Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 19
Parte XVIII


Notas iniciais do capítulo

Eu estou com tédio... é. Então, nada melhor do que passar aqui para postar alguma coisa. Postar coisas na madrugada é o poder. xD

Boa leitura :)



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Memórias: Como Maxis Shamalanoff salvou Wagner Brauer

Era o final da primeira grande guerra, e a base alemã estava um caos. Wagner, ainda jovem, corria das bombas com dificuldade. Tudo culpa do tiro que havia levado na perna por outro soldado alemão.

Outros alemães corriam. Infelizmente, muitos não escapavam da morte. Mas Wagner continuava e continuava. Parecia que nunca iria conseguir achar algum lugar seguro, mas tinha que tentar. Procurava e procurava, não achava.

Desesperou-se. Estava cansado demais para correr mais do que aquilo. Até que ele tropessou em algo que não tinha visto o que, era uma raiz de árvore arrancada violentamente. Até que ele não conseguia se levantar, não sem ajuda.

Depois de muitos minutos de agonia, Wagner logo conformou-se. Ele estava lá para morrer, este era o seu destino. Ele até tinha fechado os olhos, esperando o momento certo. "Então, é isso." pensou. E nunca iria encontrar metade do que queria encontrar, fazer o que?

Mas então, uma voz o chamou. Wagner abriu os olhos com força e levantou a cabeça rápidamente. Logo viu um homem com cabelos negos, um pouco longos - pelo menos, até seu pescoço - e olhos castanhos. Aquele tinha uma cicatriz na testa, do lado direito.

- Maxis?... - Perguntou Wagner.

- Vamos sair daqui! Eu te ajudo! - E tentou erguer o alemão, mas o mesmo não deixou.

- Você não vai conseguir, Maxis.

Maxis o olhou seriamente, não podendo esconder o desespero.

- Wagner, você vai morrer assim? Não, você tem muito o que viver antes! Vamos! - E ajudou-o a erguer pelo menos o tronco, até que ele ficasse de joelhos.

- Maxis, mas você...

Maxis o interrompeu.

- Wagner... Confie em mim.

Depois daquela frase, Wagner aceitou a ajuda. Maxis o levou para dentro de uma trincheira; e lá ficaram até as bombas sumirem. Ficaram umas quatro horas.

Quando acabado, eles e mais outros soldados sairam da trincheira. Depois daquele acontecimento, receberam a notícia de que a guerra tinha acabado e eles tinham perdido.

O escravo de Dachau

Descia as escadas do porão. Era lá onde agora morava, por não poder "pisar no mesmo local" que a raça ariana. Mas dava muito bem para ouvir a voz de Olga. Ela falava alto com mais alguns administradores de campos de concentração, todos nazistas.

Para Scepan, ouvir aquilo era tão deprimente quanto ouvir mortes sussurradas de crianças judias, ou de pessoas que morriam injustamente. E nada mais o importava, pois há meses estava lá.

Aquelas risadas nazistas o artomentavam. Ouvir aquilo era torturante. Ouvir piadas sobre judeus, ouvir humilhações e desejos. Naquela hora, Scepan sentia uma vontade enorme de... Se matar.

Ele nunca pensou em suicídio, mesmo sendo um doente psicológico. E nem queria pensar agora, pois sempre imaginava como estaria sua irmã e Vencelau. Ele sabia que seus pais estavam mortos, por isso, não pensava muito neles. Mas se sentia envergonhado por não ter sido um filho justo. Sempre ignorava os pais, mesmo aqueles que tentavam te trazer amor.

Ele se levantou da cadeira semiquebrada. Pegou uma faca de cozinha afiada que estava em cima de uma mesa de madeira velha. Lá tinha de tudo, papeis, canetas, tintas e outras coisas, mas bem antigas.

Deu uma bela olhada naquele instrumento, e fixou o  olhar nela por muitos minutos. Até ouvir a voz de alguém, chamando-o a atenção:

- O que você está fazendo?

Scepan assustou-se e virou para traz; Olga estava o observando.

Logo, a jovem moça foi até ele e segurou a mão dele que segurava a faca com força.

- Não pense em fazer isto. - E pegou a faca da mão dele. - Se você fizer... - Empurrou-o lentamente e pressinou-o contra a parede. - Você irá no inferno arder.

