Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 18
Parte XVII


Notas iniciais do capítulo

Eu estou pensando em, quando terminar esta fanfic, postar uma que se passa na Rússia durante a guerra. Não, eu não posto só histórias que se passam sobre a Segunda Guerra Mundial, mas é que tem uma parte da Rússia que quase ninguém sabe, que se passa durante a guerra. Então, estou preparando uma história que se baseia exatamente nisto.

Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/336449/chapter/18

O casal silencioso*

Era mais uma noite fria de 1943, já estavam no final de ano. Vencelau estava no sótão, com Elizabeta e Janez dormindo um pouco. Ele estava lendo um livro, encostado na parede perto da janela - era mais claro lá - ; Andrija estava sentada ao lado dele, com a cabeça encostada no ombro no rapaz, lendo também. Mas não conseguia prestar atenção no tema daquela história.

Andrija estava cabisbaixa, de alguma forma. Com muitas coisas na cabeça, e sem a certeza se vai realmente sobreviver. E se eles tiverem que ficar por lá por mais algum tempo? Ela não aguentaria isso. Queria sair um pouco, ver o sol, respirar ar puro. Mas não podia. Malditos sejam os nazistas.

Até que ele desviou o olhar para ela, observando o olhar triste dele. Olhou depois para os irmãos dela, que estavam no sono profundo. Voltou o olhar para ela; aquele seria o momento. Mas tentava não transmitir isso com palavras, sempre se enrolava com elas.

Até que ele se afastou, impossibilitando-a de estar com a cabeça deitada no ombro dele. Ela olhou diretamente para ele; estavam um em frente ao outro. Ele passou as mãos pelos cabelos dela, os olhos pedindo para que ela se acalme. E os olhos dela retribuiram, ela sorriu, mas os olhos não.

Vencelau tentava não olha-la da mesma maneira, mas era um pouco impossível. Sorriu também, mas foi por pouco tempo. Ao jovem erguer o tronco, Andrija tirou o sorriso do rosto, ainda olhando nos olhos dela. Ele ergueu-se um pouco, até ficar um pouco maior do que ela, ainda com os joelhos no chão. Depois, pegou-a pelos ombros, deslizando os dedos até um pouco mais abaixo deles, agarrando-os logo em seguida. Após o agarro, a abraçava lentamente.

Andrija respondeu ao ato; deslizou as mãos pelas costas do rapaz. Ainda olhando nos olhos um do outro, sabendo exatamente o que os pensamentos do outro dizem. Aproximaram os seus rostos, os lábios se pressionaram um contra o outro.

Um beijo fraco, de início. Depois, foi se aprofundando, com um som de aleluia. Aquele ato só dizia que eles estavam esperando o momento certo para demonstrarem os seus sentimentos.

Se separaram, já estava na hora de Vencelau ir embora. Ele sorriu para ela; ela fez o mesmo. Até que ele se afastava devagar, bem devagar. Nem "Boa noite" será necessário, eles já sabiam de tudo.

Até que ele saiu dalí, deixando-a, de novo, com esperanças.

É claro que, com o esconderijo e uma hora tão inapropriada para se falar alguma coisa, eles não podiam expressar-se com palavras. Mas quem precisava de palavras? Os nazistas podem tê-los impedido de andar juntos, de demonstrar em palavras os seus sentimentos.

Mas não os impediam de sentirem um ao outro, com atos delicados, mas significativos. Nenhum ditador ou nenhuma ideologia iria afastar um amor destes.

Início de 1944

Mal eles sabiam que iria ser o penúltimo ano da guerra. Se soubessem, eles estariam esperançosos e muito mais tranquilos. Ambas as famílias, Brauer e Krleza.

Mas nada corria bem na Inglaterra. Numa cidadezinha longe de Londres, um abrigo pequeno, mas muito bem equipado. Uma certa garota olhando para o céu, pela janela do seu quarto. Aquela garota não parava de pensar em seu irmão.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto, novamente. Por que tinha que ser o seu irmão? Por que? Perguntava-se sempre. Em suma, Tatiana não queria que ele fosse, queria ir com ele, ou ele ir com ela. Não importa! Que os dois estejam juntos.

Aquele acontecimento já fazia um ano, e ela esperava que ele esteja vivo. Mas sempre imaginava o pior, será que ele morreu? Será que mataram o seu irmão mais velho? Onde ele está agora? Por favor, na Alemanha, não!

O que mais a frustrava era que ele teria sido morto nas mãos de malditos soldados alemães, que estariam rindo da situação dele, enquanto o mesmo morria. Morria sendo humilhado.

