Dias De Guerra escrita por Mereço Um Castelo, Luiza Holdford 2


Capítulo 11
Capítulo 11- Oportunidade À Vista




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Aproveitei a minha folga com sombra, água fresca e mulheres – só que não! – e me acomodei em um canto enquanto via de longe Jasper chamar alguns carinhas. Eles meio que olhavam felizes, não sei. O que tem na água desse povo? 

Sério mesmo. Para eles estarem felizes assim, ou é porque são doentes mentais, ou porque devem ter alguma Katherine própria em algum canto do país. Disso eu tenho certeza. E, como a Katherine original, não é de se desperdiçar tempo com lorotas e caras com furúnculos abertos. 

E, pensando em minha Katherine, Jasper fez um sinal de longe para que eu arrumasse meus pertences. Outros soldados também se movimentaram rapidamente para os alojamentos. Iam pegar somente o necessário para passar alguns dias, talvez um ou dois no máximo, em um lugar longe para tirar umas pessoinhas do tal local. 

Isso é meio estranho. As pessoas não sabem que tem uma guerra acontecendo aqui? Ou, melhor, lá? Por que diabos ficam lá? Por que continuam? Estão esperando uma benção divina ou por soldadinhos com segundas intenções virem resgatá-los?

Pelo o que fui informado, eles gostam da segunda opção. Bando de tonto. Apesar de que... Bem, sempre há mulheres que adoram homens de farda e eu... Bem, cá estou eu, de farda!


Não, não, não, não. Katherine é mais importante e a única que me faz feliz. Nada de mais mulheres. Como dizem por aí, se uma já dá trabalho, imagina várias delas? Aqueles sheiks árabes merecem o meu respeito por serem casados com mais de uma. 

Enfim, entrei em meu alojamento, fui até minha cama de pregos e arrumei minhas poucas coisas. A mochila já estava praticamente pronta, caso surgisse uma oportunidade de fuga de repente. Sabe como é, nunca se pode perder oportunidades!

Em poucos segundos, eu estava com minha mochila pronta. Enquanto uns outros carinhas terminavam de arrumar suas coisas, eu fui encher meu cantil. E, com a janela da cozinha aberta, aproveitei para roubar uma maçã. 

Soquei tudo dentro da mochila – eu deixaria a maçã para a viagem, para quando estivesse com fome – e saí em busca do Major. Incrivelmente, alguns carinhas já estavam prontos ao seu lado. 

Eles eram muito bons, muito rápidos. Meio que, rápidos até demais, rápidos como Katherine era rápida para fugir de mim e de nossas brincadeiras, às vezes. Charme, apenas charme!

Fui suspirando até Jasper. Eu praticamente conseguia vê-la em pé, ali atrás de tudo, perto ali daquela caixa de madeira cheia de medicamento. Ela estava me esperando e me acenava como uma forma de incentivo. É, baby, segura a roda que o papai já está chegando!

Cheguei e Jasper parou de falar. Me encarou por alguns segundos, como se eu fosse um ser fora do comum desse planeta – melhor, desse universo! – e tornou a falar com tom de deboche. 

- Parece que comeu cogumelos... Não comeu, não é, Damon? 
- Minha felicidade é superior às suas brincadeiras sem graça, Stefan número dois.

Algumas risadas sem graça – os tontos não entenderam a minha ligação e o sarcasmo – seguida por uma bem tonta do major. 

- Ok, ok, não vou ficar de lero-lero. Vou falar logo, e vou falar uma única vez. Está todo mundo me ouvindo? – ele praticamente berrou do lugar onde estava. Ele falava para uns, sei lá, dez caras, mas gritava como se estivesse falando com uns mil. E depois ele me fala que sou eu o dramático do lugar!

- Difícil seria não ouvir com esse grito! – respondi tentando ser simpático, afinal, eu precisaria de uma forcinha dele para fugir. Eu preciso dar uma “melada” no ego do cara. 

- Bom saber, assim não tem risco de alguém não ouvir, não é? – É, é bom, mas deixar os outros surdos não é bom. Anote isso em seu caderninho de notas. – Tudo bem, todos aqui, vou passar o plano. Vamos caminhando pela estrada de terra da montanha do Pico Alto até chegarmos em Galveston. Tiraremos os que necessitarem de apoio. Mulheres, crianças, idosos, enfermos... Todos que precisarem de alguma ajuda, estaremos movendo-os. Tudo certo?

