Vozes escrita por Dorrit Division


Capítulo 7
I don't kiss and tell.


Notas iniciais do capítulo

Pelo nome do capítulo, acho que vocês já tem uma ideia do que vai acontecer. A Mandy está conquistando seus objetivos cada vez mais! Divirtam-se, esse capítulo é um pouco mais agitado com a festa!

Boa leitura,

Dorrit Division.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/327529/chapter/7

– Ei, Mandy! Você viu onde eu coloquei aquela minha blusa?

– Que blusa?

– Aquela que eu peguei!

– Qual delas?

– A preta de paetês.

(http://www.polyvore.com/michayla_black_sequin_peplum_top/thing?id=71772876)

– Ah, sei, espera aí.

Estávamos na casa de Carrie. O quarto dela era semelhante ao estado de uma província após um furacão devastador. Era uma bagunça só. E, naquele sábado à noite, arranjei uma desculpa para minha mãe de não poder cuidar de Jimmy porque "eu precisava muito estudar para Trigonometria com a Carrie". Pobre Jimmy.

Faziam quase quatro dias que eu não ouvia as vozes. Era estranho, mas muito bom por um lado. Só que parecia que faltava alguma coisa. Vez ou outra, eu tinha a leve impressão de ouvir as vozes das pessoas que, no momento, eu encarava.

Talvez a ideia de ir a uma festa pela primeira vez, me divertir, tivesse me acalmado. O único problema era que, eu não sabia como contar para Carrie como eu não era essa menina que ela estava achando. O único problema era que Carrie não era como qualquer menina de 16 anos e meio. Ela era muito observadora, e deduziria meu nervosismo a qualquer momento, até seria meio fácil demais:

– Sua blusa.

– Valeu, Mandy. E aí? Animada? - Ela perguntou, me olhando fixamente, com um sorriso.

– S-sim. - Tremi, só de pensar já ficava arrepiada. - A maquiagem tá boa?

– Perfeita. Adorei esse dourado nos olhos. É diferente do que você costuma usar.

– E a minha roupa? Tá legal? - Eu usava uma roupa um pouco mais casual do que Carrie, mas ela era mesmo extravagante, com o que você acabava se acostumando.

(roupa da Mandy: http://weheartit.com/entry/55412137/via/lighter)

– Você tá sensacional. Vai deixar todas as outras meninas na sombra, Man...

– Você acha que o meu cabelo tá meio seco? E o batom? Mais escuro ou claro? E você acha que vão gostar de mim? O que vai tocar?

– Olha, você tá incrível. Sem palavras. Não se preocupa. Aliás, com o que você tá tão nervosa? Acho que nunca te vi assim, tão inquieta. - Ela arqueou as sobrancelhas.

Das últimas vezes que ela fez perguntas que levavam ao mesmo fato - eu não ser quem ela pensava que eu era -, a minha voz simplesmente travava e eu mudava de assunto. Dessa vez, não me contive.

– Eu preciso te dizer uma coisa. Prometa-me que isso não vai fazer você pensar algo completamente errado sobre mim.

– Claro. O que foi, Man, você tá muito...

– Eu nunca beijei ninguém. Eu nunca transei com ninguém, eu nunca namorei, nem fui pra festas. Eu nunca fumei, até aquele dia, nunca bebi. Eu nunca tive essas experiências.

– Ei, por que você não me contou isso antes? Olha, eu não julgo você por isso. Você não teve culpa, é normal. Escola nova, gente nova. Podem ter a impressão errada. Mas isso é bom, porque você é misteriosa. E é um choque ouvir tudo isso de uma vez... você tem uma cara de danada... - Rimos juntas. - Relaxa, é sério. Eu nunca deixaria de gostar de você por uma bobagem dessas. Seria ridículo. E você sabe que eu não sou assim. Bom, pelo menos agora você sabe. E eu fico feliz que você vai passar por tudo isso comigo.

Nos abraçamos em silêncio. Eu estava muito feliz por ter alguém como Carrie ao meu lado. Eu estava tão nervosa. Muito ansiosa ao mesmo tempo para ver Lee. Criamos laços muito fortes nos últimos dias. Ele sentava comigo na aula de Biologia, e conversávamos como velhos amigos. Ele olhava pra mim de um jeito diferente. Talvez um pouco parecido com o jeito que Dean me olhava, só que diferente de como os outros olhavam. Eu não podia negar que sentia algo por Lee. Estava nervosa.

Antes de saírmos, Carrie roubou a vodka da sua mãe e pegamos alguns cigarros. Eu não iria fumar, e não queria beber. Mas ninguém poderia dizer o que aconteceria. No final, bebemos um pouco antes de pegar um táxi.