Mas não poderia pensar nisto, era incrívelmente deprimente. O seu irmão estava vivo. Estar bem, com certeza ele não estava, mas pelo menos, vivo.

---

Wagner estava no seu trabalho, quando recebeu uma carta estranha. Era uma carta vinda da Alemanha. E por ser tão estranha, deixou-a para abrir quando chegasse em casa.

E assim foi feito, chegou em casa e a primeira coisa que fez foi chamar Emilie. Posteriormente, Vencelau estaria ali também e talvez, Alexis.

Mas Wagner não podia esperar por eles. Passou as mãos pelos cabelos - que já estavam ficando brancos - e apertava os olhos, tentando ver o remetente. Era da área militar alemã. Sendo assim, Wagner ficou nervoso.

Ao ler o remetente, Emilie também não teve que esconder o nervosismo. Virou o olhar para o seu marido, pondo a mão por cima da mão dele. Engoliu em seco.

- Será que é... - Não conseguiu terminar.

- Não, não pode ser... - E apartou a mão dela.

Após alguns segundos de extrema agonia, Wagner abriu a carta. Ao ler, largou-a no instante seguinte, Emilie também a leu. Ambos ficaram com os olhos incrédulos. Olharam um para o outro, e Emilie começou a chorar, sem cerimônia.

Ao ouvir aquilo tudo, os filhos da família Krleza se assustaram. Ouvia um pouco do choro de Emilie, e as palavras incrédulas de Wagner. Janez se encolheu, nervoso.

- Será que... - Falou Janez, com os lábios tremendo.

- Não... - Elizabeta negou. - Se for... Não, não...

Andrija nada falou, só se encolheu e engoliu em seco. Poderia ser tudo.

Até que Vencelau entrou na casa, e foi recebido por um abraço apertado e desperado de sua mãe.

- O que houve?! - A única pergunta que vinha em mente. - Pai, o que foi?! - Repetiu a pergunta.

Wagner não conseguia piscar, mas de alguma forma, esperava aquilo. E nada respondeu ao filho, apenas apontou para a carta. Vencelau juntou as sobrancelhas e pergou a carta. Ao lê-la, pôs a mão sobre os lábios, ajoelhando-se no chão.

- Pai... Isso é... Não me diga que... - Tentava terminar qualquer frase.

Wagner assentiu.

- Isso mesmo... É uma carta de convocação para a guerra.

Era isso, Wagner ia guerrear. Ia para a guerra mais uma vez. E dessa vez, não voltaria vivo, com certeza.

Depois de alguns minutos, a notícia chegou aos ouvidos de Franz Krleza, que arregalou os olhos. Surpreso, nervoso, desesperado.

- W-Wagner... Por que você? Por que?... - Perguntava, com as mãos nos ombros do alemão.

Wagner assentiu.

- Sim, Franz... Vou ter que ir para a guerra. O que mais me enoja é ter que morrer por uma pátria que nem mesmo eu consigo aguentar mais. - Bufou. - E ainda por cima, ter que lutar em nome de... Adolf Hitler. - Falou o nome do Führer com desprezo.

Franz e Evelyn faziam um tremendo esforço para não acreditar. Não podia ser verdade, não podia.

Evelyn balançou a cabeça negativamente.

- Senhor Brauer... - Ela falava. - O senhor não pode ir...

Wagner suspirou, agora, abraçando a sua esposa, que tinha o agarrado, chorando em seu peito.

- Parece que... A Alemanha está perdendo soldados e estão apelando para os alemães que estão fora da Alemanha. É isso... Tenho certeza de que é isso.

Vencelau tinha falo, com uma expressão impressionada e artodoada, para os irmãos Krleza. Janez e Elizabeta se sentiram mal, mas nada comparado a Andrija, que abraçava o seu - agora - namorado, enquanto ele se deitava no ombro da moça.

E então, ele falou:

- E se eu... Se eu pudesse ir no lugar...

Andrija o interrompeu.

- Não... De qualquer forma, não iriam te aceitar. Você é sérvio, e alemães odeiam sérvios, lembra?

É claro que ela não tinha gostado nem um pouco da ideia. Esta estava certa, de algum modo. Mas estava preocupada também porque não queria perde-lo. Perde-lo seria um inferno.

Ele assentiu, decepcionado.

- Eu achei que... Poderia ajudar o meu pai.

Ela acariciou o cabelo dele, beijando-o na ponta da cabeça.

- E você está o ajudando, e muito... - Voltou a acariciar os cabelos castanhos dele.

