Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 26
Parte XXV


Notas iniciais do capítulo

"Posto ou não posto?", esse foi o meu pensamento hoje. LOL Mas até que enfim, decidi postar. Eu sei que tá meio tarde, mas nada me impede de atualizar.

Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/336449/chapter/26

Um pequeno problema em Dachau

Perto do final do ano de 1944, Olga se encontrava em meio do campo, observando os trabalhadores. Já estava escurecendo, e escurecia rápido naquela chegada do inverno. Ela estava em meio a soldados, mas não se sentia bem vendo o estado dos trabalhadores.

Mas houve um imprevisto naquela noite. Um incêndio em uma das barracas. Ao verem o fogo, os soldados e os trabalhadores escravos pararam o que faziam e olharam para o local em chamas. O que seria aquilo?

Olga ergueu uma sobrancelha e se virou para a direção em que estava o local.

- Vamos... - Ela avisou aos soldados, e foram para o local em chamas.

Era uma barraca para as crianças, e quase todas estavam do lado de fora, a salvo. Ao ver aquilo, Olga se aproximou correndo, perguntando para uma mulher que estava lá, abraçando uma das crianças.

- O que houve aqui? - Perguntou Olga.

A mulher olhou para ela com um olhar sofrido.

- Alguém pôs fogo na barraca.

Olga olhou para a barraca em chamas de novo. Quem poderia ter feito isso? Um judeu?

- Quem foi? Um judeu?

A mulher negou, devagar. E aquilo assustou Olga.

Os soldados se entreolharam, decidiram então apagar o fogo o mais rápido que podiam. Enquanto Olga fumegava de raiva.

Até que outra mulher saiu correndo de onde estava, gritando desesperadamente pelo seu filho:

- Meu filho! Meu filho está lá dentro! Meu filho está lá dentro!

Olga a parou com as mãos, olhando nos olhos desesperados da mulher judia.

- Se acalme, senhora! - Falou Olga. - Os soldados já estão tentando apagar o fogo!

A mulher não quis saber.

- Mas o meu filho! Ele está lá dentro!

Olga tirou as mãos dos braços da mulher e olhou para a barraca. Sabia o que fazer. Num ato, saiu correndo e entrou na barraca, mesmo que ardendo em chamas.

- Senhorita Olga! - Um dos soldados gritou.

Tarde demais, ela tinha entrado já. E se desviava das coisas em chamas, observando toda aquela chama. Procurava desesperadamente por uma criança, por um menino. Até que alguém gritou, com dificuldade:

- Moça! - E estava entre tossidos. - Me ajude, moça!

Uma voz infantil de seis anos de idade. Olga virou-se e viu aquela pequena pessoa, escondendo-se do fogo, que aproximada cada vez mais. A moça, com todo o cuidado do mundo, tentou pegar a mão dele.

Até que conseguiu chegar pelo menos próximo, mas as chamas o cercavam. Olga esticou a mão para o menino.

- Tudo bem, não vou te machucar! - Ela gritava para ele. - Vamos, se não nós dois iremos morrer!

Completa a frase, o garoto agarrou a mão dela, e ela o pegou no colo com dificuldade, para tentar se desviar das chamas. Agora, o desafio seria sair dali. De novo, tentava se desviar das chamas, mas as madeiras caíam como leves coisas ocas. Olga teve que mudar de caminho várias vezes, pelo bloqueamento das madeiras em chamas. Olhou para o céu pelo teto quebrado, e correu novamente. Próximo a saída, a moça não teve tanta sorte, a chama a feriu um pouco no braço, fazendo-o sangrar.

No final de tudo, conseguiu sair de lá, pelo menos essa sorte. Ficou de joelhos e soltou a criança, que assim como ela, tossia muito.

Olga pôs a mão no braço, sentindo a dor. Ela tinha sido queimada, tinha sido queimada pela vida de um judeu.

A mãe do garoto o abraçou, e ele também a abraçou. Após o reencontro de mãe e filho, ambos olharam para Olga, assim como todos os outros judeus e alemães que ali estavam. Todos impressionados com o que ela fez.

- Você está bem, moça? - O garotinho perguntou.

Olga levantou a cabeça e fez que sim. Levantou o corpo logo em seguida.

- Muito bem, eu quero saber quem foi o causador disso! - Virou-se para os soldados, que estavam com olhares incrédulos. -

Ninguém respondeu; Olga suspirou. Virou-se novamente para os judeus.

- Não houve nada por aqui...

A mãe do menino que foi salvo a olhou agradecida. Olga atendeu a esse olhar.

- Obrigada por ter salvo o meu filho.

O garotinho sorriu.

- Obrigado, moça!

Ela olhou para a mãe e para o filho, com um olhar surpreso.

- Eu só não achei certo você ter que morrer deste jeito. - Falou para o garotinho.

Um dos soldados foi até Olga.

- Senhorita Olga, os bombeiros chegaram.

Ela assentiu.

- Ótimo... - E finalizou aí.

--

Uma hora após isso, Olga estava em seu quarto. Scepan estava fazendo um curativo no imenso machucado dela, que ele não sabia como ela estava aguentando a dor.

- Olga... - Ele a olhou confuso. - Por que fez aquilo?

Ela o olhou, um olhar fixo nos olhos dele. Avermelhou-se.

- Eu às vezes tenho... Um coração muito mole.

Ele sorriu para ela, captando o que tinha acontecido. Afinal de contas, ela não era tão ruim assim.

- Você é uma pessoa boa, é isso. - Ele falou.

Ela arregalou os olhos, uma pessoa falando isso, como?

