Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 27
Parte XXVI


Notas iniciais do capítulo

Só para constar, não era para a fanfic ficar tão longa assim. rs
Desculpem-me esses dois dias sem postar, mas uma prova de Língua Portuguesa me pegou de surpresa. Daí eu tive que parar tudo o que eu estava fazendo para estudar em cima da hora D:
Desde já, obrigada pela compreenção.

Boa leitura :)



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Caminhos separados

Aquele era o dia em que os membros da família Krleza se separariam. Aquele era um momento de muita dor e angústia. Antes mesmo de se separarem, Andrija e Janez abraçavam os seus pais, como se fosse a última vez que iriam os ver. Ao se separarem, uma última cena:

- Deus irá cuidar de vocês... - Disse Franz. - Se Deus quiser, e ele vai querer, todos nós estaremos juntos de novo.

E foi a hora de falar com todos da família. Franz não aguentava segurar as lágrimas. Tinha um tempo necessário para que possa se despedir de sua esposa e de seus filhos.

Primeiramente, foi Janez:

- Filho... Você sabe que eu tenho muito orgulho de você, não sabe?

Janez assentiu, não tinha forças nem para chorar, mas os seus olhos desejavam as lágrimas, fazendo-os nadar em pura tristeza.

- Pai... O senhor é... O melhor homem que eu já conheci em toda a minha vida.

Os dois se abraçaram. Franz sussurrou algo no ouvido de seu filho antes de se separarem:

- Infelizmente, não poderei te ajudar. Deus vai fazer isso por mim.

Se separando, Franz se direcionou para a filha - que, infelizmente, agora seria a única filha -, que quase se desabava aos prantos.

- Andrija, a guerra ainda não acabou, muito menos o mundo. - Passava os dedos pelo rosto de sua filha, limpando as lágrimas que corriam pela carne viva retalhada e magra dela.

- Isso não deveria ter acontecido...

Franz assentiu.

- Tenha certeza de que não deveria. - Abraçou Andrija. - Minha menina...

- Eu te amo, pai... - Retribuiu o abraço. - Você vai prometer que ficará bem?

Franz direcinou o olhar para os outros pais, que estavam da mesma forma, dando "adeus" às suas famílias. Voltou o seu olhar para ela.

- Eu prometo... - Falou em tom rouco.

Depois de uma bela encarada entre ambos; a última que teve seu "adeus" foi Evelyn, que apenas o abraçou forte e lhe deu um demorado beijo. Ao se separarem, ela disse uma única frase:

- Você é o meu herói.

Ele sorriu.

- Você é a minha rainha.

Aquelas frases, eles sabiam muito bem do que se tratava. Ao se separarem, os soldados nazistas gritavam em alemão para que os judeus e ciganos fossem para os seus devidos vagões.

E separar Janez e Andrija foi algo doloroso. Os dois irmãos estavam abraçados um ao outro. Até que Janez perguntou para o saldado que comandava o fluxo de prisioneiros.

- Senhor, eu não posso ficar com a minha irmã?

O soldado não quis saber, além do mais, aquilo não parecia "falar alemão". Ele apontou para ambos os lados.

- Você! - Gritou para Janez. - Pra lá! - A primeira pontada foi para a direita. - E você! - Agora, para Andrija. - Pra lá! - Apontou para a esquerda.

- Mas... - Andrija não teve tempo de se debater. Janez a abraçou levemente.

- Você vai ficar bem... - Ele falava no ouvido dela.

Andrija tinha percebido só naquele momento que Janez era mais alto do que ela.

- E pensar que... Você era só um garotinho...

Ele deu um leve sorriso.

Aquela cena poderia ter sido prolongada, se ela não fosse cortada pelos soldados, que arrastavam ambos em direções diferentes. Ao serem afastados, gritaram diversas vezes o nome um do outro. Até serem colocados em vagões de trens diferentes.

--

Evelyn ia para um campo de concentração feminino, mas não conseguiria viver sem seu marido e seus filhos. Pensou em Elizabeta; como pode ver, ela era a única que teve sorte, ela não passaria por toda essa tortura. Talvez Deus achou melhor levar aquele anjo consigo, para que Elizabeta não sofresse mais do que sofreu.

Quando Franz se despediu de sua família, também pensou em Elizabeta. Ainda não tinha caído a ficha... Ela morreu! Por que ela? Por que ela?

Mas, meu caro leitor, e se eu te falar que, Franz Krleza teria morrido naquele mesmo dia, três horas depois do seu último encontro com os membros de sua família?