Mas isso não era o suficiente para consolar Vencelau, que até então estava triste com muitas coisas, mas agora, apareceu mais isto.

Alexis foi para as casa dos pais logo depois. Quando entrou, se deparou com a desesperada cena. Agora, Ludwig e Feliciano também estavam lá, tentando ver se poderiam resolver o caso dele.

Mas nada adiantava.

- Me desculpe Wagner... Mas não há nada que possamos fazer por você. - Falou Ludwig, com alguma pontada no peito.

Feliciano os olhou com pena. Não queria que tudo aquilo terminasse assim. Pobre família.

Até que Alexis ergueu as sobrancelhas, não entendendo o que se passava.

- O que aconteceu aqui? - Perguntou, com calma.

Ludwig virou-se para Alexis. Mordeu o lábio inferior e respondeu:

- O Senhor Brauer foi convocado para a guerra pela Alemanha nazista.

Alexis ficara incrédulo, deu alguns passos para trás. Logo, fechou um pouco os olhos, abrindo-os no instante seguinte. Revirou o olhar, passando a mão pelos lábios.

- Mas... - Ele tentou retrucar algo.

- Não, não há nada que se possa fazer. - Ludwig fez que não várias vezes.

Mas tinha que ter algum jeito. Alexis olhava para todos, tentando achar alguma solução para aquilo tudo. Infelizmente, a única solução que achou era completamente insana. Inclusive, a mesma ideia de Vencelau, mas aquilo iria sair diferente.

- Eu posso ir no lugar dele.

Ao pronunciar essas palavras, Wagner e Emilie olharam com os olhos esbugalhados para o filho mais velho.

- O que?! - Ambos gritaram.

Wagner foi até Alexis, segurando os ombros dele, sacudindo-os um pouco.

- Você não vai sair daqui! Ouça o que eu digo! Isso é assunto meu, não quero que se meta nisso! Ouviu?!

Alexis ficou sério. Afastou o pai um pouco violentamente. Olhou para ele, seriamente.

- Alexis... Meu filho...

- Pai... - E começou. - Eu já sou adulto... Eu sei o que estou fazendo. - Virou o olhar para Ludwig, que também ficou impressionado com a atitude do rapaz. - A Alemanha pode aceitar um búlgaro, não? Pelo que eu saiba, a Alemanha e a Bulgária são aliadas nesta guerra, não são.

Ludwig assentiu.

- Exatamente. Se fosse o Vencelau, teria algum problema. Os alemães não suportam sérvios.

Alexis assentiu, voltando o olhar para o pai, agora, um pouco triste.

- Pai... Por favor, deixe-me ir. Olhe para você, quase nem sobreviveu à uma guerra. E não consegue andar direito desde quando o senhor tinha a minha idade. - Via os olhos cheios de lágrimas do pai. Foi a primeira vez que vira o seu pai chorar. - Então eu vou...

Emilie tentou se intrometer:

- Alexis! Veja o que está falando! Por favor!

O filho revirou o olhar para a mãe:

- Como eu disse, sou um adulto, mãe. - Ele suspirou. - Eu sei que sou casado, e sei que não tenho nenhuma técnica militar. - Ele abaixou os olhos ao pensar em Hannelli. - E sei que... Posso muito bem ser morto. - Aquela frase fez as lágrimas do pai caírem.

- Alexis...

Ele continuou

- Por favor, pai. Deixe-me ir. Eu estou disposto a ir, mesmo que... Isso seja loucura, mas... Eu faço isso pelo senhor. Eu tomo cuidado para não ser morto.

Wagner retrucou:

- Isso não é tão simples, Alexis.

- Pai... Confie em mim. - O olhou com um olhar que Wagner tivera impressão de que já tinha o visto de algum lugar.

Logo, Wagner se lembrou de algumas palavras, ditas por um homem que ele conhecia: "Wagner... Confie em mim". Foi o mesmo homem que o salvou, e o nome desse homem era Maxis Shamalanoff.

- Maxis... - Wagner sussurrou, bem baixinho.

Emilie tentou mudar a opinião do filho, pondo-se na frente dele, no meio de ambos.

- Alexis, por favor, pare! Eu quero que pare com isso! - Tentava por um sermão sobre Alexis, que se sentia ridículo.

Até que Wagner não teve dúvidas antes de falar:

- Emilie... Deixe-o ir. - E um pequeno sorriso fez-se nos lábios de Wagner.

Emilie virou-se para o marido, incrédula.

- Mas o que?... Wagner! Você não vai por seu filho em perigo e...

