Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 12
Parte XI


Notas iniciais do capítulo

O clímax começa aqui e vai até não sei aonde - oh! -, mas espero que gostem.

Boa leitura :)



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A mudança

Já estava tudo pronto para que pudessem receber os judeus. Alexis e Vencelau foram até a casa dos Krleza, que nem se quer poderiam sair com malas carregadas naquela madrugada. Nem podiam se quer andar por aí naquela hora e em hora nenhuma. Seria um suicídio.

Eles deixariam muitas coisas para trás, mas o que poderiam fazer? Naquele momento, Vencelau observava Andrija aflita, sentada na sua cama, em seu quarto. Uma noite fria aquela em que eles estavam partindo. O rapaz sentou-se ao lado dela, olhando-a com um olhar tristonho.

- Você disse que tudo ia ficar bem... - Ele falou. - E realmente vai...

Ela o olhou com os olhos carregados de tristeza, assim como os dele.

- Vocês estão colocando a vida de vocês em risco... - Falava baixinho.

Ele assentiu.

- Eu sei, eu sei. - E afastou uma mecha de cabelo dela, colocando-a atrás da orelha. - Mas eu estou disposto a fazer isto por você e por sua família.

Andrija olhou para baixo, pensativa. Mordeu os lábios e depois de alguns segundos, voltou o seu olhar para ele. Sorriu.

- Você seria um ótimo marido, Vencelau. - Comentou.

Vencelau corou, sorrindo também. Coçou a nuca, um pouco envergonhado.

- Er... Obrigado.

Até que alguém entrou no quarto. Era Janez, o irmão mais novo de Andrija, de dezessete anos de idade. Tinha cabelos loiros e olhos verdes. Com um sorriso forçado, chamou-os a atenção.

- Nós temos que ir...

Os dois assentiram, captando a mensagem. Se ergueram, um em frente ao outro.

- Tudo vai ficar bem... - Falou Vencelau, baixinho. - Você vai ficar bem.

Ela negou.

- O meu estado, pouco me importa. Me importo com a minha família, com a sua também... Me importo com você.

Ouvir isso deu um aperto no coração de Vencelau, que negou ter ouvido aquilo.

- Andrija... Pense em você também. - Ele falou com uma voz rouca.

Ela olhou para o chão, mas nem um pouco arrependida do que disse.

- Desculpe-me.

- Não se desculpe. - Ele olhou diretamente para o casaco com a estrela de Davi amarela, suspirou. - Tire o casaco, eu lhe dou o meu.

Ouvir aquilo surpreendeu Andrija.

- Mas por que, Vencelau?

Ele voltou a olhar para a estrela; Andrija também olhou para ela. Logo, ela entendia o porque. Não poderiam saber que ela era uma judia saindo de casa numa hora não apropriada. Suspirou. Mesmo não concordando, tirou o casaco, recebendo o dele em troca. Vencelau logo pegou o casaco judaico e pôs em seu braço, dobrando-o de tal forma que a estrela passava despercebida.

- Vamos - Ele esticou a mão à ela.

Ela pegou a mão dele.

- Vamos.

--

Alexis e Vencelau conduziam eles rua abaixo, já que não podiam pegar transporte, deveriam ir andando. E cada som que era causado na rua, era sempre um motivo de desespero. Mas na realidade, era um gato ou um rato, ou um animal assim vasculhando o lixo. Isso os deixava mais aliviados.

Elizabeta estava com uma expressão cansada e muito cabisbaixa. Ela estava deixando o noivo dela sozinho, e o noivo dela também era judeu. Será que Roderich conseguiria fugir também? Será que os alemães vão poupá-lo? Pobre Eliza.

Alexis percebeu isso, mas não pode falar nada. Pois via que até os pais e os irmãos conseguiam acalmá-la. De qualquer forma, era bom que ela consiga encarar isso, mas não sozinha.

Janez era o único que não parecia desesperado, ele estava na verdade tranquilo, mas isso não significa que ele não estava triste, muito pelo contrário.

Até que chegaram a casa do casal Brauer. Após entrarem, Franz e Evelyn, os pais, foram direto ao porão. Um local onde tinha acesso pela cozinha, que Wagner tinha posto a dispensa na frente da porta que tinha acesso ao porão. Aquele era um ótimo lugar, pois não era tão grande e era um pouco escuro. Sem falar que necessitava de uma escada para descer até ele.

Chegou a vez dos filhos. Elizabeta, Andrija e Janez ficariam no sótão. Um lugar onde tinha acesso através da sala de jantar. Tinha um amário de roupas, podia-se ver uma pequena porta no teto. Wagner a abriu e uma escada se despencou levemente. Aquele era o sótão, onde os filhos ficariam. O sótão era também escuro, mas tinha uma pequena janela oval no fundo, onde era o fundo da casa. Tinha três colchões em diferentes cantos do local.

Eram naqueles lugares que a família judaica tinham que passar a vida até a guerra terminar.

Wagner foi primeiro falar com os filhos, a conversa era mais rápida:

- Escutem, aqui no sótão não tem banheiro. Então, se quiserem ir, vão ter que chamar a um de nós antes. Fiquem tranquilos que nós estaremos aqui constantemente. Já a comida, traremos a vocês. E desculpem-me, a comida está precária até pra nós. Ah sim, e não falem alto, nada disso! Só baixinho, como eu estou fazendo agora.

