Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 14
Parte XIII


Notas iniciais do capítulo

Uma coisa antes de lerem: kkkk Primeiro de Abril perdeu todo o sentido original para mim, agora é só "O dia do aniversário de Asa Butterfield", que é um dos meus atores preferidos.
Caso não saibam, ele interpretou o Bruno, no filme "O menino de Pijama Listrado". Interpretou também o Hugo, no filme "A Invenção de Hugo Cabret", meu filme preferido. Como o tempo voa... Ele já tem 16 anos o.o'

Ok, pulando a parte que vocês não querem saber... Boa leitura :)



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Treblinka, 1941

Naquele mesmo campo de concentração se encontrava um jovem de menos de trinta anos de idade; cabelos negros e olhos azuis violáceos. Mas agora, ele olhava tristonho para as pessoas que estavam a sua frente, indo para o mesmo destino do que ele.

Todos judeus, todos impuros.

Enquanto Roderich seguia o caminho, olhou para uma de suas mãos. Uma coisa de muito valor ele escondeu dos nazistas, algo de realmente muito valor. Este algo era a sua aliança de noivado. E ele morreria com ela em um dos dedos, para ir para o céu em paz. Para as pessoas no futuro, quando olharem para a sua história, perceberem que ele pertenceu a somente uma mulher em toda a sua vida.

Com os olhos meio fechados, encarava o chão enquanto andava. Não se importava mais com os ratos passando por lá - os judeus em si, eram os ratos -; assim como não se importava mais com o sangue que jorrava a cada segundo, sangue de outras pessoas. E quem diria que Roderich estava andando, para depois ser morto numa "caixa".

Mas diante de seus olhos, apenas via a sua amada Elizabeta. Lembrava-se dos lindos momentos que teve com ela, das vezes em que ele tocava algumas músicas no piano para ela. As suas saídas, e por final, o pedido de casamento. Era uma história linda.

Uma história linda que estava prestes a acabar por causa do ódio de um homem.

E mais quantas histórias lindas foram destruídas pelo mesmo homem? Inúmeras, inúmeras.

Seus lábios tremiam por causa do frio, da fome e da sede. Qual foi a última vez que comeu? Bem, isso não importa. Os seus lábios se mexiam lentamente, apenas pronunciando um nome, repetitivas vezes:

– Elizabeta... - Lágrimas jorravam em sua face, assim como várias outras pessoas atrás dele.

Não se importava com mais ninguém além dela. Nem com ele mesmo. Afinal, Elizabeta estará bem e estará viva para viver o seu amor ideial. E a ideia de que Roderich ia morrer naquele dia, isso apenas dizia que ele não era o homem ideal para ela.

Será mesmo?

As últimas coisas que Roderich tinha visto em sua vida eram pessoas vestidas com um "pijama listrado", com números tatuados em seus braços e bordados em suas vestimentas, sempre, a estrela de Davi. Todos presos em um local fechado, como se fosse um enorme banheiro.

E antes mesmo de perceber, já estava com gáses coloridos em volta, sufocando-o. Aquilo era rápido na visão de quem assistia o ato, mas para Roderich, o sufocamento foi lento e idolor. Ficava de joelhos, caindo no chão em seguida.

As últimas visões de Roderich Edelstein: Pessoas jogadas no chão, corpos sem vida, que logo seriam queimados em valas comuns; o lindo rosto de Elizabeta.

Uma última lágrima correu no rosto austríaco-judaico.

Feche os olhos, descanse em paz.

O otimismo de Andrija

Eram oito da noite em Belgrado. Estava na hora do noticiário inglês. Wagner e Emilie se juntavam para ouvir o rádio. Neste momento, a família Krleza estava no sono profundo. Todos, menos Andrija.

Segundo a croata, no sótão se ouve tudo, até o rádio. E utilizava o seu conhecimento de inglês para entende-los. E o pouco que ela conseguia entender a animava. De alguma forma, os inglêses estão ficando prontos para combater os nazistas e trazer a paz de volta à Europa e ao mundo.

Mas ela também sabia que do sótão também se ouvia tudo, por isso, fazia o maios silêncio possível, sacrificando-se para não fazer nenhum ruído. Ouvia atentamente, com um sorriso no rosto.

–-

Na tarde do dia seguinte, estava na hora do almoço. Vencelau e Wagner trouxeram a comida dos filhos da família. E primeira coisa que Vencelau percebeu foi a tristeza e a aflição carregadas nos olhos da irmã mais velha de Franz e Evelyn. E agora? Como dizer para ela sobre o paradeiro de seu noivo? De uma coisa Vencelau tinha certeza: Roderich estava morto agora. Provavelmente, não existiriam mais restos mortais dele. Mas como contar isto para Elizabeta?

