Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 15
Parte XIV


Notas iniciais do capítulo

Eu estou começando a ler "A lista de Schindler" e até agora, eu estou amando. Eu recomendo muito este livro. Se quiserem, também tem o filme. O filme foi dirigido por Steven Spielberg, um dos meus diretores de cinema preferidos. Pra você, que gosta da história do Holocausto :)

Boa leitura :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/336449/chapter/15

Final de 1941: Dezembro

Estariam comemorando o Hanukkah, se não estivessem escondidos, mas não podiam fazer nada sobre isto. Estavam sobrevivendo e isso era bom. Aliás, em todos esses cinco meses, a mudança aconteceu. A mudança nos pensamentos de cada integrante da família judaica.

Franz Krleza: "Estamos escondidos aqui há um tempo significativo. Não duvido que iremos passar dois anos ou mais aqui, mas está tudo bem. Desde quando os nazistas não chegarem até nós, está tudo bem. Uma pena não podermos comemorar o Hanukkah este ano. Mas estamos bem em condições de saúde, apesar da pouca comida. Estou ciente de que, um dia, estaremos fora de perigo."

Evelyn Krleza: "Eu estou feliz com o fato de eu ter me acalmado um pouco. Mas eu sinto uma grande abstinência agora, eu queria cozinhar um pouco. Durante toda a minha vida, eu cozinhei. Parei de forma estranha agora, mas eu acho que dá para se acostumar. Apesar disto, eu me sinto bem confiante. Mas eu queria ver meus filhos, como eles estão, se eles estão bem. Pelo menos, meu marido e meus filhos estão bem, isso é o que importa."

Elizabeta Krleza: "Eu me sinto bem mais leve com a chegada do inverno. Esta estação condiz comigo. Estou de certa forma, aliviada; meus irmãos estão comigo, meus pais estão bem. Além de que, há muitas pessoas boas me protegendo. Mas ainda não consigo parar de pensar em Roderich. Será que ele ainda está vivo? Se estiver, que Deus cuide dele por mim. Eu não consigo o imaginar em meio a muita sujeira, ratos e soldados frios. Espero que ele volte para mim algum dia. Ah Roderich! Se eu pudesse te ver, pelo menos uma vez, isso me afastaria de toda a tristeza. Quero-o de volta, custe o que custar."

Janez Krleza: "Apesar de não comer direito à dias, eu estou ótimo. Mas um pouco cabisbaixo por ter sido obrigado a sair do colégio por ser judeu. Queria continuar os meus estudos de medicina; por isso, estou estudando com os livros que o Senhor Brauer e Alexis me emprestaram. Não é a mesma coisa, mas pelo menos é algo. Eu pelo menos não vou me sentir tão atrasado sobre as coisas. E eu queria sair um pouco, mas eu não posso. As únicas vezes que eu saio do sótão é para ir ao banheiro, e mais nada. Eu não sou uma pessoa que aguenta ficar dentro de um só lugar por muito tempo. Mas eu tenho que aguentar, de alguma forma."

Andrija Krleza: "Os britânicos e os russos parecem estar avançando um pouco mais. Mas a ofensa alemã ainda é forte e muito perigosa. Estou com um pouco de medo, mas nunca pessimista. Estou tendo uma boa sensação, afinal de contas. Eu tenho que viver, eu sou muito jovem. E eu preciso me expor ao mundo ainda. Jornalismo é o meu sonho, e a primeira reportágem que farei vai ser sobre esconderijos da guerra. Tenho certeza de que os jovens de amanhã serão atraídos por isto. Mas ultimamente, ando preocupada com Scepan. Desde quando Vencelau me disse sobre o que ele tinha feito. Scepan é, e sempre será, um cara maluco. Mas quem sabe, a maluquisse dele vai servir para alguma coisa."

