Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 31
Parte XXX


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, e eu tenho de avisar que é um dos últimos... Infelizmente. (?)
Comecei a postar "Wagner e Emilie", e depois do término desta fanfic, irei começar a postar "As Palavras de Mikhail", não percam!

Boa leitura :)



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Depois do acidente próximo a Dachau

Abria os olhos, devagar. Não se lembrava de nada do que tinha acontecido, mas depois olhou aonde estava. Havia um pedaço grande de cimento sólido sobre ele, mas que não chegava a se quer tocá-lo.

A sorte de Alexis foi que, ao teto desabar, uma grande caixa de ferro - que estava por trás de sua cabeça - conseguiu segurar o pedaço do teto, fazendo com que não o tocasse. Alexis estava intacto, menos os seus pés, que foram os únicos que não se salvaram. Eles ainda estavam no corpo, e estavam muito longe de serem amputados, mas o cimento prendeu-o pelos pés, ficando difícil de sair. 

Alexis lembrou-se do que aconteceu; o que não sabia, era que estava desacordado havia três dias. Sentiu sangue saindo de sua testa, o que o deixava muito tonto. Percebeu que tinha um corte sobre o lado esquerdo da mesma. Ao tentar puxar o pé, para que saia, não conseguia. 

A menos que pudesse tirar o cimento sólido de cima de seu corpo, ele poderia sobreviver. E foi isso que ele tentou. Puxou para cima o cimento com toda a sua força, mas de quase nada adiantava. Tentou aquilo por vinte minutos, mas não dava nada certo. Ele sabia que, se não conseguisse sair dali, ele poderia morrer fácilmente por falta de ar. 

E achava que estava destinado a isso, a morrer. Por isso, desistiu e relaxou o corpo, olhando diretamente para o cimento. 

- Eu não acredito... Que vou morrer assim. - Falou roucamente para si mesmo. 

Mas algumas lembranças passaram por sua mente. De quando ele tinha seis anos, o trem, a adoção... Depois, lembrou-se da despedida de sua família. Das palavras de seus pais, e do rosto tristonho e emburrado do seu irmão. 

"Se você morrer, eu nunca vou te perdoar.", pensou nessa frase, exatamente nela. E Vencelau tinha toda a razão de dizer aquilo. 

Depois, olhou para a sua mão, que estava apoiada no cimento. Olhou para um de seus dedos, lá estava a aliança de casamento. Lembrou-se de Hannelli, de sua filha, Sofia. Lembrou-se do que disse à sua esposa antes de partir. E o desejo incondicional de ver sua filha crescendo. 

Após esses pensamentos, de uma coisa estava certa: Ele tinha que sobreviver. A vida não o permitia morrer, não naquele instiante. 

Era como se a vida gritasse para ele: "Viva primeiro, e depois você morre!" 

Por isso, tentou separar com toda a sua força o cimento sólido do teto de seu corpo. Tentou por vários minutos, e dessa vez, teve resultados maiores, bem maiores. Até que, finalmente, conseguiu separá-los. 

Alívio! Era bom respirar normalmente, como sempre. Alexis se levantava, devagar. Mas quando chegou a ficar de pé, quase desabou no chão novamente. Seus pés estavam completamente ensanguentados. Só aí que ele prestou atenção no seu estado. 

As mangas do uniforme estavam rasgadas, seus braços feridos e suas pernas... Que mal conseguia senti-las. Seu corpo estava repleto de poeira e sujeira. Mas nada disso o importava, ele respirava normalmente, seu coração batia como usualmente fazia, e estava tudo "normal". Ele estava vivo. 

Até que olhou para o local. Cimento sólido, radioatividade, poeira, alguns objetos e sangue. E vendo isso, desesperou-se. E agora? O que faria? 

- P-Por que... Isso aconteceu? - Perguntou, trêmulo, para si mesmo. 

Ouviu alguém o chamando, alguém que possivelmente reconheceu sua voz. 

- Tem alguém aí? Me ajude! Me ajude! - Gritava, desesperadamente, a pessoa.

E Alexis reconheceu. 

- Senhor Walter! 

Sim, era Walter. O homem magro e loiro ergueu a mão, para que Alexis veja aonde ele estava. E o rapaz foi até ele, que estava na mesma situação que Alexis momentos atrás. 

Alexis o ajudou a sair dali. E foi bem mais fácil, com apoio de duas pessoas. Ao separarem a parte do teto de Walter, ele se ergueu. 

- Ai!... - Reclamou Walter. - Muito obrigado, Alexis... 

Walter contorceu as costas, fazendo elas estralarem. 

- Eu pensava que ninguém aqui estava vivo... Por um momento, eu pensei... - Alexis falava, ainda trêmulo.

Walter assentiu.

- Estamos aqui há muito tempo, acho que alguma parte do exército nazista já teriam vindo e nos disseram mortos. 

Alexis arregalou os olhos. E se essa notícia falsa já tivesse chegado à sua família? O que eles pensariam? E pior! Alexis estava vivo, não morto.

- O-O que vamos fazer, Walter?

Walter coçou o queixo. 