Simples, não conte.

Depois foi falar com Andrija, que estava num estado completamente diferente. Ela parecia, de alguma forma, feliz. Feliz... Isso depende muito. Mas quando se está a quase dois meses trancada dentro de um sótão, sem poder ver a luz do sol e ter um privilégio de ter uma refeição boa como antigamente tinha; Andrija estava radiante.

– Você parece melhor... - Comentou Vencelau, com um pequeno sorriso no rosto.

– Sim, sim. Eu venho escutando os inglêses. É uma vantagem de estar aqui no sótão, tudo pode ser ouvido daqui. Só é um pouco frio e escuro.

Wagner também ouvia a conversa, e logo teve que comentar algo:

– Você realmente parece bem feliz para alguém que está se escondendo. Se eu tivesse no seu lugar, eu estaria muito aflito até agora.

Andrija captou o que Wagner quis dizer, e logo respondeu à isso:

– Senhor Brauer, quando eu fico desse jeito, eu penso logo nos outros judeus. Em comparação a onde eles estão, estou num paraíso. Pelo menos eu tenho pão para comer e água para beber. E além do mais, eu estou esperando a resposta dos inglêses para esta guerra. Eles e os russos parecem estar bem confiantes e estou gostando disso. Imagine se tiver alguma invasão que faça com que a Europa seja libertada dos nazistas? Seria maravilhoso para nós, judeus. Estou bem otimista!

Após este pronunciamento, tanto Wagner quanto Vencelau se impressionaram. Wagner puxou levemente Vencelau para perto dele, sussurrando algo no ouvido do filho:

– Você tem a minha permissão e meu apoio para se casar com essa moça.

Vencelau riu, com o rosto vermelho.

Andrija ouviu, mas fingiu que não. Ficara vermelha também. Mas quem sabe, um dia? Quem sabe, senhor Brauer?

Um italiano entre nós

Na manhã do dia seguinte, Ludwig conseguiu uma ótima notícia. Conseguiu mais um apoio. Dessa vez de um soldado italiano, de Mussolini, chamado Feliciano Vargas. E ele se apresentou para a família Brauer.

– Meu nome é Feliciano. Sou soldado, inspetor e eu tenho algumas práticas em medicina. - E falava com as mãos, como um verdadeiro italiano. - Vim da Itália mas eu não gosto de Mussolini de jeito nenhum e...

Alexis riu um pouco, sussurrando para Vencelau:

– Alguém nesse universo é mais tagarela do que você.

Vencelau riu.

– Sempre soube que italianos falavam muito, mas isso é demais. - Sussurrou de volta.

Wagner apenas fazia que sim com a cabeça. Emilie se segurava para não cair na gargalhada com o jeito de falar do italiano.

– Ah sim, eu gosto de macarrão e... - Foi interrompido.

– Tudo bem, Feliciano, já entendemos sobre sua fama. - Wagner falou.

Parece que o pequeno italiano só tinha percebido agora que estava falando mais do que devia, de novo. Às vezes, ele se esquecia que não estava na Itália.

– Oh... Desculpem-me. - E ficou vermelho.

Wagner deu uma risadinha.

– Não se desculpe. Você é uma pessoa boa, Feliciano. E me lembra o meu filho. - Apontou para Vencelau.

Vencelau ergueu as sobrancelhas, como se estivesse perguntando: "Como assim?"

De uma coisa que Wagner disse estava certa: Quando se trata de falar, Vencelau e Feliciano se pareciam mesmo. Ambos falavam muito. A única diferença era que Feliciano falava sobre coisas mais... inúteis.

Mas mal sabia aquela família que o italiano irá ter um papel muito importante para a vida daquela família e da família judaica residentes no porão e no sótão.

A fuga dos irmãos Petrovik

Uma noite escura e fria. Nada melhor para dois irmãos judeus saírem de suas casas. Mas não deviam saber que eram judeus. Logo, Scepan passou a ideia para a irmã dele. Estavam naquela mesma casa de antes.

– Nossos pais deixaram um pouco de deinheiro escondido, para que os nazistas não levem. - Falava baixinho, a irmã assentia. - Vamos usá-lo. Vamos sair da Iugoslávia e ir para um lugar seguro.

Aonde eles iam? Talvez Rússia. Num lugar onde não está sendo afetado pela guerra, apesar de Leningrado. Mas a Rússia era um país tão grande... Não tinha como algum local, pelo menos um, ser seguro.

