Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 33
Parte XXXII


Notas iniciais do capítulo

Eu passei por uma semana de muitas coisas para resolver... Mas agora eu estou de volta para postar mais um capítulo.
E eu nem ia postar hoje porque eu sinceramente estou com um pouco de pena de acabar de escrever, mas algum dia eu tinha que fazer isso. =/
Aproveitem o antepenúltimo (?) capítulo desta fanfic.

Boa leitura :)



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Liberdade

Assim que Feliciano encontrou Andrija, ele a levou para uma cidade vizinha do campo de concentração. Levou-a para um casarão abandonado, que estava servindo de abrigo para os judeus que foram liberados dos campos.

E lá, um médico judeu refugiado os esperava. Feliciano deu o seu máximo para achar um médico confiavel para examinar Andrija.

E por falar nisso, Andrija estava bem diferente desde que foi presa. Os seus cabelos estavam curtos, ainda crescendo; e pensar que eram tão lindos... Tão grandes; mas aquilo não era o pior. Os olhos verdes esmeralda da moça estavam fundos, aprofundados no rosto anorexo e pálido. As roupas - que antes estavam apertadas nela - estavam largas, muito largas. Andrija estava pesando vinte quilos a menos do que antes era; estava com trinta e cinco quilos quando foi examinada.

O médico a olhou com tristeza, mas logo afirmou que ela estava bem e que poderia sobreviver se ela se tratar com um leve cuidado.

Nos primeiros três dias em que estava no abrigo, acompanhada do médico judeu, de Feliciano e dos outros judeus libertos, ela dormiu. Apenas acordava para comer alguma coisa, e comia com vontade, mas sempre com bons modos, não como os outros judeus esfomiados.

Felizmente, apenas nas três semanas que permaneceu lá, ela ganhou dez quilos, mas ainda estava muito abaixo do peso. Pelo menos, sua expressão anorexa já tinha desaparecido.

E Feliciano ia a levar de volta para Belgrado, sem muito prolongamento. Aquele era o dia, e Andrija carregava uma pequena mala para fora do abrigo. Ela vestia um vestido que fora doado para ela - um vestido novo e bem bonito; coube que nem uma luva na moça. -, um casaco - que apesar de masculino e ficar um pouco grande nela, ela aceitou com boa vontade - e um colar que foi-lhe entregue, um par de brincos também. Aquilo servia para ela ficar mais feminina e ser reconhecida como uma mulher.

Ela, com um sorriso, despediu-se do médico e agradeceu-o mil vezes. O médico, de meia idade, sorriu e falava que foi um prazer salvá-la.

Feliciano a esperava, em frente a um taxi. Ele sorria, porque tinha a salvo. Talvez, mesmo ela estando liberta, os britânicos obrigariam os presos a fazer uma longa jornada até suas casas. Do quanto Andrija estava doente, ela não poderia aguentar a longa jornada e morreria de inanição e cansaço.

Após isso, ambos entraram no carro. Andrija olhou para Feliciano, esperançosa.

– Como está Vencelau? - Ela perguntou.

– Está bem. Ele está em Belgrado te esperando.

Ela assentiu, sorrindo; mas depois, parou de sorrir.

– Eu... Não estou muito bem para ver ele.

Feliciano tirou o sorriso e estranhou-se.

– Por que não?

Ela engoliu em seco.

– Estou muito feia, não estou? - Ela se referia a sua aparência magra e seus cabelos cortados como de um homem.

Feliciano deu uma risadinha.

– Para ele, você nunca vai estar feia, Andrija.

Ela riu, sem graça, estava se preocupando por nada.

O táxi os deixou numa estação de trem. Após deixarem o veículo, Feliciano alertou:

– Temos que tomar cuidado... E nós vamos primeiro parar em Budapeste, para depois irmos à Belgrado.

Andrija assentiu. Não gostava da ideia de algum soldado alemão os parar, mas isso não ocorreu. Todos os alemães foram completamente simpáticos e prestativos.

Ao entrar no trem em que iria para Budapeste, Andrija sentou-se no sofá da cabine e começou a pensar. Será que os seus pais e seu irmão estão bem? Será que tiveram a mesma sorte do que ela e sobreviveram?