- Aqui perto está o campo de trabalho de Dachau. Com certeza conseguiremos ajuda. Só temos que andar um pouco. 

Alexis assentiu, depois olhando para o chão pensativo. Depois, lembrou-se de alguém. Arregalou os olhos novamente.

- Wagner! 

Depois de ter lembrado-se do adolescente alemão, Alexis começou a procurá-lo, por todos os cantos. Chamando o nome dele. 

E de certa forma, alguém, de forma muito fraca, teria levantado o braço. Alexis foi até a pessoa, que estava completamente ferida e em estado grave. Era Wagner. 

- Wagner... - Alexis se ajoelhou ao lado do garoto, que respirava ofegante. 

O cimento sólido do teto teria acertado em cheio as partes do corpo abaixo da caixa toráxica de Wagner. Ele olhava, com dificuldade, o rosto de Alexis. Sorriu.

- Alexis... Você está... Vivo... - Falava com dificuldade.

- Espere um pouco, Wagner! - Alexis estava desesperado. - Você vai ficar bem.

Wagner assentiu.

- Sim... Sim... Eu vou... 

Alexis conseguia retirar o cimento de cima de Wagner. E viu algo desagradável: Abaixo da caixa toráxica de Wagner, tinha um enorme corte, sangrando muito. Já não se sabia como ele conseguiria sobreviver três dias com aquilo. 

- Ah não... - Alexis olhou para o ferimento, incrédulo. - Wagner... 

Aquilo dava vontade de chorar desesperadamente, mas Alexis não o fez. Olhou para o rosto do garoto, que sorria, com dificuldade. 

- Vá... Você precisa... Voltar para a sua família. 

Alexis não queria ouvir, apenas queria tirá-lo dali. 

- Você também precisa voltar para a sua. - Falou, pegando-o nos braços. - Aguente firme. 

Wagner não conseguia abrir totalmente os olhos, vendo uma visão embassada de Alexis. 

- Não... A-Alexis, não faça... Isso... - Sua voz estava cada vez mais falha. 

Alexis andou até Walter, e os três se dirigiam ao campo de concentração de Dachau. E Wagner não iria aguentar ir até lá. Já estava muito fraco.

- Por favor... - Lágrimas apareceram no rosto do mais jovem. - Eu estou morrendo... N-Não se preocupem mais co-mi...go.

Alexis olhava frequentemente para o rosto do jovem. Depois, o pôs no chão, por alguns instantes. Olhou para Walter.

- Pegue um lenço, ou algum tecido, rápido! - Falou para o general, que acatou a ordem. Pegou um grande pedaço de um tecido, que tinha guardado e deu para Alexis, que fez daquilo para cobrir o ferimento de Wagner. - Aguente, Wagner...

Mas ele não iria aguentar, do mesmo jeito. Pegou-o nos braços novamente e voltou a caminhar para Dachau. Wagner, ciente de sua morte, começou a falar com Alexis:

- Por favor... Levem o meu corpo para... Minha família, em... - Gemeu de dor. - em Bremen... N-Não se preocupem mais comigo... 

- Não Wagner... Você precisa sobreviver. Você é jovem demais para isso! Até eu me achei muito jovem para isso, imagina você?! 

Wagner sorriu, entre lágrimas. 

- Não existe idade para a morte, Alexis... - Ele avisou, fechando ainda mais os olhos. 

Alexis o olhou com tristeza. 

- Você precisa ir para a sua casa... 

Wagner assentiu, devagar. 

- Eu já estou indo pra lá...

Depois disso, Wagner amoleceu o corpo, principalmente a cabeça. Os olhos dele ficaram abertos e suas últimas lágrimas caíram, o sorriso se destampou de seu rosto. O sangue estava contido, mas jorrava do mesmo jeito. Sua pele, estava pálida e fria. 

Wagner morreu aos dezesseis anos de idade. Morreu pela Alemanha, morreu por Hitler. E nos braços de Alexis.

- Wagner...? - Alexis apavorou-se. - Wagner! - Balançava-o. - Acorde, Wagner! - E ele não o respondia. - Wagner... 

Walter pôs a mão no ombro de Alexis, com um olhar de pena. 

Alexis estava tão perto de chorar, mas mesmo assim, não chorava. Mas isso não o impedia de olhar para aquele cadáver jovem com tristeza e pena. 

Chegada à Dachau

Ao chegarem no campo de concentração. Walter teve que passar por um rápido reconhecimento nazista, a mesma coisa foi para Alexis. 

O corpo de Wagner foi tirado de lá, e iria ser levado para a sua família, que já sabiam de sua morte. Com certeza, estariam muito abalados. Até demais... Tanto que não acreditariam que aquele corpo era de Wagner. 

Mas pelo menos, ele teria morrido "feliz".

Alexis e Walter receberam os devidos atendimentos médicos por enfermeiros alemães. Após isso, tiveram uma grande conversa com Olga Haag, a administradora do campo. 

Olga estava sentada, em frente a sua mesa, enquanto Alexis e Walter estavam nas cadeiras a frente dela. 

- Então... Vocês sobreviveram a aquele acidente que aconteceu aqui perto, não é?