Ela o olhou séria e com um ódio grande. Ele a olhava com os olhos pesados de tristeza e culpa, fato de sua depressão nervosa. Olga aproximou a lâmina da faca do pescoço dele, aproximando mais ainda os corpos de ambos.

- Permita-me deixar algo bem claro aqui: Você me pertence agora. E vai me pertecer até o último suspiro da sua vida. Logo, eu tenho controle sobre você. - A respiração forte dele pôde ser sentida pelos cabelos castanhos claros da alemã. - E já como eu tenho controle sobre você, você me obedece. Ou seja, eu ordeno a você de que você não morrerá até que eu diga que deve morrer, então... - Ela aproximou os lábios da orelha dele, sussurrando. - Eu mesma vou matá-lo. E você só irá morrer quando se tornar inútil para mim.

Scepan sentia o toque da alemã em seu pescoço, que estava acariciando-o. Sentir aquele toque frio dava calafrios no jovem.

Ela separou-se dele e olhou friamente nos olhos dele.

- O que eu fiz para você... Que fez você me odiar tanto? - Perguntou Scepan, sussurrando.

Ela não pensou em responder, mas não poderia sair dali sem alguma resposta. Então, ela responde:

- Simples, você é um judeu. Judeus não são dignos de viver na mesma terra e respirar o mesmo ar dos arianos.

Scepan poderia ter falado algo, mas apenas abaixou a cabeça, com o olhar fixo no chão. Por que tanto ódio? Não entendia o porque de tudo aquilo.

Ela continuou:

- Vamos, não faça essa cara. Eu odeio judeus, mas eu não odeio exclusivamente você. - Ela deu um pequeno sorriso. - E cá entre nós, você também me odeia, não é?

Ele nada tinha respondido, apenas a olhou com os mesmos olhos de antes.

- Não vai responder, não é? Eu vou encarar como um "sim". Afinal, todos esses judeus me odeiam mesmo.

Scepan revirou o olhar várias vezes, até olhar com seriedade para ela.

- Olga, pense no que está falando, e pense no que está fazendo. Não fizemos nada de errado.

Olga surpreendeu-se com a resposta do judeu. Até que ela não deixaria tão barato assim, levantou a voz:

- Não fizeram nada de errado?! Só foderam com a vida de nós, alemães.

- Não só são vocês que são alemães. Muitos judeus que aqui estão também são alemães. - Ele forçava para tirar todas aquelas palavras da boca. - Eu não sou um exemplo, mas se eu sei falar a sua língua, é porque um alemão me ensinou. E eu garanto que ele não é um judeu.

A moça tinha perdido a paciência. Andou rápidamente até ele, demonstrando a sua raiva. Passou a mão pelo seu rosto, fortemente, um tapa. Mas não foi bem um tapa, as unhas grandes e afiadas também atuaram no ato de violência. Ela observou o resultado, que eram três cortes no rosto de Scepan, com sangue judaico correndo por ele.

- Fale mais alguma besteira, que eu não vou ser assim tão boazinha. - Mas nada disso afetava Scepan, que a encarava com desprezo.

O judeu não conseguiria falar mais uma palavra se quer. A moça tinha saído de lá, subido até os seus aposentos.

Olhando para aquela cena, não podia ficar mais atordoado.

Momento pré-despedida

Assim que Alexis tinha decidido que iria para a guerra, Hannelli logo soube e passou um longo tempo sem falar com o seu marido. Estava completamente chateada, e completamente triste. Ao mesmo tempo, o desespero era enorme. Por que Alexis tinha que decidir ir até lá para enfrentar a morte?

Foi naquela noite em que estava sentada na cama, olhando para o nada. As lágrimas escorriam no rosto da romena, em silêncio. Até que Alexis entrou no quarto, encarando as costas dela por alguns momentos. Uma pitada de arrependimento surgiu, mas lembrava-se do porque estava fazendo aquilo.

Ele caminhou até o lado dela, sentando-se na cama junto a ela.

- Hana... Não fique com raiva de mim...

Ela fez que não.

- Alexis... Não estou com raiva. Estou preocupada. Aliás, você sempre me preocupa. - Voltou o olhar tristonho para ele. - Por que você faz isso comigo?

