Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 28
Parte XXVII


Notas iniciais do capítulo

Eu não sei o que está acontecendo que o nyah às vezes fica fora do ar. =/
Mas enfim... Se eu demorar alguma hora para postar, ou é por causa disso ou eu estou estudando. É...

Boa leitura :)



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Bergen-Belsen

Andrija foi jogada junto às outras mulheres que iriam para Bergen-Belsen assim que se separou da família. E inclusive, Andrija era uma das mais novas de lá. Grande parte das mulheres tinham perdido suas filhas, e agora estariam sendo obrigadas a se separarem de todos os familiares. 

E para Andrija, já era demais o sentimento de estar sendo humilhada. Imagine quando ela souber que o seu pai tinha morrido no mesmo dia em que se separara. Pobre garota... 

As mulheres tinham, em média, trinta a quarenta anos de idade. E olhavam para Andrija como se ela fosse uma ovelha negra. 

Os cabelos da iugosláva judia, que estavam tão curtos quanto os de um homem, não deram conta de "masculinizar" a garota. Seu rosto macio e olhar penetrante continuavam lá, e isso iria "seduzir" qualquer homem. 

Depois de três longos dias de viagem de Auschwitz para Bergen-Belsen, as mulheres finalmente chegaram. Assim que chegaram, foram obrigadas a fazerem uma série de coisas. Primeiramente, foram tiradas a força dos veículos por homens e mulheres prisioneiros políticos. 

As mulheres judias e ciganas eram separadas em grupos e obrigadas a ficarem nuas para a desinfectação. E para o azar de Andrija, ela teve que se despir na frente de homens. 

Depois da desinfectação, teve o númedo tatuado em seu braço, mas imaginou aquilo mais doloroso. Houve poréns, houve um erro nos números, e todas tiveram que ser tatuadas novamente. Aquilo já estava sendo um inferno. 

Depois de tudo isso, Andrija pôde ir para a sua barraca. E um fato desagradável é: Andrija foi alvo de olhares masculinos, muito fortes. Os homens - presos políticos - entrgaram uma vestimenta menor que o número de Andrija de propósito, para que possa ficar mais visíveis as suas "curvas" do corpo. 

E um desses assédios, foi exatamente por um desses presos políticos. Quando a garota andava pelo campo, indo para o trabalho forçado, um homem a parou, segurando o seu braço.

- Você tem um belo corpo, sabia? 

Andrija virou-se, ainda bem que não era um soldado ou algo assim. 

- Saia daqui... - Falou com seriedade. 

O homem - que era uns oito anos mais velho do que ela. - a olhou sério. 

- Nós dois estamos presos aqui... Por que não satisfazemos nossas vontades?

A raiva de Andrija começava a borbulhar dentro dela.

- Não tenho vontade nenhuma contigo...

O homem mordeu os lábios.

- Ah sim... Tem sorte, porque acabastes de chegar. Eu estou aqui há anos. Você sabe quando foi a última vez que eu...

- Não quero saber.

Ele estava começando a entender a situação.

- Hum... Algo me diz que você tem namorado.

Andrija suspirou pesado, sem paciência.

- Tenho, e se mesmo se eu não tivesse, eu não iria querer nada com você. Agora, me dê licença, porque eu não estou a fim de enfrentar um soldado e ser morta a tiros porque eu me atrasei para a coleta. 

Dito isso, ela se virou e começou a andar. Se fosse um homem teimoso, ele iria atrás dela, mas ele, na verdade, gritou:

- E você ainda acha que ele está vivo? Faz-me o favor! Ele já deve estar num crematório numa hora destas! 

A moça, óbviamente, não se abalou com isso. Que idiota! Se ele ao menos soubesse que o namorado dela não era um judeu e que estava seguro em Belgrado, ele não falaria tanta besteira. 

Andrija foi alvo dessas coisas mais cinco vezes naquele mês, sendo três deles sendo outros judeus, que se davam de carentes para chamar atenção dela. Mas fazer isso só fazia Andrija ficar cada vez mais ironica e fria. Era o jeito de se sobreviver por alí. 

Alguns meses

Hannelli já podia sair do trabalho para ficar um tempo fora, por causa da criança que iria nascer. Já era janeiro de 1945 quando estava em um dos seus últimos meses de gestação. Estava arrumando as coisas para sair do seu último dia de trabalho antes de ter a criança. 