Foi algo exaustivo. Franz foi logo trabalhar forçadamente, mas as suas condições físicas de ferimentos de guerra não conseguiam fazer com que ele ficasse de pé e trabalhasse duro. Então, um certo soldado alemão disse que o dirigiria até algum lugar menos trabalhoso.

O que era aquele "lugar menos trabalhoso"? Vamos dizer, em partes, palavras chaves: Uma pequena sala; alguns judeus de meia idade cansados e aflitos; alguns ciganos perdidos; soldados saindo do local, trancando-os lá dentro; uma pequenina nuvem de gás tóxico que se prolongava mais e mais; e depois, algumas pessoas mortas.

Dentre elas, Franz Krleza.

Lembranças fora de hora

Ao ver por inteiro a base militar alemã, uma estante de fotos o atraiu. Alexis se aproximou daquela estante, observando alguns soldados participantes de alguma guerra. Ele ergueu a sobrancelha, vendo uma figura muito conhecida por ele. Era um homem alto, com cabelos morenos, olhos castanhos e pele pálida. Aquele homem era jovem, tinha os seus vinte dois ou vinte e três anos de idade. Mas de certa forma, para Alexis, era muito famíliar.

Walter assistiu a essa cena, chegando mais perto de Alexis, parando ao lado dele, observando a mesma foto.

- Essa foto foi tirada em 1914. - E olhou para a mesma pessoa que o rapaz olhava. - E ele se chama Maxis Shamalanoff. Era um bom homem, muito carismático, muito elétrico e não parava no canto.

Alexis olhou para Walter; é claro que ele sabia que aquele era o seu pai biológico, mas não sabia o quão querido ele era.

- Ele era muito amigo do meu irmão mais velho, Wagner. Pena que ele morreu antes mesmo de completar trinta anos. - E olhou para Alexis. - Ele se parece muito com você, Alexis.

Alexis o olhou, confuso. Depois, voltou o seu olhar para a foto, e procurando mais pessoas, encontrou mais uma pessoa que conhecia, Wagner Brauer. Apesar de sua idade maior dos vinte, Wagner parecia um rapaz de dezessete anos de idade.

Ao voltar o seu olhar para Maxis, alguma coisa estranha aconteceu. Uma lembrança que Alexis nunca teve. Uma lembrança de mais de vinte anos atrás.

E aquilo era: Seu pai biológico, ao seu lado.

Alexis tinha seis anos de idade, um pouco antes de seu pai morrer. Apesar de ele já ter uma idade significativa, era a quarta ou quinta vez que tinha visto Maxis em sua vida.

O seu pai, que estava com os olhos cabisbaixos, lábios secos e pele ainda mais pálida, se encontrava na frente de seu filho, que o olhava, não como um pai, mas sim como uma pessoa normal, como qualquer outra que Alexis já tinha visto.

Pela falta de compaixão e presença do pai e da mãe, Alexis cresceu como uma criança sem-religião e sem sentimentos. Os seus olhos vazios encaravam aquela pessoa, que devia chamá-la de "pai".

Lembrou-se de Maxis se ajoelhando em frente a ele, que não recuou, apenas o observava. Viu o homem passando as mãos pelos seus cabelos lisos e negros. A última das poucas vezes que viu Maxis, viu ele com um olhar choroso.

Mas sem se importar com os sentimentos do homem, Alexis perguntou:

- Quem é você?

Maxis não se importou com a pergunta; respondeu-a do mesmo jeito.

- Sou o seu pai...

Alexis o olhava com o mesmo olhar vazio.

- O que é um "pai"?

Com seriedade, Alexis não sabia o que vinha a ser um "pai", e muito menos uma "mãe". Mas Maxis o respondeu de novo.

- Alguém que te ama muito... E que vai ficar com você sempre, mesmo que o odeie.

Maxis tinha certeza disso; Alexis iria odiá-lo, de qualquer forma.

O garoto levantou os olhos, ainda vazios.

- Você vai ficar comigo?

Maxis mordeu os lábios.

- Não. Nem com o seu irmão. Cuide dele, porque ele não me conhece ainda. Não vou ter a oportunidade nem de vê-lo.

Quando Maxis disse a palavra "irmão", Alexis entendeu perfeitamente. Era uma das únicas palavras que sabia e sentia. Falava de Vencelau, que até então, era a única pessoa que Alexis amava.

Após isso, Maxis abraçou o filho mais velho, que nunca retribuira.

