Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 13
Parte XII


Notas iniciais do capítulo

Espero que não chorem - ou chorem... - neste capítulo. Porque ele vai ser bem triste, logo avisando.
Mas se quiser chorar, pode ir lendo.
E eu recomendo a ler este capítulo ouvindo: Jerusalem of gold by Ofra Haza e Hatikva, hino nascional de Israel.

Boa leitura :)



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Primeiros dias de adaptação

Foi até aceitável para todos da família Krleza, menos para Elizabeta. Ela queria ver o Roderich, o seu noivo. Se fosse para morrer, morreria ao lado dele. Ela queria sair dalí e vê-lo. Ele poderia ser morto a qualquer instante que ela estava lá. Não poderia deixa-lo sozinho de jeito nenhum.

Andrija e Janez tentavam acalmá-la, mas nada conseguia fazer este feito. E se pudesse, poderia ver os pais, mas eles não poderiam sair do porão de jeito nenhum. Não até a fiscalização nazista.

Janez estava um pouco mais aliviado, não completamente, mas estava. Ele sempre fora o mais sensato da família, além de ser o mais otimista também. O mais novo sempre era o mais esperançoso. Queria de todas as formas alcalmar as irmãs.

Franz estava esperando o melhor, confiava a sua vida e a vida de sua família nas mãos de Wagner. O melhor amigo dele e o maior companheiro desde as épocas militares, se reencontraram por acaso na empresa. Por isso, estava um pouco mais tranquilo em relação a semanas atrás.

Evelyn não conhecia bem aquela família, por isso estava um pouco mais aflita. Mas tentou tirar essa aflição conversando com Emilie, o que estava dando um pouco certo. Mas nada seria melhor do que dar uma olhada nos seus filhos, mas não podia.

E Andrija... Tinha que admitir que os únicos motivos de querer sobreviver à tudo aquilo era o bem da sua família e Vencelau. Não podia morrer, tinha muito o que fazer ainda. Por isso, passava todos os dias naquele lugar, recebendo pouca comida, dias sem ver o raiar do sol, dentre muitas outras coisas, sem uma mísera reclamação. Além de ter que ver o seu amado todos os dias.

Sobre este assunto, numa certa manhã, estava conversando com sua irmã:

– Andrija... Você pelo menos está vendo quem realmente ama. Eu não aguento... Eu quero o Roderich! Quero que ele volte para mim! Já estamos há duas semanas aqui e eu não aguento!

Andrija acenou a cabeça positivamente, entendendo o que ela queria dizer. Nunca viu a sua irmã mais velha assim tão triste. Elizabeta era conhecida pelo seu simpático sorriso sapeca. Era sempre calma. Geralmente, Andrija que era a desesperada da questão. Trocaram os papeis.

– Eu sei, Eliza... Eu sei. - Ela suspirou, limpando as lágrimas da irmã com a mão. - Ele vai ficar bem, ele irá voltar para nós.

Elizabeta sabia que ela não tinha certeza do que estava falando, mas mesmo assim, teve de aceitar.

–-

Depois de algumas horas, Vencelau subiu no sótão para entregar alguns casacos; tinha ficado mais frio. E nesse exato momento, Elizabeta estava dormindo, com o rosto vermelho e olhos em carne viva. Ela não conseguira dormir nas últimas noites e estava cansada demais até para se levantar.

Vencelau conversou um pouco com Janez, até que Andrija o chamou um pouco. Mais baixo do que de costume - para não acordar a irmã. - o pediu:

– Ei Vencelau... Sabe aquele tal de Ludwig?

Vencelau não estava entendendo bem, mas assentiu.

– O que tem ele?

Andrija continuou.

– Você pode pedir a ele para ficar de olho num rapaz chamado Roderich Edelstein? É o noivo da minha irmã e ela está super preocupada com ele.

Vencelau assentiu mais uma vez.

– Vou tentar.

Andrija sorriu. Agradecendo-o.

E assim foi feito, na primeira chance que Vencelau falou com Ludwig, pediu o que Andrija queria. E Ludwig o faria com enorme prazer.

Tortura e desastre por Belgrado

Alexis e Vencelau teriam saído juntos para comprar algumas coisas para os judeus. Tudo para ajudar aos pais deles. E conversavam normalmente, sobre qualquer coisa.

– Eu acho que eu vou pedir a Hannelli em casamento... - Falou Alexis. Vencelau sorriu.

– Isso é ótimo! Mas é melhor esperar um pouco. Espere a guerra abaixar um pouco o fogo.

– Sim, é o que eu vou... - Alexis foi interrompido por alguns barulhos de tiros.

Os dois irmãos se assustaram, olhando em direção ao barulho, assim como muitas outras pessoas que estavam em volta. Se olharam de novo.

– Essa não! Os nazistas! - Falou Vencelau quase gritando.

Alexis tentou acalmá-lo, apesar de também estar morrendo de medo.

– Calma Vencelau... - Mas os dois correram até a rua em que estavam vindo o barulho.