Já sabia do que tinha acontecido com os Krleza e ficou triste por isso, mas pensar em sua filha já era motivo de muita felicidade. Hannelli já se via como mãe antes mesmo de seu filho nascer. E estava na esperança de que o pai dela voltaria. Com certeza, se o exército continuar seguindo o método de não levar os "reservas" para uma frente de guerra. 

- Hana... - Uma mulher chegou, com uma carta na mão. - É para você. - E entregou para ela.

Hannelli a pegou, era de Alexis, como sempre era. Ela sorriu ao ver aquilo, e agradeceu a moça por entregá-la. 

Ao voltar para sua casa, sentou-se no sofá da sala e abriu-a. Ficou impressionada, pois na verdade, existiam duas cartas num mesmo envelope. 

Uma carta era para Hana, outra para Vencelau. E Hana só abriu a carta que Alexis escreveu para o irmão para saber se era também para ela. Ao saber que não era, dobrou o papel novamente, sem ler. 

Leu sua carta rápidamente, e o mesmo alívio de sempre: Alexis não iria para uma frente de guerra nos próximos meses. Mas deveria ficar lá, em caso de necessidade. E levando em conta de que a guerra estava prestes a se acabar, já era motivo de esperanças.

Mas ela teria que levar a carta para Vencelau. E foi isso que ela fez, se sentia ótima, apesar de grávida. E naquele mesmo final de tarde, foi até a casa de Vencelau, que tinha acabado de voltar do trabalho. 

Ao tocar a campainha, Vencelau atendeu e ficou, de certa forma, surpreso. 

- Hannelli? 

Ela assentiu.

- Oi Vencelau... - Não teve tempo de perguntar como ele estava. - Eu tinha recebido uma carta de Alexis... Essa é pra você. 

Vencelau ergueu uma sobrancelha, deixando-a entrar. Após isso, fechou a porta e pegou a carta das mãos dela, delicadamente. Abriu-a e começou a lê-la:

Caro irmão,

Deve estar se perguntando o porque de eu não mandar essa carta para o seu correio. Saiba que, aqui no exército, temos tempo de enviar somente um envelope. E eu precisava muito falar algo para você, sem que eu possa preocupar Hannelli. 

Saiba que eu estou bem, primeiramente. Espero que também esteja. Eu soube de algumas coisas aqui, que eu acho que devia saber também. Primeiramente, eu me encontrei com Walter Brauer, o nosso provável tio. Ele é nazista, bem diferente de nosso pai, mas acredite, ele é o nosso tio. 

Eu soube da verdade do nosso verdadeiro pai, ele não se matou, saiba disso. Alguém matou ele, na verdade. Foi por isso que ele nos "abandonou", ele foi morto por causa de um crime que ele não cometeu. Provavelmente, porque ele era comunista, somente por isso.

Descobri isso conversando com Walter, e pode parecer loucura. Ele ainda não sabe que somos os seus sobrinhos, e muito menos que somos filhos biológicos de Maxis Shamalanoff, porque tanto eu, quanto você, estariamos perdidos. 

O por que? Bem... Eu sei que é muito estranho eu ter que te dizer isso através de uma simples carta, e sei que é perigoso, mas eu preferi correr esse risco. E se você está lendo isso, nós estamos seguros. 

Nossa mãe biológica, Lisa Petrovik, era judia. Não estou maluco, então não pense isso, muito menos diga. Nós temos sangue judaico correndo pelas nossas veias. Mesmo que nós nos consideramos sem religião, nascemos, de certa forma, judeus. 

Queria que soubesse disso, espero que não fique em um estado crítico, assim como eu fiquei ao saber disto. Se a minha letra está tremida, é porque eu não acredito nisso até agora. 

Espero que entenda. 

Alexis

Ao terminar de ler, Vencelau teve que ler mais duas vezes para entender o que se passava. Agora tudo faria sentido. Então, Maxis não os odiava, muito pelo contrário. Mas aquilo não foi o suficiente para abalar completamente Vencelau.

Ao chegar na parte que falava sobra a mãe, o rapaz ficou incrédulo. Então, ele também estaria passando pelos mesmos maus-tratos de que Andrija e Scepan estavam passando. De alguma forma, aquilo não era justo. Não era justo, mesmo. 

