Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 29
Parte XXVIII


Notas iniciais do capítulo

Já é a segunda vez que eu tento fazer este capítulo, porque o nyah não salvou quando eu coloquei em "salvar história". Então, estou sem muita paciência, e se não ficar tão bom, me desculpem.
Obrigada a linda pessoa que favoritou a história, espero que esteja gotando.

Boa leitura :)



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1945: O último ano da guerra

Janez tinha ido para Dachau num trem apertado, cheio de rapazes de quinze à vinte e cinco anos de idade. Eles estavam com os lábios secos e grande fome, todos eles, sem dó. 

E o pobre rapaz iugoslávo, passava a mão pelos seus cabelos loiros, que foram quase que completamente raspados. O olhar de medo penetrava em tudo o que via, principalmente os corpos mortos que caiam no chão do vagão a cada meia hora. Mas felizmente, Janez estava saudável. 

Já era o quarto dia de viagem de Auschwitz para Dachau. Mas não importava, não queria chegar lá. Nem Janez, nem os outros rapazes que lá estavam. 

- Onde estamos? - A banal pergunta era repetida por diversos rapazes, que perguntavam a aquele que estava mais próximo da janela, que era o único meio de acesso ao mundo. 

Aquela resposta, daquela vez, foi diferente e mais agoniante:

- Em Dachau. 

Todos se entreolharam, nervosos. Janez já sabia, ou tinha quase certeza, que aquele era o fim da linha. 

-- 

Olga esperava o trem vindo de Auschwitz, estavam atrasados e isso a preocupava. Ela estava um pouco impaciênte, mas estava concentrada e controlada. Não tinha perguntado nada aos saldados, como usualmente fazia, mas mesmo assim, o seu olhar era o mesmo. 

Ela tinha parado de fumar um pouco nesses últimos dias; apesar das incríveis crises de abstinência, ela continuava não fumando. Respirou fundo, aquilo fazia falta, mas esperava que não. 

- Eles estão chegando! - Gritou um soldado, avisando aos demais. 

Olga assentiu, entendendo a questão. Assim que o trem parou e os judeus foram postos para fora, ela arregalou os olhos.

- Mas... São todos jovens demais... - Ela comentou. 

O soldado se virou para ela. 

- Ainda tinhamos mais jovens, mas eles foram para a câmara de gás, em Auschwitz. E então? Eliminamos também os de quinze à dezessete anos?

Olga suspirou; fez que não. 

- Melhor não... Eles ainda servem para alguma coisa. 

Ela mentia. Na verdade, ela não queria mais matar ninguém, não queria ter essa culpa pelo resto de sua vida. Mas por causa da epidemia do tifo e da tuberculose, ainda há muitas pessoas que morrem por dia em Dachau. E o que Olga poderia fazer, sem fazer com o que os outros nazistas desconfiem que ela está ajudando a vida dos judeus?

Mas pela sua surpresa, o soldado assentiu. 

- Concordo. Quando mais jovens e fortes, melhor. Mas eles irão morrer daqui a pouco mesmo... 

Olga suspirou, assentindo. 

-- 

Depois da desinfestação dos jovens judeus, eles foram marcados com os números nos braços. Aquilo demorou muito, e era muito doloroso para eles. E em Janez, o número que estava no braço estava muito bem visível, uma mistura de tinta e sangue. Aquilo não tinha como doer menos, além de ser um ótimo meio de bactérias entrarem no corpo dele. 

Aquilo tudo dava muito medo. Janez foi para o seu barracão e lá ficou, sozinho, por três dias. Até que recebeu uma visita inesperada. 

Scepan tinha saído do centro de administração para ver a situação dos outros judeus, com a autorização de Olga. E lhe chamou atenção um barracão de novatos no campo de concentração. Por isso, entrou nele.

Era deprimente ter que ver aquela cena de pessoas doentes e deprimidas. 

Janez tinha visto alguém familiar, mas sem óculos, era difícil. Ele teve que apertar os olhos, para que reconheça a pessoa. Quando a reconheceu, arregalou os olhos; ficou de pé, saindo de seu treliche, e correu até essa pessoa, gritando o nome dela, abraçando-a em seguida:

- Scepan! - Janez o abraçou fortemente. 

