Vozes escrita por Dorrit Division


Capítulo 6
Boys and boys and drugs and Rock n' Roll.


Notas iniciais do capítulo

Bom, pessoal aqui está o capítulo tão esperado!!! Boa leitura, e espero que gostem,
Dorrit Division.



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A semana passou tranquilamente. As pessoas já sabiam o meu nome e eram amigáveis, gostavam de mim. Eu era popular. Era estranho, porque eu nunca gostei da galerinha popular da minha antiga escola, eram um bando de babacas. Mas aqui era diferente. As pessoas se respeitavam, por mais que se odiassem. O sentimento era bom.

Meu irmão estava adorando morar lá, assim como eu. Quase não o via, às tardes. Ele estava sempre com amigos, ou na psicóloga, ou no projeto de assistência social para crianças que sofriam de autismo. Ele estava melhor do que nunca. Eu não tinha feito tantos amigos assim rapidamente, mas as pessoas pareciam querer se aproximar.

Estava muito amiga de Carrie. Andávamos juntas. Ela me contava tudo que tinha acontecido naquela escola. Odiava quase todas as meninas da escola, que eram em maioria líderes de torcida ou simplesmente chatas. Confiava em mim. Ela já tinha namorado quase uns dez caras, já tinha beijado a equipe de natação inteira. Carrie era linda, muito desejada pelos garotos, provavelmente. Já tinha perdido a virgindade, e eu me sentia muito antiquada ao seu lado. Eu nunca havia, ao menos, beijado um garoto. Ela me perguntou à respeito. Menti.

- Foi o que eu pensei. Você não tem nem um pouco cara de santa. Aposto que não me contou nem a metade do que já fez. Os garotos só olham para você agora. - Carrie disse. Não sei se ela pensava isso de mim pelo meu cabelo ou minha maquiagem mais escura, ou pelo meu jeito descontraído de conversar. Por eu sempre procurar falar o que pensava

Talvez eu fosse a única que não conseguia perceber isso.

As vozes no entanto, não passavam. Mas consegui perceber que, de certo modo, eu estava conseguindo controlá-las. Talvez não passassem de alucinações, mas, vez ou outra, quando não vinham tão fortes, me sentia como se eu estivesse lendo a mente das pessoas. Dizem que a transmissão de pensamentos, de um cérebro humano para o outro, é real. Não acreditava nisso, mas comecei a duvidar. Diversos acontecimentos me levaram a refletir sobre o assunto.

Um deles foi quando, naquela quarta-feira, sentei ao lado de um garoto chamado Leonard na aula de Biologia, a última aula do dia. Ele gostava de um bom Rock n' Roll, assim como eu. Usava uma blusa do Joy. Cabelos negros lisos, olhar obscuro, cara de drogado, mas não deixava de ser extremamente irresistível.

Eu sei que você não é quem todo mundo acha que é. Essa menina rebelde, com atitude. É tudo uma capa, para não mostrar quem você é de verdade.

- O que você quer dizer com isso?

- O quê?

- Isso que você sabe muito bem que eu não sou quem todo mundo acha que sou.

Ficou quieto. Tenso. Eu poderia jurar que tinha escutado a voz dele, muito claramente, como se ela sussurrasse no meu ouvido, com a voz rouca e sensual. 

- Eu não disse nada disso.

A aula passou. Ele continuou quieto. Me olhava com reprovação. Ouvi algo novamente:

Ela pode ser bonita, mas não tem conteúdo.

Parecia que eu ouvia meus próprios pensamentos. Eu não sabia nem direito quem era Mandy. A garota de atitude, ou apenas uma fingidora. Eu deveria estar ficando louca. Os remédios chegariam apenas no domingo, de acordo com Elizabeth (minha mãe na teoria, mas ausente como nunca). Tive que dizer alguma coisa, por mais que aquilo parecesse ser uma alucinação, eu não podia deixar de pensar que ele poderia achar aquilo de mim.

- Sabe do que eu não gosto? Quando as pessoas me olham com desprezo como se me conhecessem, quando não conhecem. Então, antes de você tirar qualquer conclusão sobre mim, ao menos pergunte que tipo de música eu gosto ou se eu sou apenas mais uma daquelas meninas que usa uma blusa dos Rolling Stones sem nem ao menos sabe quem é Ronnie Wood ou Charlie Watts. E para de me olhar desse jeito, parece que eu sou a sua ex ou algo assim.

Ele olhou surpreso. Ergueu os olhos.

Nesse momento, comecei a ter uma dor de cabeça muito forte. Caí no chão. Tudo ficou escuro. Quando acordei, estava na enfermaria, e a enfermeira me disse que tive um colapso nervoso e desmaiei no meio da sala. Tomei um copo da água cristalina da enfermaria.

- Você teve sorte de ter um aspirante a médico por perto, e ainda mais de ele ser tão prestativo em ter te carregado até aqui.