Coitado de Alexis, que não sabia o que tinha acontecido com os Krleza, se ele pelo menos soubesse, não contaria aquilo para o irmão. E fazendo uma análise completa no nome de sua mãe biológica, Vencelau tinha afastado todas as opções de ele ser primo de Scepan. 

Porque, mesmo tendo sorte de ter sido salvo do Holocausto, não achava justo as pessoas que amava correndo o risco de morrer, e ele não. 

As pernas dele ficaram bambas, mas não caiu. Hannelli ainda assim, não quis ler a carta de Alexis para o irmão. Mas pela reação de Vencelau, não eram coisas boas.

- Vencelau... Me desculpe. - Ela sussurrou. - Agora eu vou ter que ir... 

Vencelau nada tinha falado, apenas assentiu para ela. Antes mesmo de Hana sair, ele deu uma olhada nela e na sua barriga. Tinha se esquecido que esperava uma sobrinha, para ter ideia do quão triste e cabisbaixo ele estava. 

- Até mais, Sofia... - Ele falou, sussurrando, não para Hannelli, mas para a criança. 

Hannelli deu um sorriso de canto, feliz pelo seu cunhado ter reconhecido a sua sobrinha. 

- Até mais, Vencelau... - Finalizou Hannelli antes de sair da casa. 

Vencelau sentou-se no sofá, olhando para o teto, depois para a carta. Não tinha mais forças para chorar, mas por que choraria? Ele já tinha chorado tudo o que tinha que chorar. Agora, estava na fase da "aceitação". Mesmo negando-se a aceitar. 

Mas agora era que não aceitava mesmo. Devia estar em um campo de concentração agora, seria mais justo. 

Dessa forma, a culpa começou a consumi-lo. 

A volta de Wagner

Wagner voltava para sua casa a pé, se apoiando na bengala, e com as costas dolorias das chicotadas. Ele ainda tinha sido humilhado por ser comunista, mas por sorte, não conseguiu ser preso. 

Após chegar em sua casa, estava sem as chaves. Teve que apertar a campainha. Logo, foi atendido por Emilie, que sabia que abraçá-lo não seria uma boa ideia. 

- Bem vindo de volta... - Ela sorriu, amarelado. Ainda estava preocupada.

Ele sorriu de volta, olhar para a sua esposa o acalma-va. Entrou em sua casa e fechou a porta. 

Sabendo o que tinha que encarar dele, Emilia pediu para que ele tirasse a camisa para que possa cuidar dos ferimentos. E assim foi feito, ele tirou-a, demonstrando o seu corpo magro, sem quase nenhuma aparência de um homem de mais de cinquenta anos. 

Ela começou a cuidar dos ferimentos, e ele nada falou, nem se quer um "Ai". Como era diferente daquela cirurgia na Grande Guerra, onde os dois se conheceram, onde ele agonizava mais do que deveria. 

Wagner já estava consumido pelo fracasso. Se sentia um completo fracassado e humilhado até o fim de seus dias. Tudo porque não quis seguir a mesma ideologia de sua nacionalidade. 

Emilie parou por um momento e encostou a cabeça no ombro de Wagner, começando a chorar logo em seguida.

- I'm so happy... You came back to me... - Ela não conseguiu conter a necessidade de falar na sua língua materna. 

Ele se virou para ela, observando o profundo dos olhos cor de chocolate da moça. Ela imediatemente levou a mão ao rosto de seu marido, encarando aquele olhar turquesa. Podia ver a vergonha em seus olhos.

- Ich... - Tentou falar alguma coisa em alemão. - Alles...

Ela o interrompeu:

- It's everything alright now. - Ela sorriu, mais largo e mais verdadeiro. 

Ele sorriu de volta, assim dando um beijo em sua esposa. As carícias e beijos ficavam cada vez mais profundas, até que o amor deles ficasse parecendo um típico amor adolescente. 

Mas tiveram que parar um pouco, o noticiário britânico já começaria. Mas isso não impedi-os de ficaram sentados no sofá; Emilie entre as pernas de Wagner, que a abraçava. Algumas vezes, eles trocavam beijos e demonstrações de afeto. 

Era precioso, sentiam-se jovens apaixonados novamente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo, porque eu não sabia qual seria a sequencia dos tópicos. '-'

Obrigada por lerem, e até o próximo capítulo. :)



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