Que azar, a rua em que Scepan e sua família moravam. E nela viram o que era inacreditável. Carros de guerra nazistas circulando pela rua; soldados puxando violentamente para fora das casas, judeus. E o pior de tudo: matando centenas deles.

Crianças chorando; mulheres mais ainda. Homens e rapazes sendo mortos a tiro, enquanto uma fileira de pessoas - que mais parecia uma fileira de gado. - esperavam para entrar em caminhões de guerra, prontos para irem aos campos de concentração.

Olhar para o que estava acontecendo fizeram os irmãos ficarem incrédulos. Alexis olhava para Vencelau o tempo inteiro; o mais novo estava com o olhar fixo naquela tragédia, com o coração pulsando e a espinha tendo calafrios.

– Não... Não... Vamos embora, Vencelau. - Alexis virou o rosto, fechando os olhos, colocando a mão no ombro de Vencelau.

Só uma pessoa vinha na mente de Vencelau naquele momento.

– S-Scepan... - Sussurrou o nome dele, com os lábios trêmulos.

Até que ele não teve dúvidas, entregou as coisas que estava carregando para Alexis. Sabia - ou não - o que fazer.

– Vencelau! Mas o que... - Não conseguiu terminar.

– Vá para a casa dos nossos pais! Veja se a família Krleza está bem! Eu vou procurar o Scepan! - Gritou.

Alexis desesperou-se, mas não conseguiu impedir Vencelau, que já estava correndo para a rua desesperada.

– Vencelau! Não! É muito perigoso! - Mas não conseguiu impedi-lo. Tentou correr para alcança-lo, sem sucesso. - Droga! Vencelau... Que estúpidez... - Desistiu, teve que ir para a casa dos seus pais.

Vencelau corria em meio aos judeus em fileiras.

– Scepan! - Gritava. - Onde está você? Scepan! - Procurava desesperadamente pelo amigo. Foi de uma ponta a outra da rua. Até achar uma figura familiar.

Era um homem sendo empurrado para fora de sua casa, era Louis, o pai de Scepan. Vencelau estava um pouco longe, mas dava para vê-lo muito bem.

– Senhor Petrovik! - Tentou correr até ele, mas viu algo que não merecia ter visto.

Um dos soldados nazistas atirou o homem no chão, prendendo-o no mesmo. Até que outro soldado pegou do bolço um revólver, atirando na cabeça do judeu logo em seguida. Louis Petrovik estava morto.

E aquela cena se passou em câmera lenta aos olhos de Vencelau, que imaginou aquilo acontecendo com Scepan.

Andou de fininho até o fundo da mesma casa, onde não havia ninguém. Nenhum judeu, nenhum nazista. Encontrou a sacada da casa, onde tinha uma escada que dava ao segundo andar daquela casa. Vencelau subiu em passos lentos, até chegar a porta, abrindo-a logo em seguida.

No que se deparou foi um rapaz segurando uma madeira grande, aprotando-se para acertar quem estava vindo. Mas antes mesmo de bater na pessoa, a reconheceu. Mas de certa forma, aquele ato assustou o sérvio.

– V-Vencelau? - Aquele era Scepan, com os cabelos negros bagunçados e olhos grandes de medo. Atrás dele, tinha uma garota de dezessete anos, era Tatiana, irmã mais nova dele.

– Scepan... Sou eu. Calma... - Mas Vencelau também estava aflito.

Scepan não teve cerimônia; abraçou o amigo fortemente, com lágrimas escorrendo pela face. Vencelau o abraçou de volta.

– Ainda bem! Ainda bem! - Scepan repetia baixinho, antes de se separar do amigo. - Mas não fique aqui! Não é bom ficar aqui!

– Eu não vou te deixar sozinho, Scepan.

Scepan balançou a cabeça negativamente, com força.

– Scepan... O seu pai... - Isso fez com que Vencelau ficasse com lágrimas nos olhos.

– Eu sei, eu sei! Eles o mataram! Levaram a minha mãe! - Viu Tatiana abraçando o irmão por trás, chorando silenciosamente.

Olhando para os dois, Vencelau sentiu uma pontada no coração. Não podia deixá-los sozinhos.

– Os nazistas... - Falava entre soluços. - Os nazistas não vão nos levar hoje... Eles nos falaram... Mas não sabemos quando... - Soluçava de novo. - nós vamos nos juntar a eles.

Scepan se referia aos judeus que estavam em fila na rua.

– Scepan... Se eu pudesse te ajudar... - As lágrimas nos olhos de Vencelau caiam lentamente. - Se eu pudesse...

– Não precisa fazer nada! - Scepan retrucou. - Não quero que se meta também. Saber que eu vou morrer... Já é horrível demais para mim.

– Não... - Vencelau sussurrou baixinho, com os lábios trêmulos e voz rouca. -

Scepan agora abraçava a irmã mais nova. Aquela também tinha um olhar triste, muito triste por sinal.