- Sim, senhor – tudo mundo respondeu em coro, e eu fiquei sem falar nada. É que eu concordei mentalmente e, bem, talvez eu não tenha prestado muita atenção. 

- Vamos tirar todos de lá – e aí mais alguns atrasadinhos chegaram – e vamos levar para a primeira cidade que acharmos. Deixaremos todos lá e voltaremos. Sem dramas, sem pausas, sem planos mirabólicos... – Era uma indireta para mim, essa eu senti! Foi sim! Foi uma indireta para mim! – Vamos seguir com o plano, tudo bem?

- Sim, senhor – o bando de pau mandado respondeu de novo. 

- Certo. Vão para seus cavalos e carroças. Se preparem, partiremos em cinco minutos. 

Assim que todos se dispersaram, Jasper fez menção de ir para o alojamento para arrumar suas coisas também, mas não deixei-o ir sem uma informação muito importante. 

Enquanto ele andava, eu o acompanhei e, mesmo sem ser nos olhos cara a cara, deixei bem clara a situação. 

- Major, mensagem recebida e ignorada com sucesso! – ri descaradamente.

- Eu já esperava isso de você, para falar a verdade. – Ok, aquilo me deixou curioso. O que ele quer dizer com isso?

- Hmm... O que isso significa?

- Que, como eu esperava, você tentará fugir, eu querendo ou não. Nada vai te impedir, seu pai goste ou não. E...

- E... – Que pausa dramática é essa? E ele ainda nega qualquer parentesco com Stefan! Ele deve ser um irmão do meu irmão perdido por aí! Papai, seu safadinho, andou pulando a cerca e fazendo filhinhos por aí, hein? 

Vou te contar, viu?! Esse não perde tempo. 

- E eu vou tentar não deixar. 

- Bem, você disse “tentar”. Isso já é alguma coisa. Não é uma certeza, mas também não é uma negação... Você vai, simplesmente, “tentar”. Sabe, vai parecer loucura, mas... Gostei de você, arrombadinho! Sério!

Ele simplesmente me encarou, enquanto caminhávamos. Soube que eu precisava me afastar e, vagarosamente, como quem teme pelo bote de uma cobra, puxei meu braço bem de leve. Eu quase me vi fazendo uma cara de quem está se melando pelas calças de medo. 

HÁ! Brincadeirinha! Eu não tenho medo de nada nesse mundo!

- Damon, é sério, pare de me fazer ser punido por coisas que não mereço!

- Você fala como já tivesse passado por coisas melhores. Te digo uma coisa: impossível. É sério, não existe nada de bom aqui, só lá fora, no mundo lá fora. Mas não se preocupe, caro amiguinho, vou te ensinar as coisas boas da vida. 

- Ah, vai? – ele estava mais descrente do que eu quando tia Judith dizia que iria se casar antes dos trinta. – E como? Vai me mostrar o que? Mulheres?

- E tem coisa melhor?

- Família – ele me olhou como quem estava dizendo a coisa mais óbvia do mundo, e eu lhe retribui o olhar como se fosse a coisa mais nojenta do mundo. 

- Nah, obrigado, eu passo. Mas, mulheres... Ah, essas não tem como negar!

- Está bem, está bem, está bem. Eu sei que agora vem um discurso todo tedioso, com olhinhos iluminados e um coração fogoso sobre uma garota chamada Katherine. 

- Hei, quem faz piadinhas aqui sou eu! – Quem ele pensa que é? Hein? Hein? Hein, arrombadinho?

- E as piadas geralmente são sobre mim. 

- Não tenho culpa se você me dá motivos o suficiente para isso!

Ele deu de ombros com o que eu falei, que pena, eu queria continuar com nossa breve discussão. Ele era engraçado de se brigar, ele não sabia para onde partir e o que responder, então sempre acabava “dando” – no bom sentido – uma de bom e santo mocinho.

Sério. Mulheres não curtem esses tipos de caras, elas querem experiência, e machismo, e força, e... e... Elas curtem homens, está sabendo? Homens crescidos e tal... Esse estilinho meninão, Stefão, não rola. Sério. Não rola. Certeza!

- Além do mais, você sabe que havia uma garota para mim...

- Oh, certo. O coraçãozinho partido do Major está dolorido. Eu vou deixar o Majorzinho-coração-estilhado arrumar a mochila, derramar algumas lágrimas, talvez... Nunca se sabe. Estou à sua espera junto dos cavalos.

- Tudo bem. 

- Dos cavalos animais, porque dos outros cavalos daqui do quartel eu quero distância. Aquele chefão lá não vai com a minha cara e muito menos eu com a dele, então, que aquele cavalo idiota e insensível fique bem longe de mim. 