E não conseguiam compartilhar essas coisas direito. Como sempre deviam estar em silêncio, mas nunca desatentos. Sempre buscavam os melhores jeitos de se divertirem, de alguma forma. Mas a maior distração de Andrija era Vencelau. De vez em quando, ele subia no sótão para entregar um livro novo para ela, e em vezes, lia com ela, pelo menos até ela cair no sono ou quando ele deveria ir embora. Sempre sair muito tarde durante uma guerra, não era bom.

De alguma forma, eles estavam começando a se adaptar a vida nova.

Junho de 1942

O aniversário de vinte anos de Andrija passou rápido e ela nem percebeu bem. Mas mesmo assim, ganhou os parabéns. E já como não poderia conersar com os pais, ela recebeu uma carta deles. Um "Feliz Aniversário" cheio de palavras bonitas e simpáticas, assim como os pais dela sempre foram.

A única coisa que recebera de Elizabeta foi apenas um "Parabéns". Elizabeta era a menos contente naquela casa. Muitas coisas para pensar em uma só pessoa. E quem ganhou o presente foi exatamente ela; um abraço da irmã mais nova e um pedido de melhoras emocionais. Não teve como a irmã mais velha não chorar silenciosamente, sorrindo para a mais nova.

--

Naquele mesmo mês, Scepan e Tatiana estavam à praticamente um ano refugiados. Encontraram um refúgio ao norte da Rússia, que até então, não estava sendo tão afetado. Quando os nazistas estiverem vindo, os inglêses que lá estão, mandariam os judeus para longe. E era isso o que os irmãos procuravam.

Scepan estava sentado em um colchão, observando os outros judeus refugiados andando pra lá e pra cá. Não sabia ao certo se daria para salvar todas aquelas pessoas, mas não se importava com isso, não agora. Tatiana chamou a atenção dele:

- Você acha que eles vão conseguir salvar todos nós?

Scepan fez que não, infelizmente.

- Eu não acho... Mas faremos de tudo para que nós dois escapemos. - E suspirou. - E eu não sei por quanto tempo mais estaremos aqui. Mas eu sinto os nazistas vindo. De alguma forma, eu sinto.

Tatiana nada falou depois disso. Mas estava preocupada com o irmão. A política do "primeiro as damas", iria fazer com que a irmã tenha mais chances de sobreviver. E como conhecia Scepan, ele com certeza ficaria e enfrentaria os nazistas, tudo pela segurança dela. Se a irmã mais nova sobreviver, nada mais importava para Scepan.

Mas ele queria muito que os dois sobrevivessem, mas por que aquela sensação de que aquilo era inútil e que ele iria morrer de todo o jeito? Não importava agora. O que importava era que ele e Tatiana estavam até então, salvos.

Empresas em Belgrado. 1942

Alexis mais uma vez fiscalizava o seu próprio trabalho, naquela empresa em que trabalhava. Olhava para frente com frequencia, olhando para a porta.

Nada, ninguém.

A empresa ficou praticamente vazia com a ida dos judeus. Muitos dos funcionários eram judeus e isso deixava Alexis um pouco cabisbaixo. Coitados, não mereciam isso.

Mas então, Hannelli entrava no escritório, para ver se Alexis estava bem ou se precisava de alguma coisa. E naquele momento, ela tinha entrado.

- Alexis? - Ele olhou para ela. - Já não acabou o seu turno?

Acabou? Alexis não tinha percebido isso. Olhou para o relógio e realmente; o turno dele tinha acabado já faziam dez minutos. Ele sacudiu a cabeça e massageou os olhos.

- O tempo passa rápido demais...

Hannelli deu uma risadinha. Era engraçado vê-lo confuso. Até que ela se aproximou dele, passando a mão delicadamente pelo rosto do seu amado. Depois ela ergueu o rosto dele.

- Você está cansado, não está?

Alexis olhou para os olhos dela, levantou-se e ficou de frente à ela. Até que sorriu um pouco.

- Não muito...

