirando-me do prazeroso transe.

— Lu-chan, atende a porta, por favor! — ouvi a azulada gritar da cozinha.

Revirei os olhos amaldiçoando o ser que me interrompera.

“Maldito” era a palavra certa para defini-lo.

Abri a porta demonstrando uma certa irritação, porém está só aumentou quando o ser adentrou a casa sem ao menos ser convidado e começou a vasculhar todos os cômodos em busca de Erza.

— Erza você precisa voltar para a banda — gritava-o desesperado. — Aqueles caras estão querendo minha cabeça por isso! — ele parou em frente à porta do quarto da ruiva. —Ei garota! — ele suspirou pesadamente. — Me desculpe pelas palavras cruéis que eu disse aquele dia, sabe eu estava de cabeça quente... E eu percebi que estava gostando mesmo da Lis... Talvez isso tenha piorado tudo.

— Eu não acredito no que eu acabei de ouvir Natsu Dragneel! — disse-a irritada ao escancarar a porta — Você está mesmo gostando daquela albina? Oh céus eu achei que você tinha bom gosto para mulheres — rosnou-a encaminhando-se para sala, ou seja, até mim.

— Não acredito que você ignorou meu pedido de desculpas? — ele fitou-a incrédulo.

Assim que o garoto entrou em meu campo de visão novamente notei que já o conhecia de algum lugar.

Natsu... Natsu... Ah sim o garoto que fora buscar Mirajane no café em Londres juntamente com sua namorada.

— Desta vez eu te perdoo pelos seus erros, mas na próxima não terá volta — disse a ruiva num tom autoritário, logo senti seu olhar sobre mim, um longo suspiro saiu de sua boca — Natsu a filhinha do papai está lhe comendo com os olhos. Acho que garotas assim nunca viram um homem descente.

Não tardou muito para que o rosado se virasse para me encarar. Agora eu tinha certeza, ele era o mesmo cara de Londres, o mesmo cara que estava usando fones quando a cartomante dizia todas aquelas baboseiras. Natsu Dragneel, foi assim que a Scarlet o chamou... E que belo Natsu.

— Você está brincando... — disse-o tremulo sem ao menos tirar os olhos de mim.

— Como poderia? Ela é filhinha de papai, garanto que fugiu de casa por causa de um casamento arranjado — torci o nariz ao ouvir tais palavras. — Ora, ora vejo que acertei a ferida.

— Erza... — ele suspirou profundamente. — Esta não é só uma filhinha de papai... Ela é Lucy Heartfilia — disse-o seriamente deixando a ruiva um tanto confusa.

— E quem seria Lucy Heartfilia? — perguntou-a com uma sobrancelha arqueada.

— A filha do dono da Magnólia Records — o rosado suspirou pesadamente.

A Scarlet arregalou os olhos, seu corpo ficou imóvel, sua respiração falhou, logo sua feição passou de pasma para arrependida.

— Droga... — ela esmurrou a parede, fazendo com que o rosado suspirasse pesadamente.

—Vejo que não sou o único que erra — ele sussurrou, logo passou os dedos em seus belos cabelos exóticos, outro suspirou saiu de sua boca. — Vamos ensaiar.

Ele deu meia volta e rumou para a porta. Não sei por que, mas senti um aperto em meu coração. Era algo inexplicável... Só o fato de vê-lo ir para a porta me deixou angustiada.

— Espera... — gritei involuntariamente.

Ele virou-se para me fitar... Seus olhos tão escuros encontraram os meus... E foi nesse momento que me esqueci de respirar... Parecia não existir mais nada ao redor... Para mim era somente eu e ele.

Natsu, do japonês verão... Afinal ele era quente como tal estação. Desde o momento em que os nossos olhos se cruzaram senti um estranho formigamento em meu ser... E este aumentava na medida em que íamos ficando mais próximos... Era uma sensação incrível, a qual eu queria sentir várias e várias vezes... Mal eu sabia que aquele garoto significava meu passado, meu presente e meu fim.

By: Lucy Heartfilia