Scepan tinha arrancado a estrela de Davi de seu casaco e do casaco de Tatiana. Não poderiam saber que eles eram judeus.

– Mas Scepan... Como é que vamos convencer aos alemães que não somos judeus?

Scepan assentiu, captando a mensagem. Logo, pegou um livro, que estava na gaveta do escritório de seu pai. Deu uma bela olhada naquele livro, antes de virar-se para mostrar à irmã.

– Este livro. - Mostrou à ela. - Vamos usá-lo, vamos nos passar de adoradores de Hitler.

Ela leu o título do livro e ergueu uma sobrancelha.

Isso mesmo, aquele livro era o "Mein Kampf". O livro nazista mais famoso de todos, escrito pelo próprio Führer.

Tatiana ficou preocupada.

– Mas... Isso não seria traição aos judeus?

Scepan abaixou o olhar, agora pensativo. Suspirou fundo, colocou o livro na mesa e colocou as duas mãos nos ombros dela. Ele teria que olhar para baixo para olhar nos olhos dela, já que era bem menor do que ele.

– A minha religião não me importa agora. O que me importa é o seu bem estar, irmãzinha.

Tatiana se sentia grata por isso, mas não queria que ele se colocasse em perigo por causa dela. Na verdade, desde o princípio, os dois estavam em perigo. Ela olhou para o livro.

– Por que o papai teria este livro?

Scepan o pegou novamente, olhando fixamente para ele mais uma vez.

– Ele sabia que isso ia acontecer. Ele queria que nós fugissemos daqui. Iremos para um lugar melhor. Pelo menos, até o final da guerra.

E guardou o livro na bolsa. Tatiana assentiu. Tudo aquilo era para protege-los.

A irmã mais nova pegou sua bolsa e olhou para seu irmão mais velho. Logo, "abraçou" o braço dele.

– Vamos embora... - Ele disse.

E logo, saíram daquela casa, como nômades.

A verdade dita

– Como assim o Scepan foi embora?! - Gritou Vencelau ao ouvir a notícia de Ludwig.

O alemão assentiu.

– Eu estava fazendo uma verificação nas casas abandonadas pelos judeus. E na casa dele, eu vi isto. - Falou mostrando uma carta. - Eu não a abri, parece ser pra você, Vencelau.

Sem cerimônia, Vencelau pegou a carta. Abriu-a e a leu:

Na carta, estava escrito:

Senhor Blábláblá,

Desculpe-me por não ter te avisado antes, mas eu tive que ir logo. Estou saíndo daqui, não mais como um judeu. Estou saindo daqui como alguém que procura sobreviver. Eu e Tatiana estamos indo provavelmente à Rússia. Se pudermos, encontraremos inglêses lá e eles nos mandarão ao interior da Inglaterra, assim como muitos judeus refugiados. Talvez eu seja pego, não garanto nada.

O que eu quero - caso eu não voltar - é que você seja forte à esta guerra. E não ouse sair da Iugoslávia. Como você é sérvio, é bem capaz de alemães te matarem a tiros, caso for para a Alemanha, a Àustria ou para a Polônia. Não saía daí de jeito nenhum, e não seja teimoso como sempre foi.

Cuide bem da Andrija, porque eu estou feliz por causa da grande probabilidade dela sobreviver. Infelizmente, não tive a mesma sorte. Mas eu tenho a minha família na alma e a minha irmã para proteger. Esta é a minha missão agora, mesmo eu estando constantemente doente por causa do meu psicológico.

Tenho provavelmente 70% ou mais chances de morrer. Mas minha irmã não vai, pode acreditar. E não tem como eu nunca mais voltar, porque eu estarei com vocês para sempre também.

Mas mesmo assim, espere por mim, pode ser que eu volte.

Scepan Petrovik

Lágrimas nos olhos de Vencelau. De novo por cause de Scepan. Logo, ficou de joelhos, largando a carta no chão. Wagner a pegou e a leu. Deu um salto para trás:

– Mas o que este garoto estava pensando? - Falou alto, não gritando, mas alto.

Vencelau pôs as mãos no rosto, deixando as lágrimas secarem ao toque quente das mãos dele. Levantou-se, num ato suave.

– Ele vai voltar... Ele é muito cabeça dura, eu conheço ele. Ele vai voltar. Eu tenho certeza que vai... - Não sabia o que estava falando, mas era a esperança.

E como todos dizem, a esperança é a última que morre.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? :3
Feliciano é tão eu kkkkk descendencia italiana não é nada fácil. Mas é tão bom ser tagarela -q

Até o próximo capítulo! :)

~aquela que está felizinha hoje~



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