Ele secava as lágrimas dela com o calor das mãos. Logo depois, passava as mãos pelos cabelos dela.

- Eu quero sempre te proteger, é por isso.

Ela virou o rosto, olhando para o lado oposto a ele.

- Eu não quero você longe de mim, e eu quero sempre te ver. Eu não quero nunca mais te ver. Entende isso?

Ele assentiu.

- Entendo sim, Hana. - E a abraçou por trás. - Eu entendo. - Deu um beijo no rosto dela.

Ela simplesmente ignorou, levantou-se com força daquela cama. Ia para outro lugar, sendo que foi impedida por Alexis, que a segurou pelo pulso.

- Hannelli, espere... - E fez ela parar.

- Alexis, eu não quero saber.

Até que Alexis a puxou para a cama, deitando-a em seguida. Ficou sobre ela, beijando seus lábios. Ela não se debatia; ao contrário, respondia. Até que se separarm por falta de ar.

- Hana, me escute... - Ele sussurrava. - Eu não vou te deixar sozinha, porque eu não tenho nenhum propósito disto. - Passava a mão pelo rosto dela. - Mas se eu tenho um desejo... Antes de ir para a guerra...

Ela sabia do que ele estava falando, então o beijou de novo. Iriam fazer daquela noite inesquecível. Simplemente porque em poucos dias, Alexis ia para a guerra, e nenhum dos dois tinham certeza de que se veriam novamente.

Desejo ardente

Já era noite em Dachau, o típico campo de trabalho forçado perto de Munique. Olga fumava mais outro cigarro na varanda de sua residência, observando o campo inteiro. Pessoas entravam e saíam de suas barracas, a maioria, doentes. Estava tudo em ordem para ela.

Mas não estava em seus pensamentos. Em momento nenhum deixava de pensar em Scepan. E por que aquele judeu não saia de sua cabeça?

Até ela mesma não podia aguentar os próprios pensamentos. Por que um judeu iria tomar conta de seus pensamentos daquele jeito?

Sem paciência, atirou o cigarro - apagado - no campo, perdendo-se em pequenos resíduos. Voltou rápidamente para o seu quarto.

Lá, tinha uma bíblia e um terço, dois materiais sagrados do cristianismo. Ela ajoelhou-se diante os dois materiais. E logo tentou orar, mas não conseguia. Por isso, expôs as suas mágoas.

- Me perdoe, mas o olhar daquele judeu me incendiou. Eu conseguia sentir aquele ódio nos olhares dele sobre minha pele. De alguma forma, eu tive medo, pela primeira vez. - Ela deu uma pausa. - Mas me diga, por que um judeu? Ah, meu Deus do céu! Me perdoe, meu querido Führer! Eu senti uma coisa estranha quando eu olhei naqueles olhos!

Ela fez outra pausa. Desta vez, os seus pensamentos se perderam; ela havia enlouquecido. Logo, ergueu-se de forma violenta, olhando para o retrato do Führer logo na parede. Ergueu o braço, trinta graus de ângulo.

- Heil Hitler! - Fez a saudação. - Eu sempre serei fiel ao senhor. Mas me diga... - E começou a falar com o retrato. - Por que o olhar daquele rato imundo me incendiou? - E suspirou pesado. - A culpa não foi minha! Foi o judeu que me enfeitiçou! - E ajoelhou-se diante ao retrato. - Führer... A culpa não foi minha. Me salve daquele olhar, deixe-me destruí-lo.

Ela simplesmente ficou de pé; depois de um longo suspiro, ela teria ido até a varanda novamente. Olhou para as estrelas, com um olhar exausto. Até que tentou decidir algo.

- Eu não posso fazer nada se Deus fez o amor bem mais forte do que a mulher. Isso... Nem o Führer pode mudar. - Abaixou a cabeça, e não aguentou tamanho o ódio, não aguentou o tamanho do desejo. - Judeu do inferno! - E respirou rápido, até falar novamente em tom baixo. - Irá ter que escolher, ou o meu lado... Ou ser morto por minhas mãos.

De alguma forma, ela estava ficando louca; louca de desejo por um certo judeu.


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Notas finais do capítulo

Eu estou postando em meio da madrugada, ok? ~oooh~
Eu vou dormir agora.

Até o próximo capítulo :)



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