Carrie usava aquela blusa de paetês. Sua maquiagem era de glitter nos olhos e um batom rosa pink na boca. Seu cabelo estava preso num coque desarrumado e ela usava uma saia bandage prateada. Eu usava batom vermelho seco, que não borrava ou saía, para previnir qualquer situação, claro. Estava calçando uma sapatilha preta, para combinar com minha calça com estampa de ossos e minha blusa com recorte de caveira nas costas. Meu cabelo estava como o usual, só que um pouco melhor.

Chegamos na casa do Fred. Era uma mansão branca, num condomínio privado, e nem parecia que estava tendo uma festa lá dentro. A medida que chegávamos mais perto da casa, era possível ouvir a música inde-rock alta e pessoas conversando muito alto, rindo.

Ao batermos na porta, Fred atendeu. Usava uma blusa xadrez e uma calça jeans preta. Estava meio suado e com um copo na mão. Ele estava alegre demais, por conta da bebida.

– Chegaram na hora! - Fred disse, e logo, começou a beijar uma menina que chegou ao seu lado com um ''shot'' na mão.

A casa dele estava um caos. Milhares de casais se beijando, ou pessoas dançando loucamente, ou bebendo, fumando, ou sentadas conversando. A música era alta e o clima era quente. Tinham milhares de copos espalhados pelo bar, que separava a cozinha da sala, e tinha um estoque de bebidas iluminado por uma luz azul.

Havia todo o tipo de pessoas. Nerds, atletas, góticos, etc. Do primeiro ano ao último. Espalhados por todos os cantos da casa. O trabalho no dia seguinte para Fred seria exaustivo.

De longe, eu conseguia ver Lee com Dean e uns outros garotos atraentes. Lee e Dean pareciam estar um pouco embriagados, mas não chapados. Acenei para Lee, e ele o fez de volta, sorridente. Dean me encarou. Não sabia o que tinha acontecido, mas pensei ter ouvido ele dizendo meu nome lentamente, como num suspiro. Não. Devia ser todo aquele clima de festa. Aquela fumaça no ar devia estar mexendo com o meu cérebro.

Carrie deu um longo gole na garrafa e eu fiz o mesmo. A vodka ardeu garganta abaixo e fiquei com uma sensação pesada. Dançamos um pouco ao lado de algumas meninas, bebemos mais e mais, até que elas começaram a se despir no meio da cena. Caímos na gargalhada e nos dirigimos para outro ambiente da casa. Carrie me puxou e disse:

– Mandy, Bob, Bob, esta é a famosa Mandy. Divirtam-se.

Não me dei conta do que estava acontecendo até ela me empurrar em cima desse tal de Bob, um garoto com óculos grandes e cabelo no estilo "tigelinha", tipo Beatles. Aproximou-se de mim e começou a me beijar. A sensação era boa, mas estranha. Era meio... nojento. Não foi a melhor experiência. Batemos um pouco os dentes. Ele tinha gosto de comida na boca, o que piorava a situação. Me afastei dele e fui beber mais um copo daquele líquido rosa que eu não sabia mais se tinha cheiro de álcool, ou se era eu mesmo. O importante era que eu bebesse alguma coisa pra tirar a essência daquele cara.

Sentei na cadeira do bar para beber um pouco mais. Eu queria cada vez mais um copo. Tudo ao meu redor parecia estranho e engraçado. Estava muito tonta. Avistei Carrie e um dos garotos da equipe de natação juntos, pegando um ao outro com força e agressividade. Se beijavam de modo selvagem, talvez pela embriaguez de ambos.

Comecei a ter um ataque de riso. Mas parei quando lembrei do que ela tinha acabado de fazer. Fiquei muito irritada por ter me jogado naquele cara que eu mal conhecia. Não tinha como culpá-la, ela não estava raciocinando. Pelo menos, sentia um alívio por ter acabado com aquela história de nunca ter beijado. Talvez ela quis me fazer um favor. A parte ruim passou rapidamente.

Eu queria encontrar Lee, mas não o via em lugar algum.

Começou a tocar uma música muito boa, mas eu não fazia ideia de quem era o artista.

– Você é a Mandy?

– O quê? Te conheço? - Indaguei, estranhando o loiro, alto, de físico forte e saudável, que se aproximava. Ele usava aqueles alargadores pequenos nas orelhas e tinha cara de skatista. - Gatão. - Acrescentei, pela simples vontade de dizer que acabou se tornando um ato.

– É. Roy, eu sou o Roy. Como que você faz pra ser assim, tão atraente? Você me deixa muito...

Sem raciocinar direito, já muito afetada pela bebida, respondi, entre risos longos e atropelados por palavras:

– Por que você não deixa de papo e me beija logo?

Ele riu, me tirou da cadeira e me empurrou na parede. Aquilo sim era muito melhor. Ele era diferente. Ardente. Ficamos nos beijando por um bom tempo. Ele beijava muito bem, e ao mesmo tempo, tinha pegada. Sabia onde colocar a mão, como me segurar. E era bom, muito bom. O sentimento era de êxtase.