Scepan arregalou os olhos desde que ouviu o seu nome sendo pronunciado assim tão alto. E mal podia acreditar no que vira. 

- J-Janez...?

- Que bom que você está aqui! Eu pensava que estava morto! Ah, você não faz ideia do quão feliz eu estou em te ver!

Mas era o desespero que tinha tomado conta de Janez desde o início, por isso, Scepan deixou-o abraçado a ele, para que ele se acalme um pouco, precisava disso. 

Depois de algum tempo, os dois se sentaram, e começaram a conversar. Janez falou sobre a família e o esconderijo. Como eles foram pegos. Sobre Auschwitz. 

Scepan ficou mal após ouvir tudo aquilo, e de como deve estar sendo ruim para Andrija, e para Vencelau também. E ao voltar ao seu posto, no centro de administração de Dachau. Será que poderia falar para Janez que ele trabalhava para a administradora do local? Isso não o preocuparia ainda mais?

De qualquer forma, se sentia mal, de todas as formas. 

O prodígio

Como Alexis soube do que aconteceu com os seus pais biológicos, é muito simples, ele simplesmente conversou com Walter sobre muitas coisas. Mas sem que ele desconfie que Alexis era filho de Maxis, e que Wagner tinha o adotado. 

Estava conversando com Wagner, o pequeno soldado que estava lá. Ele tinha falado a Alexis sobre o que achava dos britânicos, de que tinha medo deles, mas não ódio. Falou sobre a juventude Hitlerista e sobre o que ele era obrigado a fazer nela, e de como aquilo não era assim tão bom quanto Hitler falava. E por fim, sobre o que ele queria fazer na vida:

- Eu nunca fui de ficar quieto, você sabe... - Wagner falava. - Quando a guerra terminar, eu vou fazer de tudo para que eu saia da Alemanha pelo menos uma vez para que eu vá para outros cantos. Claro que, eu amo o meu país, mas eu gosto de conhecer outras pessoas. 

Alexis sorriu. Aquele garoto tinha algo de diferente nos outros garotos de sua idade, era um prodígio, que deveriam se orgulhar dele, por ele não ser manipulado assim tão facilmente pela palavras de Hitler. 

- Você me lembra o meu irmão mais novo... Ele também é assim. - Falou Alexis. 

Wagner sorriu, aquilo poderia ser uma boa coisa, não é? Os pais dele com certeza se orgulhariam do filho, apesar do medo, porque ele teria ido para a guerra assim tão cedo. 

Mas que ele era diferente dos outros garotos, ah!, isso ele era. 

Sempre presente

Apesar do mal que estava e da falta de senso de humor e felicidade que tinha, Vencelau mesmo assim trabalhava e tentava viver a sua vida normalmente. Mas era difícil com tanta tristeza.

Mesmo assim, pôde ir para a casa de Hannelli, para que cuide dela no lugar de Alexis, que não podia dar a devida atenção na gestação de sua filha, que estava prestes a nascer. 

É motivo de pelo menos um pouco de felicidade ter uma sobrinha daqui a pouco, por isso Vencelau estava um pouco melhor. Mas pensar nesse bebê, o fazia pensar em Andrija.

Ah Andrija... Como ela está? Ela estaria viva? Isso não se podia saber. Mas o seu pensamento sobre sua querida judia teria ido a outros rumos, como a vergonha que teve depois de fazer amor com ela. 

Vencelau "não tinha" religião, por isso, não faria nenum mal a ele. Mas para Andrija, faria, porque ela tinha uma fé, que não permitia o contato sexual antes do casamento. E aquilo era, de certa forma, incomum. 

E pensar de que ele poderia muito bem pensar em que Alexis nunca teria um contato íntimo com Hannelli antes mesmo de se casar. E de que seu pai, Wagner, não tinha se quer tocado em uma mulher antes de conhecer Emilie. Seria aquilo algum alvo de impureza de alma? Sentir prazer em algo que não era ainda permitido fazer?

Mas o que ele poderia fazer? Os dois estavam aflitos naquela noite, desesperados por uma demonstração de carinho e afeto. Já não era a coisa errada a se fazer, os dois precisavam se amar. 