Não importava, se eles sobreviverem, já era ótimo.

- Estamos entendidos? - A conversa se finalizou com três acenos de cabeças, positivamente. Wagner virou-se para Vencelau, que também estava lá. - Fique um pouco com eles, para que eles se acalmem.

Vencelau assentiu, enquanto viu o pai descendo as escadas para ir direto ao porão.

O jovem olhou para os judeus, estavam tão aflitos e tristes... Mas aquele era o certo, mas não o sensato. Andrija logo se sentava perto da pequena janela embassada. Janez deitou um pouco em um dos colchões, para pensar sobre aquilo. Elizabeta já tinha ido dormir um pouco, estava exausta.

Vencelau suspirou, indo até Andrija. Nada poderia acalmá-la naquele momento, ou quase nada. Ajoelhou-se ao lado dela. Nada falou. Apenas acariciava os cabelos dela.

Andrija virou o olhar para ele, com os olhos cheios de lágrimas. Estava triste pelos outros judeus que poderiam muito bem não estarem vivos depois de alguns meses.

- Não chore... - Vencelau falou da forma mais baixa que podia. - Eu vou ficar com você... Vou protege-la. Eu prometo... - Abraçou-a imediatamente.

Andrija pôde sentir o calor de Vencelau, abraçou-o também. As lágrimas judaicas derramavam-se no ombro de Vencelau.

- V-Vencelau... Você é o melhor amigo que eu tenho. Eu te amo muito... Muito... - Falava sussurrando, em meio de soluços baixos.

Ouvir aquelas palavras o confortavam. O fazia entender o que estava fazendo. Estava protegendo a quem amava. Ele deu um beijo no topo da cabeça dela.

- Eu também te amo, Andrija. - Sussurrou no ouvido dela. - Eu nunca te deixarei sozinha... Nunca.

Eles se afastaram por um tempo.

- Você vai ficar aqui nesta casa?

Ele assentiu.

- Eu vou... Já está tarde e eu não posso sair assim de madrugada, vai parecer suspeito.

Ela abaixou a cabeça, com vergonha do que tinha que pedir. Mas estava muito assustada.

- Então... Só por hoje... Só... por hoje.... Poderia dormir aqui comigo?

Ele alongou um sorriso.

- Claro que sim... - E beijou a testa dela.

Sabia o quanto ela estava assustada. Era melhor fazer o que ela pedia, para acalmá-la um pouco.

--

No porão, Wagner, Emilie e Alexis estavam conversando com Franz e Evelyn sobre o que será naquele momento em diante.

- Obrigada de novo, senhor Brauer. - Evelyn parecia feliz, mesmo que assustada. A mulher com cabelos loiros e olhos castanhos.

- Não há de que. - Ele respondeu. - Só não façam tanto barulho. Outra coisa, vocês sabem que tem um soldado alemão nos ajudando, certo?

Eles entristeceram as faces, mas concordando.

- Então... Eu também não confio muito nele ainda, mas se der alguma coisa errada, eu dou um jeito.

O casal judeu se entreolharam. Depois viraram seus rostos para Wagner.

- Obrigado a vocês. - Falou Franz. - Não imagino do que seria de nós sem vocês.

Emilie sorriu.

- É o mínimo que podemos fazer, isso tudo é uma grande injustiça.

Alexis ficava calado o tempo inteiro. Não sabia porque aquilo não ia dar certo, mas não podia ser pessimista. Esperava que aquilo dê certo, claro que sim.

Alexis também ficou na casa dos pais naquela noite, mas não dormiram. Passaram a madrugada inteira conversando sobre como seria tudo aquilo.

Esperavam que aquilo desse realmente certo.

Um pouco de preocupação

Mesmo estando muito cansado, Alexis tinha ido trabalhar naquele dia. Mas o seu olhar exausto preocupava Hannelli. Ela foi até o escritório dele, um pouco tímida.

- Alexis... O que houve? - Perguntou ela, entrando no escritório.

Ele olhou para ela, piscando várias vezes.

- Hana... Bem... Eu não dormi bem. É que... Tivemos um problema na casa dos meus pais, eu tive que ir para lá ficar com eles.

Ela aceitou a resposta, pôs-se ao lado dele, com alguns papéis.

- Eu estava preocupada. - Falou com voz trêmula.

Ele logo a acalmou, sorrindo:

- Não fique... Eu estou bem. Todos nós estamos.

Ela sorriu. O seu rosto ficou corado.

E agora, Alexis tinha coragem de perguntar algo a ela.

- Sabe... Eu estava pensando, se quiser... Pode passar na minha casa depois do trabalho. - Ele sorriu mais largo, deixando ela um pouco constrangida.

- Er... Alexis... - Ela estava constrangida, mas estava feliz ao mesmo tempo. - Eu... Adoraria.

Alexis levantou-se, a aproximou-se de si e deu um demorado selinho nos lábios dela.

Depois disso, se olharam apaixonadamente. Mas Hana tinha que voltar ao seu posto.

- Eu tenho que ir. Até mais, Alexis. - Ela caminhou lentamente até a porta.

- Até mais, Hana. - Finalizou ele. Mas eles ficaram se olhando por mais alguns segundos.

Alguns segundos antes de ela fechar a porta do escritório.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Será que eu fui convicente? :'D

Até o próximo capítulo!



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