- O Sargento? Insensível?

- Bem... Era de se esperar que ele fosse um pouco mais sensível, já que... – Ok, só pelo olhar, já saquei que Jasper sabia quais seriam as próximas palavras. Ok, ok, sem essas palavras... – Bem, ele é mesmo um cavalo e não há o que digam que me faça tirar isso da cabeça. Ele é um cavalo insensível sim e ponto final. E estou indo lá fora. Até mais, arrom... Major!

Mesmo caminhando porta afora do alojamento com minhas coisas, apesar do peso, eu meio que andava como quem desfilava. Porque, é sério, eu não estava me cabendo de tanta felicidade. Como pode uma oportunidade de fuga nos fazer tão bem, não?

Apesar de que, bem, eu só passei apuros aqui e fizeram coisas terríveis comigo – da próxima vez que for sujar o banheiro, pensarei duas vezes em se eu realmente não teria como evitar a sujeira! Nossa empregada vai A-MAR isso! – então, é óbvio que uma notícia dessas era a melhor coisa em toda a minha vida!

Algum tempo depois, lá estava ele, Jasper, liderando a boiada – no sentido conotativo! – afora do nosso campo. Eu estava em um cavalo, assim como mais cinco de nós. O restante, levava consigo uma carroça com comida e medicamento. 

Se eu soubesse que íamos levar tanta comida, nem tinha pego aquela maçã. Afinal, que diferença ia fazer? Umas comidinhas a menos naquele montão lá nem ia fazer diferença. Duvido! E esse povo do Exército sempre me parece bem cheio das verdinhas. Não sei por que, sabe? (Mentira, meu pai deve estar colaborando com isso! Certeza! Aquele desgraçado! Nem parece que é um pai de verdade, e ama seu filho!)

Enfim, saímos pela manhã e caminhamos praticamente o dia todo. Fizemos uma breve pausa para comer um pouco – comi a minha parte da comida, a maçã roubada e mais dois pães, também roubados da carroceria de um dos soldados, que, aliás, esse tinha uma cara bem estranha. Era como se ele tivesse uma sobrancelha só e um espaço capaz de caber um bambu inteiro ali deitado entre os dentes. Mas, fora toda essa feiura sobrenatural, ele era da hora, ele dormiu bem e nem a sua roncada forte foi capaz de pegar meus passos imperceptíveis de ninja na hora do furto dos pães. E, para minha surpresa, nem Jasper viu, o que era meio difícil, afinal, o Majorzinho gostava de ser o bonzinho de tudo e ter seu cantinho no céu garantido. Enfim, comemos um pouco, descansamos e retomamos o caminho. 

O sol estava muito forte e a cada passo que dávamos, eu sentia que eu precisava de água, assim como meu cavalo Pégasus – apelidei ele assim, já que ninguém tinha dado um nome para a criatura ainda e eu estava montado nele, poxa! Eu estava com meu popô em suas costas, poxa! A gente já tinha alguma coisa em comum, segredos de contato e tal, ele precisava de um nome. Era o mínimo que eu podia fazer para o carinha, certo? Ele era digno de um nome. 

Peninha ele não ter asas e não poder voar direto para Mystic Falls. Cavalo idiota. Por que teve de nascer sem as asas? Perdeu elas quando estava na barriga da mamãe, é? Eu todo aqui solidário com você, com suas costas em contato com meu popô, e você nem para ter asas. Seu... cavalo!

Mas foi xingando meu carinha amigo que chegamos à beira de um rio. A gente precisava passar, mas eu estava todo cheio de cansaço e sede. Jasper fez mais uma pausa, dessa vez bem à contra gosto e com uma cara de poucos amigos – quem sabe de quem tem uma dor de barriga de repente, daquelas de encoxar tudo e faz você sentir que tem um pé de melancia crescendo nas tripas! –, mas acabou aceitando a pausa. Todo mundo – inclusive ele, o Major banana – aproveitou para repor a água do cantil. 

Retomamos o caminho, todos os bananas em seus cavalos não chamados de Pégasus, e eu e meu camaradinha aqui. Pouco tempo depois – e com uma dor na bunda do balanço e dos trotes... Agora, fico imaginando, deve ter povo acostumado a andar de cavalo, né? Afinal, se já levo as coisas por trás, o que é essa dorzinha de andar a cavalo? Deve ser fichinha! – chegamos ao nosso destino. 


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Notas finais do capítulo

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