– Vá, Vencelau. - Entre soluços, mas olhou de novo para Vencelau, com um sorriso forçado. - Vá, senhor Blábláblá.

"Senhor Blábláblá" era um apelido em que Scepan tinha dado a Vencelau quando eram mais jovens, por causa do costume do sérvio de falar demais.

Vencelau sorriu - forçadamente - de volta. Deixando aquele local silenciosamente e lentamente.

– Só uma coisa... - Vencelau falou. - Andrija está comigo... Ela vai ficar bem... Quero que saiba. - Falou antes de sair do local.

Passou pela mesma rua de novo, passando por de frente da casa dos Petrovik. Na porta estava escrito "Jude", o mesmo "Jude"; como tinha ódio daquela palavra.

–-

Ao chegar na rua da casa dos pais, Alexis viu um tumulto muito grande. A mesma cena da outra rua. Passou rápidamente por todos os obstáculos, até chegar a casa dos pais. A mãe logo o recebeu com um abraço forte.

– Ah, Alexis! Que bom que está aqui! Você se machucou? - Emilie parecia muito preocupada.

– Eu estou bem, mãe. - Falou respirando rápido, por ter andando muito rápido.

Wagner logo se juntou à eles.

– Onde está o Vencelau?

Alexis engoliu em seco.

– Ele... Ele foi...

Wagner captou a mensagem.

– Ver o Scepan?

Alexis fez que sim.

– Desculpe-me, não pude impedi-lo... - Falou, com a cabeça baixa.

Wagner suspirou pesado e Emilie se apavorou.

Como dava para ouvir qualquer coisa do sótão, Andrija ouviu algumas palavras: Vencelau; ver o Scepan. E desesperou-se internamente. Já estava aflita com os nazistas verificando as casas, ainda mais com Vencelau correndo perigo. Lembrou-se de Scepan também, pobre rapaz!

– Tudo vai ficar bem, Andrija... - Sussurrou Janez, que a abraçava. - Acalme-se.

Vencelau tinha chegado dez minutos depois da conversa. E foi recebido por uma bronca dos pais, bem rápida. Se desculpou e foi desculpado logo em seguida, mas nunca mais deve assustar os pais desse jeito.

–-

Do lado de fora, Ludwig se encontrava com alguns outros soldados alemães.

– Hum... Aquela casa. - Um dos soldados apontou para a casa dos Brauer. - Eu não a vi ainda, alguém a inspecionou?

Nein. - Todos falaram, menos Ludwig.

– Eu já... Nenhum sinal de judeu. - Falou Ludwig.

Um dos soldados ergueu uma sobrancelha, verificando a parte externa da casa. Realmente, não tinha nenhum "Jude" lá. Deu de ombros.

– Então está tudo bem.

Ja!– Fizeram todos.

Péssimas noticias

Passado-se alguns dias, a família Krleza estava nem próxima de ser descoberta. Graças a família Brauer e a Ludwig.

Por falar no jovem soldado alemão, ele voltava para aquela casa depois de dias. Bateu na porta, quem atendeu foi Emilie.

– Entre, Ludwig. - Ela disse.

– Bom dia, senhora Brauer. Com licença. - Ele tirou o chapéu, entrando na casa. Emilie fechou a porta.

Wagner e Vencelau estavam sentados no sofá da sala. Wagner ergueu-se ao ver o rapaz alemão.

– E então...? - Perguntou Wagner.

Ludwig suspirou, um pouco cabisbaixo.

– Eu tenho uma boa e uma péssima notícia. Qual eu conto primeiro?

Todos daquela sala engoliram em seco. Deixaram Wagner escolher.

– A boa, por favor.

Ludwig assentiu.

– A boa é que a família Krleza está ao ponto de ser excluída na lista de judeus sob espera nos campos de concentração.

Isso aliviou um pouco a família. Agora, a má notícia:

– Vencelau... Lembra-se de quando você me pediu para saber sobre Roderich Edelstein?

Vencelau estava completamente a ouvidos.

– Sim, o que foi?

Ludwig respirou fundo.

– Ele foi pego. Foi levado ao campo de concentração de Bikernau, Polônia. Logo, irá ser mandado para Treblinka, onde será executado na câmara de gás tóxico.

Aquela notícia abalou a família. O rapaz tão jovem, noivo, iria se casar daqui a pouco tempo. Pobre Roderich. Vencelau juntou as mãos, com o olhar fixado no chão. Ludwig continuou:

– Desculpe-me... Não há nada o que eu possa fazer.

– Não, tudo bem. Obrigado pelo esforço. - Falou Vencelau.

– Não foi nada...

Até que aquele teria sido o fim trágico do austríaco judeu, Roderich Edelstein. Mas não puderam contar a Elizabeta, não agora. Isso a enlouqueceria ainda mais. Deixe a guerra passar para ela saber disto.

Agora sim a guerra estava começando.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Tentei fazer com que ficasse triste, mas eu tentei, pelo menos. *risos*

Até o próximo capítulo :)



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