- Não, eu não sou boa... - Ela discordou. - Se esse incêncio ocorreu, foi culpa minha. Sou eu quem mando vocês, judeus, a ficarem aqui.

Ele suspirou, ainda com o sorriso.

- Isso é o que você pensa... No fundo, você é uma pessoa maravilhosa, Olga.

Ela avermelhou-se mais ainda. Engoliu em seco.

- Ah, não fale isso, seu rato imundo. Acho que você não está sabendo o que está dizendo.

Ele deu uma risadinha.

- Então por que está vermelha?

Ótimo, aquilo pegou Olga.

- Er... Bem... É você quem fica falando essas coisas pra mim, assim eu fico sem jeito.

- Sim, sim... Claro. - Ele havia terminado o curativo. - Está doendo?

Olga olhou novamente nos olhos ardentes dele, aqueles olhos que a fizeram, a obrigaram a mudar. Ela suspirou pesado.

- Não... Não mais...

Ele sorriu novamente, mas depois, tirou o sorriso. Acontecendo um clima entre os dois. Assim que Olga se aproximava dele, bem devagar, ele correspondeu. Os dois aproximaram os rostos, assim beijando um os lábios do outro. Não era forçado, e era um beijo sem preconceito nenhum.

Eles se separarm segundos seguintes. Devagar, devagar.

- Por que fizemos isso? - Perguntou Olga, baixinho.

Ele sorriu.

- Talvez não sejamos tão diferentes assim... - E passou a mão pelos cabelos dela.

Ela mordeu os lábios.

- Mas... Isso é... Estranho.

Ele fez que não.

- Não, não é. - E suspirou, erguendo-se. - Bom... Tenha uma boa noite.

Foi o que ele disse, antes de caminhar até a porta, mas antes que pudesse sair, Olga o impediu.

- Espere! - Fez ela. Ele virou-se para ela. - Obrigada...

Ele deu um último sorriso.

- Foi um prazer... - Falou antes de sair do quarto.

Polônia

A família Krleza estava indo para a Polônia, para Auschwitz, e já era o terceiro dia deles de viagem de trem. Elizabeta tinha posto a cabeça no ombro de sua irmã para que possa dormir. E já era de manhã, quando Andrija foi a primeira a acordar, ouvindo o barulho dos pássaros. Ela sorriu.

- Já é manhã... - E olhou para Elizabeta. - Eliza, já é manhã. - Mas a irmã mais velha não respondia. Andrija tirou o sorriso do rosto. - Eliza? - Nada. - Elizabeta?

Tentou empurrar um pouco a sua irmã, para ver se ela iria acordar. Mas foi em vão, Elizabeta tinha caído dura no chão do vagão. Aquilo fez Andrija se desesperar.

- Elizabeta! - Gritou. Aquilo acordou o resto de sua família e mais alguns judeus que ali estavam com eles.

- O que houve? - Perguntou Janez.

Andrija foi até a irmã, observando a sua face pálida e gélida. Aquilo não estava acontecendo! Elizabeta tinha morrido ali mesmo!

- Eliza... - Lágrimas surgiram nos olhos da mais nova.

Franz e Evelyn foram até Andrija e o corpo de Elizabeta, depois, foi Janez.

- Minha... Minha filha... - Franz não conseguia conter as lágrimas de tristeza e desespero.

Evelyn não se conteu, e abraçou o corpo morto da filha, como se aquilo pudesse reviver ela.

- Não! Não, minha filha, não! - Gritava. - Por que teve que ser ela? Por que não fui eu? - Gritava para os céus.

- Mãe... - Janez não conseguia acalmar a família, estava incrédulo também, triste também.

Foi aquele o final de Elizabeta Krleza. Pelo menos, agora ela estava segura, junto com quem realmente amava, que era Roderich.

--

Os judeus tinham saído dos vagões e isso já era final de tarde. Depois da revisão dos mortos durante a viagem, fizeram uma chamada em Auschwitz. Depois, disseram quem iria para uma embarcação imediata.

- Para Ravensbrück! - E a chamada das mulheres que iriam ao campo de concentração. - ... Evelyn Krleza...

A família olhou para Evelyn, que se manteve tensa. Mas logo, ouviram o resto da mensagem.

- Para Dachau! - Outra chamada, dessa vez, de homens. - ... Janez Krleza...

Dessa vez, Janez foi o alvo dos olhares. Quer dizer que eles não estariam mais juntos? É isso? Não podia ser...

- Para Bergen-Belsen! - De mulheres, novamente. - ... Andrija Krleza...

Andrija entendeu. Provavelmente, ficaria bem mais longe de onde estava. Ficaria longe de sua família e da sua vida em Belgrado. Aquilo era inacreditável.

Finalizada a chamada, uma última observação foi feita:

- O resto de que não foi chamado para a embarcação imediata, ficarão aqui, em Auschwitz!

--

Depois desse dia, Janez parou de comer, esperando o dia em que embarcaria para Dachau. Ele deixaria de comer para alimentar sua mãe e Andrija. Todos estavam magros, apesar de tudo. E Franz seria o único que ficaria lá; todos da família, separados.

E assim foi feito; Franz ficaria em Auschwitz, Evelyn iria para Ravensbrück, Janez para Dachau, Andrija para Bergen-Belsen, e Elizabeta estaria no céu.

Este seria um fim inesperado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não fiz ninguém chorar, sou péssima nisso, ok.
Espero que tenham gostado e desculpem-me qualquer coisa.

Até o próximo capítulo :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fraternidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.