Ela bem que gostaria de saber.

Volta para o lar

Após a fuga dos soldados alemães, Alexis e Walter pararam em Viena, na Àustria, onde "não tinha perigo". Os dois, assim como os outros soldados alemães, completamente exaustos e assustados, foram para uma base militar austríaca, para que fiquem lá até ser definido o que eles iam fazer.

Para a alegria, não só de Alexis, mas como de muitos outros soldados não alemães, eles estariam indo para suas devidas casas, porque a Alemanha não tinha mais aliados; assim como a Bulgária tinha deixado de ser. Alexis não tinha mais o porque de estar lá.

Foi nesse momento, Alexis estava em uma mesa qualquer diante a Walter, suspirou pesado. Aquilo tudo era muita loucura para o búlgaro. Mal podia acreditar que ia voltar para Belgrado.

– Ainda bem que estou voltando... - Alexis comentou.

Walter assentiu.

– Sua família vai ficar feliz.

Alexis olhou para Walter, sorrindo.

– Eu estou meio... Nervoso.

Walter ergueu as sobrancelhas.

– Por que estaria?

Alexis engoliu em seco.

– É que... Eu ainda não me dei conta que eu sou pai.

Walter sorriu, seguido de uma risadinha.

– Ah sim... Isso é comum. Sabe... Eu também já senti isso quando a minha mulher e eu tivemos o nosso primeiro filho. Eu não conseguia acreditar! Minha esposa sentiu o sentimento maternal bem antes de eu sentir o paternal. Só quando eu o peguei no colo, e olhei nos olhos dele, que eu me dei conta: Eu sou pai desta criança.

Alexis arregalou um pouco os olhos. Walter tinha família, e seguia um rítmo de vida diferente de Wagner; mas apesar dos rítmos diferentes, a alegria de ter uma família era a mesma.

Mas o rapaz sorriu de canto.

– Se o senhor diz...

Walter assentiu.

Até que Alexis sentiu uma necessidade de beber água, e levantou-se para poder pegar uma.

– Eu já volto... Com licença. - Ele avisou. Walter assentiu.

Mas quando Alexis deu o seu terceiro passo, sentiu uma tremenda dor nos tornozelos, o que o fez cair, o que preocupou Walter, que se levantou para ajudá-lo a se erguer.

– Você está bem, Alexis?

Alexis aceitou a ajuda, não conseguindo entender. Mas depois de alguns segundos, captou o que era.

– Os meus tornozelos... Eu os machuquei naquele acidente.

Alexis foi levado para o ponto de enfermagem do local. Não demorou muito para que as enfermeiras austríacas "se joguem" para cima do rapaz. Uma delas, inclusive, tentou por a mão entre as pernas dele, mas ele não permitiu.

– O que foi?... Você não gosta? - Ela murmurrou

– Por favor... Eu sou casado.

Aquilo fez com que ela recuasse, quase se engasgando e engolindo em seco.

– Desculpe-me! Desculpe-me! - Repetia.

Alexis suspirou. Pelo menos os tornozelos dele estavam melhor.

A libertação de Dachau

Nos últimos dias, Scepan estava perplexo. Ainda não acreditando que Olga estava morta. Ele simplesmente foi para a mesma barraca que estava Janez, para passar os últimos dias em Dachau. E ele não conseguia se quer sair da cama para comer ou algo assim.

E era uma noite, uma noite antes de os americanos chegarem, que Janez foi até Scepan, com pães e sopa nas mãos. O mais novo subiu no treliche onde Scepan estava e o encontrou de costas a ele.

– Scepan... Coma alguma coisa... Você vai ter que comer.

Scepan virou o rosto para o rapaz.

– Não estou com fome... Coma você. - E virou-se novamente.

Janez suspirou.

– Mas se você não comer, você pode morrer, Scepan.

Scepan reconhecia que achar comida por lá era uma tarefa bastante complicada, por isso que ele aceitou a comida. Sentou-se no treliche e pegou a sopa - que mal era comestível, mas era o que tinha lá. - e deu pequenos goles.