Wagner fez que não, ainda com o sorriso.

- Ele não vai estar em perigo, porque ele não vai estar sozinho. - E lembrou-se mais uma vez de Maxis. Não é a toa em que Wagner sempre achou Maxis e Alexis parecidos.

Alexis deu um pequeno sorriso, mas sempre tinha vontade de desistir ao pensar em Hannelli. Tirou o sorriso, como poderia contar isto à sua querida Hana?

Feliciano logo se pôs no meio da conversa.

- Alexis, sendo assim... - E deu um largo sorriso. - Eu posso falar para a sua esposa que foi você que foi convocado para a guerra, não por escolha sua.

Alexis olhou para Feliciano, um pouco preocupado. Não gostava de mentir para a sua esposa, mas tudo pela segurança dela. Ele assentiu para o italiano. Suspirou.

- Vou ter que falar com o Vencelau agora... Isso vai ser a pior parte.

Alexis chamou Vencelau, que estava no sótão. Pediu licença aos que estavam lá e desceu à sala. Até que ambos sentaram-se no sofá, agora eles estavam sozinhos. Alexis queria falar com o seu irmão mais novo, exclusivamente com ele. 

Mas ficou alguns segundos calados, sem saber como dizer ao seu irmão. Mas começou:

- Me desculpe, irmão. - E balançou fraco a cabeça negativamente. - Mas eu não posso voltar atrás nisto. Quero que saiba que... - Engoliu em seco. - Eu vou para a guerra no lugar do nosso pai.

Ao ouvir aquilo, Vencelau ficou boquiaberto. Não conseguia piscar, tremia, não conseguindo acreditar.

- M-Mas Alexis... Por que?

Alexis pôs uma mão no rosto, abaixando a cabeça.

- Porque eu não quero que nosso pai se arrisque de novo. - E voltou a olhar para o irmão, tristemente. - Eu quero que todos vocês estejam bem.

Vencelau fechou os olhos, balançava a cabeça negativamente. Não poderia ser pior; o amor da sua vida presa num local por mais de dois anos, o seu melhor amigo num campo de trabalho forçado - que nem sabe se ele está ou não vivo agora - e agora, seu irmão indo para a guerra. Não poderia acreditar.

- Alexis... Alexis... - Chamava o nome do irmão. - Não me deixe pior do que já estou, Alexis. - Falava, com um tom de choro. - Como você acha que eu estou depois disso tudo?

Alexis assentiu, sentindo a dor do irmão.

- Eu sei muito bem, Vencelau. Eu sei... - Chegava mais perto do irmão, para abraçá-lo. - Mas escute... Eu posso voltar.

- Você "pode". Foi a mesma coisa que o Scepan me disse... E ele pode estar morto agora.

Alexis aquietou-se. Como poderia fazer com que o irmão se sentisse melhor. Tentou abraçá-lo, mas Vencelau recusou, afastando-o com a mão. Alexis suspirou.

- Você tem esposa... Por acaso, não pensou nela?

Alexis assentiu.

- A Hannelli é a minha vida, Vencelau. É nela que eu penso toda a hora. Eu não sou tão frio quanto pensa. Se eu fosse, eu não estaria fazendo isso.

Vencelau secou as lágrimas que estavam nadando em seus olhos. Sempre tivera vergonha de chorar na frente do irmão.

- E eu também te amo, Vencelau. - Pela primeira vez, disse isso. - Eu nunca de disse isso, mas... É a verdade.

Vencelau olhou para o irmão, respirou fundo.

- Eu também te amo, irmão, é por isso mesmo que eu não quero que você se machuque.

Alexis estava perdendo um pouco de tempo. Já era para ter voltado para casa há muito tempo. O mais velho levantou-se e pôs-se na frente do mais novo.

- Eu me sinto honrado em ouvir isso... - Passou as mãos nos ombros do seu irmão. - Obrigado, irmão.

Mas Vencelau não quis saber.

- Se você morrer, saiba que eu nunca vou te perdoar. - Falou com seriedade.

Alexis sorriu, um pouco torto.

- Claro, claro... Pode me odiar o quanto quiser.

Depois de uma bela encarada no seu irmão, Vencelau o abraçou forte. Deitou a cabeça no ombro dele, com os olhos abertos. Enquanto Alexis retribuia o abraço.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(*NOTA: O nome do tópico foi um trocadilho de um conto antigo, que teve suas adaptações muito diferentes, desde Sri Lanka até a Escócia)

Espero que tenham gostado do capítulo. E até o próximo :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fraternidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.