Leonard, ou Lee, como gostava de ser chamado, estava do meu lado. Me encarava, mas com um olhar diferente.

- Desculpe se a fiz sentir-se desconfortável.

- Não, tudo bem. E obrigada, ahm, por tudo, acho. Você foi a última pessoa que achei que teria se preocupado em me ajudar.

- Sério mesmo?

- Tudo bem, penúltima. - Ele riu. A última na verdade seria Dean. Ele não saía da minha cabeça. Mas se bem que Lee também não. E Fred também. E quase todos os garotos daquele lugar maldito, sagrado, seja lá o que aquele lugar era. Cooperfield.

Os meninos de Cooperfield, ou melhor, as pessoas de Cooperfield, deviam ter algum tipo de problema, todos eram perfeitos, fisicamente, demais. Talvez até legais demais. Era como o paraíso. As praias, a cidadezinha toda organizada, os vizinhos eram simpáticos. Acho que o único problema de lá era mesmo o fato de todos serem um pouco bisbilhoteiros. E a juventude se drogava muito. Jurei a mim mesma que eu   não entraria nessa. Mas mal consegui cumprir essa promessa.

Na saída da escola daquele mesmo dia, Lee meio que me chamou pra sair, de um jeito fofo ("se você quiser ouvir uma boa música qualquer hora dessas..."). E perguntou se eu ia na festa sábado. Acho que o colegial inteiro iria. Afirmei. Claro que eu iria. Eu não me divertia de verdade há tempos. Passei quase minha vida inteira cuidando da minha família. Nunca conheci gente assim, como naquele lugar. Nunca pensei em mim mesma por pelo menos um instante. 

Vi Lee e mais três garotos andando e se encontrando com Dean. Eles eram amigos? Era só o que faltava. Entraram num beco ao lado do estacionamento da escola. Curiosa, segui eles, mas sem que notassem. Ao chegar lá, vi o que estavam fazendo. De um saquinho, tiraram um pouco de umas folhinhas amassadas, verdes. Claro. Olharam para os lados para ver se alguém tinha os avistado. Me encostei no muro. Com sorte não me viram.

Carrie chegou.

- Ah, você está aí. Pera aí...

- Shh...

- Você não tá pensando em ir lá, está? Se você quiser ir, eu tô dentro. Faz um tempo que eu não faço isso.

- Não, melhor a gente ir embora.

- Mas você não fuma?

- É... eu na verdade estou tentando parar... - Menti. Novamente. Ela caiu. Me senti mal com isso. Eu jurava que iria contar tudo pra ela depois, a verdade.

- Vai. Vamos. Só hoje. - Ela me olhou, pedinte. Entramos no beco. - Vocês se importam?

- Chega junto. - Dean. Olhou para mim. Eu devia estar com uma cara do tipo "não-sei-o-que-estou-fazendo-aqui-porque-nunca-fumei".

Olhei para Carrie, insegura. Ela piscou para mim. Lee andou e se posicionou ao meu lado. Formamos meio que uma roda. Era bizarro. Eu me sentia muito estranha.

- Quem que vai estrear? - Perguntou Gus, que estava com  o baseado na mão.

Não sei o que deu em mim.

- EU.

Dean me olhou, e encarou Lee, que estava do meu lado. Carrie me passou o isqueiro. Peguei o negócio na mão. Acendi. Encarei por alguns segundos. Por que eu topei? Devia sair correndo.

- Tá esperando o quê? Vai logo, não tem só você.

Coloquei entre os lábios. Dei uma longa tragada. Fiquei um pouco tonta, mas creio que me saí bem. Ninguém pareceu notar o quão inexperiente eu era, exceto por Lee. Passei para ele. Depois que Gus fumou, ele se aproximou de mim e sussurrou em meus ouvidos:

"Primeira vez?". Estremeci. Ri, para disfarçar. Ninguém olhava para nós. Apenas Dean.

Sorri, como em resposta.

"Não se preocupe. Eu sei como guardar um segredo".

Sorrimos. Dean deu uma longa tragada e expirou toda a fumaça em mim, provocante. Não sabia em quem ou no quê prestar atenção.

Carrie fumou. Olhou para mim em êxtase. Dei mais uma tragada e saímos.

Saímos andando cambaleantes para a casa dela, rindo, com os olhos vermelhos. Foi uma experiência marcante. Mas me senti culpada. Não queria repetir aquilo. Ir na onda dos outros. Me drogar ou seja lá o que viria pela frente.

Naquele momento, não sabia mais que promessas eram ou não reais. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Olha, eu pirei nesse final, foi uma coisa que saiu da minha cabeça mesmo. Espero que tenha ficado real e que vocês, seus lindos que ainda me acompanham, estejam gostando. Comentem e indiquem a história para seus amores, inimigos, amigos, conhecidos, mestres, aprendizes, etc etc, hehehe.
Beijoss,
Dorrit Division.



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