- Adeus... Alexis. - E depois, separou-se dele, devagar.

Antes de sair da casa e nunca mais ser visto.

Duas semanas depois, Alexis estava com Vencelau numa estação de trem de Sófia indo para Belgrado.

Aquelas lembranças agora passaram pela mente de Alexis como se tivesse sido ontem. Walter percebeu a distração dele.

- Alexis?

Alexis saiu do "transe".

- Hã? Ah... Desculpe-me. Tive um devaneio. - E balançou a cabeça.

Walter sorriu.

- Tudo bem, isso acontece. - E deu alguns "tapinhas" no ombro dele.

Alexis apenas assentiu. Quem sabe o que aconteceu para todas aquelas lembranças terem passado de forma misteriosa na mente dele?

Como anda a vida em Belgrado

Vencelau e Emilie foram libertos da prisão domiciliar. E após isso, Vencelau voltou para sua casa, um pouco mais calmo. Mas mesmo assim, a depressão estava forte demais até para ele. Quem diria, um dia o garoto alegre, desastrado e espivitado estaria naquele estado de tristeza profunda.

Mas nada daquilo iria impedi-lo de trabalhar. Era uma obrigação e não poderia faltar apenas porque está triste. Mas sempre que chegava no trabalho, duas horas depois, o seu chefe pestanejava em liberá-lo, por estar triste demais, sem condições de trabalhar. Apesar de não querer, Vencelau tinha que atender às ordens de seu chefe e voltar para a sua casa.

Como não tinha o hábito de beber, ele não bebia nem mesmo triste demais. Estar triste é diferente de estar inconciênte.

Mas... Como estaria Wagner?

--

Ele se encontrava numa detenção em Belgrado. Estava em pé, em frente a alguns soldados. E apesar de Wagner ter mais de ciquenta anos, ele parecia ser bem mais jovem. Aquilo não era bom, os soldados se confundiriam e a humilhação seria maior ainda.

Ao por-se de frente ao general nazista da Iugoslávia - mais conhecido como Hans - , largou a bengala que carregava nas mãos, se desequilibrando algumas vezes. O general começou:

- Muito bem! Eu não vejo o porque de te prenderem ou te matarem, por isso... Não iremos fazer nada disso. - Alívio! - Acho que faremos algo bem pior. - Alívio?

Wagner assentiu. Preparava-se para qualquer coisa que vier. Hans continuou:

- Qual é o dia do nascimento do Führer?

Ouviu alguns soldados dando risadinhas atrás dele, mas Wagner respondeu, e respondeu corretamente.

- Vinte e dois de Abril de mil oitocentos e oitenta e nove.

Os soldados o olharam, com os olhos arregalados. Hans fez o mesmo.

- Correto! Se sabe disso... Faça a saudação!

Wagner ergueu uma sobrancelha.

- Saudação?

- Sim! Faça o "Heil Hitler"!

Wagner olhou para os soldados novamente. Ao voltar o olhar para Hans, fez que não.

- Não vou fazer isso.

Hans ergueu as sobrancelhas, assentindo. Logo após olhou para um dos soldados, que sabia o que fazer. Logo, Wagner levava uma chicotada das costas, fazendo com que ele caia de joelhos no chão.

- Ah... - Agonizou.

Hans repetiu:

- Faça o "Heil Hitler"!

Wagner olhou para cima, seus olhos azuis encaravam aquele general.

- Eu nunca irei fazer isso. - E tentou se levantar.

Hans assentiu, mordendo os lábios.

- Que pena... Você seria um ótimo exemplo da raça ariana... - E olhou para o soldado de novo, que deu outra chicotada nas costas de Wagner.

- Admita que é da raça ariana! Admita que odeia os judeus!

Já pingava suor e sangue do rosto de Wagner, que observou Hans, novamente.

- Eu prefiro morrer ao fazer isso.

Hans assentiu pela terceira vez.

- Entendo... Então terás a punição por inteiro.

E assim foi feito. Wagner tinha que estar exposto a várias chicotadas nas costas, enquanto era humilhado pelos outros alemães. Aquilo podia ser doloroso, mas a dor não era maior do que o orgulho de Wagner. Se ele falasse qualquer coisa daquele jeito, jamais perdoaria a si mesmo.

Wagner e seu orgulho maior do que a guerra.


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Notas finais do capítulo

Yay! ~sem assunto para colocar aqui~
Espero que tenham gostado, chorado, se emocionado, etc etc *shot*

Obrigada por terem lido e até o próximo capítulo. :)



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