Uma hora, paramos por um tempo. Carrie passou com o garoto da natação e gritou:

– Mandy está pegando o Roy Reynolds!!! Aaaaaa. - Ela gritou, e riu, de modo que todos em volta começaram a rir também.

Eu estava começando a ficar mais sóbria. Roy era muito bonito e tudo, mas eu não gostava dele. Não queria mais ficar ali do lado dele, e ele estava começando a me irritar, com ele se gabando. Eu não sabia o que eu estava fazendo.

Levantei e ele falou muito alto:

– Onde você pensa que tá indo?

– Pra onde eu quiser ir.

Eu não era submissa a ninguém, e estava começando a perceber que grande parte dos garotos daquela cidade tinham um complexo de superioridade. Estava chegando na sala, onde muitos dançavam quando vi Lee. Ele estava indo embora, parecia chateado. Uma menina gótica, que tinha o armário ao lado do meu na escola ficava segurando a mão dele, como se tentasse impedir ele de ir. Eles pareciam ser mais íntimos do que o normal. Ela era bonitinha, mas usava demasiadamente preto.

Ela desistiu, pelo que parecia, e ele foi para a porta, sem hesitação. Foi aí que começou a tocar Supermassive Black Hole, do Muse, e eu não queria perder aquele momento, queria dançar com aquela música. Mas temia mesmo era perder Lee. Foi então que segui ele.

Aquela música ao menos dava ação para o momento (NOTA: Recomendo ouvir a música lendo essa parte).

– Ei! Lee, espera!

– Mandy, não tenho tempo para conversar agora.

– Para onde você tá indo?

– Pra casa! Eu não vou passar a noite inteira vendo você se pegar com outro cara e com a minha ex insistindo pra voltar.

– Ex? Ela quer voltar com você? Calma aí, vocês já namoraram? - Senti um aperto no coração.

– É.

Eu me sentia mal quando ele dava respostas curtas e diretas.

Pensei por um momento. Além de, naquele segundo, estar verde de inveja daquela gótica, eu queria ele, imediatamente. Eu fui tão estúpida.

– Olha, não vai, por favor.

– Por quê? Me dá um bom motivo pra ficar nessa merda.

– Porque eu... quero.

– Ah, é? Por que você quer?

– Porque eu gosto de você.

Deu um riso com desdém e começou a se virar.

– Muito. Eu gosto demais de você, e não vou mentir sobre isso. Eu me sinto bem com você, é diferente de quando estou com qualquer outra pessoa. É melhor.

Ele parou, pensativo.

– E por que o Reynolds? Por que você não vai lá com ele? Com ele não é melhor? - Agora, entendi como ele estava se sentindo. O aperto no coração, aquela raiva, frustração.

– Quem disse que eu queria ele? Eu não consegui te achar. Eu não sabia o que fazer, eu não tava pensando direito. Foi a bebida. - Disse, sem graça. Aquela era a pior desculpa existente.

– Agora é que eu vou mesmo.

Não.

Eu queria gritar. NÃO!

Eu não ia deixar aquele momento passar daquele jeito. Olhei ele dando alguns passos apressados, indo embora. Ele não iria escapar assim, fácil. Não. Não assim. Não dessa vez. Dei uma corrida. Não, você não vai sair daqui desse jeito.

Puxei a jaqueta dele, fazendo ele se virar. Olhou confuso para mim e peguei seu cabelo com força, juntando nossas bocas, que se encaixaram como imãs.

Com ele, a sensação era a melhor. Era sempre assim quando estávamos juntos. Mas simplesmente porque eu gostava dele. Apesar do meu medo de fazer alguma coisa errada, insegura de perder o nosso toque, a faísca, era simples. Ele me conduzia, e era quase que natural. Ele descia a mão pelas minhas costas, e eu não me contentava. Os seus lábios se sincronizavam com os meus.

Começou a beijar meu pescoço. Voltou para minha boca. Meu corpo inteiro se arrepiava, o que acontecia com ele, igualmente. Mas, como se acordasse de um sonho, paralisou e olhou para mim, com suas mãos segurando meu rosto.

– E agora? Você me desculpa? - Perguntei, preocupada. A resposta parecia óbvia.

– Vou pensar no seu caso. - Ele disse. Paralisada, não compreendi. Ele me surpreendeu, de um jeito maravilhoso, com o beijo, mas de um jeito horrível com aquela resposta.

Fechou sua jaqueta de couro preta, no estilo anos 80, olhou nos meus olhos, de modo misterioso e sedutor e entrou no seu carro. Foi embora, e eu fiquei plantada ali, sem me mexer. Não sabia o que sentir.

Só sabia que aquela noite foi inacreditável. E ele a fez mais ainda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? O que acharam da cena com a música? As roupas? Esperavam mais? Menos? Comentem, para os lindões que ainda leem minha historinha!

Bjks

Dorrit.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vozes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.