Janez também comia. Em certo momento, ele olhou para o teto quebrado do barracão, observando as estrelas.

– Eu ainda não acredito que sobrevivemos... - Ele comentou. Depois de alguns segundos, voltou o seu olhar para Scepan. - Eu estava com muito medo...

Scepan olhou para o mais jovem, com um olhar triste. Janez continuou falando.

– Você acha que a sua família sobreviveu?

Scepan abaixou a cabeça ao ouvir a pergunta, e simplesmente balançou negativamente a cabeça. Janez revirou os olhos, mordendo os lábios.

– Ao menos conseguiu salvar a sua irmã?

Dessa vez, o mais velho assentiu.

– Isso é bom... - Janez sorriu fraco.

Após alguns segundos de silêncio, Scepan olhou para Janez. Agora sim falava alguma coisa:

– E você? Acha que a sua família sobreviveu?

Janez tirou o sorriso do rosto, apresentando uma expressão chorosa.

– Elizabeta morreu na viagem de Belgrado para Auschwitz. - Ele tremeu a voz. - E eu espero que meus pais e Andrija estejam bem... Isso é... Na base na esperança, entende?

Scepan assentiu, mordendo os lábios. Logo, voltou a sua atenção novamente a comida.

Janez sabia que se falasse de Olga perto dele, faria com que Scepan ficasse quieto e sem vontade nenhuma de viver, por isso nunca falava dela. Mas estava com muitas dúvidas sobre ela, e o seu relacionamento com o judeu.

E depois de alguns minutos; exaustos, foram dormir. A manhã daquele dia seguinte ia ser melhor para ambos e para os outros presos.

–-

Após a chegada dos soldados americanos à Dachau, eles observaram todos os presos, até que chegassem a conclusão de ajudá-los a voltar para suas devidas casas. E já como Scepan e Janez iam para o mesmo destino, não desgrudaram um do outro.

E os dois rapazes judeus puseram-se diante de um soldado americano, mas havia um porém: Scepan não sabia falar em inglês muito bem. Mas por sorte, Janez conseguia desenrolar muito bem.

E Janez começou a falar com o soldado americano:

Excuse me, sir. We have to go to Belgrado, Yugoslavia, can you help us?

Antes que o saldado americano pudesse responder, um outro soldado pôs-se diante à conversa. Era bem familiar para Janez, que logo o reconheceu; mas desconhecido para Scepan, o que fez desconfiar um pouco.

No problem! I'll help them!– Falou o soldado "conhecido". O outro soldado apenas deu de ombros e saí dali.

Janez começou a falar com o soldado.

– Ludwig? - Sussurrou para ele.

E Ludwig assentiu.

– Sim, sou eu. - Sussurrou de volta.

Scepan estava com uma expressão de não entender nada, por isso pôs-se diante àquela situação.

– Vocês se conhecem?

Janez assentiu, olhando para Scepan.

– Ludwig ajudou a mim e à minha família enquanto estavamos refugiados.

Scepan ficara menos nervoso. Ludwig continuou.

– Vou levá-los para suas casas, não se preocupem. Apenas sigam-me... Precisam de atendimento médico antes de voltarem à Belgrado.

Eles assentiram, logo saindo de Dachau, numa longa caminhada. Mas tiveram que passar por diante o centro de administração, no qual Scepan parou e ficou olhando por muito tempo, com tristeza.

Ludwig parou também, junto com Janez.

– Você não vem? - Perguntou a Scepan, que olhou para ele e assentiu como resposta. Ludwig virou-se para Janez. - O que há com ele?

Janez suspirou.

– É uma longa história...

Ludwig ficou confuso, mas deu de ombros. Após isso, seguiram a caminhada até a saída, normalmente.

–-

Quando os soldados americanos invadiram o centro de administração de Dachau, com certeza encontraram o corpo do Olga.

E um soldado viu aquilo.

– Capitão! Veja isso! - Gritou o soldado para seu chefe, apontando para um cadáver de uma moça alemã, provavelmente dona daquele local. Aquele corpo estava rodeado de estrelas de Davi, e uma em especiam nas mãos, junto com um terço.