Walter assentiu.

- Sim, estamos com sorte de termos sobrevivido, pelo que eu vejo. - Falou Walter. 

Olga assentiu.

- Pois bem... Poderão ficar aqui por algum tempo, depois podem ir para suas casas para repouso. 

Alexis sorriu fraco, de alívio e felicidade.

- Obrigado... - Falou Alexis, baixinho.

Olga o observou, e sorriu, também fraco.

- Depois de tudo que passaram, nada mais justo do que isso. 

Até que, para arrumar as coisas no local, apareceu Scepan, que não tinha visto o rosto de Alexis até então. Apenas quando Scepan dirigiu-se ao lado da mesa, para pegar algumas coisas e levar para outro cômodo, Alexis o reconheceu. 

Alexis arregalou os olhos e, devagar, se levantava da cadeira. Não acreditava no que via. Scepan também o olhou, incrédulo, piscando algumas vezes.

- Scepan?... 

- Alexis?... O que faz aqui? 

Alexis balançou a cabeça negativamente.

- É uma longa história... - Se aproximou do judeu. Olga e Walter olhavam para aquela cena. 

Olga se intrometeu.

- Vocês se conhecem?

Alexis assentiu. 

- Meu primo... - Alexis respondeu. 

Scepan não parecia entender, ergueu as sobrancelhas.

- Primo?! 

Alexis assentiu, ainda olhando para ele.

- Lisa Petrovik... Sabe quem é?

Scepan piscou os olhos algumas vezes, assentindo logo em seguida.

- Era a minha tia... Ela morreu um pouco depois de eu nascer... Por que?

Alexis mordeu os lábios, olhou para as outras pessoas, retornando o olhar para Scepan. 

- Minha mãe biológica... 

Scepan o olhou incrédulo, piscando os olhos mais rápido ainda. Olhou para Olga, que lhe deu um sorriso. 

Walter também estava incrédulo. Tudo estava claro agora, Alexis era filho de Maxis. 

- Alexis... - Walter se levantou. - Quer dizer... Que você é filho de Maxis?

Alexis olhou para Walter, e assentiu.

- Sim... 

Walter engoliu em seco.

- Quer dizer que você é... judeu?

Alexis revirou os olhos. 

- Era para eu ser... Mas não fui batizado, só sou filho de uma. - Olhou para Olga, que pensava que o olharia com desprezo, mas ela estava completamente normal, mas não entendia nada. 

Walter passou a mão sobre os lábios, trêmulos.

- Mas... Como... 

Alexis foi até o seu "tio".

- Que a verdade seja dita... Fui adotado por Wagner Brauer, o seu irmão... 

Walter piscou rápidamente os olhos. 

- N-Não... Impossível! 

Alexis assentiu.

- É mais possível do que o senhor imagina.

O alívio bate na porta

Hannelli estava no quarto de sua filha, observando aquele lindo bebê, dormindo em sua caminha. Era tão linda! Sofia Dracuela Brauer tinha cabelos negros e olhos cor de mel. E se parecia tanto com o pai... O pai que Hannelli acreditava que ela nunca iria conhecer. 

Mas algo acabou batendo em sua porta, um carteiro. Ela foi até ele, que lhe entregou um outro telegrama, agora, sorrindo. 

- Isso aqui vem de Dachau. - Ele falou, entregando para ela. 

Sem entender, ela pegou o telegrama. Dessa vez, estava escrito: "Alexis Brauer: Encontrado vivo no campo de concentração de Dachau."

Hannelli estava incrédula, e não acreditou no que lera. As lágrimas de felicidade e alívio se multiplicavam, caindo uma após a outra. Ela sorriu, sorriu bem largamente. 

Ela olhou para o céu. 

- Obrigada! - Gritou aos céus. Olhou novamente para o carteiro. - Obrigada! 

A felicidade foi tão grande que correu para a empresa em que trabalhava - ela estava de férias, por causa da criança que nascera. - e depois de cinco minutos de espera, Vencelau e Wagner apareceram. 

- O que houve, Hana? - Perguntou Wagner, desconfiado.

- Advinhe... - Falou Hana, trêmula de felicidade. 

Vencelau suspirou, só devia ser uma coisa realmente boa. Até que viu o telegrama nas mãos da mulher, arregalou os olhos.

- Não me diga que... - Vencelau foi interrompido.

- Isso mesmo... - Hana não conseguia se conter. - Meu marido está vivo! - Gritou e fez todos ouvirem. 

Aquela notícia tinha virado festa naquele local. E Wagner, com o seu olhar incrédulo, desabou-se no chão. 

- Eu sabia... - Falou Wagner, sorrindo. Hannelli entregou o telegrama, e Wagner leu todas aquelas palavras. - Eu sabia que o meu filho ia sobreviver. 

Hana logo olhou para Vencelau, que sorria, de forma fraca, mas sorria. Sabia que seu irmão estava vivo, mas ter aquilo comprovado o fazia ficar mais feliz ainda. 

Afinal, Alexis não estava morto. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Demorei mil e quinhentos anos escrevendo isso.

Obrigada por lerem, e até o próximo capítulo. :)



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