Era naquele momento que ele queria pedir alguma coisa à ela. Alguma coisa que escondia durante meses. Esperava alguma resposta, mas Alexis era um pouco indeciso quanto à isso. Até que se decidiu.

- Hana... - Aproximou-se dela, acariciando o rosto dela com a parte de trás dos dedos. Aqulo deixava a romena hipnotizada, principalmente quando ele a olhava daquele jeito. - Eu queria te pedir uma coisa.

O coração de Hannelli soou feito uma bomba. Era o que ela estava pensando? Ela fez que sim, sim, sim. Estava nervosa.

Até que ela viu Alexis pegando alguma caixa pequena, dentro de sua gaveta. Levou uma de suas mãos até a mão dela, ajoelhando-se em frente a romena. Hannelli já não aguentava mais a "tensão".

Ele abriu a caixa, lá podia-se vez duas alianças. Poderiam imaginar a reação de Hannelli quando ouviu as palavras:

- Você quer se casar comigo?

Ela se ajoelhou na frente dele, incrédula, com a mão nos lábios. Algumas lágrimas podiam-se ver no rosto da romena. Lágrimas de alegria.

- Sim! Sim! - E o abraçou fortemente. E ficaram assim durante alguns segundos.

Até se separarem e ele colocar uma das alianças de noivado no dedo dela. Depois de tudo, se beijaram apaixonadamente.

Aquele seria o início de algo grandioso para eles.

Reação ao fato recém-chegado

Querem imaginar a reação de Vencelau quando ouviu as palavras: "Alexis está noivo"? Pois bem, não é tão difícil de imaginar. Só tinha como imaginar ele abraçando o irmão mais velho tão forte que quase que ambos caíam no chão. Era muita felicidade.

Wagner se sentiu orgulhoso. Ele sabia que algum dia, Alexis ia encontrar alguém que realmente gostasse dele. E aquela "alguém" era a linda - um pouco desastrada, talvez. - Hannelli Dracuela.

Emilie tinha uma mistura de felicidade e tristeza. Claro que era ótimo ver o seu filho se tornando noivo; mas como toda mãe, isso era sinal de que ele realmente não "precisava mais" dela. E abraçou fortemente Alexis por muito tempo - quase uns cinco minutos - porque não queria que Alexis ficasse longe dela.

Tanto Emilie quanto Wagner sentiam um apego muito grande aos filhos, mesmo que adotivos. Mesmo não sendo filhos de sangue, Emilie via todo o seu trabalho de criação neles. Isso cobria, de alguma forma, a decepção de não conseguir ter filho biológico. E eles, de alguma forma, até esqueceram que eles eram adotivos mesmo.

A família Krleza também ficou animada com a notícia. E desejaram muita paz a eles, no modo mais judeu possível.

E Vencelau tinha comentado com Alexis que um dia, queria se casar também. Mas Alexis retrucou da tal forma:

- Pois bem, a minha cunhada está no sótão da casa dos meus pais. Disso eu sei. - E deu uma leve risadinha.

A ideia que Vencelau tinha era que a família dele adorava fazer esses tipos de "brincadeirinhas" com ele, o que o deixava constrangido. Mas feliz; e o por que, não sabe. Mas ele amava Andrija com todas as forças, só não tinha percebido a intensidade deste amor... Ainda!

Janeiro de 1943

Ainda na mesma casa, no mesmo sótão, no mesmo porão. Mas ainda não se tinha notícia de quando eles iriam exatamente sair dalí. Se eles soubessem a data certa, eles estariam contando dia por dia. Já não aguentavam muito, mas mesmo assim, estavam dispostos a continuar, se for preciso.

Mas a agonia era grande, tinham que admitir isso. Mas nada era melhor do que estar vivo... e saudável!

--

Porém, não foi um ano bom para os irmãos Petrovik. Os nazistas alcançaram o local onde eles estavam. E o que eles fizeram? Tentaram os dois fugir.