Mas não ligava para isso; apenas dava atenção ao fato da preocupação nítida, ela estaria viva, ou não? Ele bem que gostaria de saber. 

Missão inacabada

Não pense que Feliciano e Ludwig teriam saído de cena depois dos Krleza serem levados. Eles ainda estavam trabalhando para os Brauer, e fielmente. Feliciano, por exemplo, tinha ido até Ravensbrök, ver Evelyn Krleza.

Mas quando chegou, já era tarde demais. Evelyn estava na beira da morte, e não queria ser ajudada pelo italiano, ela disse que ele deveria ver os filhos dela e cuidar deles, não dela, que já estava na beira da morte. 

- O meu marido morreu... Não quero mais viver. - Foi a última coisa que se ouvira de Evelyn Krleza. 

A última coisa que se ouvira antes de ela morrer de inianição em Ravensbrök. 

Após essa ida ao campo de concentração feminino, Feliciano foi até o campo de coleta de Bergen-Belsen ver Andrija. 

Ele a viu através de arame farpado, ela estava no trabalho das coletas, e ás vezes saia um pouco e conversava com as demais prisioneiras. Mas tinha que ficar esperta com sua pouca comida, pois qualquer descuido, ela poderia ser fácilmente roubada por outros prisioneiros famintos. 

Feliciano via aquela situação com pena. Até ver três soldados cercando Andrija. 

- Como é que vai o trabalho, mocinha? - Perguntou um dos soldados. 

E ela nada respondeu. Feliciano via aquilo de longe, sem poder interferir, engolindo em seco. 

Até que viu o soldado a arrastando pelo braço, fortemente, até o lado de fora do campo de coleta. Feliciano não podia interferir naquilo, e involuntariamente, o italiano começou a rezar. 

Os soldados jogaram-na no chão, fazendo-a ficar de joelhos no piso liso e duro. Um dos soldados pego uma arma, o que fez a judia engolir em seco. 

Ele puxou o gatinho. Resultado: nada. Puxou de novo, o mesmo resultado ocorreu. De novo, de novo. Mesmo resultado. 

- Ora, mas que merda é essa? - Reclamou. - Caralho!

- Deixa eu ver. - Um outro soldado pegou a arma de suas mãos e a ajeitou, apontou a arma para a cabeça de Andrija e puxou o gatilho, e nada. - Mas o que... 

E todos eles tentaram, cada um umas cinco vezes, e o resultado era sempre o mesmo. A judia ainda estava viva. 

Ela falou alto, finalmente pronunciou-se:

- Os nazistas têm gordura no cérebro, por acaso? - Ela perguntou. 

Os soldados e os prisioneiros que passavam por perto olharam para ela, incrédulos. Meu Deus! Como ela pôde? 

Um dos soldados perdeu a paciência e puxou o gatilho várias e várias vezes, mas nada acontecia. Até que sua paciência chegou ao limite da reserva. 

- Sua puta! - E atirou o próprio revólver na cabeça da judia, que não gritou, apenas um gemido de dor. - Deixa pra lá... Você vai morrer algum dia desses mesmo! 

A dor da pancada na cabeça não serviu de nada para Andrija. Ela apenas observou os outros prisioneiros olhando para ela. Perguntando baixinho um para o outro:

- Você viu o que ela falou? Que coragem! - Eles falavam.

Numa situação banal, Andrija estaria sem graça, mas aquela situação era, na verdade, infernal. Ela simplesmente suspirou, ergueu-se e saiu do local, indo para a sua barraca. Já iria nevar daqui a pouco. 

Afinal, aquilo era pior do que um inferno para a jovem iugoslava judia. 


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Notas finais do capítulo

Nesses dias, esta fanfic foi indicada a "melhor drama" num blog, mas que eu não venci porque simplesmente acho que eu tenho que merecer o prêmio por mérito, mas nessa votação, eu tinha que pedir o voto. Como podem ver, só pedi para uma de vocês, depois me senti mal, porque eu queria muito vencer por mérito, não para pedir os votos. Então, eu provavelmente não venci, mas pelo menos, fui justa.

Espero que tenham gostado do capítulo. Até o próximo. :)



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