Um amontoado de soldados americanos observaram aquele acontecimento, com dúvidas e questionamentos em seus pensamentos.

Até que saíram perguntando para alguns judeus, e é claro que eles responderam que ela foi uma pessoa muito especial para eles. Não era uma nazista má, e nem era se quer uma nazista. Era uma pessoa que salvou a vida de muitos, e se sacrificou por um alguém que era considerado "inimigo".

Comovidos com aquela história, os americanos decidiram não deixar de lado aquele corpo. É claro que o corpo de Olga foi cremado, junto com os corpos de muitos presos que foram mortos durante a estadia em Dachau.

Só que, mas tarde, esta alma abençoada iria receber algo ainda maior.

Reencontro

Já era noite em Belgrado, Vencelau estava deitado no sofá, ouvidno ao noticiário. Estava nervoso, Andrija estava demorando muito, e pensou seriamente na possibilidade de ela não ter sobrevivido. Aquilo o pertubava, até demais.

Enquanto isso, Andrija estava em um táxi com Feliciano, que parou em frente ao prédio do apartamento de Vencelau. Feliciano a ajudou a sair do carro, e a deixou em frente a portaria.

– Fique aqui... - Sussurrou Feliciano. Andrija assentiu.

Feliciano pediu para chamar Vencelau, que recebeu a notícia de que alguém estava o esperando. Curioso e nervoso, decidiu ir, engolindo em seco. E se fosse a Cruz Vermelha avisando que Andrija não tinha sobrevivido? Aquilo o incomodava, e o assustava.

Mas assustou-se quando viu Feliciano. Arregalou os olhos.

– Feliciano... O que faz aqui à essa hora?

Feliciano estava com um sorriso no rosto, bem largo.

– Eu tenho uma surpresa para você... - Ele se afastou, chamando alguém que estava no lado de fora do prédio. - Pode entrar!

Vencelau achou estranho, mas logo arregalou os olhos quando viu uma moça com cabelos curtos, magra e com os olhos verdes brilhantes. Não pôde acreditar, mas era verdade. A reconheceu de primeira: Aquela era Andrija.

– A-Andrija? - Vencelau quase gritava.

Andrija simplesmente deixou a mala cair no chão e abriu os braços.

– Vencelau! - Correu até ele, abraçando-o.

Ele não pôde acreditar, mas Andrija estava abraçando-o. Logo, ele retribuiu o abraço, com um sorriso no rosto. Um sorriso de alegria e alívio.

Se afastaram por algum tempo, olhando um nos olhos do outro. Vencelau passava os dedos por de cima do rosto de Andrija.

– O que fizeram com você? - Ele perguntou, com lágrimas nos olhos.

Ela fez que sim, igualmente com lágrimas nos olhos.

– Eu poderia estar melhor... Mas... - Ele a interrompeu.

– Você continua linda... Como sempre foi. - Ele falou, sorrindo.

Ela sorriu de volta, e o abraçou de novo, os dois chorando um nos braços do outro. Mal podiam acreditar que estavam juntos novamente.

– Ah Vencelau! Estou tão feliz em te ver! Tudo aquilo era tão horrível! Meu Deus do céu!

– Eu sei, eu sei... - Ele falava. - Mas você está bem agora, você vai ficar bem, ninguém vai te machucar mais. Eu estou aqui contigo.

Feliciano assistia àquela cena, com um sorriso no rosto e a satisfação por ter feito duas pessoas tão felizes assim. Sua tarefa na guerra estava cumprida. Ele poderia não ter salvo todas as vidas, mas pelo menos uma ele salvou. Aquilo já era motivo de se orgulhar.

–-

Andrija tinha ficado naquela noite na casa de Vencelau, mas eles não dormiram. Ela falava sobre tudo o que passou, e ele apenas a ouvia, com a alegria em seu ser. Era bom demais para ser verdade.

Enfim, eles poderiam estar juntos sem restrições.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Estou com MUITA pena de ter que terminar essa fanfic :C

Obrigada por lerem e até o próximo capítulo. :)



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