Como previsto, não tinha espaço para todos os judeus. Mesmo na Suíça já tinham muitas pessoas, imagine no norte da Rússia. Mas como você poderia estar esperando, será que os dois foram salvos?

Não, os dois não foram salvos.

Tatiana foi, Scepan ficou.

A história começou neste mesmo mês de 1943, todos os judeus desesperados por ajuda. Até que alguns entraram em aviões britânicos, mas muitos foram deixados para trás.

Graças ao Mein Kampf, Scepan se livrou até a Rússia. Desta vez, não tinha como se livrar das coisas.

A última cena entre os irmãos Petrovik antes de serem separados à força:

- Homens de um lado! Mulheres e crianças em outro! - Gritavam os britânicos.

Mas mesmo assim, não dava conta. Scepan corria, segurando Tatiana pelo braço, que também corria desesperada, ao lado dele.

- Vamos logo! Vamos logo! - Gritava Scepan.

Em meio daquela multidão, não sabiam o que fazer.

- Droga... A cabine dos homens está cheia demais. Não vão conseguir me levar. - Scepan olhou para a cabine das mulheres, que ainda não estava completamente cheia. Era sua única chance.

Tatiana olhava para o irmão, sem acreditar que ele irá ter que ficar. Mas o acompanhava do mesmo jeito, correndo até a cabine feminina e infantil.

Tatiana estava indo à Inglaterra; Scepan estava indo para um campo de concentração.

Até que chegaram a cabine e que sorte! Tinha espaço suficiente para ela, só para ela. Até que ele a fez subir. Mas ela não queria ir, não queria deixá-lo sozinho.

- Não Scepan! Vem comigo! Ou se não, eu fico aqui com você! Eu posso morrer, mas não será problema se for com você, irmão! - Os dois seguravam os braços um do outro.

Scepan estava desesperado, mas não havia nada que possa fazer.

- Me desculpe, Tatiana! Não poderei ir! Vou ficar aqui e vou encarar os nazistas como um homem! Você precisa sobreviver!

- Mas Scepan...

- Tatiana, eu te amo, minha irmã. Sempre te amei muito, quero que saiba disso! Se eu puder, eu volto para você!

Tatiana não contia as lágrias, o choro insurpotável e os soluços. Não queria deixar o seu irmão sozinho.

- Irmão, eu também te amo! - Soluços. - Mas eu tenho que ir com você, não posso estar aqui! - E tentava descer, mas Scepan sempre impedia.

- Não! Não vai descer! Se descer, eu nunca vou te perdoar! Se eu sobreviver, eu volto! Eu prometo!

Não podia fazer nada por ele, mas Tatiana não concordava. Todavia, um soldado britânico gritou:

- Estamos em partida! Os nazistas estão vindo! Vamos embora! - E fecharam as cabines.

Scepan logo gritou:

- Eu te amo, Tatiana!

Ela batia no ferro do avião, desesperadamente.

- Scepan! Scepan! - Gritava o nome dele. - Não!

E assim, os aviões deixaram alguns judeus lá. Muitos deles eram homens que deixaram suas famílias nos cuidados do exército britânico. Até que Scepan e muitos outros homens - sejam velhos ou jovens. - ouviram um único, entre eles.

- Atenção vocês! - Era um judeu, um daqueles que estava se sacrificando como um home. - Nós estamos aqui para lutar feito homens! Estamos protegendo o que resta de nossas famílias! Vamos vencer, juntos!

E todos concordaram com um grito de guerra. Mas Scepan estava tão aflito, que nada fez ao ouvir aquilo, mesmo concordando.

Daqui à algum tempo, os nazistas iriam vir para "buscá-los".


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo meio tenso, meio felizinho. Mas o que houve aqui? xD
Não sei, mas eu estou preparando uma surpresa para vocês.

Até o próximo capítulo :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fraternidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.